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A Justiça italiana abre um julgamento contra o jornalista Roberto Saviano nesta terça-feira (15) após o processo de difamação aberto há dois anos pela atual primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, a quem ele chamou de "bastarda" por sua posição contra os imigrantes.

Saviano, 43 anos, conhecido por seu best-seller sobre máfia "Gomorra", corre o risco de até três anos de prisão se for condenado.

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A audiência foi marcada pela nona seção do Tribunal Criminal de Roma e será presidida pela juíza Roberta Leoni.

Meloni, então líder do partido de extrema-direita Irmãos da Itália, na oposição na época, que sempre foi a favor de uma política rigorosa contra a migração, não estará presente na audiência, pois está em Bali, na Indonésia, na cúpula de chefes de Estado do G20.

O caso remonta a dezembro de 2020, quando Saviano comentou em um programa de televisão sobre a morte de um bebê da Guiné de seis meses durante um naufrágio e chegou a acusar Meloni do uso político do fenômeno da migração que ela costuma fazer.

"Só posso dizer a Meloni e (Matteo) Salvini: bastardos! Como eles podem fazer algo assim?", lamentou Saviano no programa.

O escritor estava se referindo ao bebê, Joseph, um dos 111 migrantes resgatados pelo navio de ajuda Open Arms, que morreu antes que pudesse receber tratamento médico.

A indignação de Saviano foi desencadeada pelas declarações de Meloni, que em 2019 havia dito que os navios de ONGs humanitárias que resgatam migrantes “deveriam afundar”, enquanto Salvini, ministro do Interior naquele ano, havia ordenado o bloqueio da entrada na Itália desses navios carregados de migrantes depois de dias à deriva.

Organizações que defendem a liberdade de imprensa e expressão, incluindo a PEN International, pediram a Meloni que retire a denúncia.

“Continuar com esta ação judicial envia uma mensagem alarmante a todos os jornalistas e escritores do país, que vão deixar de falar livremente por medo de represálias”, denunciou o PEN, organização internacional de jornalistas e escritores.

O autor, que está sob proteção policial desde que publicou 'Gomorra' (2006) devido a ameaças da máfia, considera que se trata apenas de mais uma intimidação.

"Intimidar um para intimidar cem", disse ele à AFP.

Inúmeros intelectuais e jornalistas expressaram sua solidariedade com Saviano nas redes sociais e censuraram a lei da Itália, onde jornalistas e escritores podem ser denunciados e presos pelo que dizem ou escrevem.

A “passividade e inércia do governo e do parlamento italianos” acabam sendo “cúmplices dos inimigos da liberdade de imprensa”, diz Saviano.

De acordo com Repórteres Sem Fronteiras, a Itália ocupa o 58º lugar no índice mundial de liberdade de imprensa de 2022.

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