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O ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas Alexandre Saraiva afirmou que o desaparecimento do repórter inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari, está relacionado ao trabalho da imprensa e às consequências que isso traria para os interesses do crime organizado na região.

"Nenhum jornalista está seguro na Amazônia, falo isso para todos que vão para lá. Ali a vida não vale nada", diz Saraiva. Segundo ele, esse problema se repete em outras regiões da floresta, como a região sul do Pará, sudeste e nos Estados de Roraima e Rondonia. "Estamos falando de um trabalho de imprensa, mostrar para o mundo o que está acontecendo na Amazônia. O pano de fundo, o objetivo, era jornalístico. Está muito claro isso para mim. Ele estava lá com um repórter estrangeiro, iria sair na imprensa e isso iria atrapalhar os negócios (dos criminosos)", afirma Saraiva, substituído do cargo após enviar ao Supremo Tribunal Federal notícia-crime contra o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.

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O Vale do Javari fica na região da tríplice fronteira entre o Brasil, Colômbia e Peru e, como mostrou o Estadão, é rota do crime organizado transnacional: tráfico de madeira, de drogas, ouro e violência. "Quando o Estado sai, ou nunca entrou, fica um vácuo", afirma Saraiva.

Segundo o delegado, a tendência normal das diferentes atividades criminosas em uma determinada região é convergir. É o que já acontece na Amazônia. "Não existe 'meio gângster'. O tráfico de drogas precisa das rotas dos madeireiros. Vai chegar para eles e negociar, se não der certo mata e assume", diz o ex-superintendente da PF no Amazonas. Saraiva foi punido pela corporação por dar entrevistas e se lançou pré-candidato a deputado federal neste ano pelo PSB.

Saraiva conhece Bruno e Dom. Junto com o indigenista, o então superintendente da Polícia Federal no Amazonas participou de uma operação de combate ao garimpo ilegal que terminou com cerca de 60 balsas afundadas. Já o jornalista inglês entrevistou o ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas há cerca de dois meses. "O Bruno é um cara super experiente, estava lá para levar o Dom para fazer um trabalho jornalístico. Isso está claro", diz.

Na segunda-feira, 13, a Polícia Federal negou ter encontrado os corpos de Dom e Bruno após o jornal The Guardian, para com o qual o repórter colaborava, publicar relato de familiares do correspondente estrangeiro, segundo os quais diplomatas brasileiros disseram a eles que os corpos de ambos haviam sido localizados na selva. A associação de indígenas Unijava, que auxilia nas buscas, também negou a informação.

O ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas critica a atuação das Forças Armadas na região via Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro e vê a necessidade de atuação delas no combate ao crime organizado transnacional. "Eles ficam esperando a invasão de um país estrangeiro e enquanto isso o crime acontece nas barbas deles", afirma.

O delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas que caiu após enviar ao Supremo Tribunal Federal noticia-crime contra o ministro Ricardo Salles, comemorou, em seu perfil no Twitter, a operação que fez buscas contra o chefe do Ministério do Meio Ambiente nesta quarta (19). Saraiva compartilhou uma matéria sobre a Operação Akuanduba e reproduziu trecho de um salmo bíblico: "Regozijem-se os campos e tudo o que neles há! Cantem de alegria todas as árvores da floresta".

Em outra publicação, o delegado compartilhou uma imagem sobre a investigação que mira 'grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais' e registrou: "Tudo pela Amazônia". Em seguida, sem mencionar as apurações ou Salles, o delegado publicou a imagem de um personagem do desenho animado 'Carangos e Motocas' com balão de fala registrando: "Eu te disse, eu te disse".

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Também sem citar a operação aberta nesta quarta após autorização do ministro Alexandre de Moraes, do STF, Saraiva escreveu: "As funções da PF(Art. 144, CF) transcendem às pessoas, pois possuem 'padrões de comportamento recorrentes, valorizados e estáveis'. Raul Seixas resumiu: "e não adianta nem me dedetizar, porque você mata uma e vem outra em meu lugar…"

No Twitter, Saraiva costuma compartilhar informações sobre as operações da PF e também comenta sobre as estratégias para a exportação de madeira ilegal identificadas pela corporação. O perfil foi criado logo após o ex-superintendente da PF no Amazonas ser substituído, sendo que, na ocasião, o delegado afirmou ao Estadão que 'não havia sido comunicado' sobre a troca no comando da unidade. Na semana seguinte à mudança, Saraiva fez a primeira publicação na rede social afirmando, em letras maiúsculas: "Não vai passar boiada nenhuma!!!".

A indicação de Saraiva faz referência a fala do ministro do Meio Ambiente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, tornada pública no âmbito no inquérito que apura suposta tentativa de interferência política de Bolsonaro na PF. Na ocasião, Salles disse que era preciso aproveitar a 'oportunidade' que o governo federal ganha com a pandemia do novo coronavírus para 'ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas'.

"Nós temos que tá com a artilharia da AGU preparada pra cada linha que a gente avança ter uma coi… mas tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, pra simplificar. Não precisamos de Congresso. Porque coisa que precisa de Congresso, também, nesse fuzuê que está aí, nós não vamos conseguir aprovar. Agora tem um monte de coisa que é só parecer, caneta, parecer, caneta. Sem parecer também não tem caneta, porque dar uma canetada sem parecer é cana. Então, isso aí vale muito a pena. A gente tem um espaço enorme pra fazer", disse Salles no encontro revelado no âmbito do inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.

Um ano após a fatídica reunião, Saraiva imputou a Salles supostos crimes de obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. Segundo o delegado, além de dificultar a ação de fiscalização ambiental, Salles 'patrocina diretamente interesses privados (de madeireiros investigados) e ilegítimos no âmbito da Administração Pública' e integra, 'na qualidade de braço forte do Estado, organização criminosa orquestrada por madeireiros alvos da Operação Handroanthus com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza'.

A fala de Salles sobre o 'passar a boiada' também foi citada pela Polícia Federal ao pedir a Alexandre de Moraes a abertura da Operação Akuanduba. Os investigadores apontaram que tal 'modus operandi' (parecer, caneta) teria sido aplicado na questão das exportações ilícitas de madeira, com a elaboração 'de um parecer por servidores de confiança em total descompasso com a legalidade' - um despacho assinado pelo presidente do Ibama, Eduardo Bim, que liberou a exportação de madeira de origem nativa, sem a necessidade de uma autorização específica. O documento foi suspenso por ordem do ministro Alexandre de Moraes.

Salles classifica que Operação desta quarta como 'exagerada' e 'desnecessária'

Salles se pronunciou sobre a Operação Akuanduba após participar de um seminário realizado em Brasília, na manha desta quarta-feira (19). O ministro do Meio Ambiente disse que ficou "surpreso" com a operação, a qual classificou como "exagerada" e desnecessária".

"Faço aqui uma manifestação de surpresa com essa operação que eu entendo exagerada, desnecessária. Até porque todos, não só o ministro, como todos os demais que foram citados e foram incluídos nessa legislação tiveram sempre à disposição pra esclarecer quaisquer questões", afirmou Salles.

Segundo o ministro, o Ministério do Meio Ambiente, desde o início de sua gestão, "atua sempre com bom senso, respeito às leis e respeito ao devido processo legal" do setor.

"Entendemos que esse inquérito, dos pouco que sabemos, porque eu não tive acesso ainda, ele foi instruído de uma forma que acabou levando o ministro relator, induzindo o ministro relator (Alexandre de Moraes) a erro, induzindo que teria havido uma ação concatenada de agentes do Ibama e de Ministério do Meio Ambiente Para favorecer ou para fazer o destravamento indevido do que quer seja", declarou Salles, reafirmando que "essas ações jamais, repito, jamais aconteceram".

O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, ex-superintendente da corporação no Amazonas que foi substituído após enviar ao Supremo Tribunal Federal notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, recebeu apoio de seus pares por sua "dedicação e excelência" à frente da unidade.

O delegado publicou no sábado, 24, em seu perfil no Twitter uma foto da placa que recebeu do efetivo da PF no Amazonas e afirmou: "Honra maior não existe".

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"Demonstrou coragem, atitude e profissionalismo, desde os trabalhos mais simples às mais complexas operações, sendo reconhecido por seu brilhante trabalho em defesa da Amazônia e da Polícia Federal, colocando esta Superintendência em destaque nacional e internacional", registrou a homenagem.

Saraiva foi substituído no comando da PF no Amazonas pelo delegado Leandro Almada, que já atuou como seu número 2 e foi responsável pelo grupo de investigações ambientais sensíveis na superintendência.

A troca no comando da unidade foi confirmada um dia após Saraiva enviar ao STF notícia-crime contra Salles, por obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. A justificativa era de que o delegado já havia sido sondado sobre a mudança.

Ao Estadão, o delegado afirmou que recebeu a ligação de um "amigo" sobre uma adidância. Saraiva diz que "não foi comunicado antes" sobre sua saída do comando: "Só tem duas formas de me comunicar oficialmente - ou meu chefe me liga, pelo principio da hierarquia, que é o diretor-geral, ou publicação no Diário Oficial".

Saraiva passou quatro anos na chefia da PF da Amazonas. Em 2019, o delegado foi o pivô da primeira crise entre o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e o presidente Jair Bolsonaro, em 2019.

Retirado do comando da Polícia Federal do Amazonas por se recusar a defender o desmatamento ilegal na região, o delegado Alexandre Saraiva, deve depor na Comissão de Participação Legislativa, na Câmara dos Deputados. O convite foi anunciado neste sábado (17) pela bancada do PT.

A iniciativa dos deputados Joseildo Ramos (PT-BA) e Paulo Teixeira (PT-SP) pretende ouvir Saraiva para esclarecer se a troca de comando foi uma retaliação por sua denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Ele expôs a negligência do Governo Bolsonaro em relação à preservação ambiental do estado.

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Um dia após apresentar a notícia-crime contra Salles, na quinta (15), Saraiva foi retirado da superintendência da PF pelo diretor-geral da entidade, Paulo Maiurino. O delegado havia apontado que o ministro e o senador Telmário Mota (Pros-RR) favoreceram madeireiros investigados por extração ilegal no fim de 2020.

No documento, Saraiva os acusa de obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa.

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