Tópicos | Alexandre L'Omi L'Odò

Há 15 anos, juremeiros e juremeiras de Pernambuco, e de todo o Brasil, ganharam um evento para celebrar a fé e a ancestralidade ligadas ao culto da Jurema Sagrada, religião de matriz indígena, o Kipupa Malunguinho. A festa conta com uma programação formada por atividades religiosas, educativas e artísticas que têm como objetivo celebrar e homenagear essa tradição e seu representante maior, o mestre Reis Malunguinho.

Porém, o ano de 2020 ficará marcado pelo silêncio na mata do Catucá, local onde a festa é realizada, no município de Abreu e Lima, Região Metropolitana do Recife. Em respeito aos protocolos de segurança impostos pela pandemia do novo coronavírus, que proíbem aglomeração de pessoas, o evento não será realizado. 

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Realizado pelo Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho, o Kipupa reúne, todos os anos, pessoas vindas de todos os lugares do território brasileiro, tendo contabilizado já 10 mil participantes em uma única edição. O evento, um dos únicos voltados à religiosidade indígena no país, cresceu rapidamente transformando-se em importante ferramenta de manutenção e proteção dessas tradições. "São 15 anos dessa trajetória, de muito sucesso. O Kipupa hoje assume esse lugar dentro do Estado como sendo o maior evento da cultura popular e dos povos tradicionais de Pernambuco, já que não temos mais a Festa da Lavadeira. O Kipupa ocupa essa lacuna que deixou tanta saudade e ele assume no Brasil como sendo um evento do país do povo da Jurema", diz o fundador da festa, Alexandre L’Omi L'Odò, sacerdote juremeiro, historiador e mestre em Ciências da Religião. 

A organização da festa pretendia trazer uma atração nacional e os nomes de Leci Brandão e Rita Benedito foram cogitados. Também seriam celebrados os 90 anos da sacerdotisa Terezinha Bulhões e do Terreiro Xambá. A chegada do coronavírus, no entanto, frustrou os planos não só dos realizadores como dos frequentadores do Kipupa. "Realmente, quando começou a pandemia a gente começou a perder as esperanças porque já imaginávamos que seria impossível aglomerar 10 mil pessoas num contexto de pandemia, então todos os planos foram por água abaixo", lamenta Alexandre.

Alexandre L'Omi L'Odo é um dos idealizadores e fundadores do Kipupa. Foto: Reprodução/Flickr Kipupa Malunguinho

A espiritualidade também se posicionou orientando seus seguidores a não realizar qualquer programação sem a devida segurança. Os filhos, prontamente, obedeceram. "Malunguinho, que é a divindade que tá à frente, ele se manteve apoiando o lado de que não haveria o evento. Ele sempre orientou que a festa se faz a qualquer momento mas o importante nessa hora seria preservar a vida. Foi uma orientação expressa da própria divindade, ele disse que não queria de jeito nenhum, a gente até tentou forçar a barra mas ele bateu o pé e disse que não e a gente respeita primeiramente as vontades dele". 

O Sacerdote explica ainda, que este é um momento delicado, para todos de maneira geral, e que tem sido necessário um certo afastamento de determinadas atividades para que a espiritualidade possa atuar. "Para a Jurema, esse momento tem sido de muito trabalho espiritual já que eles estão recebendo muitas pessoas do outro lado e é preciso orientar os espíritos que estão perdidos lá. Então, nesse momento é importante o silêncio, o resguardo, ficar quieto".

Para 2021, Alexandre ainda não tem qualquer previsão e acha precoce tomar qualquer decisão em relação ao futuro do evento agora. "É muito cedo ainda, não temos vacina nem uma solução viável para a resolução do coronavírus. Em setembro do ano que vem talvez ainda estejamos nesse processo, mas estamos de coração bem tranquilo esperando todo o desfecho dessa situação; apenas rezando muito na Jurema por todos aqueles que estão sofrendo e pedindo muito para q a Jurema e os bons espíritos de luz e os orixás possam abençoar a vida de todos e a gente possa sair dessa situação".   

O evento já chegou a reunir 10 mil pessoas na Mata do Catucá. Foto: Reprodução/Flickr Kipupa Malunguinho

Sendo assim, o Kipupa Malunguinho passará pelo seu 15° ano silenciado, mas não por completo. Nesta sexta (18), acontece o seminário Malunguinho 185 anos vivo na alma de um povo. Aberto a todos os interessados, o evento online vai cumprir a etapa educativa do Kipupa. "Mesmo com a trajetória de quase 20 anos de luta do Quilombo Cultural Malunguinho, que é a instituição que realiza o Kipupa Malunguinho ainda é um grande desconhecido da sociedade e não tem 30% do reconhecimento que Zumbi dos Palmares tem como líder pela luta da liberdade do seu povo. Ele (Malunguinho), é o único líder quilombola que não morreu, ele se manteve vivo no terreiro e se comunica com todos, por mais forte que seja o racismo no Brasil, Malunguinho é o exemplo de superação da vida sobre a morte e a cada ano ele agrega mais e mais pessoas".

O Seminário será conduzido pelo professor titular da Universidade federal de Pernambuco e PhD em História, Marcus Carvalho. A transmissão começa às 20h30, no canal de Alexandre L'Omi no Youtube. Os participantes receberão certificado após a atividade. 

 

 

A tarde deste domingo (6) foi marcada pela realização do segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desde sua criação, o segundo dia sempre foi marcado pela presença da redação que traz geralmente uma surpresa como tema. Este ano não foi diferente e “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” foi o assunto da vez. 

Diante desse panorama, religiosos apontam suas visões acerca da abordagem trazida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão realizador da prova. “O Enem acertou bastante em colocar para os feras um assunto tão em voga, ainda mais diante da situação crescente da intolerância religiosa em várias partes do mundo”, comemorou o pesquisador e seguidor da Jurema, religião indígena, Alexandre L'Omi L'Odò. Apesar do espaço para reflexão, o pesquisador lembrou que a redação pede textos, e que “essa é uma oportunidade para vermos como está funcionando a cabeça dos nossos jovens”.  

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Além disso, ele apontou que o tema é necessário, sobretudo, e também educativo. L'Omi L'Odò acredita que isso pode fazer com que os jovens pensem em alternativas para combater a intolerância religiosa, uma vez que o fera teve que apresentar à banca medidas para sanar o problema no País.

O entusiasmo também é apresentado pelo Padre Jurandir Dias. Ele explica que estes tipos de ataques não têm como alvo apenas os seguidores de religiões africanas, mas os cristãos, asiáticos, entre outras crenças. “Isso nos alegra porque a religião não deve ser o instrumento, nem o ponto motivador para que as pessoas briguem entre si”, explicou o religioso.

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