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A Polícia Federal (PF) cumpre mandados de busca e apreensão nesta quarta-feira, 25, contra Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, primo dos filhos mais velhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Um dos auxiliares do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) na estratégia de redes sociais da campanha eleitoral de 2018, Léo Índio é investigado por participação nos atos golpistas do dia 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes em mais uma fase da Operação Lesa Pátria.

Léo Índio participou dos protestos golpistas. Ainda nas primeiras horas após os atos de vandalismo em Brasília, ele publicou imagens em uma rede social em cima do Congresso Nacional e próximo ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma das postagens, o primo dos Bolsonaro aparece com os olhos vermelhos, segundo ele devido ao gás lacrimogêneo usado pela Polícia Militar.

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Em outro post, após a repercussão e em um ambiente que não parece ser a área central de Brasília, ele escreveu: "Muitos feridos, muitos socorridos. Patriotas não cometem vandalismo".

Léo Índio, que se descreve em suas redes sociais como sobrinho de Bolsonaro, foi candidato pelo PL à Câmara Legislativa do Distrito Federal em 2022, mas não foi eleito.

O primo Carlos se tornou uma figura pública em Brasília após virar uma espécie de representante no Palácio do Planalto do vereador da capital fluminense, onde despachava Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e que se tornou um desafeto do "02".

Desde que Bolsonaro foi eleito, Léo Índio passou a circular pelos gabinetes do Palácio do Planalto com livre acesso, mesmo sem ter cargo na Presidência.

Ele é filho de uma irmã de Rogéria Nantes, uma das ex-mulheres de Bolsonaro. A proximidade com a família presidencial fez com que transitasse sempre muito próximo do tio, chegando a ser confundido como um dos agentes da escolta de Bolsonaro.

À época do primeiro ano de mandato de Bolsonaro, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) afirmou que ele "não ocupava cargo em nenhum órgão da Presidência da República". Apesar disso, ostentava um crachá amarelo da Presidência para livre acesso às dependências do Planalto, em locais de acesso restrito.

Somente nos primeiros 45 dias de governo do tio, Léo Índio foi 58 vezes ao Planalto. Uma frequência maior que a do próprio presidente. No mesmo período, desde que assumiu, Bolsonaro despachou no Planalto por 16 dias, de 1º de janeiro a 14 de fevereiro.

Léo Índio, o 'caçador e comunistas'

Léo Índio era uma espécie de "espião voluntário" do governo. Nos primeiros quatro meses da gestão do tio, ele elaborou dossiês informais de "infiltrados e comunistas" nas estruturas federais nos Estados.

Os relatórios começaram a ser feitos de maneira unilateral, sem nenhum pedido oficial do Palácio do Planalto ou da família Bolsonaro, quase sempre de maneira amadora. Léo Índio cruzou dados abertos da estrutura federal nos Estados com notícias de jornais e de colunas, para tentar identificar a quem servidor comissionado estava ligado.

O primo de Flávio, Carlos e Eduarado viajou a três Estados - Maranhão, Bahia e Minas - nos primeiros meses do governo Bolsonaro catalogando "alvos incompatíveis" com a administração federal. Coincidentemente, três Estados que estão ou estiveram sob comando do PT e do PCdoB. Durante as viagens, ele dedicou parte do seu tempo a reuniões políticas com militantes do PSL, então partido de Bolsonaro, e apoiadores do presidente.

Cargo no Senado

Após vir à tona o trânsito livre de Léo Índio no Planalto, o primo dos filhos do presidente ganhou um cargo de confiança no Senado. Foi nomeado no posto de assessor parlamentar do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), com o salário de R$ 22.943,73. Questionado à época sobre sua atuação no governo, limitou-se a dizer que estava "focado nas missões que o senador (Chico Rodrigues) designou".

O senador que empregou Léo Índio foi flagrado tentando ocultar dinheiro na cueca durante uma operação da Polícia Federal. Rodrigues passou 20 anos consecutivos na Câmara dos Deputados e chegou a assumir o governo de Roraima, tendo seu mandato cassado.

Após o escândalo, Léo Índio foi exonerado do cargo, em agosto de 2020. Ele foi orientado por aliados do governo a deixar a função de assessor de Chico Rodrigues. O movimento fez parte da estratégia de blindar o presidente Bolsonaro no caso.

A interlocutores, Léo demonstrou preocupação com a repercussão do episódio e fez consultas sobre como proceder, se deveria ou não esperar a conclusão da investigação. Foi aconselhado a se antecipar e se desvincular de Chico Rodrigues.

Apenas 19 dias após pedir demissão do gabinete de Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro na cueca, ele ganhou um novo cargo no Senado. Foi nomeado assessor parlamentar da Primeira Secretaria da Casa, comandada pelo senador Sérgio Petecão (PSD-AC), aliado do governo, com salário de R$ 17.319,31. O novo cargo foi entregue a Léo a pedido do senador Carlos Viana (PSD-MG). Foi exonerado em junho de 2022.

Rachadinha na Alerj

Léo Índio também foi citado entre os ex-funcionários do gabinete do atual senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) alvo de quebra de sigilo bancário por suspeitas de participação no escândalo que ficou conhecido como "rachadinha". Ele foi assessor de Flávio, entre novembro de 2006 e janeiro de 2012.

O Estadão procurou Léo Índio, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quarta-feira (25), mais uma fase da Operação Lesa Pátria. É a 19ª etapa da investigação que faz um esforço para identificar todos os envolvidos nos atos golpistas do dia 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes.

Os policiais federais tentam prender preventivamente cinco suspeitos. A PF também cumpre 13 mandados de busca e apreensão em Cuiabá (MT), Cáceres (MT), Santos (SP), São Gonçalo (RJ) e em Brasília (DF).

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O Estadão apurou que endereço ligado a Léo Índio, primo de três dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, é alvo de buscas. Ele já havia sido alvo da terceira fase da operação.

Os mandados foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que é o relator das investigações sobre os protestos do dia 8 de janeiro.

Os investigados podem responder pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime e destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

Relembre as fases da Operação Lesa Pátria

A primeira fase da Operação Lesa Pátria, no dia 20 de janeiro, prendeu cinco suspeitos de participação, incitação e financiamento nos atos golpistas. Entre eles "Ramiro dos Caminhoneiros", Randolfo Antonio Dias, Renan Silva Sena e Soraia Baccio.

Na segunda etapa da força-tarefa, policiais prenderam, em Uberlândia (MG), o extremista Antônio Cláudio Alves Ferreira, filmado destruindo um relógio histórico no Palácio do Planalto.

A terceira fase da operação prendeu cinco pessoas, incluindo a idosa Maria de Fátima Mendonça, de 67 anos, que viralizou ao dizer em um vídeo que ia "pegar o Xandão". Léo Índio foi alvo de buscas na mesma etapa.

No dia 3 de fevereiro, a PF abriu a quarta fase ostensiva da investigação e prendeu o empresário conhecido como Márcio Furacão, que se filmou ao participar da invasão ao Palácio do Planalto, e o sargento da Polícia Militar William Ferreira da Silva, conhecido como "Homem do Tempo", que fez vídeos subindo a rampa do Congresso Nacional e dentro do STF.

A oitava etapa da ofensiva teve o maior número de mandados - ao todo, 32 investigados tiveram prisão decretada. A PF prendeu golpistas como a mulher responsável por pichar a estátua da Justiça, em frente ao Supremo Tribunal Federal, com a frase "perdeu, mané" e o homem que teria levado uma bola autografada pelo jogador Neymar da Câmara dos Deputados.

A fase 9 prendeu preventivamente um major da Polícia Militar do Distrito Federal da reserva suspeito de incitar os atos golpistas e de administrar recursos que financiaram ações antidemocráticas. Claudio Mendes dos Santos teria ensinado táticas de guerrilha para os bolsonaristas acampados em frente ao QG do Exército, em Brasília.

A décima Operação Lesa Pátria prendeu 13 pessoas. Entre os presos estavam o tenente-coronel da reserva da Aeronáutica Euro Brasílico Vieira Magalhães; a professora Claudebir Beatriz da Silva Campos, suplente do PL na Assembleia Legislativa do Pará; e o empresário Leandro Muniz Ribeiro, que se candidatou a uma vaga na Assembleia Legislativa de Goiás pelo Democracia Cristã nas eleições 2022.

A etapa seguinte mirou endereços ligados a empresários, produtores rurais e colecionadores de armas, atiradores e caçadores esportivos (CACs), suspeitos de financiarem os protestos golpistas.

Na 12.ª fase, a PF prendeu o major Flávio Silvestre de Alencar, suspeito de ter orientado a desmobilização da barreira montada no topo da rampa que faz a ligação entre o Congresso e o Supremo, o que impedia o acesso dos extremistas à Praça dos Três Poderes.

A 13.ª Operação Lesa Pátria fez buscas contra o empresário Milton de Oliveira Júnior em Itapetininga, a 170 quilômetros da capital paulista. A PF investiga se ele financiou a ida de extremistas a Brasília. Em entrevista, o empresário chegou a dizer que "ajudou patriotas" a viajarem ao DF.

Em agosto, a Polícia Federal prendeu mais oito bolsonaristas. A lista inclui o pastor Dirlei Paz, que nas redes sociais se identifica como "patriota" e aparece em foto pedindo "intervenção federal"; a cantora gospel Fernanda Ôliver; e os influenciadores Isac Ferreira e Rodrigo Lima.

O deputado estadual de Goiás Amauri Ribeiro (União Brasil) que, em sessão da Assembleia Legislativa afirmou ter "ajudado a bancar" o acampamento golpista montado em frente ao QG do Exército, foi alvo de buscas na fase seguinte da Operação Lesa Pátria.

A 16.ª etapa mirou, novamente, os financiadores aos atos do dia 8 de janeiro. A PF fez buscas em 53 endereços. Foram alvo Rodrigo Borini, filho do ex-prefeito de Birigui (SP) Wilson Borini; Rodrigo de Souza Lins, deputado estadual suplente do MS pelo PRTB; e uma socialite de São Paulo chamada Marici Bernardes.

A fase 17, aberta em setembro, mirou três investigados - Aildo Francisco Lima, que fez uma live sentado na cadeira do ministro Alexandre de Moraes; Basília Batista, que teria invadido o Congresso; e a advogada Margarida Marinalva de Jesus Brito.

O desdobramento mais recente da investigação envolveu buscas na casa do general da reserva do Exército Ridauto Lúcio Fernandes, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro, que participou dos atos do dia 8.

Uma empresa de João Augusto Rezende Henriques, apontado como o mais novo operador de propinas do PMDB e preso nesta segunda-feira, 21, alvo da Operação "Ninguém Durma", 19.ª fase da Lava Jato, recebeu pelo menos R$ 20,2 milhões de empresas do cartel que fatiava obras na Petrobras, pagando propinas a agentes públicos, partidos e políticos.

Os pagamentos podem levar a descoberta de propina em obras de plataformas e na construção do novo centro de pesquisa da estatal, no Rio. "A partir do cruzamento do nome do representado com as informações bancárias e fiscais disponíveis das empreiteiras disponíveis no banco de dados da Operação Lava Jato, identificou-se mais de R$ 20 milhões recebidos pela empresa Trend Empreendimentos, de propriedade de João Augusto Rezende Henriques e Miloud Alain Hassene Daouadji, tendo como remetentes companhias que possuíam obras com a Petrobras", sustentam os procuradores da República, no pedido de prisão do operador de propinas.

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A Trend Empreendimentos e Participações tem sede no Rio e foi um dos alvos de busca. "Dessas empresas depositantes, a grande maioria era integrante do cartel das empreiteiras, como a Andrade Gutierrez, a Mendes Junior, a UTC e Engevix. Outra, a Promon, também esporadicamente interagia com as empresas do cartel."

Os pagamentos podem levar a Lava Jato para novas descobertas em contratos de construção de plataformas de exploração de petróleo em alto mar e também na construção da nova sede do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio.

"Dentre as transferências mencionadas, constata-se que há indícios concretos de ilicitude nos valores depositados pelo Consórcio CENPES entre 2008 e 2009 (R$ 6,5 milhões) e no montante transferido pela Mendes Junior (R$ 7,5 milhões depositados)."

Segundo o pedido de prisão, o Consórcio Novo Cenpes era formado pela OAS (líder), a Schahin, Construbase, Carioca Christiani-Nielsen e Construcap. "A obra foi orçada em R$ 1 bilhão, mas ao final acabou custando R$ 2,5 bilhões, sendo que o contrato com o Consórcio Cenpes tinha valor de R$ 849,9 milhões, mas passou por nove aditivos que fizeram o valor final do contrato totalizar R$ 1.023.570.295,403".

Cota do PT

O ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco - que era cota do PT no esquema de corrupção na estatal - confessou em delação premiada com a Lava Jato que houve pagamento de propina nas obras do Novo Cenpes.

"Na Diretoria de Serviços, cujo diretor era Renato Duque, houve contratos para a construção do novo CENPES - Centro de Pesquisa e o novo Centro de Processamento de Dados, cujo porcentual de propina foi de 2%, sendo que 1% teria sido destinado para o caixa do Partido dos Trabalhadores, representado por João Vaccari Neto, e outro 1% para a 'Casa', representada por Renato Duque e o declarante", registrou a Polícia Federal, no termo de delação 3, de Pedro Barusco.

No lado do PMDB, a Lava Jato considerou indícios os fatos de outro delator, Mário Góes, ter confessado o recebimento de propina nesses contratos do consórcio, bem como o conflito de atuações entre a Trend, que era especializada no setor óleo e gás, e os recebimentos pela obra do Cenpes.

"A área de atuação da empresa Trend nada tinha a ver com a consultoria de engenharia, mas sim, conforme declarado pelo próprio João Augusto Rezende Henriques, com a consultoria na área de óleo e gás. Em razão disso, não se verifica causa legítima para o relacionamento entre a empresa Trend Empreendimentos e o Consórcio Novo Cenpes", registra o MPF.

"Resta materializado o recebimento de vantagem indevida por João Augusto Rezende Henriques na obra do Centro de Pesquisa da Petrobras", afirma a força-tarefa. "Em que pese Mário Goes tenha afirmado que intermediou parte do pagamento da propina devida pelo Consórcio NOVO CENPES, é certo que o pagamento em favor da empresa TREND representou outra parte da transferência da propina."

Plataformas

No setor de obras off-shore, as suspeitas de intermediação de propina envolvendo o novo operador do PMDB recaem sobre as construções das plataformas tipo FPSOs P-67 e P-70. O contrato envolve a Mendes Jr e um pagamento de R$ 7 milhões.

"Com o aprofundamento das investigações da denominada Operação Lava Jato, restou evidenciado que o representado João Augusto Rezende Henriques participou de forma sistemática da corrupção na Diretoria Internacional, inclusive operando contas ocultas no exterior, cuja correta localização é ignorada", sustenta o Ministério Público Federal, no pedido de prisão do lobista. "Para a consumação de seus crimes, João Augusto foi auxiliado pelo seu ex-sócio, Miloud Alain Hassene Daouadji."

Prisão

Para pedir a prisão do suposto operador do PMDB, a Lava Jato considerou os indícios de recebimento de propina em contrato de navio-sonda Titanium Explorer, de US$ 1,8 bilhão, feito na Diretoria Internacional, que era cota do partido. Na época, a diretoria Internacional da estatal era conduzida por Jorge Luiz Zelada, preso na Operação Lava Jato por suspeita corrupção, evasão de divisas e lavagem.

João Henriques é o segundo suposto lobista do PMDB preso na Lava Jato. Em novembro de 2014, na Juízo Final, 7º desdobramento da operação, Fernando "Baiano" Soares foi detido preventivamente. A prisão de Henriques foi decretada em regime temporário pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato.

Segundo a denúncia, a propina de US$ 31 milhões foi dividida em dois contratos, no valor de US$ 15,5 milhões, cada. No entanto, brigas societárias teriam levado à redução do montante acertado para US$ 20,8 milhões.

"O pagamento de vantagem indevida destinada ao partido PMDB ocorreu por intermédio do lobista João Augusto Rezende Henriques mediante um segundo contrato de Comission Agreement também no valor de U$ 15,5 milhões, que foi assinado na mesmo ano do primeiro, entre a sociedade Valencia Drilling Corporation (Marshall Islands), empresa subsidiária do Grupo TMT e uma offshore indicada por João Augusto Rezende Henriques", aponta a Procuradoria na denúncia formal contra Zelada e mais 5 investigados.

Defesa

O criminalista José Claudio Marques Barboza Junior, que defende João Henriques, disse que ainda não teve acesso à denúncia do Ministério Público Federal. "Não vi os termos da acusação. Também não tomei ciência do pedido de bloqueio. Assim que acessar à denúncia e o requerimento de bloqueio vou poder me manifestar."

Já a assessoria de imprensa do PMDB negou todas as acusações e disse que a sigla nunca autorizou quem quer que seja a ser intermediário do partido para arrecadar recursos.

O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava Jato, decretou o sequestro de até R$ 40 milhões de João Augusto Rezende Henriques, apontado como lobista do PMDB no esquema de propinas de empreiteiras que se instalou na Petrobras entre 2004 e 2014. A ordem judicial acolhe pedido do Ministério Público Federal que atribui a Henriques o papel de operador de uma propina de US$ 10,8 milhões para o principal partido da base aliada do Governo Dilma Rousseff (PT).

O repasse teria ocorrido em 2009, no âmbito da contratação do navio sonda Titanium Explorer pela Petrobras. Nessa época, a Diretoria de Internacional da estatal era dirigida por Jorge Luiz Zelada, sucessor de Nestor Cerveró - ambos estão presos em Curitiba, base da missão Lava Jato.

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O bloqueio, ordenado no âmbito da Operação "Ninguém durma", 19.º desdobramento da Lava Jato desencadeado nesta segunda-feira, 21, se estende a uma empresa controlada pelo lobista, a Trend Empreendimento. "Viável assim o decreto do bloqueio dos ativos financeiros de João Henriques e a Trend Empreendimentos, pela qual teria sido lavado dinheiro do esquema. Não importa se tais valores, nas contas bancárias, foram misturados com valores de procedência lícita", assinalou o juiz Moro.

"O sequestro e confisco podem atingir tais ativos até o montante dos ganhos ilícitos. Considerando os valores milionários dos supostos crimes, defiro o requerido e decreto o bloqueio das contas de João Augusto Rezende Henriques e da Trend Empreendimentos até o montante de quarenta milhões de reais."

Sérgio Moro assinalou que a medida provoca o bloqueio do saldo do dia constante nas contas ou nos investimentos, não impedindo continuidade das atividades da empresa. Os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato haviam pedido a prisão preventiva de Henriques sob argumento que ele é "profissional dos crimes de lavagem de dinheiro". Mas o juiz ordenou a prisão temporária por cinco dias.

A temporária pode ser prorrogada por mais cinco dias ou convertida em prisão preventiva - por tempo indeterminado. Sérgio Moro reputou oportuno aguardar o resultado das buscas e apreensões e, inclusive o depoimento do investigado "que poderá eventualmente esclarecer motivos lícitos aos repasses recebidos das empreiteiras".

"Há, afinal, prova relevante de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, bem como que o investigado (Henriques) teria se associado a outros para praticar em série crimes de gravidade", destacou o juiz da Lava Jato. "A prisão temporária é, nesse período, imprescindível para evitar concertação fraudulenta de versões entre os investigados, bem como para prevenir fraudes documentais e dissipação de provas."

Neste ponto de sua decisão, o juiz argumenta. "Não se trata de perspectiva remota", anotou. Segundo Moro, na própria Operação Lava Jato foi constatada, nas buscas iniciais, destruição e ocultação de documentos por investigados.

"Os crimes em investigação teriam abrangido a produção de documentos ideologicamente falsos para amparar os recebimentos pela Trend Empreendimentos", assinala o magistrado.

Ao decretar a prisão temporária de João Henriques, o juiz Moro rechaçou tese recorrente de advogados de alvos da Lava Jato, segundo o quais ele manda prender para forçar delações premiadas. "A medida, por evidente, não tem por objetivo forçar confissões. Querendo, poderá o investigado permanecer em silêncio durante o período da prisão, sem qualquer prejuízo a sua defesa."

O ponto de partida da investigação sobre João Henriques foi uma reportagem exclusiva da revista Época, que conseguiu uma entrevista com o operador do PMDB. Intimado para depor, ele alegou ao Ministério Público que visitava Jorge Luiz Zelada "apenas por amizade". Reconheceu ser o sócio da Trend e ter prestado "serviços de consultoria na área de óleo e gás".

Mencionou especificamente que foi contratado pela empreiteira Mendes Júnior para acompanhar a construção de duas plataformas de petróleo, a FPSOs 77 e 78. "Apesar das negativas de João Augusto, há provas, de que ele teria intermediado a contratação do naviosonda Titanium Explorer e efetuado o pagamento de propinas."

A Polícia Federal constatou "recorrentes encontros" entre Henriques e Jorge Luiz Zelada, na Petrobras - este, nessa época, ocupava o comando da Diretoria de Internacional da estatal.

O juiz Moro comparou o poderio aquisitivo de João Henriques a de outros investigados da Lava Jato e citou o doleiro Alberto Youssef, os pagadores de propinas Mário Goes e Milton Pascowitch, além de um outro lobista do PMDB, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. "O recebimento de valores milionários de várias empreiteiras envolvidas no pagamento de propinas na Operação Lava Jato indica ainda que o acusado (Henriques) não é, como afirma, um pequeno empresário, mas sim, à semelhança de outros como Alberto Youssef, Mario Goes, Milton Pascowitch, Fernando Soares, um intermediador do pagamento de propinas entre as empreiteiras e os dirigentes da Petrobras."

A Operação 'Nunca dorme' deflagrada na manhã desta segunda-feira (21) prendeu João Augusto Rezende Henriques, apontado pela força-tarefa da Lava Jato como lobista do PMDB, mais importante partido da base aliada do governo Dilma Rousseff.

João Henriques é o segundo lobista do PMDB preso na Lava Jato. Em novembro de 2014, na Juízo Final, 7º desdobramento da operação, Fernando "Baiano" Soares foi detido preventivamente.

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A prisão de Henriques foi decretada em regime temporário pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato. Henriques foi denunciado em agosto pelo Ministério Público Federal por corrupção. Ele teria envolvimento no pagamento de uma propina de US$ 31 milhões em negócio da Diretoria Internacional da Petrobras, em 2009, então sob comando de Jorge Luiz Zelada, sucessor de Nestor Cerveró. Ambos estão presos em Curitiba, base da missão.

Parte desse valor, US$ 10,8 milhões, teria sido repassada para o PMDB, segundo o Ministério Público Federal.

A propina total - US$ 31 milhões - teria saído de contratos de US$ 1,8 bilhão, de afretamento do navio-sonda da Petrobras Titanium Explorer. Na época, a diretoria Internacional da estatal era conduzida por Jorge Luiz Zelada, preso na Operação Lava Jato por suspeita corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Segundo a denúncia, a propina de US$ 31 milhões foi dividida em dois contratos, no valor de US$ 15,5 milhões, cada. No entanto, brigas societárias teriam levado à redução do montante acertado para US$ 20,8 milhões.

"O pagamento de vantagem indevida destinada ao partido PMDB ocorreu por intermédio do lobista João Augusto Rezende Henriques mediante um segundo contrato de Comission Agreement também no valor de U$ 15,5 milhões, que foi assinado na mesmo ano do primeiro, entre a sociedade Valencia Drilling Corporation (Marshall Islands), empresa subsidiária do Grupo TMT e uma offshore indicada por João Augusto Rezende Henriques", aponta a Procuradoria na denúncia formal contra Zelada e mais 5 investigados.

Também em agosto, a Procuradoria da República requereu à Justiça o bloqueio de "quaisquer ativos financeiros" até o valor de US$ 31 milhões de três acusados por corrupção na Petrobras, entre eles João Augusto Rezende Henriques.

O objetivo da medida é garantir "o perdimento do produto do crime e o pagamento de multas penal e compensatória" por danos à estatal petrolífera. Segundo a força-tarefa do Ministério Público Federal que investiga esquema de cartel e propinas na Petrobras, o valor que seria destinado ao PMDB era de US$ 15,5 milhões - a outra parte de US$ 15,5 milhões seria dividida entre dirigentes da estatal na área Internacional e lobistas, em 2009.

O pedido de sequestro de valores no montante de até US$ 31 milhões recaiu também sobre outros dois denunciados por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, Eduardo Costa Vaz Musa, ex-gerente da área Internacional da Petrobras, e o empresário chinês Hsin Chi Su Nobu Su, presidente da TMT, proprietária de navio afretado em contrato de US$ 1,81 bilhão.

A Procuradoria inclui na denúncia o ex-diretor de Internacional Jorge Luiz Zelada, suposto beneficiário de parcela da propina milionária. De acordo com o Ministério Público Federal, "o valor total da vantagem indevida incluía não só a propina paga ao diretor Jorge Luiz Zelada e ao gerente Eduardo Musa, mas também os custos operacionais da transação e a parte destinada ao Partido Político PMDB".

Segundo a Procuradoria, João Henriques tinha a missão de realizar 'o pagamento da vantagem indevida em favor do PMDB'. O pedido de bloqueio exclui apenas os valores de caráter alimentar de Henriques, Musa e Nobu Su. O confisco deve atingir quaisquer bens ou valores sob guarda, depósito ou administração da instituição financeira, tais como ações,,participações em fundos de ações, letras hipotecárias ou quaisquer outros fundos de investimento, assim como PGBL - Plano Gerador de Beneficio Livre, VGBL - Vida Gerador de Beneficio Livre e Fundos de Previdência Fechado.

Defesa

O criminalista José Claudio Marques Barboza Junior, que defende João Henriques, disse que ainda não teve acesso à denúncia do Ministério Público Federal. "Não vi os termos da acusação. Também não tomei ciência do pedido de bloqueio. Assim que acessar à denúncia e o requerimento de bloqueio vou poder me manifestar."

A assessoria de imprensa do partido negou todas as acusações e disse que a sigla nunca autorizou quem quer que seja a ser intermediário do partido para arrecadar recursos.

A 19ª fase da Operação Lava Jato, denominada Nessun Dorma, faz referência a um trecho da ópera Turandot criada em 1926 pelo compositor italiano Giacomo Puccini. Em Nessun Dorma, a princesa Turandot determina que ninguém deve dormir: todos passariam a noite tentando descobrir o nome do príncipe desconhecido.

O alvo do novo desdobramento da nova ação da Polícia Federal são pagamentos no exterior. O executivo José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, foi preso preventivamente em Santa Catarina. Ele é suspeito de ter pago propinas em cima de contratos da empreiteira com a Eletronuclear que somavam R$ 140 milhões, entre 2011 e 2013. Os valores teriam sido pagos para a Aratec, empresa controlada pelo ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva. José Antunes será levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

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Othon Luiz foi preso em 28 de julho na Operação Radioatividade. Nome de grande prestígio na área, o almirante, no fim dos anos 1970 (governo general Ernesto Geisel) participou diretamente do projeto do submarino nuclear brasileiro

O alvo desta nova fase - denominada Nessun Dorma - são propinas que teriam sido pagas envolvendo a diretoria internacional da Petrobras.

Trinta e cinco policiais cumprem 11 mandados judiciais, sendo sete mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva, um mandado de prisão temporária e dois mandados de condução coercitiva em Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro.

A Polícia Federal deflagrou a 19ª fase da Operação Lava Jato mirando em pagamentos no exterior. O executivo José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, foi preso preventivamente. Ele é suspeito de ter pago R$ 140 milhões em propina para a Aratec, empresa controlada pelo ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, entre 2011 e 2013.

O alvo desta nova fase - denominada Nessun Dorma - são propinas que teriam sido pagas envolvendo a diretoria internacional da Petrobras. Trinta e cinco policiais cumprem 11 mandados judiciais, sendo sete mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva, um mandado de prisão temporária e dois mandados de condução coercitiva em Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro.

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Segundo a PF, a operação é um avanço das apurações das fases 15, 16 e 17 da Lava Jato. Um dos focos da investigação está relacionada aos denunciados da 15ª fase - Conexão Mônaco e de empreiteiras já investigadas na Lava Jato. Apura-se que investigados tenham intermediado pagamento de propina a agentes públicos e políticos no exterior, em decorrência de contratos celebrados na diretoria internacional da Petrobras.

De acordo com a PF, uma das empresas sediadas no Brasil teria recebido cerca de R$ 20 milhões entre 2007 e 2013 de empreiteiras já investigadas na operação, sob acusação de pagamento de propinas para obtenção de favorecimento em contratos com a estatal.

Em outro foco, a PF cumpre mandados de busca e de prisão preventiva de executivo relacionado à 16ª fase - Operação Radioatividade - e 17ª fase - Operação Pixuleco -, a partir dos elementos que o apontam como tendo realizado pagamentos de propina a agentes públicos já investigados nestas fases.

Os presos serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba.

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