O Recifusion completa seis edições de muito graffiti pintado nas paredes do Recife, neste ano. A programação do evento, um dos maiores festivais de artes visuais com foco no graffiti começa neste sábado (22). As atividades seguem durante a próxima semana e encerram com a Culminância Cultural, a ser realizada nos dias 29 e 30 de março, na Praça da Várzea, Zona Oeste do Recife, com a presença de mais de 300 grafiteiros. Criado para comemorar o Dia Nacional do Graffiti (27 de março) e com o objetivo de articular e viabilizar o diálogo entre os artistas e a sociedade, o Recifusion conta ainda com apresentações musicais, exposições, lançamento de livro e feira de produtos em geral.Este ano, o festival homenageia Jopa, grafiteiro que faleceu recentemente e era integrante da Crew AEO - Arte Expresso Olindense.
A reportagem do Portal LeiaJá conversou com Junior Eu e Leo Arém - dois dos organizadores do evento - e traz todas as informações sobre os frutos dessa empreitada, a situação da cena de arte de rua de Pernambuco e a homenagem a Jopa, entre outros assuntos. Confira a entrevista:
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Evolução do Recifusion
Léo Arém: Quando aconteceu o primeiro festival, eu não fazia parte ainda da 33 Crew. A ideia surgiu de Leo Gospel e Johnny Cavalcanti, grafiteiros que queriam fazer um encontro entre amigos pra pintar, e eu me lembro que na primeira edição convidaram em torno de doze pessoas. No segundo ano, eu participei da produção. Foi quando começou a ser uma parada mais organizada e fixa. No terceiro ano, continuamos e avançamos com essa proposta, e chamamos uma galera de fora. Na quarta a expansão foi maior e convidamos uma galera, 55 pessoas. E de nível nacional. Na quinta edição foi a mesma pegada, com uma atração internacional da Inglaterra. E para este ano estamos colhendo frutos e vamos trazer um dos três integrante da Captain Boderline Crew, da Alemanha. Desta vez, ainda teremos mais de 60 convidados, 20 daqui e o restante de fora do Estado.
Perfil do graffiti feito em Pernambuco
Léo Arém: Eu costumo falar que é algo bem experimental o que a gente faz por aqui. Eu escuto muito isso do pessoal de fora que vem para o Recifusion. Já comentaram comigo que o que a gente faz aqui é o mais experimental do Brasil. Não temos ainda uma forma definida como lá fora, onde existem vários tipos de letras, uma galera que trabalha com Throw-up, Wildstyle e outras vertentes. Mas aqui a galera experimenta muito.
Homenagem a Jopa
Léo Arém: O Jopa era um cara que não podia surgir um cheiro da tinta que ele aparecia na hora. O estilo Boomb era a vida dele. Ele preferia sair sozinho, com látex na mão e a mochila cheia de lata. E depois carimbava tudo na cidade.
Júnior Eu: Quem pinta no Recife e até quem não pinta já viu ‘trampo’ dele, porque Jopa era o cara que mais atuava por aqui. Ele falava que num dia fazia dez graffitis e a meta dele em 2013 era de fazer mil no ano. A gente o tem como o cara que mais marcou a cidade, uma pessoa muito disposta pra fazer graffiti.
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Produção do Recifusion
Léo Arém: A cada ano a produção se modifica bastante e vai se adequando ao que a demanda pede. Esse ano a gente (33 Crew) incorporou na equipe a AEO, por conta da parceria que temos entre si e pra facilitar a comunicação por causa do lance com o Jopa. Fora a AEO tem uma galera de comunicação, da Três por Meia Duzia, que é uma galera que era do Fora do Eixo e se juntou com o Johnny Cavalcanti. A gente também está entrando com uma parceria com a Caramiolas Lab e era uma coisa que não tinha antes. Fora isso, nos envolvemos com meio mundo de gente. Cada demanda a gente encaminha pra uma galera específica. Na verdade o lance do voluntariado é desde a equipe até a produção final, até porque não temos nenhum retorno financeiro.
Esse ano a pré-produção começou um pouco tarde, no final de outubro do ano passado. Eu, como sou responsável pela seleção, comecei a enviar as cartas-convites em janeiro, mas desde novembro eu já pensava na lista. Em relação à Praça da Várzea, a gente conseguiu o espaço porque já temos uma vivência por lá. Tem uns brothers da gente que são da área e sabemos que é uma região rica culturalmente, que abraça a ideia. E como lá rola o Polo da Várzea no Carnaval, sabemos também que o espaço comporta uma grande quantidade de pessoas em circulação. Há seis anos na correria a gente já sabe a quem pedir. De migalha em migalha, montamos um pão no final.
Recifusion colore mais uma vez o Recife com grafitagens
Apoio e patrocínio
Léo Arém: Esse ano a gente tem apoio da RedBull, Caramiolas, Prefeitura do Recife, Fundarpe. O único ano que a gente conseguiu patrocínio foi na quinta edição, quando contamos com recursos do Funcultura, mas já estamos acostumados a tirar do nosso bolso e a pedir dinheiro pra produzir o evento. A gente firmou um patrocínio desde a terceira edição com a Sherwin Williams e a Colorgin. Normalmente pedimos uma lista de materiais e nesse ano foi massa porque eles nem questionaram a quantidade de coisas que pedimos, até porque eles estão tendo um retorno legal.
Cena do graffiti em Pernambuco
Junior Eu: Acho que está melhorando, mas em comparação aos outros Estados estamos devagar. A gente participa de eventos nos outros Estados e vê como são as coisas. Alguns Estado não têm brecha na parede. Se tiver uma parada vazia, a turma vai lá e pinta.
Léo Arém: Eu acho que tem muito da questão cultural e depende da região. A gente está em evolução e a cena cresceu muito pro que era antes. Tanto que a galera de fora olha o Nordeste hoje de igual pra igual. Antes era aquele lance de deixar de lado, porque aqui não tinha material de qualidade, mas agora temos muita coisa na mão. Por outro lado envolve também a questão cultural. Lá fora, por exemplo, tem muito bomb, muita tag, muita letra, coisas que são valorizadas e não são aqui. Em Pernambuco, como a galera tem uma visão de graffiti meio ‘domesticada’, só observa o graffiti pela beleza que ele transmite, no fim das contas não sabe nem o que é. Lá fora a galera é mais ligada nesse sentido.