Em estudo publicado nesta quarta-feira (24), pesquisadores americanos negaram a existência de pequenas células-tronco do tipo embrionário, chamadas de VSEL, no sangue e na medula óssea, identificadas em investigações anteriores. Em 2006, cientistas anunciaram a detecção dessas células-mãe em camundongos, e estudos posteriores indicaram sua presença também nos seres humanos.
Como as células-tronco provêm do embrião, essas células VSEL (do inglês "Very Small Embryonic-Like") teriam, de acordo com esses pesquisadores, o potencial de se transformar em qualquer célula do corpo para reparar tecidos danificados por uma doença, ou por um acidente. Também poderiam ser uma alternativa às células-mãe embrionárias para pesquisa - o que continua sendo muito polêmico por implicar a destruição de embriões humanos.
Como outros laboratórios não conseguiram reproduzir esses resultados, os principais pesquisadores da Faculdade de Medicina de Stanford, na Califórnia, liderados pelo doutor Irving Weissman, tentaram detectar essas células VSEL e avaliar seu potencial médico.
Usando vários métodos, os autores do estudo descobriram que a maioria dessas pequenas partículas nas células da médula óssea de camundongos eram apenas restos de células mortas, ou células vivas incapazes de se converter em uma outra célula.
"Nossos resultados refutam claramente o fato de que as células VSEL em estudos em camundongos têm o potencial das células-tronco embrionárias, e lançam sérias dúvidas sobre sua possível aplicação clínica em humanos", afirmou o doutor Weissman, cujo estudo foi publicado on-line na revista "Stem Cell Reports" deste 24 de julho.
O estudo questiona fortemente o projeto da companhia biofarmacêutica americana NeoStem para realizar testes clínicos destinados a provar a capacidade das células VSEL em medicina regenerativa em humanos.
A NeoStem apresentou os direitos exclusivos da tecnologia VSEL, com planos de pedir autorização à FDA - a agência americana que regula alimentos e remédios - para fazer o primeiro teste clínico em pessoas com doenças periodontais (infecções na gengiva).
Para o médico Ihor Lemischka, professor de Biologia Regenerativa do Centro Médico Monte Sinai de Nova York, os resultados dessa pesquisa "resolvem definitivamente a questão das células VSEL", cuja pesquisa "foi uma perda de dinheiro". Lemischka, que não participou do estudo, disse que "o laboratório do professor Weissman se tornou referência no mundo sobre células-tronco".
"Minha impressão é que um número muito pequeno de especialistas na comunidade científica sobre células-tronco deu alguma credibilidade a esses estudos sobre células VSEL", disse ele à AFP.