Foi no parque
Que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Gilberto Gil – Domingo no Parque
...E foi no parque que muitas gerações cresceram brincando entre escorregos, balanços, gangorras, fazendo bolinhas de sabão, se deliciando com pirulitos de caramelo, pipoca, algodão doce, pastel, picolé, churros... Enfim, de domingo a domingo eles estão lá, espalhados pela cidade do Recife e de portas (ou grades) abertas à população - Treze de Maio, Arraial do Bom Jesus, Memorial Arcoverde, Histórico Nacional dos Guararapes... Ambientes repletos de verde e de nostalgia no ar, que não poderiam deixar de oferecer algo imprescindível à alegria da garotada que vai, a passeio, ao parque – as comidinhas.
Nesse balanço de “recordar é viver” vamos falar um pouco sobre um dos parques que está situado na Zona Norte do Recife: o da Jaqueira. De ambiente bucólico, o espaço está situado entre a Rua do Futuro e a Avenida Rui Barbosa, com sete hectares de área. Todos os anos ocorrem eventos pontuais nas áreas de cultura e esportes, como a primeira Bienal da Orquídea, que aconteceu no final de outubro deste ano e os concertos de 1° de Maio, em homenagem ao Dia do Trabalhador.
Mesmo aberto diariamente, o parque recebe um grande número de visitantes durante os finais de semana, feriados e, semanalmente, os usuários utilizam as dependências físicas do parque para atividades esportivas e voltadas para a saúde.
Este fator afeta, inclusive, no cotidiano dos vendedores de lanches que circulam pelo local. Com exceção do período de férias escolares, eles estão pelo parque apenas nesse período citado.
Existem pessoas que trabalham lá há mais de 25 anos, como é o caso de Dona Zefinha, a vendedora de picolés. Ela vende a tanto tempo que participa ativamente da vida de gerações de pais, que levam seus filhos para provarem um pouco do doce sabor da infância com os picolés da simpática senhora (que, por vaidade, não quis revelar sua idade). E Dona Zefinha não titubeia em falar quais são os sabores que mais caem no gosto do povo: “Morango e chiclete”, afirma.
Depois dos picolés, impossível não pensar em algodão doce quando se está brincando por lá. O processo de fabricação dessa maravilha com cara de pedacinho de nuvem e sabor de infância, inclusive, se deu muito longe daqui, tendo sido descoberto pelos norte-americanos ainda no final do século 19. John C. Wharton e William Morrison foram os responsáveis por patentear a primeira máquina elétrica de fabricação do doce e, cinco anos depois, introduziram a iguaria feita de um único insumo - o açúcar - ao público durante a Feira Mundial de Saint Louis, nos Estados Unidos.
A descoberta foi um sucesso, e continua sendo. Onde quer que exista o sentimento de diversão, seja no parque, no cinema, no teatro ou na apresentação de circo, o doce ganha o paladar de crianças e adultos. Que o diga uma das mais novas vendedoras cadastradas do parque, Iraneide da Silva Araújo, a única que vende algodão doce “daquele feito na hora”. Ela conta como muitos pais frequentadores apresentam a guloseima em forma de nuvem com nostalgia aos seus filhos. “Eles dizem: olha, é que nem o que eu comia quando era criança, só que quem vendia era um senhor que vinha batendo na bacia e todos saíam correndo para comprar algodão doce feito na hora”, revela Iraneide.
Falando em recordações, tem também Dona Maria José, a vendedora de churros. Ela comenta que a concorrência já foi mais acirrada, mas que a procura no parque ainda é muito grande pelo doce frito coberto por grãos de açúcar. “A gente vê pela diminuição na quantidade de carrinhos de churros pela cidade. Mas aqui a procura ainda é bem grande” comenta a vendedora, que junto a outras duas pessoas comercializam esta espécie de “donuts”, que recebe em sua receita apenas farinha de trigo e água. Após ser frito em óleo vegetal, recebe uma cobertura de açúcar e um recheio que pode variar entre leite condensado, chocolate, doce de leite e nata.
A origem desse doce ainda é controversa: uns dizem ser oriundo da Espanha, outros de Portugal. Em alguns países, essa delícia recebe uma cobertura de chocolate (estilo “donuts”) ao invés do recheio.
E para quem pensa que a sobremesa “Romeu e Julieta” fica apenas no queijo com goiabada está muito enganado. A pipoqueira Neide, de 44 anos, conta que muitos de seus clientes no parque gostam da mistura quando o quesito é a procura pela boa e velha pipoquinha de domingo. “Eles costumam colocar sal na doce, leite condensado na salgada, fica aquela mistura toda!”, se diverte.
A experiência com o público infantil fez com que Neide observasse um ponto curioso da inserção da tecnologia nos dias atuais. Neide assume ficar preocupada com o futuro dessas crianças e jovens da atualidade, uma vez que antigamente as crianças e jovens vinham ao parque no intuito de brincarem livremente. “A maioria das crianças trazem seu computador ou videogame e ficam sentados em uma mesinha de pedra embaixo das árvores”, conta.
UM RESTAURANTE DENTRO DO PARQUE
Já do outro lado da Zona Norte do Recife está o Parque Dois Irmãos, que funciona de terça a domingo com suas “multi atividades” de horto, jardim botânico, zoológico e reserva ambiental. Além de tudo isso, o parque inclui também um restaurante que vem passando por processos de transformações ao longo do tempo. José Simão da Silva, por exemplo, que administra o restaurante self-service Boca da Mata, conta que seus cerca de 10 funcionários estão passando por um processo de capacitação contínua para melhor atender o cliente. “Alguns estão estudando até idiomas para atender os estrangeiros. Tudo de olho na Copa do Mundo de 2014, né?”, brinca o administrador.
Simão, que lida com comes e bebes no parque desde seus 19 anos (quando chegou ao zoológico na década de 1960) vendia pipoca na carrocinha. A atividade de comerciante por tanto tempo no parque fez com que ele presenciasse cenas dignas de filmes, como no dia em que um urso fugiu da jaula. “Deixaram a comida e fecharam mal a grade, quando vi, todos correram com medo do urso, mas eu fiquei parado até porque é mais seguro para que o animal não se assuste. Discretamente, chamei um tratador que estava passando e pronto, tudo foi resolvido”, relembra.