O imperador do Japão, Akihito, expressou preocupação nesta segunda-feira (8) sobre sua capacidade para continuar cumprindo com suas obrigações, sugerindo que espera uma reforma das leis que o obrigam a exercer o cargo até sua morte.
"Estou preocupado pela dificuldade de cumprir com minhas obrigações como símbolo do Estado", declarou o monarca de 82 anos em um discurso pouco habitual à nação, e reconheceu ter às vezes "algumas limitações", como sua condição física.
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Akihito não pronunciou a palavra "abdicação" em seu discurso solene, já que a Constituição o obriga a exercer o cargo até sua morte e usar este termo seria considerado um ato político, algo que está proibido.
"Legalmente, não pode pedir uma revisão da lei, mas sua mensagem convoca claramente a refletir concretamente sobre seu futuro como imperador", ressalta Tomitaro Hashimoto, especialista do sistema imperial na universidade de Reitaku.
A chamada lei sobre a Casa Imperial indica que uma regência está prevista "se o imperador não alcançar a maioridade" ou pode ser decidida "quando estiver sofrendo de uma doença grave, mental ou fisicamente, ou exista um obstáculo sério que o incapacite para exercer".
O governo japonês tomou nota e não demorou a responder às palavras do imperador, encarando-as "com seriedade". "Levando-se em conta as obrigações do imperador, assim como sua idade e a carga (de seu trabalho), temos que ver firmemente o que podemos fazer", afirmou o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.
Akihito confessou que "de tempos em tempos" se pergunta se seria possível evitar que o Japão enfrente a morte de seu imperador em exercício, já que o luto e todos os atos funerários são muito pesados para os que ficam.
- 27 anos de reinado -
O imperador, que reina há 27 anos em nome do "cumprimento da paz" (era Heisei), sugere, assim, de maneira velada seu desejo de modificar o regime imperial para permitir que ele transmita em vida suas funções ao seu filho, o príncipe herdeiro Naruhito.
"Isso provocará uma grande mudança no sistema atual", tuitou o ex-governador de Tóquio Naoki Inose, autor de várias obras sobre o imperador.
Os imperativos de calendário do imperador e do governo fazem com que este discurso excepcional ocorra em meio aos eventos em memória dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, e ao 71º aniversário do fim da guerra, em 15 de agosto de 1945, quando o pai de Akihito, o imperador Hirohito (também chamado de Showa), pronunciava a capitulação incondicional do Japão.
Hirohito, que era um semideus no trono do Crisântemo desde 1925, foi despojado deste status divido, mas seguiu reinando até sua morte, no início de 1989.
Seu filho mudou com sutileza as tradições e suas declarações desta segunda-feira podem representar um novo passo na modernização do regime imperial japonês.
Embora não estejam muito midiatizadas, as funções de representação do Estado que cabem ao imperador são intensas, como destacou em 2013 seu filho mais novo, Akishino.
Deve assinar diversos textos de lei, tratados e outros documentos transmitidos pelo governo (mil no ano passado), acompanhar diversas recepções (270 em 2015), receber representantes de Estado estrangeiros, etc.
Uma pesquisa da agência informativa Kiodo indicava na semana passada que 85% dos japoneses seriam partidários de um alívio das funções do imperador se ele assim desejasse.
"Ao vê-lo envelhecer, me preocupo por sua saúde, mas ele expressou suas reflexões e a questão da abdicação aparece, o que em parte me tranquiliza", declarou à AFP um jovem de 20 anos, Ryota Utsumi.
O soberano e a imperatriz Michiko são imensamente respeitados pela imagem de prudência que souberam passar a todo momento e pela compaixão sincera expressada às vítimas das muitas catástrofes naturais sofridas pelo país.