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“Essa porcaria, qualquer chuvinha alaga. Foi um serviço muito mal feito. Na segunda (29) de madrugada, quando acordei para ir ao banheiro e pisei no chão, a água batia na minha canela”.  Dona Aurenir de Santana se refere ao projeto de requalificação do Canal da Malária, iniciado lá atrás, em 2008. Há 28 anos mora na rua Nelson Guedes da Silva, no Varadouro, e todo inverno é o mesmo inferno. Móveis perdidos, rachaduras na casa e o medo que não escorre pelo canal. 

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Do bairro de Jardim Brasil até o Varadouro (nos trechos das comunidades V-8 e V-9), o projeto iniciado na gestão da antiga prefeita de Olinda Luciana Santos não se resume a serviços de drenagem, assoreamento e revestimento do conduto de água. Famílias foram retiradas do local - onde as invasões persistem - e unidades habitacionais foram construídas ao longo do Canal da Malária. Até mesmo nestas casas, construídas pela gestão pública, entrou água durante a chuva do início da semana. Próximos destes novos habitacionais, casas rachadas e imóveis condenados, abandonados pelos moradores. 

Segundo Dona Aurenir, após as obras no canal, diversas fissuras começaram a aparecer na sua casa. “Mostrei aos engenheiros, na época da obra, e me disseram que não era nada, minha casa não tinha risco de desabar. Percebo que as rachaduras têm aumentado. Minha vida piorou, com certeza, depois dessa obra”. Vizinha de Aurenir, Joselma Andrade também teve a casa invadida pela água. Convive de perto com a insegurança. Contou, inclusive, sobre a existência de um jacaré no Canal da Malária. “O pessoal viu, ele vem até a beira. No dia da chuva foi uma correria, todo mundo com medo desse jacaré”. 

O cobrador José Paulo Severino da Silva, quando abordado pela reportagem, perguntou se a equipe era da Prefeitura logo questionou as peças publicitárias divulgadas pela gestão, nas quais moradores apontam melhoras na cidade. “Todo ano a mesma coisa, meu amigo. Aqui é a porta de entrada de Olinda, é passagem na época do Carnaval e continuamos nessa situação. Cadê que Renildo (Calheiros) não aparece por aqui? Ele não tá nem doido de vir”. Durante a conversa, não era raro ver crianças passarem pela rua engolida pela água do canal, com os pés e metade das pernas afundados no lodo. 

No lado oposto do Canal da Malária, barracos levantados quase dentro d'água. Em local onde a Prefeitura já havia retirado moradores, novas pessoas ergueram casebres de madeira e reeditam a invasão da comunidade V-8. Tráfico de drogas é comum na área, dizem os moradores “do lado de cá”, assustados. De ambos os lados, um elemento em comum: o lixo despejado no Canal da Malária. “O povo joga mesmo, é bom que se diga. É culpa do prefeito, mas da população também”, assevera Areunir de Santana.  

“Prefeitura assume total responsabilidade”, diz secretário sobre fissuras nas casas

 


Em entrevista exclusiva ao LeiaJá, o secretário-executivo de obras de Olinda, Enisson Hipólito, disse que o Canal da Malária “está funcionando, mas poderia estar melhor”. Em caráter emergencial, afirmou que a Prefeitura realizou, de segunda a quarta-feira (1), a limpeza do Canal, no Varadouro, mas define que os alagamentos do começo da semana foram “momentos atípicos”, devido à soma de fortes chuvas e picos de maré alta. 

“Ruas que nunca tinham sido alagadas encheram. Há trechos do canal onde tem área de proteção ambiental, o que favorece o retorno do mangue, as baronesas. Isso tudo junto represou a água e coincidiu de ser em dias de maré alta”, informou Hipólito. Sobre o medo dos moradores com rachaduras e a entrada de água nas casas construídas pela gestão municipal, o secretário foi enfático. “A Prefeitura assume a responsabilidade. Digo isso como engenheiro: não há com o que se preocupar. Em relação às casas que a Prefeitura fez, estamos totalmente seguros”.

De acordo com os dados da Secretaria de Obras, 460 unidades habitacionais já foram entregues no Varadouro e outras 80 estão em processo de finalização. O que acontece, segundo Enisson Hipólito, é o fenômeno das construções erguidas “de qualquer jeito” pela população, sem o aval de engenheiros e arquitetos, em locais indevidos. “É natural que essas casas sofram com isso. Mesmo assim, se (os moradores) quiserem, podem nos procurar e a Prefeitura orienta. Só não podemos assumir a responsabilidade por esses imóveis”. 

Para o problema do lixo descartado por moradores irregularmente no Canal da Malária, o secretário de Serviços Públicos de Olinda, Manoel Sátiro, afirmou que a Prefeitura planeja ações para tentar coibir essa ação. “É realmente um problema que complica muito o escoamento da água. Câmeras foram instaladas ao longo do canal e a Prefeitura vai tentar implantar em mais trechos para podermos monitorar”. 

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