Desejo carnal, tesão ou fetiche. O ser humano é dono de vontades que ultrapassam barreiras até chegar à necessidade de suprir a ânsia erótica. Anseios muitas vezes ocultos, escondidos, ainda presos a tabus. Mas a vergonha, mesmo que lentamente, cai por terra quando a fantasia se apodera dos casais. Segundo especialistas, é extremamente natural vivenciar situações que fogem do comum numa relação a dois – ou a três, quatro, não importa a quantidade, mas sim a vontade -. Entretanto, nem tão natural é quando um fetiche sexual ganha uma proporção que ultrapassa o desejo humano, pois há quem faça da própria vontade erótica uma forma de ganhar dinheiro e consequentemente ajudar outras pessoas.
Interessado em ler e aprender sobre fantasias sexuais, Cássio Cruz, de 32 anos, alimentou o desejo pelo swing. O estilo de vida corresponde à troca de casais durante o ato sexual e conta com adeptos em várias partes do Brasil. Natural de Belo Horizonte, o rapaz começou a namorar há sete anos, mas demorou um pouco para colocar em prática seu erotismo. “Quando comecei a namorar, já tinha o fetiche, assistia a algumas reportagens, via vídeo e lia bastante. Até que entrei no assunto com a Giuliana, minha namorada, mas no começo a proposta do swing não foi bem vinda da parte dela. Ela achou meio estranho, porque envolvia outras pessoas. Depois de mais ou menos um ano de namoro, topamos fisicamente. Há três anos somos adeptos do swing”, relata Cruz.
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Depois de colocar em prática a troca de casais, Cássio passou a identificar que, apesar da existência do desejo entre as pessoas, nem todo mundo se sente confortável para realizar o fetiche. Enquanto trabalhava na área de engenharia elétrica numa cidade chamada Ouro Branco, interior de Minas Gerais, o rapaz passou a sentir dificuldades para encontrar outros casais que curtem o swing. “No interior, as pessoas são mais fechadas e retraídas. A gente sabe que tem quem goste da troca de casais, mas o povo fica mais escondido”, conta. E a partir dessa observação ele teve a ideia de criar um aplicativo que possibilita o encontro de casais adeptos ao swing, de uma maneira discreta e rápida. Junto com o sócio Giovani Rocha, Cássio investiu inicialmente cerca de R$ 100 mil e lançou, em junho deste ano, o app AffinitySW, que identifica participantes da troca de casais por meio de um sistema de geolocalização e de um radar que faz buscas de até 100 quilômetros. A perspectiva dos empresários é que o faturamento seja de R$ 1,3 milhão em um ano. Confira no vídeo a seguir:
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O AffinitySW está disponível em português e em breve contará com o idioma inglês. O app pode ser encontrado no Google Play, devendo ser utilizado em smartphones com sistema operacional Android a partir da versão 4.1, porém, a empresa já está trabalhando um projeto para a plataforma iOS. O público ainda conta com diferentes pacotes, conforme suas necessidades: o Night, que permite o uso por 24 horas, por R$ 9,90; o Vip, com acesso por 30 dias, por R$ 19,90; o Master, por três meses, ao custo de R$ 54,90; e o Gold, por seis meses, a R$ 89,90. O app já foi baixado mais 50 mil vezes e pode ser acessado em mais de 90 países.
De acordo com Cássio, o swing aumenta a confiança entre os casais, além de representar uma forma de suprir a fantasia que, segundo ele, todas as pessoas têm. “Há homem que gosta de ver a esposa com outro. Os encontros geram interação entre os casais e há, de fato, uma troca de parceiros. É algo que te dá liberdade no casamento, além de criar mais confiança no companheiro. Você passa a ter mais sinceridade no relacionamento”, descreve o empresário. “Em três anos, eu e Giuliana já somamos mais ou menos uns 35 encontros”, complementa.
“Gosto de ver meu marido com outras mulheres. Também é bom estar com outro cara”
Esposa de Cássio, a secretária Giuliana Rocha também enxerga no swing uma forma de fortalecer o relacionamento. Segundo ela, é possível controlar o ciúme durante a troca de casais. “Quando há a troca de casal, aquilo é um encontro momentâneo. Gosto de ver meu marido com outras mulheres e também é bom estar com outro cara. Mas quando estou só com o Cássio é maravilhoso, porque além do desejo físico, tem o amor. Percebi que o swing é um estilo de vida que não tem nada de errado. Fui me libertando e abrindo minha cabeça”, afirma Giuliana. “Não tenho ciúme quando ele está transando com outras mulheres”, complementa.
Quem usa, aprova
Usuário do app, o comerciante Pedro Nogueira é adepto ao swing há seis anos. Ele e sua esposa, Beatriz Nogueira, resolveram usar o aplicativo por ser uma forma discreta de encontrar os casais. “Vimos a propaganda e entramos em contato. Começamos a acessar no começo de agosto e já tivemos seis encontros. Mas é importante dizer que para a prática do swing é preciso estar com o casamento fortalecido. Quem estiver em crise é melhor nem ir, porque vai acontecer ciúme e dará errado”, conta Pedro.
Beatriz reforça que a troca de casais deixou seu relacionamento mais agradável. “O swing é uma liberdade de vida. Muita gente sente vontade de fazer e não tem coragem. Quem faz sente prazer e gosta de ver o parceiro com outra pessoa, mas a troca não tem vínculo, quando acaba cada um vai pra sua casa. Às vezes rolam só casais e tem momento em que rola mulher com mulher e homem com homem. Acabo transando com mulher e meu marido gosta. A troca de casais te deixa livre e quando estou sozinha com meu marido a relação é ainda melhor”, afirma.
O swing
Pesquisa realizada pelo site SexLog mostrou que boa parte dos seus usuários prefere praticar a troca de casais, em comparação com outros estilos eróticos. De acordo com o estudo, entre 25 mil entrevistados, 28% disseram que são adeptos ao swing.
Uma abordagem do autor Terry Gold traz à tona que a prática do swing tem reflexo histórico. Para ele, a filosofia do ‘swinger’ nasceu na Segunda Guerra Mundial, quando pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos e suas esposas promoviam o estilo, bem como os militares fortaleciam os laços de amizade com medo de morrerem e deixarem suas famílias desamparadas. A história mostra ainda que, após os combates, esses grupos se espalharam pelos subúrbios dos Estados Unidos e, em 1957, a imprensa americana apurou o swing, o apelidando como Troca de Esposas.
Em entrevista ao LeiaJá, a sexóloga e terapeuta sexual Valéria Walfrido reforçou que o swing é interligado com os desejos das pessoas. “As fantasias existem dentro de cada um de nós seres humanos, sem exceções. A prática do swing é milenar, obviamente não com essa denominação específica. Era um estilo praticado pela classe social abastada, além dos bacanais romanos. Posteriormente, as elites passaram a fazer uso da prática e no decorrer dos tempos houve rótulos, estudos psicológicos, psiquiátricos, prognósticos e até diagnósticos, desde falta de compostura feminina até à loucura”, conta a especialista.
De acordo com a sexóloga, a troca de casais passou a ser vista de uma forma mais natural em muitos países. “Com a evolução dos termos e um maior conhecimento, viu-se que em alguns países os prazeres obtidos por meio desejos tornaram-se mais comuns, demonstrando que a monogamia não é a única forma de amar. Atualmente, com a adição das redes sociais e dos sites de relacionamentos, dos grupos e das casas voltadas à prática, tornou-se cada vez mais fácil e viável aderir ao estilo”, explica. “Importante observar que todo e qualquer casal que tenha uma relação aberta deve estar muito seguro da relação, antes de se aventurar na troca de casais. O diálogo é fundamental para amadurecer a ideia e não a imposição da vontade de um no outro”, complementa Valéria.
A sexóloga ainda relata que podem ser criadas normas entre os casais que praticam o swing. "Algumas regrinhas básicas podem ser impostas para tal: como só frequentarem juntos e sem beijos; não ao sexo anal; ou até mesmo só ficar na masturbação. As regras podem modificar-se no decorrer das visitas para que a satisfação aos olhos de uns não seja traição aos olhos do outro, claro. E muito daqueles que se amam, desejam de coração estar presentes na satisfação sexual do seu amado, sendo ou não ele o centro do prazer O importante nesta prática é o uso contínuo de preservativo, tocando sempre que houver troca de penetração ou sexo oral, pois, como se sabe, ambos são meios de transmissão de Doenças Sexualmente Transmissíveis”, orienta a sexóloga.