Os assassinatos relacionados ao tráfico de drogas reduzem a expectativa de vida da população do Rio de Janeiro em 7,4 meses, quase o dobro do impacto observado no restante do Pais (4,2 meses). Em São Paulo, a diminuição é de cerca de três dias, índice bem abaixo da média.
Isso é o que aponta versão preliminar de estudo inédito divulgado nesta quinta-feira (22), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As projeções foram apresentadas em evento realizado em Belém, no Pará.
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"Enquanto em São Paulo cada indivíduo ao nascer perde alguns dias de expectativa de vida, no Rio de Janeiro, cada pessoa vive em média 7,4 meses a menos devido à guerra às drogas", aponta o estudo. No Brasil, a diminuição da expectativa de vida é, em média, de 4,2 meses.
Conforme o autor da pesquisa, o economista do Ipea e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Daniel Cerqueira, os achados têm relação direta com os efeitos da política de "guerra às drogas".
"O paradoxo é que, ao a polícia aplicar recursos para proibir, o preço da droga a curto prazo aumenta, faz com que a receita dos traficantes aumente e isso faz com que haja incentivos para que os traficantes se perpetuem no mercado", disse.
O estudo aponta que não só no Rio de Janeiro, como em outros Estados, "grupos de narcotraficantes fortemente armados dominam territórios para manter o funcionamento do negócio". Entre as principais organizações criminosas, estão o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio.
Os assassinatos, segundo o estudo, normalmente ocorrem por disputa de mercado ou mesmo por acerto de contas, mas mesmo quem não possui relação com o tráfico é afetado. "Morrem policiais, morrem policiais, morrem inocentes e toda a sociedade fica aterrorizada, temerosa de ter sua vida prematuramente perdida em meio a esses confrontos", diz o estudo.
As projeções do estudo têm como base os índices criminais de 2017. Na época, a expectativa de vida do brasileiro era de 76 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - nos anos mais recentes, esse indicador se aproximou dos 77 anos, mas ainda não se sabe ao certo qual foi o impacto da pandemia.
O comparativo apresentado na pesquisa foca principalmente no Rio, em que quase metade dos assassinatos estão relacionados ao tráfico, e em São Paulo, em que aproximadamente três em cada dez homicídios têm esse perfil - a média nacional é de 34%. Nove em cada dez vítimas são homens, a maioria com idades entre 15 e 40 anos.
População perdeu 1,1 milhão de anos potenciais de vida, segundo estudo
O estudo aponta que, apenas em 2017, 1,1 milhão de anos potenciais de vida foram perdidos pela população brasileira, sendo 10% disso no Rio de Janeiro (153 mil). Em São Paulo, foram 64 mil anos perdidos. "Se um jovem de 20 anos morreu, levando em conta que a expectativa de vida para ele era de 80 anos, 60 anos em potencial foram perdidos", exemplificou Cerqueira.
Segundo o estudo, intitulado "Custo do Bem-Estar Social dos Homicídios Relacionados ao Proibicionismo de Drogas no Brasil", os homicídios atribuídos ao tráfico geram um custo de bem-estar anual da ordem de R$ 50 bilhões anuais, ou 0,77% do Produto Interno Bruto (PIB). O cálculo leva em conta não só o potencial de renda que a vítima poderia gerar, mas os custos associados aos gastos para combater a criminalidade.
Para fazer a estimativa, Cerqueira usou como base referências como a teoria econômica dos mercados ilegais, além de outras referências na área. "A droga gera problemas, afeta famílias inteiras", disse o pesquisador. "Mas nós temos que atacar com política de redução de danos, políticas de saúde."
*Repórter viajou a Belém a convite do Fórum Brasileiro de Segurança Pública