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Cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, descobriram células-tronco em embriões com uma capacidade de multiplicação superpotente, cerca de 200 a 500 vezes superior àquelas encontradas no cordão umbilical.

A descoberta, que foi publicada nesta quinta-feira (17) na revista "Stem Cell Reports", foi liderada pelos cientistas Andrejs Ivanovs e Alexander Medvinsky e pode tornar-se um instrumento importante para a medicina regenerativa no futuro.

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Essas células-tronco formam as células do sangue e do sistema imunológico e são conhecidas como células-tronco hematopoéticas (que têm a capacidade de tratar mais de 80 tipos diferentes de doenças sanguíneas).

Os autores conseguiram transplantar essas células embrionárias em ratos de laboratório e observaram uma inesperada capacidade de expansão.

"A disponibilidade com fins terapêuticos dessas células provenientes, por exemplo, da medula óssea ou do cordão umbilical, é um problema constante", explicam no artigo. Por isso, a descoberta anunciada é importante porque elas são "mais robustas e tem uma maior capacidade de multiplicarem-se e diferenciarem-se daquelas dos cordões umbilicais".

O próximo passo da pesquisa será entender quais são os mecanismos moleculares que conferem às células esse "superpoder" de multiplicação e expansão. 

Da Ansa

Pesquisadores da Universidade de Washington, no Missouri, Estados Unidos, conseguiram curar diabetes em ratos de laboratório em um procedimento envolvendo a manipulação de células-tronco. No Brasil, o tratamento é feito por meio de insulina, disponibilizada pelo Sistema único de Saúde (SUS).

O método desenvolvido pela equipe liderada por Jeffrey Millman renuncia injeções de insulina e usa as células modificadas para produzir hormônio. A ideia surgiu em 2019, quando os cientistas transformaram uma porcentagem maior de células alvo e as tornaram mais funcionais.

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Ao ser inseridas em roedores, os níveis de açúcar se estabilizaram, deixando-os “curados funcionalmente” por até nove meses, apontou o The Next Web. Com o resultado promissor, a próxima fase é testar o uso de células-tronco em animais maiores. Só após conclusão e a avaliação desta fase, o tratamento poderá ser realizado em humanos.

Quando o sistema imunológico de uma pessoa é afetado por uma doença genética, um transplante de medula óssea pode curá-la, mas com uma grande desvantagem: durante os primeiros meses as defesas do receptor ficam severamente enfraquecidas. A menor infecção pode levá-la ao hospital.

Um novo tratamento experimental, conhecido como terapia com células T, visa lidar com este período vulnerável, os meses durante os quais o corpo está reconstruindo suas defesas naturais.

Após duas décadas de testes clínicos, a tecnologia foi aperfeiçoada e está sendo usada para tratar cada vez mais pacientes, muitos deles crianças. Johan é um deles.

Hoje ele é um garotinho travesso e sorridente que não se cansa de perseguir o cachorro da família, Henry. Nada nele revela a montanha-russa médica e emocional que sua família, que vive em um confortável subúrbio de Washington, passou nos últimos três anos.

Tudo começou com um teste de gravidez: Johan não foi planejado. "Foi um choque, eu chorei", conta sua mãe, Maren Chamorro, de 39 anos.

Ela sabia desde a infância que carregava um gene que causa um transtorno frequentemente fatal antes dos 10 anos: a doença granulomatosa crônica (EGC). Seu irmão morreu aos sete anos. E as leis da genética indicavam que ela tinha uma chance em quatro de transmiti-la.

Para os primeiros filhos, ela e o marido, Ricardo, escolheram a fertilização in vitro, o que permitiu um teste genético dos embriões antes da implantação.

Seus gêmeos Thomas e Joanna nasceram há sete anos e meio sem a doença. Mas um teste genético confirmou que Johan tinha EGC.

Depois de entrar em contato com o Washington Children's Hospital, o casal tomou uma das decisões mais importantes de suas vidas: Johan receberia um transplante de medula óssea, um procedimento arriscado que permitiria a cura.

"O fato de Maren ter perdido seu irmão mais novo por essa doença teve um papel importante", diz Ricardo.

A medula óssea é nossa fábrica de glóbulos vermelhos e brancos. Os glóbulos brancos produzidos por Johan eram incapazes de responder a bactérias e fungos. Nele, uma infecção bacteriana poderia sair de controle.

Felizmente, seu irmão Thomas, de seis anos, era um doador compatível. Em abril de 2018, os médicos "limparam" a medula óssea de Johan com quimioterapia. Depois, pegaram uma pequena quantidade de Thomas, retirando-a dos ossos da pélvis com uma agulha.

Eles extraíram "supercélulas", como diz Thomas, células-tronco, que foram injetadas novamente nas veias de Johan para que gradualmente nidificassem sua medula óssea e produzissem glóbulos brancos normais.

- O mesmo sistema imunológico que do irmão -

O segundo passo foi a terapia celular preventiva, em um programa experimental liderado pelo imunologista Michael Keller. A parte do sistema imunológico que protege contra bactérias é reconstruída em poucas semanas, mas, para vírus, leva mais de três meses.

Do sangue de Thomas, os médicos extraíram glóbulos brancos especializados (células T) que já haviam encontrado seis vírus. Keller os multiplicou por 10 dias em uma incubadora, criando um exército de centenas de milhões de células T especializadas.

O resultado: uma substância branca esponjosa contida em um pequeno frasco de vidro. Em seguida, as células T foram injetadas em Johan, garantindo imediatamente proteção contra esses seis vírus, preventivamente.

"Ele tem o sistema imunológico de seu irmão", diz Keller. Sua mãe confirma: agora, quando Thomas e Johan pegam um resfriado, eles têm os mesmos sintomas, com a mesma duração.

"É ótimo ter a mesma imunidade que seu irmão mais velho", diz Maren. A estimulação do sistema imunológico a partir de células doadoras ou das próprias células geneticamente modificadas é denominada imunoterapia.

A principal aplicação dessa terapia é para o câncer, mas Keller espera que em breve esteja disponível contra vírus, para pacientes imunossuprimidos como Johan.

O obstáculo continua sendo a complexidade e o custo, que atualmente restringem o procedimento a 30 centros médicos nos Estados Unidos. Para Johan, um ano e meio após o transplante, tudo indica que funcionou perfeitamente.

"É ótimo vê-lo brincar na lama", afirma Maren, cuja única preocupação agora é que, quando Johan fica doente, o resto da família contraia o mesmo germe.

Cientistas disseram que usaram com sucesso células-tronco de camundongos para desenvolver rins em embriões de ratos, usando uma técnica que poderia um dia ajudar a criar rins humanos para transplante.

Mas os pesquisadores advertiram que seu êxito era apenas um primeiro passo e que restam "barreiras técnicas sérias e questões éticas complexas" antes que o processo possa ser usado para órgãos humanos.

A técnica foi usada anteriormente para cultivar pâncreas derivados de camundongos em ratos, mas o novo estudo é a primeira evidência de que pode um dia fornecer uma solução para a enorme escassez de rins de doadores para pessoas com doença renal.

A pesquisa, publicada na quarta-feira na revista científica Nature Communications, começou com o desenvolvimento de um "hospedeiro" adequado no qual os rins poderiam ser cultivados.

Os pesquisadores coletaram estruturas de embriões de ratos geneticamente modificados para que não desenvolvessem rins por conta própria.

Os embriões foram então injetados com células-tronco pluripotentes de camundongos e implantados em úteros de ratos.

As células-tronco pluripotentes são um tipo de célula "mestre" que pode se desenvolver para qualquer uma das células e tecidos que compõem o corpo.

Os pesquisadores descobriram que as células-tronco dos ratos produziam rins aparentemente funcionais nos ratos.

Mas o mesmo não aconteceu quando as células-tronco dos ratos foram injetadas em embriões de camundongos modificados de forma semelhante.

- Vidas curtas -

"As células-tronco do rato não se diferenciaram prontamente nos dois principais tipos de células necessárias para a formação dos rins", disse Masumi Hirabayashi, professor associado do Instituto Nacional de Ciências Fisiológicas do Japão, que supervisionou o estudo.

Por outro lado, "células-tronco de camundongos diferenciaram-se eficientemente (...) formando as estruturas básicas de um rim", disse à AFP.

A razão desta diferença ainda não está totalmente clara, mas os pesquisadores acreditam que "estímulos ambientais" dentro dos camundongos provavelmente são os culpados, e não as células-tronco ou a técnica.

Mas mesmo nos embriões de ratos, a técnica não foi isenta de problemas.

Enquanto os ratos desenvolveram rins aparentemente funcionais, inclusive com conexões adequadas com os ureteres - tubos que ligam os rins à bexiga -, eles morreram logo após o nascimento porque não amamentaram adequadamente.

Remover os genes que permitem que os rins se desenvolvam no útero parece ter também removido seu olfato, de modo que os recém-nascidos não conseguiram detectar o leite e morreram.

Suas curtas vidas significaram que testes limitados poderiam ser feitos sobre sua função renal, mas Hirabayashi disse que os órgãos pareciam funcionais "baseados em observações anatômicas".

Há outras preocupações: o crescimento de um rim em um hospedeiro de outra espécie pode levar à "contaminação" do órgão com células do hospedeiro.

- Preocupações éticas -

E o processo de crescimento de órgãos humanos em animais representa um enigma ético porque as células-tronco humanas podem se transformar em células do cérebro ou de órgãos reprodutivos no hospedeiro.

"As principais preocupações éticas são o risco de consciência e/ou produção de gametas (células reprodutivas)", disse Hirabayashi.

"Existem barreiras técnicas sérias e questões éticas complexas que devem ser discutidas e resolvidas antes de produzir órgãos humanos em animais", acrescentou.

A curto prazo, é provável que pesquisas adicionais enfoquem em formas de modificar geneticamente ratos hospedeiros sem efeitos colaterais letais.

Se bem sucedidos, os pesquisadores vão querer fazer mais testes nos rins derivados de células-tronco, e tentar transplantá-los dos hospedeiros para outros animais.

Eventualmente, os testes podem envolver a tentativa de desenvolver órgãos humanos.

Homens que não tinham ereções após retirar a próstata conseguiram manter relações sexuais recorrendo a um tratamento com células-tronco, revela um trabalho que será divulgado neste sábado (25), em Londres.

Em oito de 21 homens tratados foi possível reparar a disfunção erétil, apontam resultados preliminares "promissores" da investigação realizada pela equipe de Martha Haahr do hospital universitário de Odense (Dinamarca), que será apresentado no Congresso da Associação Europeia de Urologia, em Londres.

Os investigadores utilizaram células-tronco retiradas de gordura abdominal dos pacientes por lipoaspiração para injetar no pênis, e seis meses após o procedimento 8 dos 21 pacientes recuperaram função erétil suficiente para ter atividade sexual, o que foi mantido durante um ano de observação.

Nenhum dos 21 pacientes relatou efeitos colaterais significativos durante o período do procedimento e no ano seguinte.

Segundo Martha Haahr, "é a primeira vez que a terapia com células-tronco permite a pacientes recuperar uma função erétil suficiente para ter relações sexuais".

Os resultados deste teste clínico de fase 1, destinado em um primeiro momento a verificar a segurança do método, sugere a possibilidade de se tratar pacientes que sofrem disfunção erétil por outras causas, como diabetes, destacam os investigadores. "Mas trata-se de um teste limitado, sem um grupo-controle", acrescentou Haahr.

A equipe recebeu autorização das autoridades dinamarquesas para passar diretamente a testes de fase 3 e avaliar a eficácia do método em um maior número de pacientes operados de câncer de próstata, disse à AFP o doutor Lars Lund, do hospital universitário de Odense, que participou do trabalho apresentado em Londres.

O teste autorizado envolve somente pacientes com continência urinária e será comparativo. A incontinência urinária é um dos riscos da retirada total da próstata.

Uma equipe de pesquisadores de várias nacionalidades conseguiu criar um embrião metade humano, metade animal (mais especificamente, um porco) em um laboratório do Salk Institute, na Califórnia, Estados Unidos. A pesquisa não teve investimento do governo e foi realizada de forma independente. Segundo artigo publicado no periódico Cell, esse pode ser o primeiro passo para a criação de órgãos humanos para transplante, como coração, fígado e neurônios.

No início dessa semana, em uma outra publicação, outro grupo de cientistas detalhou a criação de um embrião misto de duas espécies de roedores. Nesse estudo, eles conseguiram fazer um pâncreas se desenvolver dentro do embrião e o transplantaram para um roedor com diabetes. O novo pâncreas funcionou perfeitamente no animal receptor que, alguns dias depois, já estava em perfeitas condições de saúde.

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Apesar do sucesso relatado pelas experiências, os pesquisadores enfrentam muitos questionamentos relacionados à ética dos procedimentos.

Alguns segmentos da sociedade norte-americana começaram a se perguntar sobre as possibilidades de se criar um ser capaz de desenvolver inteligência humana e o impacto e a crueldade de manter um animal com genéticas misturadas vivo, apenas para benefícios dos humanos.

Em um passo à frente rumo à regeneração de órgãos, células-tronco desenvolvidas a partir de células da pele de macacos revitalizaram corações doentes de cinco animais, anunciaram cientistas nesta segunda-feira.

O experimento representa um avanço na direção da meta de se estabelecer uma fonte ampla e indiscutível de células revitalizadas para serem transplantadas em vítimas de ataques cardíacos, escreveram pesquisadores em um estudo publicado na revista científica Nature. Isto evitaria a necessidade de coletar células-tronco de embriões ou dos próprios transplantados.

A equipe de cientistas utilizou as denominadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs). Elas são desenvolvidas ao se estimular células maduras, já especializadas - como as da pele - a voltarem ao estado neutro, juvenil, a partir do qual podem dar origem a qualquer outro tipo de célula humana.

Antes do surgimento da técnica iPSC, as células-tronco pluripotentes eram coletadas de embriões humanos, que são destruídos no processo - uma prática controversa. Há uma terceira categoria de células-tronco, que podem ser diretamente coletadas de seres humanos. Estas células-tronco "adultas" são encontradas dentro de certos órgãos, inclusive o coração, e existem para recompor células danificadas.

Células-tronco adultas do coração já foram usadas em nível experimental para tratar vítimas de ataques cardíacos. E o tratamento com células-tronco embrionárias demonstrou ser promissor no tratamento da insuficiência cardíaca severa. Mas a equipe de cientistas japoneses afirmou que seu estudo foi o primeiro a utilizar células iPSCs para consertar um dano cardíaco.

As células humanas iPSCs são há tempos consideradas uma fonte promissora de células para reparar o coração. Mas desenvolvê-las a partir das próprias células do paciente era "demorado, trabalhoso e custoso", enquanto as células cardíacas desenvolvidas a partir das células de outra pessoa podiam ser rejeitadas pelo sistema imunológico do receptor, escreveram os pesquisadores.

Nas experiências com macacos, os estudiosos selecionaram uma molécula em uma célula do sistema imunológico que combinou tanto com o doador quanto com os receptores de forma a impedir que o sistema de defesa do corpo identificasse e reagisse às células "invasoras". Os macacos também receberam drogas imunossupressoras brandas e foram monitorados por 12 semanas.

As células melhoraram a função cardíaca, embora tenham sido observados irregularidades nos batimentos (arritmia), destacaram os pesquisadores. Mas, o importante é que as novas células não foram rejeitadas.

"Ainda temos alguns obstáculos, incluindo o risco de formação de tumores, arritmias, o custo, etc", enumerou, em declarações à AFP, o coautor do estudo, Yuji Shiba, da Universidade Shinshu, do Japão. 

Mas ele disse estar confiante de que as células cardíacas iPSC serão testadas em humanos "em alguns anos". Especialistas que não participaram do estudo consideraram-no um avanço, mas advertiram que há um longo caminho a percorrer.

"Eu não acredito que o tratamento com células-tronco para insuficiência cardíaca vá se tornar realidade em muitos anos", avaliou o cardiologista Tim Chico, da Universidade de Sheffield.

Além de ser o canal de nutrição e oxigenação do bebê durante a gestação, o cordão umbilical também pode ser importante para ajudar quem sofre de doenças hematológicas como a leucemia. Descartado após a maioria dos partos, o sangue do cordão umbilical é rico em células-mãe, capazes de dar origem a diversos tipos de tecidos, inclusive os componentes principais do sistema imunológico do corpo. 

O sangue do cordão umbilical também pode ser utilizado para tratar 79 tipos de doença, como a Talassemia – doença hereditária responsável que destrói os glóbulos vermelhos do organismo, levando o paciente a desenvolver anemia – e linfomas. Até mesmo enfermidades neurológicas e a Aids estão entrando em testes de tratamento com o canal de nutrição do feto. 

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Segundo o hematologista Nelson Tastui, a coleta das células-tronco do cordão não apresenta nenhum risco para a saúde da mãe ou do bebê e deve acontecer no momento do nascimento. “A retirada do sangue do cordão umbilical deve ser realizada imediatamente após o parto. Depois, as células-tronco são separadas em laboratório e podem ser armazenadas por muitos anos em tanques refrigerados com nitrogênio, a uma temperatura próxima de -190ºC”, explica o especialista. 

ARMAZENAMENTO E COLETA – Entidades públicas e privadas podem guardar o tecido do cordão. No caso de bancos privados, o sangue do cordão do bebê é armazenado para seu próprio uso ou para utilização de um membro da família, em caso de necessidade. No caso de bancos públicos, o tecido ficará disponível para pacientes compatíveis ou que precisem de um transplante. Na rede pública, a BrasilCord é a responsável pelo armazenamento do sangue dos cordões. Para realizar o procedimento, as gestantes devem procurar uma das 13 unidades espalhadas pelo Brasil – sendo uma delas no Recife – e seguir todos os requisitos técnicos e legais. 

A coleta dura, em média, cinco minutos e deve ser realizada de forma asséptica. O tempo de transporte entre a coleta e o armazenamento deve ser de, no máximo, 48 horas. De acordo com a literatura médica, não existe tempo máximo para o armazenamento do tecido. Há, inclusive, amostras armazenadas há 23 anos que ainda apresentam viabilidade celular para tratamentos hematológicos. 

Depois de descongelado, o sangue do cordão umbilical é infundido numa transfusão de sangue comum, feita nos pacientes após tratamentos quimio ou radioterápicos.

Pioneiro no congelamento de sangue de cordão umbilical para transplantes e tratamento de doenças, o médico chileno Pablo Rubinstein, radicado nos Estados Unidos, acompanha há 22 anos o surgimento e o fechamento de bancos privados de armazenamento de células-tronco, que vendem serviços às famílias com base em promessas de cura de diversos males, da leucemia ao Parkinson.

Especialista em imunogenética, ele defende que os governos intervenham para impedir que propagandas enganosas levem as pessoas a gastar fortunas com os procedimentos, e também para divulgar a importância das doações voluntárias para bancos públicos.

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Hoje diretor do Programa Nacional de Sangue do Cordão Umbilical do Centro de Sangue de Nova York, Rubinstein foi o criador do sistema norte-americano que desde 1992 armazena sangue para aplicação em pacientes não aparentados dos doadores.

No Brasil, colaborou para a implementação do banco de armazenamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o primeiro do País, em 2001. Na quarta-feira passada, ele foi homenageado pela equipe do hospital. Após visitar as instalações, onde estão armazenadas 8 mil unidades de sangue (juntando todos os 13 da Rede BrasilCord, são 18 mil, das quais 170 já usadas em transplantes), o médico deu entrevista ao jornal o Estado de S. Paulo.

Rubinstein não defende o fim de bancos privados, como se discute na Espanha e na França, e sim uma maior divulgação dos prós e contras do armazenamento pago - a coleta, feita na maternidade, custa por volta de R$ 4 mil, e a anuidade, cerca de R$ 1.000.

No caso do banco privado, as células só podem ser usadas no próprio paciente, e não há comprovação científica da eficácia futura (no caso das doenças genéticas e da leucemia, não são recomendadas). No público, ficam disponíveis para todos os pacientes que precisarem de transplante. Em média, a chance de compatibilidade é de 1 para 100 mil.

"O objetivo do banco público é ajudar pacientes hoje. O do privado é hipotético, e o fim é fazer dinheiro. Do ponto de vista legal, é difícil privar as pessoas de guardarem sangue se quiserem e tiverem dinheiro para isso. Mas quando meus filhos me perguntaram o que fazer quando seus filhos nasceram, eu disse: 'Se não existem bancos públicos na cidade, não vale armazenar em particulares".

E continuou: "do ponto de vista social, é muito melhor investir num sistema que assista a todos, ricos e pobres, e dá a possibilidade de mais gente sobreviver a doenças fatais. Os governos devem assegurar que as famílias recebam informações corretas. A gente já sabe que o que eles vendem não é verdade. É irritante ser inundado por certas propagandas na internet", desabafou.

Os números sustentam sua argumentação. "O melhor que podemos fazer é comparar bancos públicos e privados. O maior privado dos EUA tem mais de 500 mil unidades e foram transplantados menos de 200 pacientes; no nosso, são 60 mil unidades e já tratamos 5.200 pacientes".

Uma equipe de cirurgiões da Associação Portuguesa de Beneficência, de São José do Rio Preto (SP), realizou com sucesso o primeiro transplante de células-tronco do País para tratamento da doença de Crohn. A enfermidade, que causa a inflamação do aparelho digestivo e não tem cura, atinge 5 milhões de pessoas em todo o mundo, e em seu estágio mais avançado pode levar à morte. O procedimento, realizado em 14 de outubro de 2013, só foi divulgado agora porque os médicos queriam ter certeza da recuperação da paciente, a estudante de farmácia Giselle Gomes Idalgo, 29 anos. Mas o transplante só pôde ser realizado porque a Justiça deu ganho de causa a ação ajuizada por Giselle e determinou que a cirurgia fosse paga pelo seu plano de saúde.

A cirurgia abre perspectivas para que outros pacientes de Crohn possam reivindicar o mesmo tratamento, mas como ele ainda não consta no rol dos transplantes autorizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e não está na lista da Agência Nacional de Saúde (ANS) de doenças assistidas pelas operadoras particulares, é necessário ajuizar ação judicial. "Isso é a judicialização da medicina porque muitos procedimentos não são autorizados no Brasil", comentou o hematologista Milton Ruiz, coordenador da unidade de transplantes e de terapia celular da Associação, e responsável pela cirurgia.

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"Não havia outra alternativa para minha paciente. Os medicamentos que ela tomava não faziam mais efeito e ela já tinha passado por duas cirurgias para retirada de parte do intestino grosso e do intestino fino", conta o gastroenterologista Luiz Kaise Júnior, que recomendou o transplante a Giselle. "Como o Milton Ruiz já utilizava o transplante em outras doenças, pensamos na possibilidade de realizá-lo com a doença de Crohn, uma vez que esse tipo de procedimento já era feito nos Estados Unidos." O transplante seguiu protocolo da Universidade de Chicago, que realiza o mesmo tipo de cirurgia no North Western Memorial Hospital, da cidade americana. "Viajamos para aquele País e médicos de lá vieram ao Brasil para viabilizar o transplante."

Ruiz explicou que foram 29 dias entre a preparação da paciente e a conclusão do transplante. Inicialmente, a paciente recebeu medicamentos para produzir o volume necessário de células-tronco, em seguida o material foi congelado. Depois de recuperada, a paciente voltou a ser internada para receber as células, por infusão periférica. Depois disso, ainda foram necessários mais 17 dias de internação.

Recuperação - Gisele está totalmente recuperada. Não toma medicamentos desde que saiu da cirurgia há oito meses. Ela lembra do passado difícil, quando seu peso caiu de 55 para 32 quilos e teve de largar o trabalho e a faculdade de farmácia e ainda enfrentar o preconceito da sociedade. "Em 2010 eu comecei a sentir os primeiros sintomas - dores abdominais fortes, dores nos ossos e diarreias constantes. Perdi as forças, emagreci, tive de deixar de trabalhar e estudar e não conseguia nem pegar um copo de água por causa das dores nos ossos", conta. "Foi muito sofrimento e muito preconceito, incluindo de peritos do Instituto Nacional do Seguro Nacional. Felizmente hoje estou muito bem, não tomo remédios a oito meses e me sinto saudável", afirma. "Agora quero voltar a trabalhar", diz.Em 80% dos casos, a doença de Crohn leva às intervenções cirúrgicas e em 33% à morte. No caso do transplante pode ocorrer a recidiva em cinco anos, mas há casos em que isso não ocorre. "Para mim, o que importa é que sempre tive esperança de viver, desde antes do transplante e agora muito mais", diz Giselle.

Dez anos atrás, a polêmica sobre a ética das pesquisas com células-tronco embrionárias humanas estava no auge. Até que, em 2007, um grupo de pesquisadores japoneses acalmou os ânimos - e praticamente enterrou o debate - com uma técnica revolucionária, que permitia transformar células da pele em células pluripotentes, equivalentes às embrionárias, com capacidade para se transformar em qualquer tipo de tecido do organismo, sem a necessidade de mexer com embriões humanos. Conhecida como iPS (células-tronco de pluripotência induzida), a técnica foi rapidamente adotada por dezenas de laboratórios ao redor do mundo e rendeu ao criador, Shinyia Yamanaka, o Prêmio Nobel de Medicina em 2012, em reconhecimento do incrível potencial para a compreensão e o tratamento de uma enorme variedade de doenças.

Agora, passado pouco mais de um ano da premiação, uma nova revolução em potencial se apresenta nas páginas da revista Nature: uma nova técnica, também desenvolvida por japoneses, que permite transformar células adultas em células embrionárias (indiferenciadas e pluripotentes) de maneira ainda mais simples, apenas com uma modificação do pH do líquido no qual as células são cultivadas em laboratório. As células iPS, em comparação, são produzidas por meio de uma reprogramação genética induzida pela introdução de genes indutores de pluripotência no genoma da célula adulta, o que exige o uso de vetores virais para levá-los até o núcleo celular.

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As células produzidas pela nova técnica foram batizadas de STAP, sigla em inglês para "pluripotência adquirida por estímulo" (stimulus-triggered acquisition of pluripotency), e as pesquisas foram lideradas por Haruko Obokata, do centro de pesquisas RIKEN, no Japão, e da Escola de Medicina de Harvard, nos EUA.

A técnica está descrita em dois trabalhos, publicados simultaneamente pela Nature. No primeiro, os pesquisadores mostram que é possível induzir a reprogramação de células adultas em células pluripotentes apenas pela exposição delas a um meio de cultura mais acídico (de pH mais baixo), sem a necessidade de introduzir novos genes (ou qualquer outra coisa) no seu DNA. As células reprogramadas foram introduzidas em embriões de camundongos e deram origem a animais quiméricos, com as células Stap incorporadas a todos os seus tecidos - comprovando que elas eram, de fato, células pluripotentes.

Eternidade - Para serem consideradas equivalentes às células-tronco embrionárias, porém, ainda faltava uma característica: a capacidade de autorrenovação (de se multiplicar eternamente, sem perder o estado indiferenciado). Sem isso, as células STAP seriam de pouco uso prático para pesquisa, pois viveriam apenas por alguns dias e não seria possível estabelecer linhagens permanentes, como se faz com as células iPS. Por isso, foi feito o segundo trabalho, em que os pesquisadores mostram que é possível induzir essa autorrenovação pondo as células reprogramadas em um meio de cultura usado para cultivar células pluripotentes - também por meio de estímulos externos, sem introduzir nada de novo nas células.

Os dois trabalhos foram feitos apenas com camundongos. A técnica não foi testada ainda em células humanas - a expectativa é que ela funcione da mesma forma, mas não há como ter certeza disso até que os experimentos sejam feitos, revisados e comprovados. Esse foi o caminho percorrido por Yamanaka com as células iPS: o primeiro trabalho, feito com células de camundongos, foi publicado em 2006; um ano depois, veio a confirmação em células humanas.

Se as células STAP seguirem esse mesmo caminho, elas poderão ampliar e acelerar ainda mais as pesquisas com terapia celular ao redor do mundo. "A descoberta inesperada de que um estímulo físico pode induzir a reprogramação de células a um estado de potência irrestrita abre a possibilidade de se obter células-tronco específicas de pacientes por meio de um procedimento simples, sem manipulação genética", observa Austin Smith, pesquisador do Wellcome Trust e da Universidade de Cambridge, em um artigo que acompanha os estudos na Nature.

Um tratamento laboratorial relativamente simples mostrou-se capaz de transformar células comuns de ratos em células-tronco, segundo um surpreendente estudo publicado na edição desta semana da revista especializada Nature. A pesquisa indica uma maneira nova e barata de desenvolver tecidos e órgãos para o tratamento de doenças que vão do diabetes ao Mal de Parkinson.

Cientistas britânicos e japoneses expuseram células de baços de ratos recém-nascidos a um ambiente mais ácido do que elas estão habituadas. Nos testes laboratoriais, tais condições fizeram com que elas se transformassem em células-tronco, versáteis o bastante para produzirem os tecidos de um embrião de rato, por exemplo.

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Células da pele, dos músculos, de gordura e outros tecidos dos ratos recém-nascidos aparentemente passaram pela mesma mudança, o que poderia ser desencadeado pela exposição das células a uma variedade de situações extremas, disseram os pesquisadores.

A expectativa dos cientistas é usar células-tronco para substituir tecidos prejudicados por uma ampla gama de doenças. Ao obter células-tronco a partir das células do próprio paciente, os médicos podem contornar o problema da rejeição em casos de transplante.

"É um processo muito simples. Acho que é possível fazer isso até num laboratório de escola", disse o doutor Charles Vacanti, autor de dois trabalhos sobre o tema publicados na edição desta semana da Nature.

Vacanti advertiu que a técnica, se funcionar também em seres humanos, provavelmente abrirá um novo caminho potencial para a clonagem, o que é "causa de preocupação".

Coautora do estudo, a japonesa Haruko Obokata disse que os pesquisadores agora estudam se a técnica funcionará em seres humanos.

Médicos sem relação com a pesquisa declararam-se surpresos com o resultado, mas observaram que ainda é cedo para saber quais serão as aplicações praticadas da pesquisa.

"Até ficar demonstrado que funciona em humanos, será difícil saber quais serão as aplicações práticas", opinou William Lowry, biólogo da Universidade da Califórnia em Los Angeles. "Por enquanto, a questão é se uma curiosidade laboratorial vai se transformar em um avanço da medicina. A resposta ainda está no ar." Fonte: Associated Press.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai promover a partir desta quarta-feira (11) até a próxima sexta (13) a Semana de Biociências e Biotecnologia em Saúde: Ciência a Serviço da Sociedade. O intuito é mostrar aos universitários de ciências biológicas e área de saúde possibilidades de pesquisas ligadas à área de saúde.

Haverá discussão de temas como células-tronco, doenças negligenciadas e autoimunes, além de regulação gênica, vacinas e dengue. O evento, organizado por alunos de Programa de Pós-graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde da Fiocruz, terá dentro da programação quatro minicursos, são eles de Caracterização da resistência em insetos vetores, Introdução à biologia molecular, Introdução à citometria de fluxo e Técnicas imunológicas.  

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A Fiocruz fica localizada na Avenida Professor Moraes Rego, Cidade Universitária, na Zona Oeste do Recife. Outras informações podem ser obtidas através do site.

Em estudo publicado nesta quarta-feira (24), pesquisadores americanos negaram a existência de pequenas células-tronco do tipo embrionário, chamadas de VSEL, no sangue e na medula óssea, identificadas em investigações anteriores. Em 2006, cientistas anunciaram a detecção dessas células-mãe em camundongos, e estudos posteriores indicaram sua presença também nos seres humanos.

Como as células-tronco provêm do embrião, essas células VSEL (do inglês "Very Small Embryonic-Like") teriam, de acordo com esses pesquisadores, o potencial de se transformar em qualquer célula do corpo para reparar tecidos danificados por uma doença, ou por um acidente. Também poderiam ser uma alternativa às células-mãe embrionárias para pesquisa - o que continua sendo muito polêmico por implicar a destruição de embriões humanos.

Como outros laboratórios não conseguiram reproduzir esses resultados, os principais pesquisadores da Faculdade de Medicina de Stanford, na Califórnia, liderados pelo doutor Irving Weissman, tentaram detectar essas células VSEL e avaliar seu potencial médico.

Usando vários métodos, os autores do estudo descobriram que a maioria dessas pequenas partículas nas células da médula óssea de camundongos eram apenas restos de células mortas, ou células vivas incapazes de se converter em uma outra célula.

"Nossos resultados refutam claramente o fato de que as células VSEL em estudos em camundongos têm o potencial das células-tronco embrionárias, e lançam sérias dúvidas sobre sua possível aplicação clínica em humanos", afirmou o doutor Weissman, cujo estudo foi publicado on-line na revista "Stem Cell Reports" deste 24 de julho.

O estudo questiona fortemente o projeto da companhia biofarmacêutica americana NeoStem para realizar testes clínicos destinados a provar a capacidade das células VSEL em medicina regenerativa em humanos.

A NeoStem apresentou os direitos exclusivos da tecnologia VSEL, com planos de pedir autorização à FDA - a agência americana que regula alimentos e remédios - para fazer o primeiro teste clínico em pessoas com doenças periodontais (infecções na gengiva).

Para o médico Ihor Lemischka, professor de Biologia Regenerativa do Centro Médico Monte Sinai de Nova York, os resultados dessa pesquisa "resolvem definitivamente a questão das células VSEL", cuja pesquisa "foi uma perda de dinheiro". Lemischka, que não participou do estudo, disse que "o laboratório do professor Weissman se tornou referência no mundo sobre células-tronco".

"Minha impressão é que um número muito pequeno de especialistas na comunidade científica sobre células-tronco deu alguma credibilidade a esses estudos sobre células VSEL", disse ele à AFP.

Uma antiga promessa das pesquisas com células-tronco - de criar novos órgãos para substituir aqueles que venham a falhar - pode estar um passo mais perto de ser alcançada. Cientistas japoneses conseguiram desenvolver um "broto" de fígado humano em laboratório que, ao ser transplantado num camundongo, se transformou num órgão funcional.

O grupo trabalhou com as chamadas células-tronco de pluripotência induzida (iPS), as vedetes das pesquisas da área. Criadas a partir de reprogramação de células adultas, são tão versáteis quanto as células-tronco embrionárias, que têm a capacidade de se diferenciar em qualquer célula e tecido do corpo, com a vantagem de não precisar destruir um embrião para obtê-las.

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Vários trabalhos mostraram com sucesso a diferenciação das iPSs e de outras células-tronco em diversas células específicas do corpo, mas nenhum deles havia sido bem-sucedido em criar um órgão tridimensional e vascularizado. Foi exatamente isso que conseguiu o trabalho publicado nesta quinta-feira, 4, na revista científica "Nature". Como escrevem no artigo, os pesquisadores da Universidade da Cidade de Yokohama buscaram reproduzir o processo natural de organogênese.

A partir de células iPS humanas, eles, primeiramente, obtiveram células hepáticas que, misturadas com outras células, foram estimuladas in vitro e geraram um precursor do fígado. Em seres humanos, esse broto é formado logo no início da gestação, por volta da quinta ou sexta semana. "Basicamente, nós mimetizamos esse estágio bem inicial de formação", afirmou o líder do estudo, Takanori Takebe.

Esse broto de órgão foi então transplantado para o crânio do animal, de modo que fosse possível observar por uma espécie de janela como ele estava se desenvolvendo. A vascularização deu certo e ele amadureceu, se transformando em tecido hepático. Depois, era preciso descobrir se ele era funcional.

Sobrevida

Para isso, os pesquisadores checaram diversas medidas específicas da função de um fígado humano, como produção de proteína, o sistema biliar e o metabolismo de drogas. Todas foram confirmadas. Eles também observaram a presença de substâncias químicas que são metabolizadas pelo fígado humano, mas não por um camundongo.

Por fim, foi induzida a falha do próprio fígado do animal, e o broto transplantado foi capaz de desempenhar funções suficientes para aumentar sua sobrevivência.

Para o biólogo brasileiro Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e um dos poucos pesquisadores brasileiros que trabalham com iPS, o maior avanço da pesquisa foi ter conseguido provar que é possível criar órgãos funcionais - uma esperança para as filas de pacientes críticos que precisam de transplante.

"A sacada deles foi se valer do que a natureza ensinou para mimetizar a organogênese. E a ideia de transplantar um broto, e não o órgão já pronto, também foi muito boa, porque favorece que a construção do fígado já seja mais adaptada ao organismo", diz o pesquisador.

Em coletiva à imprensa, os pesquisadores disseram que já estão tentando aplicar essa técnica para a formação de pâncreas, e que ela poderia ser usada também com rim e pulmão. Eles estimam que pode ser possível iniciar testes clínicos em humanos em 10 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As conquistas do agrônomo Henrique Dias, de 68 anos, podem servir de esperança para portadores da esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma rara doença neurodegenerativa que atinge um em cada cem mil habitantes. Dias é o primeiro brasileiro a passar por um bem-sucedido tratamento que regrediu a enfermidade, usando células-tronco. A boa notícia, no entanto, deve ser vista com cautela, advertem os especialistas, uma vez que o procedimento ainda é experimental e demanda mais um ou dois anos de pesquisas antes que se comprove a eficácia e sejam cumpridos todos os requisitos para que o método seja autorizado.

"A melhora é lenta, mas o tratamento deu certo. É um negócio muito novo, mas para mim foi ótimo", diz Dias, que em 2006 foi diagnosticado com a síndrome e antes do procedimento não conseguia falar nem se locomover. Os resultados do estudo inédito conduzido pelos hematologistas Adelson Alves e Elíseo Joji Sekiya foram apresentados nesta semana durante o Congresso Internacional de Terapia Celular, realizado na Nova Zelândia.

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Dois fatores principais contribuíram para o sucesso da nova técnica. O primeiro deles foi a escolha da matriz no organismo para a retirada celular. Ao invés de usar células hematopoéticas (extraídas da medula óssea), os pesquisadores escolheram as células mesenquimais (presentes no tecido adiposo e no cordão umbilical), que são a aposta para o tratamento de doenças autoimunes como diabetes, mal de Alzheimer e esclerose múltipla.

Assim, fizeram uma minilipoaspiração no abdome do paciente para coletar a gordura e cultivaram as células no laboratório da Cordcell, um centro de pesquisas de terapia celular que também possui banco de armazenamento de células do cordão umbilical. A segunda inovação foi o método de infusão das células-tronco no corpo do paciente. Em vez de injetá-las na veia, optaram pela via raquimedular, por meio do liquor (liquido do cérebro), diretamente no sistema nervoso. Os custos do estudo foram pagos pelo laboratório.

Para iniciar o tratamento, foram necessárias autorizações do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e da Justiça. A permissão ocorreu sob o argumento do "uso compassivo", quando não há tratamento convencional disponível para um paciente em estado terminal e se permite o acesso a remédio ou técnica que esteja em fase ainda experimental. A ELA é uma enfermidade progressiva e fatal, caracterizada pela degeneração dos neurônios motores, que são as células do sistema nervoso central controladoras dos movimentos voluntários dos músculos.

"Na época do diagnóstico foi um choque porque disseram que ele teria um ano de vida. Quando surgiu a chance de fazer o tratamento, ninguém teve dúvidas", disse um dos três filhos do agrônomo, o administrador Renato de Souza Dias. "Meu pai sempre se colocou à disposição, mesmo sabendo que era experimental e sem garantia de resultados."

A primeira infusão foi feita em janeirode 2012. Nos seis meses seguintes, a equipe avaliou a segurança do procedimento, monitorando se o paciente apresentava alguma reação ou efeito colateral indesejado. Passado esse período, foram realizadas outras duas infusões, num intervalo de 30 dias.

Pouco tempo depois do início do procedimento brasileiro, pesquisadores norte-americanos conseguiram aprovação da Food and Drug Administration (FDA, a agência reguladora de fármacos nos Estados Unidos), para selecionar 25 pacientes para iniciar os estudos da técnica na Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota. Agora, os cientistas do Brasil e dos EUA estão em contato para compartilhar as experiências adquiridas.

Atualmente, Dias conversa, caminha com ajuda, atende o celular e consegue segurar pequenos objetos. "O principal resultado é que ele parou de piorar", diz o filho. Os resultados foram tão animadores que o hematologista deve pedir nova autorização ao Conep para realizar o procedimento em outros dez pacientes. "Houve melhoria significativa em relação ao quadro que ele estava, e isso foi muito animador para nós pesquisadores", disse Alves. "Esse foi um caso excepcional, mas existe essa luz no fim do túnel. É um indício de que estamos no caminho certo."

O Rio terá um Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde, o Sautec, dedicado a pesquisas com células-tronco, doenças cerebrais, como Alzheimer e Parkinson, e medicina esportiva de alto desempenho. O projeto prevê investimento de R$ 42 milhões na construção do prédio, e outros R$ 30 milhões para a compra de equipamentos. A previsão é de que o Sautec seja licitado até o fim do ano e inaugurado em 2014.

"Há um abismo entre a bancada de pesquisa e o leito hospitalar. Conhecemos a doença de Alzheimer, mas não temos medicamentos novos, terapias celulares. É nisso que queremos inovar", justifica o secretário de Estado de Saúde, Sérgio Côrtes.

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O Sautec foi desenhado com base em uma ideia do neuropsiquiatra Jorge Alberto Costa e Silva, cientista sênior da Universidade de Nova York e ex-diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ele propôs ao governo do Rio a criação de um instituto de estudos do cérebro.

Foram três anos de reuniões e sugestões. Segundo Costa e Silva, "o modelo de estudos do cérebro é inspirado no dos institutos de Paris e de Hannover. O laboratório de células-tronco é o mesmo do NIH (agência norte-americana de saúde)."

O Sautec funcionará num prédio de sete andares, junto ao Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), na zona portuária. Divididos em 8 mil m², ficarão os setores de estudos da mente, laboratório de terapia celular e centro de imagem - que terá o único equipamento de ressonância magnética de 7 tesla do Hemisfério Sul, que permite imagens do cérebro em funcionamento diante de estímulos.

Haverá também o Laboratório da Marcha, que buscará soluções para atletas de alta performance e investigar como melhorar o caminhar de pacientes com paralisia cerebral, por exemplo. O centro terá programas de mestrado e doutorado.

O Sautec será usado por pesquisadores de diferentes instituições, que terão à disposição secretárias e equipe de consultoria para relatórios de prestação de contas. Os interessados submeterão projetos de pesquisa a uma comissão. As despesas para utilizar as instalações serão rateadas pelos projetos que tiverem financiamento de agências de fomento. O governo alugará o espaço para pesquisas da indústria farmacêutica. O processo será coordenado pelo Instituto Vital Brazil, estatal. Depois de pronto, o governo deve investir R$ 2 milhões por mês no instituto.

Verbas. Ligia Bahia, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), defende que os investimentos em pesquisas venham do Ministério de Ciência e Tecnologia, com o fortalecimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj). "É importante investir em ciência, mas sem diluir as verbas da saúde, que devem ter outro destino", afirma.

Já o médico Amâncio Paulino de Carvalho, professor de Saúde Coletiva da UFRJ, não vê contradição no fato de a Secretaria de Saúde investir em pesquisa. Para ele, os problemas do setor no Rio não são de verba, mas de gestão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Prêmio Nobel de Medicina deste ano foi para os pesquisadores John Gurdon e Shinya Yamanaka, que descobriram que células maduras podem ser reprogramadas para virarem células-tronco. O comitê do Nobel disse nesta segunda-feira que as pesquisas do britânico e do japonês "revolucionaram nosso entendimento de como células e organismos desenvolvem-se."

Cientistas querem utilizar o método de reprogramação para novos tratamentos, como substituir tecidos de pacientes com mal de Parkinson e diabetes.

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Gurdon, de 79 anos, demonstrou em 1962 - ano em que Yamanaka nasceu - que o DNA de células especializadas de sapos poderiam ser utilizadas para gerar novos girinos. A clonagem da ovelha Dolly, realizada em 1997 por outros pesquisadores, mostrou que o mesmo processo que Gurdon utilizou nos anfíbios funciona em mamíferos.

Em 2006, Yamanaka, de 50 anos, conseguiu tornar células maduras em células primitivas, que por sua vez poderiam virar outros tipos de células maduras.

"As descobertas de Gurdon e Yamanaka mostraram que células maduras podem retroceder o relógio de desenvolvimento em certas circunstâncias", afirmou o comitê do Nobel. "Essas descobertas também deram novas ferramentas para cientistas em todo o mundo e levaram a notáveis progressos em diversas áreas da medicina". As informações são da Associated Press.

Células-tronco embrionárias obtidas a partir de uma técnica desenvolvida por pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, já estão sendo aplicadas em seres humanos. Os primeiros resultados dos testes, visando à reconstrução do tecido que reveste a córnea, deverão ser anunciados no segundo semestre de 2013.

“Fora do país, há alguns estudos avançados. Porém, eles não chegaram à quantidade de células que a gente consegue obter. O grande achado do nosso trabalho é conseguir quantidades de células suficientes para aplicação em humanos”, destaca o pesquisador do Instituto Butantan Nelson Lizier.

O estudo feito pelos pesquisadores do Laboratório de Genética do instituto levou à criação de uma técnica que permite obter grandes quantidades de células-tronco - capazes de gerar qualquer tecido do corpo humano – a partir do dente de leite. “Essa nova tecnologia que nós conseguimos desenvolver permite que, de uma única polpa [de um dente de leite], a gente consiga tratar muitos pacientes, em torno de 100 por dia”, destaca Lizier.

Os últimos testes feitos em animais mostraram que as células não levam a nenhum efeito colateral quando comparadas a biofármacos e a outras drogas. “As cirurgias já estão acontecendo. A gente já fez em dois pacientes, dentro do Instituto da Visão da Unifesp [Universidade Federal de São Paulo], responsável por essa parte cirúrgica”, ressalta o pesquisador. Os resultados só poderão ser divulgados após o encerramento dos testes.

Um grupo de pacientes com lesões na córnea está recebendo as células-tronco como parte do experimento. Além da córnea, os pesquisadores já têm pesquisas sobre a aplicação das células-tronco embrionárias em outras áreas. “A gente já tem estudos aqui dentro do grupo de pesquisa para a utilização dessas células para regeneração de retina, para arteriosclerose, doenças cardíacas, regeneração óssea, de cartilagem, e implantes dentários.”

Os estudos sobre células-tronco obtidas a partir de dentes de leite começaram a ser feitos no Butantan em 2004. Com essa técnica, os embriões não são mais necessários para a criação das células-tronco. Assim, é possível produzir do próprio organismo do paciente uma célula igual à embrionária.

O ressurgimento de tumores tempos depois de eles terem sido combatidos por quimioterapia é um dilema que aflige pesquisadores que lidam com câncer. Três estudos divulgados ontem conseguiram mostrar a ação de células-tronco tumorais na retomada desse crescimento, oferecendo um novo alvo na luta contra a doença.

Células-tronco são capazes de se diferenciar em outras células e normalmente são associadas a promessas de tratamento de, por exemplo, doenças degenerativas. São elas também que, nos tecidos e órgãos, originam novas células para repor as que morrem. De maneira semelhante, imaginava-se que células-tronco tumorais dariam origem às células que compõem o tumor.

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Essa hipótese é investigada há anos e outros trabalhos científicos já haviam trazido evidência para linfoma e leucemia, que se desenvolvem no sangue, mas não para tumores sólidos.

A dificuldade é que as pesquisas eram feitas com base no transplante de tumores humanos em animais. No caso do sistema sanguíneo, o transplante recria as condições do doador, mas nos tumores sólidos outras variáveis podem interferir no comportamento celular, o que torna mais difícil identificar as células-tronco tumorais e isolá-las como responsáveis pelo crescimento do câncer - o que sempre causou muita controvérsia sobre o resultado das pesquisas.

Avanço

O salto dos três estudos foi usar modelos animais projetados para desenvolver tumores, eliminando eventuais interferências. Um dos estudos trabalhou com câncer de pele, o outro, de cérebro, e o terceiro, com câncer de intestino. Com algumas diferenças nos procedimentos, os três foram capazes de demonstrar que os tumores estavam sendo originados de populações de células tumorais com características de células-tronco.

As duas primeiras pesquisas estão na revista Nature e a terceira, na Science. O anúncio conjunto reforça a importância dos achados. "Provamos a existência das células-tronco tumorais sem manipular os tumores ou as células", afirmou à reportagem Luis Parada, da Universidade do Texas, que trabalhou com o modelo de tumor cerebral.

Após submeter os animais à quimioterapia e ver o tumor praticamente desaparecer, ele e colegas identificaram as células-tronco sobreviventes e depois notaram que elas geravam novas células tumorais. "Nós mostramos que, se matarmos essas células, o tumor para de crescer", conta.

Eles mataram as células porque elas estavam com uma marca específica para reagir a uma droga, mas, nas situações reais, isso não acontece. "Os estudos são bastante importantes, mas agora precisamos entender o que diferencia as células-tronco tumorais das tumorais para poder atacá-las", afirma Vilma Regina Martins, diretora de Pesquisa do Hospital A. C. Camargo.

"Os estudos também alertam para a necessidade de se averiguar possíveis efeitos adversos decorrentes de terapias com células-tronco para outras doenças, visto que uma hipótese para a origem das células-tronco cancerosas é a transformação maligna de células-tronco normais residentes em nossos tecidos", diz Keith Okamoto, da USP, que trabalha com o tema no Brasil. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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