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O extrato de própolis se tornou base para mais um estudo científico, desta vez, como substância capaz de reduzir a internação de pacientes com Covid-19. O trabalho publicado no periódico acadêmico Biomedicine & Pharmacotherapy, comparou o desempenho do anti-inflamatório em 124 pessoas hospitalizadas com a doença, um terço recebendo o tratamento-padrão, o restante recebendo a mais um extrato de própolis. Segundo o artigo, os resultados foram positivos, apesar do número de pacientes avaliados ainda ser reduzido em comparação aos testes de outras terapias de suporte.

A pesquisa é uma parceria entre a Apis Flora, empresa brasileira do segmento de própolis, mel e extratos de plantas medicinais, o Idor (Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino), o Hospital São Rafael, de Salvador, e o departamento de genética da Universidade de São Paulo (USP). Na sua primeira versão, publicada na plataforma MedRxiv, no dia 9 de janeiro, o artigo ainda não tinha passado por revisão, mas o texto atual foi enviado, revisado e aceito pelo Science Direct ainda em março.

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Segundo o estudo, os 124 pacientes hospitalizados Covid-19 foram randomizados em três grupos. Foram fornecidos 400 ou 800 mg de própolis verde brasileira padronizada por dia, ao que o tratamento adjuvante com própolis previa a alta hospitalar em cinco a seis dias. A dose de 800 mg de própolis reduziu os danos renais associados à Covid e assim, o própolis se mostrou seguro e eficaz como tratamento adjuvante.

“O desfecho primário foi o tempo até a melhora clínica, definido como o tempo de internação hospitalar ou a duração da dependência da oxigenoterapia. Os desfechos secundários incluíram lesão renal aguda e necessidade de terapia intensiva ou drogas vasoativas. Os pacientes foram acompanhados por 28 dias após a admissão”, explica o artigo.

No entanto, comentários dentro da comunidade científica apontam limitações na pesquisa. Para o infectologista José Neto, da Universidade de Pernambuco (UPE/Oswaldo Cruz), a análise da Apis Flora junto às instituições de ensino foi pequena e se trata de uma amostra isolada no Brasil. Outras observações indicam que a inexistência do uso de placebo em algum dos grupos acompanhados também influencia nos resultados da amostra. Além disso, os médicos sabiam quem recebia o adicional de própolis, o que aumenta o risco de vieses.

“Por enquanto, cientificamente validado como terapia de suporte para Covid-19 é a corticoterapia para doentes com necessidade de oxigênio. Outra droga parcialmente validada (pois há algumas controvérsias) é o tocilizumabe, um imunomodulador que regula a fase inflamatória grave da doença em pacientes internados também. Própolis não consta nas nossas discussões e prática diárias”, explica o especialista, em entrevista ao LeiaJá, falando da sua experiência atual como plantonista em UTI de Covid-19 em um hospital particular no Grande Recife.

Ainda segundo o médico, a corticoterapia utilizada pelo período de 10 dias reduz mortalidade em pacientes internados com a Covid e que necessitam de oxigênio suplementar. No começo da pandemia, a corticoterapia foi considerada controversa na comunidade científica, tendo sido até rejeitada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e recebido artigos contrários em cadernos importantes como o Lancet.

Posteriormente, os estudos com corticoides foram ganhando maior espaço e se tornando positivos sob parte das lentes científicas. Em junho de 2020, um ensaio clínico randomizado importante, realizado pelo grupo RECOVERY, comparou os efeitos do uso de doses baixas de dexametasona (6 mg por via oral ou parenteral) por 10 dias em 2.104 pacientes com Covid-19 em múltiplos centros hospitalares do Reino Unido.

O ensaio revelou que o uso de dexametasona diminuiu a mortalidade em um terço dos doentes sob ventilação mecânica, e em um quinto entre pacientes sob oxigenioterapia não invasiva. Não houve diferença entre os pacientes que não necessitaram de suporte ventilatório.

Já o uso do tocilizumabe, um anti-inflamatório moderno, apresenta vantagens e desvantagens niveladas, o que inflama as opiniões de especialistas. O infectologista José Neto explica que o uso é feito sob ressalvas.

“O uso de tocilizumabe é controverso, ainda não existe consenso. Deve ser avaliado caso a caso. É uma droga imunomoduladora que age inibindo a ação de alguns fatores inflamatórios. É utilizado em pacientes com aumento progressivo da demanda por oxigênio suplementar, com risco de intubação, mas não deve ser usado em doentes com infecção bacteriana associada, pelo risco de piora infecciosa”, concluiu o plantonista.

Funcionalidades do própolis, potencial terapia de suporte no combate à Covid

Apesar das inconsistências, o estudo brasileiro com o própolis avança e passa por atualizações no caderno científico. O resultado positivo é considerado promissor e deve influenciar outras pesquisas no mesmo âmbito. O que se sabe até agora é que o extrato de própolis continua a ser utilizado, tendo destaque para as suas propriedades naturais, que já são famosas pelas ações no sistema imunológico e pelo combate às inflamações. Porém, o própolis não é eficaz contra a Covid-19 em casos moderados ou graves, e também não combate nenhuma outra doença inflamatória nesses níveis de gravidade.

Assim como no estudo, ele deve ser visto como um tratamento adjuvante, que ocorre em paralelo ao tratamento principal. Tratamentos de suporte não são tratamentos essenciais, modificadores de mortalidade, mas podem ajudar no controle de sintomas e melhora do desfecho clínico.

Até hoje, são notificadas três variedades de própolis, a verde — utilizada no estudo brasileiro — sendo a mais estudada. Para ela, já foram descobertas ações anti-inflamatórias e de controle da glicemia no diabetes, sempre como coadjuvante. A marrom, rica em flavonoides (compostos vantajosos à saúde), foi capaz de eliminar bactérias em testes com células isoladas. A vermelha é mais recente, encontrada em 2006 no literal nordestino e ainda passa por estudos aprofundados.

Utilizado há séculos pelos povos antigos, o própolis possui diversas propriedades medicinais. O extrato deste hormônio vegetal é naturalmente produzido pelas abelhas para proteger as colmeias de fungos e bactérias, fazendo um papel similar com o que os anticorpos desempenham em nosso organismo.

A substância tem a capacidade de regular e estimular o sistema imunológico, provocando uma "limpeza" no corpo. Além das funções mais conhecidas, ele pode ser um potente anticancerígeno. O professor do curso de biomedicina do Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau), Jorge Belém, resume as funcionalidades do extrato, que atua em diversas áreas da medicina, como insumo principal ou de suporte.

"O própolis é rico em polifenóis, que atuam como antioxidantes, mas também possui outras propriedades, como antimicrobiana, anti-inflamatória e ajuda a tratar pele, saúde bucal, auxiliando positivamente no combate a diversos cânceres, por exemplo", afirmou Belém.

Nos últimos anos, estudos comprovaram a sabedoria popular antiga e atestaram suas múltiplas atividades biológicas, como sua ação anti-inflamatória e imunoestimulante. Com a crise sanitária causada pela pandemia do Covid-19, a busca por uma alimentação mais saudável e a importância de manter o sistema imunológico fortalecido fez com que o consumo deste produto aumentasse consideravelmente.

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