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Embora a pandemia causada pelo coronavírus tenha abalado diversos segmentos da economia, o mercado de veículos usados tem dado respostas consideráveis em relação ao reaquecimento do setor no Brasil. Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o mês de setembro foi o mais positivo do segmento em 2020 com quase 1,4 milhão de carros negociados.

De acordo com a Federação Nacional das Associações de Revendedores de Veículos Automotores  (Fenauto), o número do Denatran indica uma alta de 12% em relação ao mesmo período de 2019, quando foram registradas quase 1,25 milhão vendas de veículos. Além de colaborar para que a engrenagem da economia volte ao ritmo normal, os carros também passaram a ser aliados dos condutores em relação à saúde. Em meio ao surto de Covid-19, muitas pessoas abandonaram o risco de contágio no transporte público e optaram pela compra de um automóvel usado para se locomover de casa para o trabalho.

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É o caso da professora de ginástica artística e personal trainner Sheila Hipólito, 36 anos. Segundo ela, o aumento da demanda de trabalho e o maior risco de contágio nos transportes coletivos a fez buscar solução no mercado de usados. "Optei por um usado porque o carro que achei está em ótimo estado, tem tudo que preciso, poucos quilômetros rodados e é mais barato que um novo", conta.

Sheila Hipólito e o pai, Flaudir Hipólito, em um passeio no seminovo adquirido em setembro | Foto: Arquivo Pessoal

A compra também foi para ajudar a afastar a Covid-19 de Sheila e da família. "Como pegava bastante transporte público, minhas chances de pegar o vírus aumentariam mais do que se eu estivesse no meu próprio veículo. Ele também vai proteger minha família, que usa o transporte público. Agora podemos recorrer ao carro", considera a professora que adquiriu um automóvel da marca Toyota/Corolla, modelo 2000, em setembro.

Efeito positivo nas agências

As empresas do segmento de automóveis também estão otimistas com o aquecimento do mercado em meio à crise do coronavírus. Para o empresário César Henrique, 48 anos, os efeitos positivos da recuperação começaram a ser observados a partir do último mês de junho. "Nos dois primeiros meses da pandemia ficamos estagnados. Já do terceiro mês em diante, houve um crescimento gradativo e constante, assim pudemos perceber um aquecimento ainda melhor nestes dois últimos meses", destaca o comerciante, que é proprietário da EcoCar Seminovos, em São Manuel (a 257 km da capital paulista).

César Henrique (à dir.) e um dos clientes da agência de veículos | Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com Henrique, a fase é tão boa que os veículos usados "sumiram" e algumas empresas não acham os itens para comercializar. "Como os seminovos estão mais atrativos neste momento que os carros zero subiram demais, a procura limitou o encontro de veículos com procedência para atender nossa demanda", comenta o empresário. "Devido a menor Taxa Selic de todos os tempos, com a lei da oferta e da procura, nosso movimento aumentou bastante", complementa.

Confiança dos especialistas

Para o presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos, a menor saída dos carros zero quilômetro das fábricas e as incertezas em relação à pandemia, fizeram o mercado de usados alavancar as vendas. "O consumidor não deixou de querer comprar um carro. Apenas adiou a decisão pelas incertezas e desinformação que surgiram com a pandemia. Na medida em que a situação foi sendo normalizada, com o relaxamento das medidas de quarentena, ele retomou o desejo de comprar um veículo e, como encontrou dificuldade para achar um zero quilômetro, passou a analisar com mais atenção o que o setor de usados tem para oferecer", enfatiza.

Ainda segundo Santos, a elevação nas vendas também tem influência da crise sanitária. De acordo com o presidente da Fenauto, o receio pelo contágio pode ser de fato apontado como um dos fatores para o aumento da busca pelos seminovos. "Com a compra de um veículo para seu uso, as pessoas se sentem mais protegidas do contágio. E isso, em parte, ajudou a alavancar as vendas e a rápida recuperação do setor", pondera. Para o especialista, o aquecimento do mercado não é passageiro e a confiança é de que os números continuem evoluindo para melhor.

"Os resultados semanais vêm mostrando um movimento positivo contínuo que deve se intensificar ainda até o final do ano, época em que, tradicionalmente, as vendas são mais aquecidas", comenta Santos. "Nosso setor responde, para cada carro zero que sai da concessionária, com a venda de cinco usados, o que dá uma boa ideia da importância do nosso segmento e o quanto ele é importante para gerar negócios, empregos e aquecer a economia", finaliza.

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