Tópicos | 33 Crew

O coletivo 33 Crew, responsável pelo Recifusion (festival de artes visuais/contemporâneas do Norte/Nordeste), reinaugurou na última segunda (27) seu espaço no centro do Recife. A loja vlta a atender os clientes na Praça Machado de Assis, na Boa Vista, após 2 anos.

Recifusion colore mais uma vez o Recife com grafitagens

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O grupo reúne grafiteiros, designers e ativistas engajados em movimentos socioculturais. Em 11 anos de atividade, eles vêm atuando de diversas formas na cena artística local, com intervenções independentes, organização de eventos e apoio a ações de outros grupos. 

Na loja, grafiteiros e artistas da street art do Recife podem encontrar produtos diversos, como revistas, adesivos e marcadores. Numa parceria do coletivo com as grifes recifenses D´Outro Jeito, Sem Peneira Para Suco Sujo, entre outras, as peças de roupas ganham valores promocionais. No espaço também funciona um estúdio de tatuagem sob a batuta do tatuador pernambucano Léo Gospel. 

Serviço

33 Crew (Edf. Tereza Cristina, 203 - Boa Vista)

Segunda a sábado | 9h às 19h30

(81) 3423 6705

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Com predominância masculina, a arte do graffiti tem sido cada vez mais pintada através de mãos femininas, que desafiam os estigmas e a sociedade e colorem as ruas com suas ideias. Para ser grafiteira, é necessária uma dose extra de coragem. Primeiro porque quem pratica essa arte toma os muros e ruas públicas muitas vezes sem autorização. E segundo porque elas batem de frente com os preconceitos sexistas, existentes em vários meios. Mas apesar da participação de mulheres nesta expressão artística ainda ser um pouco discreta, já há exemplos de que tal situação segue em mudança, como o aumento da presença delas em oficinas de grafitagem e da formação de coletivos, os chamados crews, compostos só por meninas – ou sem desconsiderá-las.

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Atuante em várias regiões do Brasil, a Flores Crew é um coletivo independente, formado em 2004, e que busca contribuir para uma sociedade menos desigual através do movimento Hip-Hop. Uma das integrantes do grupo, a grafiteira Gabi Bruce, comenta que ainda existe muita resistência em relação à presença feminina não só no graffiti, mas dentro do movimento como um todo. “Nós mulheres somos inviabilizadas dentro do Hip-Hop. Ainda existe aquela ideia patriarcal bem forte de que mulher é desunida e construir uma nova ideia, começar a puxar diálogo sobre outros tipos de educação não sexistas, é bem desafiador neste meio”, opina a grafiteira, que ao lado de outras três mulheres pintou na última quinta-feira (20) uma parede no bairro de Jardim Piedade, Jaboatão dos Guararapes. 

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Machismo no graffiti

Segundo Bruce, ir para a rua pintar é mais do que um ato artístico, é um grito de liberdade. “É a nossa voz mesmo, a autonomia de pegar as tintas e ir pra rua e pintar o que se quer. Porque até padrão de qualidade se coloca em cima do graffiti feito pela gente”, afirma Gabi Bruce, uma das meninas que pinta há mais tempo em Pernambuco, desde 2004. A marca de Bruce nas paredes é uma personagem criada por ela e que foi inspirada em mulheres negras, sempre com um penteado black power que “pode ser um céu, um mar ou estrelas. A ideia é mostrar que o cabelo da mulher negra é um universo de possibilidades”, explica. 

Recifusion colore mais uma vez o Recife com grafitagens

Quem também faz graffitis pelas ruas do Recife é Nika Dias, integrante da 33 Crew e da Várias Queixas Crew, coletivos locais de grafitagem. Na opinião de Nika, machismo por parte dos meninos que pintam paredes não existe. “Mas da sociedade ainda existe. Acontece muito da gente estar pintando e alguém comentar ‘ó, é uma menina’ e ficam me perguntando por que eu faço isso, enquanto que com os meninos a abordagem já é diferente”, comenta Nika, que embarcou nessa expressão ainda em casa, para depois fazer algumas oficinas e finalmente ir para as ruas. Na Av. Conde da Boa Vista, por exemplo, próximo ao Consulado Americano, há uma arte de Nika pintada numa parede. “O sonho de todo mundo era pegar esse muro. Um belo dia eu consegui pegá-lo num domingo e nesse dia eu e uns amigos passamos mais de 12h pra terminá-lo. Mas valeu a pena”, diz Nika, com um sorriso de satisfação.

Também integrante da Várias Queixas Crew, além do coletivo Borboletas de Passagem, Priscila Lima, de João Pessoa, que assina suas artes com o nome WITCH, conta como foi o seu envolvimento com a grafitagem. “Comecei a partir da pichação, em 2005. Fiz parte de uma crew de pichadores em João Pessoa e algumas pessoas começaram a fazer letras e desenhos nos muros, isso por volta de 2007. Em 2008 soube de uma oficina de graffiti e lá encontrei a Dedo Verde, pessoa que me ensinou mais técnicas e foi aprendendo junto comigo. Montamos uma crew, a Borboletas de Passagem, e pintamos juntas até hoje. Contando desde a pichação, são quase dez anos. Mas de grafitti são apenas seis”, explica Priscila Lima, conhecida por grafitar caveiras. 

Envolvimento das mulheres com a arte

Sobre o envolvimento das mulheres com a expressão artística, é unânime a opinião das três grafiteiras: há um considerável aumento da participação feminina nesse meio, apesar do caminho ser repleto de dificuldades. “Noto que o número de mulheres que grafitam cresceu bastante, principalmente no nordeste. Antes era bem mais difícil pintar nas ruas porque o graffiti não era considerado arte e os materiais de qualidade eram bem difíceis de encontrar”, opina Priscila Lima. 

“Tem aumentado, mas é por época. Há períodos em que as meninas estão bem fortes, mas existem aquelas baixas que acontecem quando elas casam, têm filhos, ou os pais não aceitam e as proíbem de sair de casa. Ainda há toda essa cobrança, retrato de uma sociedade patriarcal”, explica Nika. “Quando eu comecei só tinham duas pernambucanas que pintavam. E hoje Pernambuco é o estado do Nordeste que mais tem grafiteiras. Onde estão elas? Nas ruas todos os dias. Só não querem nos enxergar como não nos enxergam há muito tempo. Mas somos muitas e somos organizadas”, comenta Gabi Bruce.

O Recifusion completa seis edições de muito graffiti pintado nas paredes do Recife, neste ano. A programação do evento, um dos maiores festivais de artes visuais com foco no graffiti começa neste sábado (22). As atividades seguem durante a próxima semana e encerram com a Culminância Cultural, a ser realizada nos dias 29 e 30 de março, na Praça da Várzea, Zona Oeste do Recife, com a presença de mais de 300 grafiteiros. Criado para comemorar o Dia Nacional do Graffiti (27 de março) e com o objetivo de articular e viabilizar o diálogo entre os artistas e a sociedade, o Recifusion conta ainda com apresentações musicais, exposições, lançamento de livro e feira de produtos em geral.Este ano, o festival homenageia Jopa, grafiteiro que faleceu recentemente e era integrante da Crew AEO - Arte Expresso Olindense.

A reportagem do Portal LeiaJá conversou com Junior Eu e Leo Arém - dois dos organizadores do evento - e traz todas as informações sobre os frutos dessa empreitada, a situação da cena de arte de rua de Pernambuco e a homenagem a Jopa, entre outros assuntos. Confira a entrevista:

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Evolução do Recifusion

Léo Arém: Quando aconteceu o primeiro festival, eu não fazia parte ainda da 33 Crew. A ideia surgiu de Leo Gospel e Johnny Cavalcanti, grafiteiros que queriam fazer um encontro entre amigos pra pintar, e eu me lembro que na primeira edição convidaram em torno de doze pessoas. No segundo ano, eu participei da produção. Foi quando começou a ser uma parada mais organizada e fixa. No terceiro ano, continuamos e avançamos com essa proposta, e chamamos uma galera de fora. Na quarta a expansão foi maior e convidamos uma galera, 55 pessoas. E de nível nacional. Na quinta edição foi a mesma pegada, com uma atração internacional da Inglaterra. E para este ano estamos colhendo frutos e vamos trazer um dos três integrante da Captain Boderline Crew, da Alemanha. Desta vez, ainda teremos mais de 60 convidados, 20 daqui e o restante de fora do Estado.

Perfil do graffiti feito em Pernambuco

Léo Arém: Eu costumo falar que é algo bem experimental o que a gente faz por aqui. Eu escuto muito isso do pessoal de fora que vem para o Recifusion. Já comentaram comigo que o que a gente faz aqui é o mais experimental do Brasil. Não temos ainda uma forma definida como lá fora, onde existem vários tipos de letras, uma galera que trabalha com Throw-up, Wildstyle e outras vertentes. Mas aqui a galera experimenta muito.

Homenagem a Jopa

Léo Arém: O Jopa era um cara que não podia surgir um cheiro da tinta que ele aparecia na hora. O estilo Boomb era a vida dele. Ele preferia sair sozinho, com látex na mão e a mochila cheia de lata. E depois carimbava tudo na cidade. 

Júnior Eu: Quem pinta no Recife e até quem não pinta já viu ‘trampo’ dele, porque Jopa era o cara que mais atuava por aqui. Ele falava que num dia fazia dez graffitis e a meta dele em 2013 era de fazer mil no ano. A gente o tem como o cara que mais marcou a cidade, uma pessoa muito disposta pra fazer graffiti. 

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Produção do Recifusion

Léo Arém: A cada ano a produção se modifica bastante e vai se adequando ao que a demanda pede. Esse ano a gente (33 Crew) incorporou na equipe a AEO, por conta da parceria que temos entre si e pra facilitar a comunicação por causa do lance com o Jopa. Fora a AEO tem uma galera de comunicação, da Três por Meia Duzia, que é uma galera que era do Fora do Eixo e se juntou com o Johnny Cavalcanti. A gente também está entrando com uma parceria com a Caramiolas Lab e era uma coisa que não tinha antes. Fora isso, nos envolvemos com meio mundo de gente. Cada demanda a gente encaminha pra uma galera específica. Na verdade o lance do voluntariado é desde a equipe até a produção final, até porque não temos nenhum retorno financeiro.

Esse ano a pré-produção começou um pouco tarde, no final de outubro do ano passado. Eu, como sou responsável pela seleção, comecei a enviar as cartas-convites em janeiro, mas desde novembro eu já pensava na lista. Em relação à Praça da Várzea, a gente conseguiu o espaço porque já temos uma vivência por lá. Tem uns brothers da gente que são da área e sabemos que é uma região rica culturalmente, que abraça a ideia. E como lá rola o Polo da Várzea no Carnaval, sabemos também que o espaço comporta uma grande quantidade de pessoas em circulação. Há seis anos na correria a gente já sabe a quem pedir. De migalha em migalha, montamos um pão no final. 

Recifusion colore mais uma vez o Recife com grafitagens

Apoio e patrocínio

Léo Arém: Esse ano a gente tem apoio da RedBull, Caramiolas, Prefeitura do Recife, Fundarpe. O único ano que a gente conseguiu patrocínio foi na quinta edição, quando contamos com recursos do Funcultura, mas já estamos acostumados a tirar do nosso bolso e a pedir dinheiro pra produzir o evento. A gente firmou um patrocínio desde a terceira edição com a Sherwin Williams e a Colorgin. Normalmente pedimos uma lista de materiais e nesse ano foi massa porque eles nem questionaram a quantidade de coisas que pedimos, até porque eles estão tendo um retorno legal.

Cena do graffiti em Pernambuco

Junior Eu: Acho que está melhorando, mas em comparação aos outros Estados estamos devagar. A gente participa de eventos nos outros Estados e vê como são as coisas. Alguns Estado não têm brecha na parede. Se tiver uma parada vazia, a turma vai lá e pinta.

Léo Arém: Eu acho que tem muito da questão cultural e depende da região. A gente está em evolução e a cena cresceu muito pro que era antes. Tanto que a galera de fora olha o Nordeste hoje de igual pra igual. Antes era aquele lance de deixar de lado, porque aqui não tinha material de qualidade, mas agora temos muita coisa na mão. Por outro lado envolve também a questão cultural. Lá fora, por exemplo, tem muito bomb, muita tag, muita letra, coisas que são valorizadas e não são aqui. Em Pernambuco, como a galera tem uma visão de graffiti meio ‘domesticada’, só observa o graffiti pela beleza que ele transmite, no fim das contas não sabe nem o que é. Lá fora a galera é mais ligada nesse sentido. 

Começa neste sábado (22) a programação da sexta edição do Recifusion, um dos maiores festivais de artes visuais de Pernambuco com foco no graffiti. As atividades encerram com a Culminância Cultural a ser realizada nos dias 29 e 30 de março, na Praça da Várzea, Zona Oeste do Recife, com a presença de mais de 300 grafiteiros, entre convidados e voluntários nacionais e internacionais, além de shows e feira de produtos em geral, entre outras. A programação, que é gratuita, conta também com lançamento de livro e exposições sobre o tema.

“O Recifusion é hoje um encontro multicultural, e não apenas voltado só para o graffiti. Ele se transformou com o tempo numa coisa maior e que já atrai outros públicos, e isso fica claro durante a programação quando pessoas de vários estilos interagem entre si. Até porque este tipo de arte de rua não abrange apenas quem faz parte da cena, ele está em galerias, em residências e tudo mais”, comenta Junior Eu, grafiteiro e coordenador geral do evento, em entrevista ao LeiaJá.

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O festival acontece no Recife há cinco anos e foi criado para comemorar o Dia Nacional do Graffiti (27 de março) com o objetivo de articular e viabilizar o diálogo entre os artistas e a sociedade, através de exposições e intervenções de arte durante todo o mês. Este ano o Recifusion faz uma homenagem a Jopa, grafiteiro que faleceu recentemente e era integrante da Crew AEO, sigla que significa Arte Expresso Olindense.

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“Quem pinta no Recife, e até quem não pinta, já viu ‘trampo’ dele. Ele era o que mais atuava por aqui, e tinha um estilo próprio que era mais pra marcar mesmo. Uma vez Jopa me disse que tinha uma marca de fazer mil artes na rua no ano passado. A gente o tem como o cara que mais marcou a cidade. Uma pessoa muito disposta pra fazer o graffiti, que saia com a mochila cheia de lata e saia carimbando tudo no estilo Bombing”, revela Junior Eu, que também é integrante do Crew AEO.

Livro sobre graffiti no Nordeste

O lançamento da obra A Arte Urbana do Nordeste do Brasil, que reúne vários trabalhos e a diversidade de estilos de artistas dos nove estados da região, será realizado neste sábado (22), às 19h, na casa Red Bull Hous, no Pina. O encontro contará ainda com a exposição PrintScreen Nordeste, com obras de quinze grafiteiros que participam do livro, e discotecagem dos DJs Vitrola, Sonteria e Novato. 

Exposições sobre arte de rua

O Recifusion vai promover também duas exposições sobre graffti. No dia 27 será a vez da One, que trata da história do 33 Crew e dos dez anos do coletivo dedicados à arte de rua. A mostra será realizada na Nuvem Store, na Galeria Joana D’Arc, no Pina, às 19h, e é formada com trabalhos de Léo Arem, Léo Gospel, Johny Cavalcanti, Dark, Pedro e Mar. 

No dia 28 a homenagem vai para a AEO CREW, com exposição na Casa do Cachorro Preto, em Olinda, às 18h. A primeira exposição do coletivo é voltada para o trabalho de Jopa, fundador e membro mais atuante do grupo – e o homenageado do Recifusion deste ano.

Culminância Cultural 

Já nos dias 29 e 30 de março o festival de graffiti reúne na Praça da Várzea, Zona Oeste do Recife, mais de 300 artistas do país e do exterior. O resultado dessa mistura será uma fusão de estilos, expressões, conceitos e ideias. "A gente tem uma ligação com a Praça da Várzea, que é um lugar rico culturalmente e a gente tem ciência de que o local comporta muita gente”, conta Léo Arém, diretor artístico do Recifusion.

Além dos desenhos nas paredes próximas à praça, o evento terá a presença de atrações musicais como Pixote Manjestyle (PE), Todos Um (MA), Eu e a Duplicata (PE), Nark (PE), Sem Peneira pra Suco Sujo (PE), Combo X (PE), no dia 29, e Roda de Expressão Livre / DJ BIG Favela News (PE), Kapilca Rapper (PE), Hebert Mc e Mazili Beats (PE), Zum Lima (PE), Baloo MC (PE) e Batalha da Escadaria (PE), no dia 30 do mesmo mês.

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