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De cocar exuberante e rosto pintado, o guerreiro Thafkhêa aparece como online no whatsapp. Poucos minutos após o convite da reportagem, a jovem liderança Fulni-Ô, de apenas 29 anos, se dispõe a ceder entrevista sobre a realidade dos povos indígenas brasileiros neste 19 de abril, instituído pelo Governo Vargas como o “Dia do Índio”. Em “mês de caçada”, como os guerreiros da tribo chamam abril, período em que saem para divulgar sua cultura e seus costumes em escolas de todo o país, Thafhkêa nos recebe entre as atividades da “Semana dos Povos Indígenas”. O evento é promovido por ele, em conjunto com outros seis guerreiros Fulni-ô e pelo Espaço Ciência, museu interativo de ciências de Pernambuco, em Olinda. Eles palestram, dançam e cantam para as caravanas de estudantes visitantes.

“Esse é Thafkhêa, um guerreiro Fulni-Ô. Ele vai falar um pouco sobre os costumes do povo dele para a gente”, apresenta uma professora empolgada. As crianças, espalhadas pela recepção do museu, ouvem atônitas às imponentes palavras de Thafkhêa, que carrega um sotaque arrastado, cheio de erres fortes, ao se comunicar em português. “Nosso povo preservou seu idioma, mas as escolas da aldeia também nos ensinam o português”, explica. Para Thafkhêa, alguns dos principais papéis do índio na contemporaneidade são levar conhecimento e educação ambiental aos outros povos. “Sem natureza, não existe humanidade. A gente tenta fortalecer esses pequenos guerreiros, que vivem na selva de pedra, com outra visão da terra”, comenta o Fulni-Ô, que se mostra bastante incomodado com a poluição do canal da avenida Agamenon Magalhães. “Muito bonito, mas muito sujo. Mesmo com toda essa sujeira, é importante para todos os seres humanos”, completa.

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"A gente usa essa tecnologia para nosso fortalecimento", diz Thafkhêa sobre redes sociais. (Marília Parente/LeiaJá Imagens)

Ativo nas redes sociais, Thafkhêa publica constantemente em seu instagram divulgações de suas palestras, registros de familiares e do artesanato Fulni-Ô, que, segundo ele, é a maior meio de sobrevivência da tribo. “A gente usa essa tecnologia para nosso fortalecimento, para nos manifestarmos numa rede social e divulgar nossa cultura. Por que os brancos podem evoluir e nós não? Só que a gente evolui mantendo nossa essência, nossa cultura viva”, afirma. Para o guerreiro, ainda existe forte influência de estereótipos do índio na televisão e na grande imprensa, que formam a opinião do país a respeito dos povos indígenas. “Eles mostram muitos mitos, nossa realidade é diferente. Muitas pessoas da aldeia são médicos, advogados e enfermeiros. Temos carros, usamos roupas e telefones. Mas não esquecemos do principal, que é: quem eu sou? Sou um índio fulni-ô”, coloca. 


Thafkhêa e guerreiros Fulni-ô recebem crianças no Espaço Ciência. (Paulo Uchôa/LeiaJá Imagens)

De acordo com relatório da ONG Front Line Defenders de 2017, Brasil e Colômbia são os países que mais matam ativistas nas Américas. Na época da publicação dos resultados, o Comitê Brasileiro de Defensores e Defensoras dos Ativistas garantiu que, das 58 mortes registradas, a maioria era composta por pessoas envolvidas com questões ligadas ao meio ambiente e às disputas de terras, como indígenas e trabalhadores rurais sem terra. O guerreiro Thafkhêa concorda com a afirmativa de que a maioria da população brasileira ainda não empatiza com as vidas indígenas. “Esse preconceito, digo logo assim, é algo que não existe para nós. Se você tem preconceito comigo por eu ser índio, vou rir de você, porque você tem preconceito consigo mesmo. Todo brasileiro tem um pouco de sangue indígena. Se você tem preconceito com isso, você ignora sua linhagem, seus próprios ancestrais”, conclui.

Thafkhêa fala sobre o índio contemporâneo, Governo Temer e luta pelas demarcações:

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