Tópicos | Política Nacional de Participação Social

Em meio à polêmica sobre o decreto que institui a política nacional de participação social, o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, reconheceu há pouco que o governo poderia ter feito um "processo muito mais amplo de comunicação" sobre o tema, mas defendeu o combate às acusações de que a matéria seja "chavista" ou "bolivarianista".

"Nós poderíamos ter feito um processo muito mais amplo de comunicação. Muita gente não viu (o decreto), não leu, não gostou e criticou. Nós precisamos, de fato, melhorar o nosso processo de comunicação", afirmou Carvalho, durante entrevista concedida à Fundação Perseu Abramo, antes de participar da convenção nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), em Brasília.

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"Eu acho que o que nós precisamos é desmontar essa ideia de que essa coisa dos conselhos 'é uma coisa meio chavista', 'meio bolivarianista'. Eu não quero aqui adjetivar, não estou falando que é uma coisa equivocada o bolivarismo, não me cabe esse papel. Estou dizendo que (o decreto) é uma outra filosofia de governo onde a sociedade comparece com muita autonomia pro debate, isso faz parte da educação democrática do País", disse o ministro.

O decreto de Dilma pretende "fortalecer e articular" mecanismos de "atuação conjunta" entre governo federal e a sociedade civil, definindo diretrizes gerais de atuação. O texto orienta todos os órgãos federais a adotar consultas populares, mas não altera a composição dos conselhos já existentes nem cria automaticamente mais instâncias.

Convencimento.

Ao falar com jornalistas após a entrevista, Carvalho reiterou que o governo não cogita desistir do decreto. "O que o governo pensa é que o decreto deve ser mantido, nós queremos dialogar com o Congresso, buscando convencer o Congresso, com todo o respeito, evidentemente, de que não vale a pena gastar energia votar contra um decreto que, na verdade, não muda em nada substancialmente a realidade", afirmou o ministro.

Para Carvalho, o Congresso Nacional poderia contribuir no debate sobre participação social com a convocação de audiências públicas para discutir o assunto.

"O Congresso assumiria um papel, um papel de vanguarda, de protagonizar esse debate. Uma forma em que é uma relação ganha-ganha e quem vai ganhar mais é o Brasil", comentou Carvalho. "O decreto fica lá, mas o Congresso assume um papel protagonista em convocar um debate sobre a participação social e sobre esse anseio das ruas em participar da política."

Para o ministro, a discussão sobre o papel dos conselhos e das conferências "é ótima", porque "a imprensa nunca se dedicou" ao tema antes da polêmica envolvendo o decreto. Mesmo assim, Carvalho disse que viu a controvérsia com "uma surpresa extraordinária" e a atribuiu ao resultado desse "grande debate eleitoral e de forças que têm medo" do avanço da democracia.

Para ampliar a interação do governo com a sociedade civil, a presidente Dilma Rousseff assinou nesta segunda-feira (26) decreto publicado no Diário Oficial que institui a Política Nacional de Participação Social - PNPS, que tem o objetivo de "fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil".

Embora estivesse em processo de elaboração desde 2011, "sem dúvida", de acordo com interlocutores da presidente Dilma, a edição desta política foi acelerada após as manifestações de junho do ano passado. Depois dos protestos, ainda no ano passado, Dilma fez nove reuniões com movimentos sociais e já promoveu outras quatro em 2014. Na ocasião, a avaliação no Planalto era de que os protestos ganharam força porque o governo se distanciara dos movimentos sociais.

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Na sexta-feira, em discurso, Dilma defendeu a necessidade da participação da sociedade civil em todos os processos de decisão. "Eu queria dizer para vocês que celebrar o diálogo e a participação social significa para mim celebrar a democracia e há algumas questões que exigem a participação social para ocorrer", comentou, se referindo à reforma política. "Não haverá reforma política se não tiver nesse processo participação social. Não haverá", assegurou ela.

Para o diretor de Participação Social da Secretaria Geral, Pedro Pontual, um dos "legados importantes que o governo Dilma vai deixar é a institucionalização dos instrumentos de participação, transformando-o em método de governo", afirmou, lembrando que a implantação deste processo está previsto na Constituição de 1988, mas que em 2003 isso foi intensificado, com a criação das conselhos. Segundo o diretor de Participação Social, o que o governo quer, com este processo, é que "todos os órgãos passam a ser obrigados a usar a participação social para a execução das suas políticas".

Para Pontual, "longe de tirar poder do Legislativo, a criação desta Política de Participação acrescenta porque ela é complementar". Questionado se não poderia significar que o governo quer exercer democracia direta por decreto, Pontual disse que não. "É a institucionalização de mecanismos de participação da sociedade por meio, por exemplo dos inúmeros conselhos", disse ele. "Não se trata de implantar democracia direta, esvaziando instituições. É uma relação de complementaridade, que permite que as políticas públicas saiam mais aperfeiçoadas", declarou ele, citando que as propostas acabam indo para o Congresso para serem aprovadas pelo parlamentares, como aconteceu, recentemente, com a Regulamentação do Marco Civil ou o Marco Regulatório das Organizações Não Governamentais.

Apesar em seu artigo 3º, inciso VII, dizer que entre uma das diretrizes da Política Nacional de Participação Social, é "a ampliação dos mecanismos de controle social", o diretor de Participação Social da Secretaria Geral, Pedro Pontual, justificou. "Parece que se está falando em controle do Estado sobre a sociedade, mas é exatamente ao contrário. Trata-se de um refinamento do processo de participação social", justificou, acrescentando que "a participação social não é só dar ideias, é monitorar, avaliar a implementação da política e prestar contas". Ele exemplificou como este processo se dá citando o programa Brasil sem miséria, que afirmou ter sido elaborado com sugestões da sociedade, que hoje o governo presta conta deles à sociedade e a população ainda dá o retorno de como o programa está chegando na ponta.

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