Tópicos | A Amiga Genial

O canal a cabo norte-americano HBO estreia neste domingo (18) a série "A amiga genial", adaptação de uma popular saga literária, quebrando novas barreiras com as filmagens em italiano, uma tendência crescente impulsionada pela globalização do público.

Mais de 10 milhões de leitores foram seduzidos pelos romances da escritora italiana Elena Ferrante sobre a relação complexa de duas meninas, mais tarde transformadas em mulheres, que se conhecem em Nápoles na década de 1950, desde que o primeiro livro foi lançado em 2011.

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Os fãs dos livros de Ferrante - pseudônimo pela autora cuja identidade é desconhecida - estão ansiosos para ver a série.

Os direitos de transmissão da série de oito episódios foram adquiridos por 56 países. Depois da HBO, ela será exibida na Itália pela RAI a partir de 27 de novembro e pelo Canal Plus na França em dezembro.

Mesmo nos Estados Unidos, onde os livros traduzidos para o inglês representam apenas 1% do mercado, os quatro "romances napolitanos", como são geralmente conhecidos, têm sido um sucesso comercial, com 2,6 milhões de cópias vendidas, segundo a editora Europa Editions.

Mas daí para produzir, em parceria com a RAI, uma série de televisão em italiano, filmada na Itália, por um diretor italiano, é de qualquer maneira um risco para a HBO.

Os diálogos estão, de fato, no dialeto napolitano, e não no italiano clássico, então até RAI transmitirá a série com legendas.

"Isso realmente me impactou", disse o diretor Saveiro Costanzo ao The Hollywood Reporter.

Tanta atenção aos detalhes à autenticidade é relativamente nova nos Estados Unidos.

Em 2009, Quentin Tarantino apontou nessa direção com "Bastardos Inglórios", parcialmente filmado em alemão e francês. Mas o mundo da série estava relutante em seguir o caminho.

Logo apareceu "The Americans" (2013-2018), a série premiada sobre espiões russos nos Estados Unidos durante a Guerra Fria, que mostrou longas sequências em russo.

O apetite do público, globalizado e entregue às plataformas de streaming, transformou-se cada vez mais em produções legendadas, como testemunha o sucesso internacional da série dinamarquesa "Borgen".

A série americana "Narcos", filmada em espanhol e inicialmente transmitida pela Netflix em 2015, "abriu o caminho para os demais, mostrando que a autenticidade era central para o sucesso de uma série", explicou Lorenzo Mieli, produtor da adaptação de "L'amica geniale", título original do romance de Ferrante.

- "Verdade dramatúrgica" -

Uma vez superado o desafio da língua, houve outro passo: como garantir que o conteúdo dos livros não se deformasse com a passagem para a televisão.

"Desde o primeiro livro de Elena Ferrante, senti que compartilhávamos das mesmas ideias e também da mesma obstinação por buscar uma verdade dramatúrgica", explicou Contanzo durante a apresentação de série no Festival de Veneza em setembro.

Francesco Piccolo, que escreveu o roteiro junto com Costanzo, comentou que a autora, inicialmente "vigilante", aos poucos se mostrou mais à vontade com a adaptação após seus intercâmbios com o diretor.

"Ela fazia sugestões, mas nunca para defender os livros, só mais como uma bela ideia de transposição cinematográfica. Ela tinha grande confiança em Saverio", explicou.

O resultado é fiel ao romance, uma história de amizade, admiração, rivalidade e inveja; uma imersão quase documental na Nápoles dos anos 1950, onde Elena e Lima se conhecem no ensino fundamental.

"É uma série completamente diferente do que vemos normalmente na televisão italiana", disse Lorenzo Mieli.

"Não vemos pessoas aparecendo em todos os lugares, estamos mais focados na complexidade do ponto de vista das personagens femininas", explicou ele, acrescentando: "Acho que isso pode levar a uma nova forma de contar histórias".

A investigação de um jornalista sobre a suposta identidade da misteriosa escritora italiana Elena Ferrante, que nunca revelou o nome verdadeiro ou teve uma foto divulgada, provocou polêmica e críticas sobre a invasão de privacidade por conta do método utilizado pela reportagem.

De acordo com a investigação do repórter Claudio Gatti para o jornal italiano Il Sole 24 Ore, a tradutora Anita Raja seria a escritora Elena Ferrante.

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A reportagem, baseada em seus pagamentos, termina por revelar a identidade de um dos grandes fenômenos literários dos últimos anos.

O nome verdadeiro da autora da tetralogia "A Amiga Genial", que escreve desde os anos 1990 sob pseudônimo, era um mistério, apesar das várias tentativas da imprensa de descobrir sua real identidade.

Raja, de 63 anos, judia de origem polonesa, que trabalha atualmente como "freelancer" para a Edizione e/o, editora que comandou no passado e que publica a obra de Ferrante, é conhecida por ser uma especialista em autores alemães e por ter traduzido, entre outros, livros de Franz Kafka.

A investigação de Claudio Gatti para a prestigiosa página cultural dominical do jornal econômico Il Sole 24 Ore é baseada nos pagamentos feitos à autora e nos imóveis que Anita Raja e seu marido, o escritor Domenico Starnone, registraram nos últimos anos.

A pequena editora romana que publica a obra de Ferrante, da qual Raja atualmente aparece como colaboradora, registrou um aumento de arrecadação de 65% em 2014, quando os livros de Elena Ferrante se tornaram 'bestsellers'. O volume aumentou 150% no ano passado, com o sucesso internacional da série, que tem como pano de fundo a cidade de Nápoles em meados do século XX e tem como protagonistas as amigas Lila e Lenú.

Os pagamentos a Anita Raja evoluíram de modo similar, de acordo com a reportagem.

"Nenhum colaborador, funcionário ou tradutor receberam pagamentos tão elevados. Além disso, um tradutor independente em geral não recebe muito. Os pagamentos de 2014 e 2015 de Raja são compatíveis com os valores gerados pelos direitos autorais"m escreveu Gatti.

- Violação da privacidade -

Procurada pela AFP, a editora se recusou a fazer comentários.

"Estamos muito irritados com a violação da privacidade, tanto da editora como de Ferrante. Não faremos nenhuma declaração", afirmou a empresa ao jornal econômico.

Além dos pagamentos a Anita Raja, o jornalista investigou o patrimônio imobiliário do casal.

De acordo com Gatti, Raja e o marido compraram nos últimos anos dois grandes apartamentos em Roma e uma propriedade na Toscana, todas em áreas valorizadas, com um custo conjunto de milhões de euros.

"Estamos diante de uma página negra do jornalismo italiano", afirmou a escritora Loredana Lipperini.

A revelação provocou indignação em alguns setores na Itália, em particular entre os escritores, que exigem do jornal a mesma dedicação às pessoas que fraudam impostos.

Gatti também examina os dados familiares. Raja, nascida em Nápoles, mas criada desde pequena em Roma, é filha de um magistrado napolitano, Renato, casado com Golda Frieda Petzenbaum, professora de alemão, judia alemã de origem polonesa, que sobreviveu ao holocausto nazista.

Apesar da investigação, tanto a autora como a editora se recusaram a romper o silêncio.

Os livros de Elena Ferrante provocaram comoção nos últimos anos, ao prenderem o leitor com sua linguagem particular, e porque percorrem 60 anos da história recente da Itália com um olhar feminino e feminista, a partir de um bairro pobre de Nápoles.

A saga já foi publicada em mais de 30 países, incluindo o Brasil, Estados Unidos e várias nações da Europa, onde também aparece na lista dos mais vendidos.

Esta não foi a primeira vez que o nome e sobrenome da enigmática escritora foi revelado. Há dois anos as principais suspeitas apontavam para Raja.

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