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A presidente Dilma Rousseff quer aproveitar a crise internacional para reduzir a taxa básica de juros para pelo menos 9% no ano que vem, mas com cautela, segundo fontes do governo, para evitar que a inflação coloque em risco o consumo da nova classe média. A estratégia embute o risco de os preços continuarem elevados, com a inflação rodando acima da meta do governo por mais tempo que o desejado, o que corrói o poder de compra do consumidor.

O plano de voo traçado pelo Planalto e relatado à reportagem por dois ministros e um secretário de governo, prevê uma queda de 3 pontos porcentuais na taxa Selic, hoje em 12%. O corte seria possível, na avaliação do governo, porque a crise internacional provocaria queda de preços. A ordem é cortar juros, mas sempre dizendo que o ritmo vai ser determinado com "prudência".

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Para o Planalto, ainda há "margem de manobra" para que a Selic caia, depois que o BC cortou a taxa preventivamente, em agosto, em meio ponto porcentual. "Estamos tomando todo o cuidado para que o excesso de remédio não prejudique o paciente", resumiu o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. "O governo vai zelar para que aqueles que ascenderam a um nível de consumo maior não percam isso de jeito nenhum." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Se o Relatório Trimestral de Inflação não convenceu o mercado de que o IPCA, o índice oficial da inflação, convergirá para o centro da meta de 4,5% em 2012, pelo menos deixou claro que a intenção do Banco Central, neste momento, não é a de intensificar os cortes da Selic para além do 0,5 ponto porcentual adotado na reunião de agosto. Com isso, a percepção de que o juro básico terminará 2011 em 11% cresceu e provocou avanço das taxas projetadas pelos DIs. Aqueles que apostavam na possibilidade de um ajuste mais profundo da Selic reviram suas posições e os juros de curto prazo subiram, ainda que de forma moderada. Os longos reagiram, momentaneamente, à aprovação pela Alemanha das mudanças na Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), mas encerraram o dia sem uma posição definida.

Assim, ao término da negociação normal na BM&F, o DI janeiro de 2012 (278.380 contratos) estava em 11,18%, nivelado ao ajuste. O DI janeiro de 2013 marcava 10,47%, de 10,41% na véspera, com giro de 476.340 contratos. O DI janeiro de 2014 (98.870 contratos) subia a 10,88%, de 10,82% no ajuste. Entre os longos, o DI janeiro de 2017 (30.050 contratos) indicava 11,33%, ante 11,34%, e o janeiro 2021 (1.490 contratos) permanecia nivelado ao ajuste, em 11,35%.

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A quase certeza do mercado sobre a manutenção do ritmo de corte da Selic veio do trecho do Relatório em que a autoridade monetária diz que "o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012". "Pelo que o BC informou, uma aceleração do ritmo de corte só ocorrerá se houver uma piora muito grande do ambiente externo", frisou um operador.

O documento também trouxe projeções de mais inflação e menor crescimento em 2011. O banco revisou a previsão de expansão do PIB de 2011 de 4% para 3,5% e trouxe projeções mais altas para a inflação deste ano. No cenário de referência que considerou câmbio de R$ 1,65 por dólar e Selic em 12,00%, o BC elevou a previsão de IPCA de 5,8% para 6,4% em 2011, mas revisou a previsão de IPCA no final de 2012 em baixa, de 4,8% para 4,7%. O documento reitera o cenário do relatório de junho, que pressupunha a convergência para a meta só no segundo trimestre, mas o BC ajustou hoje a previsão para 4,5% no segundo trimestre de 2013.

Entre os indicadores domésticos, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de setembro, que subiu de 0,44% em agosto para 0,65% em setembro, segue mostrando os desafios do BC no controle de preços.

E apesar da relativa tranquilidade do governo no cumprimento da meta de superávit primário para 2011, os números do Governo Central não foram dos mais animadores. O resultado primário, que inclui Tesouro, Previdência e Banco Central, foi de R$ 2,490 bilhões em agosto, segundo o Tesouro Nacional. O desempenho foi o pior para meses de agosto desde 2003, quando o superávit do Governo Central ficou em R$ 2,48 bilhões.

Lá fora, a aprovação pelo Parlamento da Alemanha das mudanças da EFSF trouxe apenas um otimismo moderado e momentâneo aos mercados. O Parlamento do Chipre também aprovou as alterações no fundo europeu. Com as bolsas europeias já fechadas, as norte-americanas viraram para o terreno negativo ao longo da tarde e contribuíram para segurar o avanço dos DIs longos.

O impacto de uma provável redução da Selic para 11% no encerramento de 2011 sobre o crédito para o tomador pessoa física será de uma queda média de 1,75% nos juros. O cálculo é do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira. O executivo resolveu fazer as contas estimulado pelas perguntas sobre o quanto as taxas de juros no crediário cairiam se o BC mantivesse nas duas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano - outubro e novembro - o corte de 0,50 ponto porcentual da Selic promovido em agosto.

"O impacto é pequeno porque a taxa nominal de juros encontra-se muito alta", explica Oliveira. Pelas simulações, com a Selic em 12,50% ao ano, patamar em que estava antes da redução em agosto, a taxa média de juros era de 6,84% ao mês e de 121,21% ao ano. Considerando uma Selic de 11% ao ano, a taxa média mensal de juros para o consumidor pessoa física ficaria em 6,72% e a taxa anual, em 118,25%.

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Em termos nominais, a maior queda média mensal, de 5,06%, seria a da taxa de juros sobre o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) dos bancos para financiamentos de automóveis, que passaria de 2,37% ou 32,46% para 2,25% ao mês ou 30,60% ao ano. O Empréstimo Pessoal sofreria uma queda média de 2,57%, passando de 4,67% ou 72,93% para 4,55% ao mês ou 70,56% ao ano.

O juro do comércio cairia 2,11%, na média das taxas de juros para pessoa física na variação mensal, de 5,70% ao mês ou 94,49% ao ano para 5,58% ao mês ou 91,86% ao ano.

A taxa sobre o uso do cartão de crédito, modalidade mais cara de financiamento ao consumidor, é a que cairia menos (1,12%), considerando a redução de 1,50 ponto porcentual na Selic de agosto a novembro. O juro do cartão de crédito passaria de 10,69% ao mês ou 238,30% ao ano para 10,57% ou 233,92%.

Ainda pelos cálculos do vice-presidente da Anefac, o juro sobre a utilização do limite do cheque especial cairia, em média, 1,45% ao mês, passando de 8,27% ou 159,48% para 8,15% ao mês ou 156,05% ao ano. O juro sobre o empréstimo pessoal das financeiras cairia de 9,34% ao mês (191,98% ao ano) para 9,22% ao mês (188,15% ao ano). Neste caso, a queda seria de 1,28%.

A compra de uma geladeira no valor de R$ 1.500,00 financiada em 12 vezes sem entrada a uma taxa de juros que era de 5,70% ao mês antes do corte da Selic em agosto sairia por R$ 2.111,76. Com a queda da Selic para 11% no fim do ano, o valor da mesma geladeira cairia ao final de 12 meses para R$ 2.097,84. As prestações seriam reduzidas de R$ 175,98 para R$ 174,82.

Na mesma comparação, o pagamento do juro sobre a utilização do rotativo de R$ 1.000,00 do cartão de crédito por 30 dias sairia de R$ 106,90 ao mês para R$ 105,70. A utilização dos mesmos R$ 1.000,00 no cheque especial por 20 dias cairia de R$ 55,13 antes da queda da Selic em agosto para R$ 54,33 num cenário de Selic a 11% no fim do ano.

O consumidor está pagando juros menores sobre as operações de crédito desde agosto, mas a redução ainda não embute o impacto do corte de 0,50 ponto porcentual da Selic no último dia 31, de 12,50% para 12,00% ao ano, segundo pesquisa divulgada hoje pela Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A taxa média de juros nas linhas de financiamento da pessoa física caiu de 6,84% ao mês (121,21% ao ano) em julho para 6,75% ao mês (118,99% ao ano) em agosto, voltando ao nível de agosto de 2010. Para a pessoa jurídica, a taxa média mensal fechou agosto em 3,99% ao mês (59,92% ao ano), ante 4,05% ao mês (61,03% ao ano) em julho e 3,82% ao mês (56,81% ao ano) em agosto do ano passado.

De acordo com o presidente da Anefac, Miguel de Oliveira, a diminuição foi influenciada pela redução da taxa de juro futuro, que incorporava a expectativa do mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), iria parar de elevar juros em sua reunião de agosto e os cortes começariam só em outubro. Com este cenário, diz Oliveira, as instituições financeiras anteciparam a redução nas taxas de financiamentos.

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"Nesta pesquisa não tem o impacto da Selic. Ela se refere a todo o mês de agosto e o corte da Selic ocorreu apenas no dia 31. Ninguém esperava a redução já em agosto. Mas como é o juro futuro que determina as taxas dos bancos, o mercado resolveu antecipar o corte", explicou Oliveira.

Para o presidente da Anefac, além da influência do mercado futuro de juros, outros fatores contribuíram para a redução das taxas. A maior oferta de crédito, frente a redução do ritmo de aumento da concessão dos empréstimos, está entre os fatores que contribuíram para o declínio dos juros de mercado.

De acordo com a pesquisa da Anefac, de junho para julho as operações de crédito cresceram 1,1%. De maio para junho, o crescimento tinha sido de 1,67%. De abril para maio, a expansão havia sido de 1,72% e, de março para abril, de 1,83%. De fevereiro para março, o aumento havia sido menor, de 1,26%, mas de janeiro para fevereiro havia crescido 2,01%, segundo números fornecidos pelo presidente da Anefac à Agência Estado.

Ainda de acordo com Oliveira, a redução dos juros começou mesmo após todas as medidas restritivas implementadas em dezembro pelo BC para reduzir a demanda interna e combater a inflação, como a elevação dos depósitos compulsórios, o aumento da exigência de capital para operação de crédito a pessoas físicas com prazos superiores a 24 meses e o aumento de exigência de capital das instituições financeiras nas operações de crédito consignado feitas através do cartão de crédito com prazos superiores a 36 meses.

IPC-Fipe

As taxas de juros para a pessoa física em agosto, de acordo com a pesquisa da Anefac, caminharam na contramão da inflação medida no período pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Enquanto a inflação subiu 0,09 ponto porcentual, de 0,30% para 0,39%, os juros do comércio, por exemplo, caíram 0,10 ponto, de 5,70% em julho para 5,60% em agosto. A taxa do cheque especial caiu 0,02 ponto porcentual, de 8,27% para 8,25%.

Na mesma comparação, a taxa incidente sobre as operações de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) nos bancos caiu de 2,37% para 2,29%. O empréstimo pessoal caiu de 4,63% para 4,58% e o empréstimo pessoal das financeiras caiu de 9,34% em julho para 9,11%. A única taxa que se manteve foi a do cartão de crédito: 10,69%.

Para a pessoa física, a taxa de juro sobre capital de giro fechou agosto em 2,95%, ante 3,07% em julho. O juro cobrado sobre as operações de descontos de duplicatas caiu 0,05 ponto porcentual, de 3,18% em julho para 3,13% em agosto, enquanto a taxa cheque especial recuou 0,02 ponto, de 5,90% para 5,88%.

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