Uma parte do Muro de Berlim grafitada pelo artista brasileiro Nunca é a atração de um leilão nesta segunda-feira, no Palácio de Tóquio, em Paris. O evento faz parte de uma ação beneficente em prol da associação SOS Racismo, que homenageia o Brasil. Nunca, que começou a fazer grafites nas ruas de São Paulo aos 12 anos, é dono de um estilo pessoal inspirado nas tradições indígenas do país.
Em 2011, ele foi convidado a pintar duas seções do muro de Berlim. O artista escolheu representar um gigantesco punho que quebra o muro em vários pedaços. Com 3,50 metros de altura, a obra, muito pesada, ficou na Alemanha. Ela está avaliada em 250.000 a 350.000 Euros pela casa de leilões Pierre Bergé & Associados, que organiza o evento com o arquiteto Alain-Dominique Gallizia, expert e colecionador de grafites.
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O leilão apresenta mais de 60 artistas grafiteiros da França e dos Estados Unidos (Ash, Bando, Bruce, CES, Faust, Revolt, Sonic, Spirit e Taki 183, entre outros), mas também do Brasil, convidado de honra da edição de 2013 desta venda. "Há uma identidade brasileira no grafite", declarou à AFP o artista Speto, 41 anos, um dos pioneiros da arte urbana no Brasil.
Nascido em São Paulo, jovem skatista, ele começou a transformar as paredes da cidade aos 14 anos. "A gente não tinha informação sobre o que acontecia fora e isso foi muito bom porque pudemos desenvolver nosso próprio estilo", explica o artista, que ficou mais conhecido após fazer uma participação na novela Cheias de Charme. "Nós somos rebeldes do bem, temos bons objetivos", falou. "Minha paixão é me comunicar com os outros através da arte. Uma obra na rua é destinada a todo mundo, não importando a cor da pele, a classe social ou o nível de escolaridade", completou Speto.
Skatista
Speto desenvolveu uma arte simples, naïf, inspirada na xilografia - técnica de gravura na madeira. Para o leilão, ele propôs um Pequeno Buda em Londres, que chora diante da triste realidade do mundo. A pintura, spray sobre tela, está avaliada entre 6 mil e 8 mil Euros.
Tihno também é um antigo skatista de São Paulo. Nascido no Brasil, filho de pai japonês, Walter Tada "Tihno" Nomura começou a grafitar em 1986, aos 13 anos. Ele desenhou camisetas e logomarcas para produtos de skate. Ele estudou, virou professor de artes e suas obras são cada vez mais reconhecidas. Thino apresenta ao leilão uma grande pintura: How it would be tomorrow, avaliada entre 5 mil e 7 mil Euros.
A arte de Herbert Baglione, também paulistano, é inspirada na caligrafia. Ele utiliza branco e preto para desenvolver obras poéticas e vibrantes. A tela Silver Piece, feita em spray e em tinta acrílica, foi avaliada entre 12 mil e 16 mil Euros. Para Alain-Dominique Gallizia, "O grafite sobre tela que existe há 40 anos não é muito mostrado ao público". "Ele ainda não é exibido nos grandes salões de arte contemporânea", garante o arquiteto que gostaria de vê-lo "entrar nos museus".
O colecionador tem pouco mais de 400 obras de grafiteiros sobre tela, algumas expostas no seu atelier em Boulogne-sur-Seine, cidade nos arredores de Paris. Para este leilão beneficente, nenhuma taxa será cobrada do comprador. Três quartos do lucro das vendas serão revertidos para a SOS Racismo, e um quarto irá para os artistas.