Faltando apenas duas rodadas para o término da Série A do Campeonato Brasileiro, algumas vagas e definições já são conhecidas. O Fluminense é o campeão nacional. Grêmio, Atlético-MG e São Paulo garantiram presença na Libertadores 2013. Na parte debaixo da tabela, três rebaixados: Atlético-GO, Figueirense e Palmeiras. Em aberto, algumas vagas para a Sul-Americana, além do quarto time que disputará a Série B no ano que vem.
Tudo isso foi decidido antes da bola rolar pela última rodada. O mistério acabou mais cedo. E assim começaram discussões sobre a fórmula dos pontos corridos, que completa 10 anos. Em debate, questões como o calendário, aspectos econômicos, justiça, emoção, mérito, oportunismo entre outros aspectos que influenciam na definição de um torneio.
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Pense rápido: Que tipo de partida atrai mais a atenção do público? A resposta é fácil. Nenhum duelo chama tanta atenção quanto uma final. Jogo decisivo que reúne os dois melhores times de uma competição, pelo menos na prática, o clamor pelo duelo é o ápice do esporte. E um campeonato que não tem final, como fica?
Praticidade x Lucro
Imagine um campeonato longo com o brasileiro, com 38 rodadas. Após todas as partidas, um duelo entre os melhores times em forma de mata-mata, até chegar a final, com dois jogos (ida e volta). Isso inflaria ainda mais o calendário já bastante apertado do futebol brasileiro. O campeonato se estenderia possívelmente até o fim de dezembro. As férias iam diminuir e os jogadores provavelmente chegariam mais desgastados na pré-temporada. Outra possibilidade seria ter apenas um turno, e o espaço do segundo turno ser usado para as partidas eliminatórias. Porém, a questão ai seria outra. São 20 clubes no Brasileirão, o que na prática significa 19 duelos num período. Alguns times, neste caso, jogariam uma partida a mais ou a menos em casa (10 para 9, na proporção). Tanta explicação que fica nítida a falta de praticidade.
Porém, o futebol também tem interesses que extrapolam as quatro linhas. Vejamos o exemplo da partida entre Palmeiras x Fluminense, pela 35ª rodada da Série A. O duelo valia o título (que foi conquistado neste dia) para o tricolor carioca e podia significar também o rebaixamento do Verdão. No ibope da emissora de televisão Rede Globo, uma das detentoras do direito de transmissão do campeonato, 22 pontos, bem abaixo do esperado para o jogo. Em campo, apenas oito mil espectadores. Números baixos que pesam no bolso das empresas, que perdem poder de barganha na hora de fechar contratos publicitários. Financeiramente, o mata-mata deixou saudade para eles.
Emoção x Justiça
O ano era 2002. Oito equipes se classificaram para o mata-mata do Brasileirão. O São Paulo, líder da competição, pegou nas quartas de final o Santos, oitavo lugar. No duelo, quem passou foi o Peixe. Não só avançou de fase como se sagrou campeão. O Tricolor, time com melhor aproveitamento em todas as rodadas, cai para um time que se classificou no sufoco. Trazendo para os dias atuais, seria o mesmo que observar o Fluminense(atual campeão) perdendo o título para o Internacional(oitavo colocado).
A repercussão foi tão grande que Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, adotou o modelo usado nos torneios europeus e transformou o Brasileirão em pontos corridos já no ano seguinte. A explicação foi simples: o novo sistema traria justiça, premia o time mais regular, assim como era feito em competições consideradas de “ primeiro mundo”, como as ligas inglesa, espanhola e italiana.
No quesito emoção, os defensores do mata-mata alegavam que os pontos corridos até poderiam premiar o equilíbrio, mas estavam tirando o diferencial do futebol, ou seja, a surpresa. O imponderável. Nada de favorecer o mais regular. Bom mesmo era dar chances para as zebras acontecerem ou até mesmo mostrar quem “crescia” no momento da decisão. Em contrapartida, quem segurava a bandeira do atual modelo, tinha como trunfo dois exemplos onde a fórmula levou a reações surpreendentes.
Cariocas quebrando paradigmas
Em 2009, o Fluminense chegou a ter 99% de risco de ser rebaixado para a Série B. Em nove jogos, o Fluminense precisava ganhar oito para se livrar da degola. A reação que parecia utopia aconteceu, em uma das reviravoltas mais emocionantes na história dos pontos corridos. No mesmo ano, o rival Flamengo tinha pouco mais de 5% de chances de faturar o título. Só que os matemáticos não contavam com o poder de decisão chamado Adriano, que comandou o rubro-negros rumo ao título.
A influência do modelo de campeonato para os clubes na parte debaixo da tabela é mínima. Os “afetados” são as equipes que brigam pelo título. Sendo assim, o recado para 2013 é simples. O segredo é a regularidade. Arrancadas são e serão sempre decisivas, mas quem se mantém sempre próximo do objetivo dificilmente vacila na reta final, seja ela decidida no mata-mata ou nos pontos corridos.