Esta história não é parte de um roteiro cinematográfico. Mas bem que poderia ser. Natural do Recife e criado no bairro de Tejipió, Jollyson Francino Sosaleta sonhava em lutar nos octógonos do MMA. E largou tudo para se dedicar ao esporte após ver Anderson Silva defender o seu cinturão do Ultimate Fighting Championship (UFC), no UFC Rio de 2011. Depois de abandonar tudo para viver das lutas, o recifense teve a grande chance aos 30 anos: foi escolhido para participar da terceira edição do reality show The Ultimate Fighter (TUF), que dá ao vencedor o contrato de duas lutas com o UFC.
Jollyson Francino Sosaleta foi convidado para um dia de treinamento com o Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil, em Recife. A reportagem do Portal LeiaJá acompanhou a atividade e conversou com o lutador. O participante contou todas as etapas da carreira que o levou à disputa do peso-médio no The Ultimate Fighter: desde a corrida na praia em 2007 - quando conheceu uma academia de MMA - e o dia em que abandonou o emprego de gerente vendas para se dedicar ao MMA, até a dura jornada no Rio de Janeiro e entrada na TUF com a vitória sobre "Gigante".
Um começo “pesado”
O início de Jollyson no esporte foi, no mínimo, curioso. “Eu não fui aquele garoto que o pai colocou para treinar artes marciais quando era criança”, conta. Em 2007, o recifense estava se sentindo acima do peso. E “correndo na praia, vi um cartaz que dizia: ‘Primeira semana de jiu-jítsu grátis”, lembra. Foi o primeiro contato do lutador com as artes marciais mistas.
##RECOMENDA##
Coincidência ou não, a academia que Jollyson se deparou era de Rafaello Tractor Oliveira, pernambucano que luta no UFC. “Quando eu entrei no estabelecimento, Tractor estava treinando, preparando-se para uma luta de MMA. Achei fantástico e decidi embarcar na ideia”, conta.
Jollyson começou a treinar jiu-jítsu aos 23 anos. “Entrei para perder peso e não para ser atleta. Nunca quis nem competir”, disse.
A dura realidade de um esporte que engatinhava no Brasil
Após um ano e meio treinando em três expedientes, o pernambucano largou o emprego de gerente de vendas e o curso de graduação em Marketing e decidiu que iria viver de artes marciais mistas. Porém, esbarrava nas dificuldades de um esporte ainda em construção no Brasil. “Na época era muito difícil porque não éramos valorizados. Tinha evento que pagava R$ 200 para o atleta lutar. Isso não cobre nem as despesas de uma semana de treinamento”, afirmou.
Em 2011, o ponto de virada. A transmissão televisiva mostrava a vitória de Anderson Silva sobre Yushin Okami e confirmava a oitava defesa de cinturão do brasileiro na categoria dos médios do UFC. Em Tejipió, Jollyson Francico tomava uma decisão que mudaria a sua vida. “Vou largar tudo para me jogar no que mais gosto de fazer: lutar. Deixei o meu pai segurando as contas de casa e me joguei nesse mundo. Daquele momento em diante, deixei para trás uma vida. Com 27 anos, parei de sair e de curtir para me dedicar, exclusivamente, ao esporte. Foi muito difícil. Tive momentos que achei que não era capaz de continuar”, explicou.
Início promissor no octógono e a mudanças de ares
Apesar das dificuldades, Jollyson não desistiu do sonho. Na estreia como lutador profissional de MMA, finalizou Ranílson Café, no Recife Fighting Champioship, em dezembro de 2011. Logo depois, ainda conseguiu outra vitória, no Coliseu Extreme Fight. Esperançoso, o pernambucano decidiu mudar de ares as técnicas de combate. Foi aí que tudo começou a mudar na vida do lutador.
O recifense se mudou para Natal, onde passou um mês treinando na academia Kimura/Nova União. “Fui muito bem recebido. É uma academia de artes marciais que tem um espírito de união muito forte. Me senti em família lá.” Entretanto, Jollyson não demorou para pegar a estrada novamente e encontrar um ambiente totalmente diferente.
Para treinar e disputar os principais torneios do cenário nacional, Jollyson se mudou novamente para Rio de Janeiro e foi treinar na filial carioca da Kimura/Nova União. A mesma academia, entretanto, bem diferente. “Logo de cara, já caí em um apartamento com dez outros lutadores. A realidade é outra porque são muitos outros atletas também buscando o seu espaço”, explica.
“Ainda tentei mudar de academia, com Pedro Rizzo (ex-lutador de MMA) me ajudando bastante, mas acabei não me acostumado”, conta o recifense. Jollyson também enfatizou a saudade de casa. “Pesou também no meu psicológico o fato de estar longe da família e da namorada”, desabafou.
Dois “no contest” seguidos
A primeira luta no Rio de Janeiro foi no Shooto Brasil, em 14 de julho de 2012. Jollyson conseguia um bom combate até a metade do segundo round, quando recebeu uma cabeçada ilegal do adversário Luiz Henrique. O rival foi desclassificado. Os juízes chegaram a levantar o braço do pernambucano – em sinal de vitória –, mas a organização do evento decidiu deixar a luta sem resultado (no contest). Os organizadores alegaram que não houve predomínio suficiente das parciais.
Em seguida, Jollyson entrou no octógono pelo Iron Fight Combat contra Leonardo Leleco. Novamente no segundo round, o pernambucano sofreu um golpe ilegal, a arbitragem parou a luta e puniu o baiano. De repente, um acontecimento tenebroso. “Recebi uma joelhada ilegal e o juiz parou a luta. Continuei deitado após o golpe, porque estava sentindo muitas dores. Na hora, Yuri Campos (árbitro) gesticula pra mim e fala alguma coisa que não deu para entender. Como eu não respondi, ele levanta o braço e acena que acabou a luta”, detalhou.
O maior problema, porém, foi após a decisão do árbitro. “Eu tinha certeza que a vitória seria minha. Leleco também sabia que ia perder e, simplesmente, partiu para cima do árbitro, na agressão. Tiveram que conter Leleco, porque o cara queria arrebentar o juiz”, ressaltou.
No fim das contas, o recifense recebeu outro “no contest” no Rio de Janeiro. O que revoltou Jollyson. “Incrivelmente, depois de tudo que aconteceu, o árbitro ainda deu a vitória para o Leonardo, provavelmente por medo. Só que aí, óbvio que o evento não ia manter esse resultado, e mais um no contest foi para a minha conta.”
O declínio e a chance do TUF
Essas duas lutas pesaram na cabeça do atleta. No Rio de Janeiro, as críticas pelos resultados insuficientes dentro da própria equipe passaram a incomodar o pernambucano, que decidiu voltar para Natal.
Já no final de 2012, outra chance bateu na porta do recifense. Rafaello Tractor conseguiu um emprego para Jollyson como mestre de jiu-jítsu nos Estados Unidos. Depois de longos 11 meses com problema na documentação do passaporte, Jollyson voou novamente para a capital carioca buscando afiar a arte marcial antes de retornar para o exterior. Foi aí que o The Ultimate Fighter apareceu.
Entrada no The Ultimate Fighter
Ainda que desacreditado, Jollyson soube da abertura de inscrições para a terceira edição do Ultimate Fighter e resolver tentar entrar. “Depois de um ano parado, eu não estava mais confiante no MMA. Olhando o meu cartel, tinha apenas duas vitórias e dois no contest. Isso não era legal. Mesmo assim, me inscrevi e fui aceito para as preliminares”, disse o recifense.
O pernambucano chegou no dia marcado para os primeiros testes e a entrevista, às 7h. “Já tinha uns dois mil lutadores esperando. Lembro até hoje meu número de inscrição: 956”, conta Depois de avaliações técnicas de solo e trocação, foi chamado para a primeira entrevista. Às 17h, Jollyson voltou para pegar o resultado. “Foi quando descobri que tinha passado para a fase dos exames médicos e de outra conversa com a organização”. No final do dia, o recifense já estava entre os 59 dos 32 que seriam escolhidos para lutar no TUF.
“Mesmo se eu não fosse chamado, minha confiança tinha voltado. Só de saber que estava entre esse seleto grupo, a vontade de lutar crescia de novo”, lembra o ex-gerente de vendas de Tejipió. “Um mês depois, a produção me ligou e disse que tinham me escolhido para lutar na aberturda do The Ultimate Fighter Brasil. Fiquei muito emocionado e não segurei as lágrimas. Era a chance da minha vida.”
A luta da carreira e a entrada na casa do TUF
Depois de tantos obstáculos, só faltava mais uma etapa para o pernambucano garantir a vaga na casa do TUF. “Tive um mês e meio para me preparar para o combate. Fiquei sabendo contra quem iria lutar apenas no dia da pesagem. Não tive preparação específica e não conhecia o adversário”. De cara, o recifense enfrentou o lutador mais “badalado” do programa: Ewerton Gigante, que representava o Batalhão de Choque do Rio de Janeiro.
“Talvez a aposta do programa era ele, estava como favorito. Porém, eu confiava demais no meu potencial. Depois de tudo que eu passei, de um ano horrível, não era um cara do choque ou qualquer outro que ia me derrotar”, contou Jollyson. E não perdeu. Com uma bela finalização, venceu Gigante e conquistou a vaga na casa do reality show no último dia 9. O maior feito da carreira do pernambucano que sabia que desistir não era uma opção. Alguém ainda duvida se ele vai dar trabalho no programa?
Os episódios do The Ultimate Fighter Brasil 3 são transmitidos todo domingo pela TV Globo.