Em 1983, o mercado de videogames chegou ao Brasil com o Atari e seus diversos clones. Até o final da sétima geração de consoles (PS3 e Xbox 360), em 2013, eram raros os jogos que apresentavam legendas em português. Mas a atual geração popularizou a adaptação dos títulos para o idioma local não apenas em texto, mas também em áudio e, com isso, o mercado de dublagem de jogos ganhou destaque.
Graças aos lançamentos mundiais, os jogos dublados se popularizaram e o público brasileiro tornou-se um forte consumidor do segmento. Assim, a qualidade da dublagem passou a ser apreciada tanto como a dos gráficos e a jogabilidade. "Foi semelhante ao que ocorreu com os desenhos animados, quando foram dublados pela primeira vez. Deve ficar mais fácil de jogar, já que os comandos estão em português", explica o dublador Marcio Navarro.
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A crescente demanda de jogos dublados trouxe novas opções para os profissionais da área, mas ainda não existem cursos especializados em localização de games, ou seja, na preparação dos jogos eletrônicos para outras localidades. Por conta disso, as primeiras oportunidades não serão imediatas. "Com a prática será possível um dublador ficar bem afiado nos games, a ponto de dominar a técnica como dublador de jogos", afirma Navarro, que é conhecido no mundo dos games por emprestar sua voz aos personagens Benjamim Franklin em "Assassins Creed III" (Ubisoft, 2012), Jordi Chin da franquia "Watch Dogs" (Ubisoft), Nikolai Belinski em "Call of Duty: Black Ops 4" (Activision, 2018) e Crunch Bandicoot de 'Crash Team Racing Nitro Fueled" (Activision, 2019).
Marcio Navarro (centro) e alguns dos personagens que dublou | Foto: Divulgação
Outro personagem dublado por Navarro é o Derivante (Drifter) de "Destiny 2" (Activision, 2017), que em 2020 teve a voz trocada por causa da logística de dublagem adotada na pandemia de coronavírus (Covid-19). A troca não foi bem aceita por parte dos fãs, que se manifestaram na internet e conseguiram convencer a publicadora do jogo a devolver o papel ao dublador. Isso mostra o quantos os jogadores brasileiros levam a sério esse tipo de trabalho.
O processo de dublar jogos é diferente se comparado a outras mídias. Em filmes, o dublador dispõe do audiovisual, assiste a cena original, ensaia e depois realiza a dublagem. "No game, você grava em cima da onda sonora, contendo o áudio original, sem ver o que se passa. Porém, tendo referências", destaca o dublador Eduardo Bastos. Por apresentar uma técnica diferente, existe a possibilidade de alguns dubladores se especializarem neste seguimento, que ainda é recente. "Não vejo nenhum mal nisso. Porém, creio que a versatilidade abre portas e, quanto mais desenvolvermos todas as técnicas, melhor", complemanta.
Bastos dublou os personagens em "The Whitcher 3" (CD Projekt RED, 2015), "Call of Duty: Black Ops 3 & 4" (2016 e 2018) e também "Crash Team Racing Nitro Fueled" (2019). "O Donnie Ruin, por ser um dos principais em 'COD' 3 e 4, teve um grande destaque. O Hjalmar An Craite, teve uma grande repercussão devido à 'febre' que foi 'The Witcher 3'. Porém, os personagens que fiz no 'Crash Team Racing Nitro Fueled' me renderam um retorno muito carinhoso por parte de um público bem diversificado", relembra Bastos.