Tópicos | Sexo por dinheiro

O sexo sempre é um assunto que rende muita discussão, principalmente quando ele é a principal atividade de um trabalhador. É a partir dele que pessoas ganham dinheiro, seja através da conjunção carnal propriamente dita ou por meio da venda de produtos eróticos. Não diferente disso, a indústria pornográfica também se mantém viva, apesar do impacto causado pela internet que trouxe milhares de produções que saem a custos baixíssimos para os internautas. Para continuarem ‘respirando’ no setor pornográfico, muitas empresas se adaptaram às características da grande rede, como no caso da tradicional Brasileirinhas, fundada em 1996 e considerada uma das maiores produtoras de filmes pornôs do Brasil.

Se a indústria pornô precisou mudar, por outro lado, o que se mantém igual até hoje é a exigência de algumas características para quem almeja ou até mesmo sonha em ser ator pornográfico. E não são poucas pessoas. Um levantamento realizado pelo setor de marketing da Brasileirinhas mostrou que por dia, cerca de 50 e-mails eram enviados para a empresa oriundos de homens que queriam ser atores pornôs. O dado é reforçado por outro estudo que detalha como está a produção mundial de conteúdos pornográficos. Segundo pesquisa da Xbix.net divulgada na Folha de São Paulo, o faturamento anual do segmento pornô em todo o mundo é de 5 bilhões de dólares, incluindo atividades de aluguéis de DVDs, assinatura de canais, vídeos na internet, webcams ao vivo, distribuição de vídeos, TV por assinatura, entre outras.

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E sobre as características ideais para os homens que querem se tornar atores pornôs, as exigências, no geral, remetem à virilidade. Em entrevista do LeiaJá, o CEO da Brasileirinhas, Clayton Nunes, declarou que as únicas exigências da empresa são que o candidato a ator consiga manter a ereção num set de filmagem por, pelo menos, 40 minutos, bem como ele precisa dar ângulos para os cinegrafistas. Além disso, segundo Nunes, o participante da seleção apenas pode ejacular quando o diretor da cena der a ordem.

“O teste consiste exatamente na gravação de uma cena pornô com as luzes em cima, cinegrafista pedindo ângulo e mais de mil internautas assistindo tudo ao vivo. Todo mundo acha que é fácil, só que ser ator pornô não é só ter relação sexual, e sim é atender as posições que o diretor pede, num calor tremendo por causa das luzes. Tudo isso com ereção... Não é fácil”, explica o CEO da Brasileirinhas. Assista a um dos testes no vídeo a seguir:

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Os testes vêm acontecendo no reality show “Casa das Brasileirinhas”, uma produção que fica no ar, através da internet, 24 horas por sete dias da semana. Segundo a empresa, os candidatos se inscrevem no site da produtora e depois recebem um endereço de um local próximo ao metrô de São Paulo, cuja localização exata não foi revelada para esta reportagem por motivo de segurança. Lá, o “futuro ator” é recebido e direcionado para a gravação. Caso o candidato desista, a empresa marca um novo teste com outro concorrente.

Como prova de que ser ator pornô não é nada fácil, o atual levantamento dos candidatos participantes da seleção não é nem um pouco positivo. De acordo com a Brasileirinhas, foram feitas mais de 120 semanas de testes, em que desse total, por 400 vezes os candidatos não apareceram e 44 desistiram na “hora H”.

Por outro lado, 80 homens foram corajosos e fizeram o teste, sendo que 31 deles esqueceram do diretor e do cinegrafista, e apenas transaram com a atriz sem dar ângulo para as câmeras. Além disso, quase 50 participantes perderam a ereção e foram desclassificados. Sendo assim, o histórico de seleções das Brasileirinhas registrou somente a aprovação de três atores.

Mulheres também querem se tornar atrizes – Segundo Clayton Nunes, em média 10 e-mails por dia eram enviados por mulheres querendo se tornar atrizes pornôs. O processo seletivo ocorre da seguinte forma: a garota é levada para o estúdio onde os filmes são feitos e lá ela passa um dia com uma atriz já consolidada, participando das atividades dos chats. Depois disso, a candidata grava uma cena do próximo filme da Brasileirinhas. “Se ela se sair bem na cena, nos chats e nas atividades, e o público gostar, chamamos a candidata para participar do reality show. Não aceitamos garotas que querem fazer filmes apenas por estar numa situação de necessidade momentânea de dinheiro. Para a aprovação, o ideal é que a garota queira seguir a carreira de atriz”, complementa o CEO.

Atualmente, a Brasileirinhas conta com nove atores que trabalham em forma de rodízio, a depender do estilo de cena. Homens recebem R$ 500 por cerca de 40 minutos de trabalho. Já a atriz em começo de carreira fatura R$ 3 mil por uma semana de trabalho. A produtora vende, em média, 50 mil DVDs por mês. Já os sites oficiais da empresa possuem mais de 6 milhões de visitas mensais.

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“Meu melhor sexo é em frente às câmeras”

O sorriso no rosto é característica marcante de Clovis Basílio dos Santos, de 60 anos. Por esse nome, talvez muita gente não saiba de quem se trata. Mas, quando a menção é por Kid Bengala, o público logo reconhece a personalidade. Ele é um dos atores pornôs mais famosos do Brasil e já participou de inúmeros programas da televisão brasileira para contar parte da sua história. Em entrevista ao LeiaJá, Kid Bengala admitiu que o nome artístico foi dado por um produtor carioca no começo da década de 90, mesmo homem que o lançou como ator pornô.

Natural de Santos, litoral do estado de São Paulo, Kid se formou como torneiro mecânico aos 19 anos, porém, devido ao seu intenso e constante gosto pelo sexo e ao diagnóstico de ninfomaníaco que ele mesmo se deu, Clovis passou a se relacionar com muitas mulheres, fato que atrapalhou os três casamentos que ele teve ao longo dos seus 60 anos. “Sempre fui o garoto safado. Até hoje, com meus 60 anos, não costumo falhar com as mulheres. Um safado como eu não casa. Todos os dias só pensava em sexo. Só que o casamento pra mim era uma coisa que me limitava. Nunca fui homem de uma mulher só, nem de duas, nem de três...Eu sou um cara que sempre queria mais e mais... Como poderia ser casado? Vivi nesse inferno (casamento) por uns anos”, relata Kid Bengala.

Perguntado sobre se o fato de ter que fazer sexo por profissão atrapalhou ou não seu desempenho sexual com suas esposas, Kid afirma que nunca teve problema. Ele chega a assumir que seu maior problema, no começo da carreira, era gravar as cenas. “Era um desafio muito grande pra mim. Mas depois coloquei na cabeça que aquilo era o meu trabalho e comecei a dominar a cena. Mas não é fácil... Hoje, o meu melhor sexo é em frente às câmeras. É claro que ao longo da minha carreira eu cheguei a perder a ereção, mas isso só aconteceu uma única vez. É quase nada....”, revela Kid, aos risos.

De acordo com o ator, para um homem ingressar na carreira pornográfica é preciso “ser bom no sexo”. Para Kid Bengala, “não existe receita... Ou o cara é bom ou ele é ruim na cama”. Porém, ele concorda que o fato de existir todo um aparato para a gravação no estúdio acaba atrapalhando o desempenho de alguns candidatos.

Kid Bengala já fez 102 filmes. Atualmente, além de ser apresentador de um reality show da Brasileirinhas, ele é empresário e parceiro de uma empresa fabricante de produtos eróticos. Sobre seu faturamento mensal levando em consideração a atual carreira, o ator desconversa e prefere não revelar quanto ganha. Porém, ele afirma que seu salário não fica atrás da remuneração de um engenheiro formado, por exemplo.

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Se há falta de dinheiro ou se os produtos estão cada vez mais caros, a culpa é toda dela: a crise. Ela também é a justificativa para o poder público cortar gastos e reduzir investimentos. A economia brasileira está desgastada e diversos setores não têm o que comemorar. Há quem diga que para diminuir o prejuízo, a população precisa evitar gastos supérfluos. Além disso, não diferente de setores como comércio, serviços e indústria, uma área que envolve desejo e prática sexual parece que também foi afetada pela crise, segundo fontes. De acordo com profissionais do sexo atuantes no Recife, a prostituição tem sofrido com a falta de dinheiro dos clientes.

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Figuras comuns nas madrugadas recifenses, garotas de programa e travestis não estão satisfeitos com a movimentação de clientes. Rebeka Delmer, de 29 anos, é uma dessas pessoas. Há três anos, a recifense se prostitui à beira de uma BR localizada no bairro do Engenho do Meio, Zona Oeste da cidade. Segundo Rebeka, o número de clientes caiu pelo menos 50%.

“Trabalho aqui neste ponto de terça a domingo, a partir das 17h. Na época boa, chegava a atender numa só noite no mínimo quatro clientes. Hoje, por causa desta danada da crise, se eu ficar com dois homens numa noite é muito. E olhe que meu preço é bom... Se for pra transar no carro, meu programa custa R$ 40. Agora, se for no motel, cobro R$ 50. Mas os clientes estão reclamando muito... Eles dizem que não têm dinheiro e às vezes querem transar até de graça”, conta a profissional do sexo. Veja o depoimento de Rebeka no vídeo a seguir:

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Era quase meia noite de uma terça-feira quando a reportagem do LeiaJá entrevistou Vanessa, de 22 anos. Seu ponto de prostituição fica próximo à Avenida Caxangá, nas imediações de um famoso supermercado. De acordo com a profissional do sexo, o local é estratégico e por isso ela sempre teve muitos clientes, porém, “por causa da crise econômica”, Vanessa revela que a quantidade de programas despencou. “Num dia bom, falando com muita sinceridade, eu fazia de 20 a 25 programas. Do começo do ano pra cá a coisa ficou tão ruim que hoje não chego nem a dez. O mês de maio mesmo foi horrível”, relata. A companheira de Vanessa, identificada como Larissa Borm, de 23 anos, também reclama do movimento. “Está muito fraco mesmo! A sorte são os clientes mais antigos. Mesmo assim, até eles estão me procurando com menor frequência”, diz Larrisa. Durante a entrevista que durou cerca de 40 minutos, nossa reportagem não identificou abordagens de clientes às profissionais do sexo. As duas profissionais cobram pelos programas de R$ 40 a R$ 70.

Reclamação também na Zona Sul

Bairro de forte atuação de prostitutas, Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, também tem garotas de programa que estão insatisfeitas com o movimento de clientes. A jovem Poliana, 18, que há três anos vende o corpo na Avenida Conselheiro Aguiar, revela que o número de clientes caiu mais de 50%. De acordo com ela, a reclamação dos clientes é constante. “Amor, não venho mais te procurar porque a crise chegou lá em casa... É isso o que muitos clientes estão me dizendo. O movimento está horrível! O povo está liso”, declara Poliana, afirmando faturar R$ 3 mil mensais. Antes, segundo ela, seu orçamento chegava a R$ 5 mil.

Oferecendo programas sexuais a partir de R$ 100, Tuane França (foto abaixo), de 22 anos, também culpa a crise pela falta de clientes. “Nunca vi um movimento assim. Caiu muito! Eles preferem gastar com outras coisas”, conta Tuane. A garota de programa também se prostitui na Conselheiro Aguiar.

De acordo com a presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Pernambuco (APPS), Nanci Feijo, apesar de não existir um levantamento que detalhe queda no número de clientes das prostitutas, já se sabe, de maneira informal, que a crise afetou a prostituição no Recife. Segundo Nanci, durante as ações da APPS de distribuição de preservativos para as garotas, as equipes da Associação estão escutando muitas reclamações sobre a queda na clientela.

“Elas falam que realmente está ruim. Mas na verdade, a crise está afetando praticamente todos os setores da economia brasileira. O que ainda sustenta o orçamento das meninas são os clientes fiéis. As garotas novatas, principalmente que vêm do interior, estão tendo muita dificuldade para encontrar clientes”, diz a presidente da APPS.

Segundo dados da Associação, Recife tem atualmente, pelo menos, 290 prostitutas cadastradas na APPS. Porém, de acordo com Nanci, o número geral, incluindo as não associadas, é bem maior. A presidente revelou que nos próximos meses será realizado um novo levantamento a nível estadual para identificar a quantidade real de profissionais do sexo em Pernambuco.

 

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