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São Paulo confirmou nesta quarta-feira (7) o primeiro caso de contaminação pelo superfungo Candida auris no Estado. A doença, registrada em 18 de maio, foi diagnosticada em um bebê prematuro que está internado no Hospital da Mulher da Universidade de Campinas (Unicamp), o Caism, no interior paulista.

Em nota, o Caism informa que o bebê infectado apresenta boa evolução clínica, e que algumas das fragilidades encontradas no seu estado de saúde estão relacionadas ao fato da criança ter nascido de forma prematura.

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O hospital afirmou também que, até o momento, a contaminação pelo Candida auris não atingiu outros pacientes do hospital, e que continua monitorando outros internados para se certificar que não há outras infecções pelo superfungo na unidade.

Foi adotada, de acordo com o hospital da Unicamp, a metodologia de precaução de contato para os pequenos que foram atendidos por médicos que tiveram contato o caso fonte. "Iniciar essa medida frente à simples hipótese de infecção ajuda a conter a disseminação de patógenos e a proteger pacientes e profissionais da saúde", afirmou o Caism.

Medidas de prevenção e controle da doença foram adotadas pelo hospital, como: limpeza concorrente (isto é, na presença do paciente) do local de internação no mínimo a cada 3 horas, desinfecção dos equipamentos médico-hospitalares; orientação às equipes sobre as técnicas adequadas de higienização das mãos e de paramentação; realização de limpeza; e redução do número de visitas ao caso fonte.

"Esse caso já foi notificado às autoridades sanitárias competentes, que o incluirão em seus próximos boletins sobre a Candida auris", informou o Caism.

Por meio de nota a outros veículos de imprensa, a Secretaria de Saúde do Estado informou que o hospital implementou "todas as medidas de prevenção e controle" sobre a doença, e que a Vigilância Sanitária monitora as estratégias adotadas pela unidade. Ainda segundo a pasta, o hospital está liberado para fazer partos e atendimentos a pacientes.

Alta letalidade e capacidade de resistência

Uma característica da Candida auris é alta letalidade e a capacidade de resistir aos remédios usados para combater o agente patológico. Há várias linhagens do fungo, e algumas são imunes a todas as três classes de remédios existentes. E embora os meios de transmissão sejam incertos, a contaminação dentro de hospitais é um traço comum no histórico do superfungo.

No Brasil, onde o primeiro caso foi detectado em 2020, já foram registrados três surtos da doença: dois em Salvador, na Bahia, e um, e mais recente, no Recife, em Pernambuco. Todos aconteceram dentro de unidades hospitalares. O terceiro surto foi o mais severo, atingindo 48 pessoas entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022.

Os casos voltaram a surgir este ano. No último 11 de maio, a confirmação de um diagnóstico positivo para a doença levou o hospital estadual Miguel Arraes, da cidade Paulista, na região metropolitana de Recife, suspender o recebimento de novos pacientes na unidade. Três dias depois, um paciente que estava internado em um hospital da capital pernambucana também foi contaminado. No caso, somente a ala onde ele estava foi isolada.

De lá para cá, outras pessoas foram positivadas, e fazem o Estado nordestino somar, até esta quarta-feira, 7, nove confirmações de contaminados para C. auris.

A alta letalidade, inclusive, pode estar relacionada justamente ao fato de o fungo contaminar pacientes hospitalizados que já estão com a saúde fragilizada. Segundo agências de saúde como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, do governo dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), a taxa de mortalidade dos infectados chega a 60%.

"Candida auris é uma espécie de cândida caracterizada pela sua notável resistência ao antifúngicos. É uma levedura resistente a muitas drogas". diz o infectologista Flávio Teles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), em um comentário gravado ao site da entidade.

"Essa espécie de cândida exige medidas rigorosas de controle porque é um agente transmissão hospitalar e difícil de ser eliminada", afirma o especialista.

O CDC informa que as principais medidas de prevenção e controle contra a C.Auris são a higienização das mãos (usar luvas não é suficiente) e a limpeza e desinfecção do local onde o paciente está internado, e dos equipamentos que serão utilizados novamente.

A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) confirmou mais dois casos de Candida auris. Com os novos registros, o estado totaliza seis diagnósticos em 2023. 

Os pacientes infectados são um homem, de 51 anos, que está internado no Hospital Tricentenário, em Olinda, e uma idosa, de 70, que recebeu alta do Hospital Miguel Arraes, em Paulista, no último dia 23. As duas unidades ficam na Região Metropolitana do Recife (RMR). 

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A pasta explicou que os pacientes deram entrada nos hospitais com outros problemas de saúde e não apresentaram repercussões clínicas causadas pelo fungo. A idosa, por exemplo, chegou ao Miguel Arraes, no último dia 14, com uma lesão infeccionada. 

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Todos os casos foram identificados em maio. O maior índice foi observado no Miguel Arraes, onde três casos foram confirmados. A unidade suspendeu novas internações no dia 22 e só recebe pacientes em casos de urgência. Outros dois casos foram registrados no Tricentenário e um no Hospital Portugues, no Recife. 

A pasta explica os pacientes podem receber alta com o superfungo no organismo, pois ele fica de três a seis meses no corpo. Junto com a alta, o paciente recebe um histórico clínico e diagnóstico da doença. 

As pessoas com Candida auris não precisam se isolar e podem manter as atividades do dia a dia. As medidas de prevenção passam pela higiene regular das mãos, higiene pessoal e limpeza dos ambientes de convivência com hipoclorito de sódio. 

Um fungo perigoso, com alta mortalidade, o Candida auris, preocupa, embora ainda seja negligenciado. A Secretaria da Saúde de Pernambuco confirmou três novos casos de pessoas infectadas pelo superfungo no domingo (28), mas não identificou uma cadeia de transmissão que ligue os três pacientes. A hipótese é de contaminação natural de cada um dos três, internados em hospitais diferentes.

No Brasil, pesquisadores contabilizam ao menos três surtos entre 2020 e o início deste ano. Eles alertam, porém, para a subnotificação da doença no País, em artigo publicado em janeiro na revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.

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O registro de novos casos em Pernambuco pode representar um novo surto. "Já tivemos casos no Recife anteriormente, mas até provarmos que a cepa não é a mesma, poderíamos (pensar em um novo surto)", diz Manoel Marques Evangelista de Oliveira, pesquisador do Laboratório de Taxonomia, Bioquímica e Bioprospecção de Fungos do Instituto Oswaldo Cruz. Segundo ele, a Fiocruz já está em contato com o grupo da Universidade Federal de Pernambuco, comandado pelo professor Reginaldo Gonçalves de Lima Neto, que atende à demanda dos hospitais.

Junto a outras três espécies (uma do mesmo gênero, o Candida albicans, conhecida por causar candidíase genital e "sapinho"), o Candida auris está na lista de fungos que apresentam risco à saúde pública, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A infecção oportunista e invasiva causada por ele atinge principalmente pacientes imunossuprimidos (como pacientes oncológicos, transplantados e com HIV) e acamados em hospital por longos períodos.

Conforme a OMS, a levedura pode causar candidíase invasiva no sangue (candidaemia), coração, sistema nervoso central, olhos, ossos e órgãos internos. A mortalidade geral variou de 29% a 53%. "Pacientes com candidemia por C. auris permaneceram mais tempo no hospital ou na UTI do que aqueles com candidemia causada por outras Candida spp", diz manual da organização internacional.

Nos Estados Unidos, um estudo descobriu que os registros de infecção passaram de 476 em 2019, para 756 em 2020, e, depois, para 1.471 em 2021. Ou seja, os casos triplicaram em três anos. Os médicos também detectaram o fungo na pele de milhares de outros pacientes, com risco de transmissão para outros. Eles associam o problema à sobrecarga do sistema da saúde com a pandemia, que tirou de foco a desinfecção de outros agentes nocivos que não fossem o novo coronavírus.

"Precisamos de investimentos (na pesquisa) e de ter mesmo essa política sentinela. Esse trabalho publicado nos EUA demonstra essa necessidade de que tenhamos um sistema sentinela operando no País para evitar esses problemas também aqui no Brasil, de aumento de casos", diz Oliveira, que junto de outros pesquisadores, descreveu o maior surto do fungo no Brasil, em Recife, no ano passado.

"Outra questão é que esses casos emergentes tem detecção muito vinculada à pesquisa. A redução de investimento na pesquisa no País limita os estudos", acrescenta o cientista.

Três surtos no Brasil

No artigo brasileiro, Oliveira e outros pesquisadores contabilizam três surtos desde 2020, dois em Salvador e o maior em Recife.

Ao Estadão, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou, em março, que "o primeiro caso de Candida auris confirmado no Brasil foi identificado em uma amostra de ponta de cateter venoso central retirado de um paciente internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto devido a complicações da covid-19". O surto em hospital de Salvador, segundo a agência, foi notificado em dezembro de 2020 e resultou em 15 casos confirmados.

No ano seguinte, também em dezembro e novamente em Salvador, outro surto foi confirmado, mas, desta vez, com apenas um caso. " Candida auris não é um microrganismo endêmico no Brasil. A ocorrência de um único caso em serviços de saúde já é considerado um surto", explicou a Anvisa à época. Depois disso, não foram mais identificados novos casos nesses dois hospitais ou em outros serviços de saúde da Bahia.

Dos 48 confirmados do ano passado, a agência destaca que a grande maioria era de colonização, não infecção. Esse surto seguiu em monitoramento pelo hospital e pela rede nacional de identificação de C. auris por mais alguns meses, embora o último registro seja de setembro.

Mas como o C. auris passou a preocupar tanto? "Era uma espécie que tinha o perfil ambiental, sofreu adaptação com as mudanças climáticas, de uma termotolerância (maior tolerância a variações de temperaturas). Para uma levedura ser patogênica ao ser humano, precisa sobreviver na temperatura do corpo humano, em torno de 37°C", diz o pesquisador da Fiocruz.

A espécie consegue crescer em temperaturas de 37°C a 42°C, e também possui "notável capacidade de sobreviver a condições ambientais adversas por longos períodos", conforme o artigo brasileiro. Ela consegue se adaptar fora do hospedeiro humano - com alta capacidade de formação de biofilme (comunidade complexa e estruturada de células de fungos que se fixam em uma superfície). Isso aumenta o risco de surto hospitalar, pois a colonização e a infecção podem ter "origem ambiental", como "dispositivos médicos contaminados e mãos de profissionais de saúde".

Além disso, a espécie resistente à maioria dos medicamentos antifúngicos disponíveis e, de acordo coma OMS, algumas cepas são pan-resistentes (resistentes a todos os remédios). De 2009, quando foi registrada pela primeira vez no Japão, já se espalhou para quase todos os continentes. Só não chegou ainda à Antártida.

Assim como muitas doenças, a chave é o tempo, diz Evangelista de Oliveira. É preciso impedir que se passe da colonização - quando ela está presente no corpo sem causar infecção (vários microrganismos colonizam nossa microbiota intestinal, por exemplo) - para a infecção, marcada por quadros febris e com possibilidade de sequelas.

Diagnóstico e tratamento

Embora o C. auris tenha resistência intrínseca, o tratamento das infecções é feito com equinocandinas, embora outros antifúngicos, como os azólicos, possam ser usados, segundo a OMS. As equinocandinas, porém, só foram incluídas na lista de remédios essenciais (EML, na sigla em inglês) da agência em 2021, e ainda não estão disponíveis em muitos países.

Conforme relatam os pesquisadores brasileiros, a identificação de C. auris pode ser "problemática, pois os procedimentos diagnósticos convencionais, como plataformas/kits de identificação bioquímica padrão, não conseguem identificar tal espécie".

Segundo Evangelista de Oliveira, medidas básicas de higiene e desinfecção permitem livrar uma unidade de saúde do fungo. Fora de hospitais, as medidas de higiene, diz ele, como lavar mãos com água e sabão, são bastante efetivas para conter a levedura.

SES-PE cria comitê para monitorar casos de Candida auris em Pernambuco  Especialistas vão reforçar ações para impedir proliferação do fungo no estado e reforça que não houve morte causada pela Candida  Em virtude da confirmação de três pacientes pelo fungo Candida auris (C. auris), em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) criou, nesta quinta-feira (25), um comitê técnico para acompanhar de perto as implicações relevantes ao tema e agir de forma integrada contra o fungo, motivo de alerta no mundo todo.

O grupo é formado por membros das secretarias executivas de Vigilância em Saúde e Atenção Primária (SEVSAP), de Atenção à Saúde (SEAS), de Regulação em Saúde, além do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde de Pernambuco (CIEVS-PE), da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (APEVISA), do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PE) e especialistas da área da infectologia. O comitê tem como objetivo a identificação, prevenção e controle de infecções por Candida auris em serviços de saúde de Pernambuco.

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A secretária estadual de saúde de Pernambuco, Zilda Cavalcanti, explicou que a pasta tem atuado preventivamente, monitorando todas as suspeitas do fungo. “Decidimos criar um comitê com várias entidades científicas para acompanhar cada caso de perto, com todas as particularidades. A Secretaria está empenhada em garantir que a população esteja segura e se mantém vigilante para evitar novos casos”, disse. 

Prevenção - Entre outras medidas de controle de infecção para prevenção da transmissão de C. auris que podem ser executadas em ambientes de saúde, temos: higiene das mãos, uso apropriado de equipamento de proteção e outras precauções e a limpeza e desinfecção do ambiente de atendimento do paciente e de equipamentos reutilizáveis com produtos recomendados.

Casos - A Candida auris é considerada um fungo emergente, surgido no Japão, em 2008, que tem levado preocupação aos sistemas de saúde do mundo todo. Ela não é novidade em Pernambuco. Entre dezembro de 2021 e setembro de 2022, o Estado registrou 47 casos - 46 colonizados e um infectado pelo fungo, atendidos no Hospital da Restauração. Após o episódio, há oito meses a Secretaria monitora a unidade, que não apresentou mais casos de colonização nas suas dependências e nos seus pacientes. Além disso, não houve morte associada ao fungo. 

A SES-PE relembra que recebeu, no último final de semana, as duas primeiras confirmações laboratoriais de casos para Candida auris, em pacientes internados nos hospitais Miguel Arraes (11), em Paulista, e Tricentenário (14), localizado em Olinda. Ambos são do sexo masculino, com idades de 48 e 77 anos, respectivamente. Eles foram internados nessas unidades devido a outras motivações, não apresentando repercussões clínicas decorrentes desse diagnóstico. O terceiro paciente, acompanhado em hospital privado do Recife, trata-se de um homem de 66 anos, que teve o diagnóstico em 22 de maio.

Desde então, a Secretaria trabalha no bloqueio e no controle da propagação da Candida auris. Nos setores onde os pacientes estão internados foi estabelecida imediata intensificação das ações de limpeza e desinfecção de ambientes. Para detecção de possíveis novos casos, continuam a busca e a investigação diagnóstica de todos os contactantes que coabitaram os espaços de internamento com os doentes.

Candida auris - O mecanismo de transmissão da C. auris dentro dos serviços de saúde ainda não é totalmente conhecido. No entanto, evidências iniciais sugerem que ela se dissemina por contato dos internados com superfícies ou equipamentos contaminados de quartos de pacientes colonizados/infectados. Por isso, é fundamental reforçar as medidas de prevenção e controle, com ênfase na higiene das mãos e limpeza e desinfecção do ambiente e equipamentos.

*Da assessoria 

Um possível surto do fungo Candida auris em Pernambuco voltou a preocupar a Secretaria Estadual de Saúde (SES). A pasta já investiga a incidência em hospitais do estado e apresentou um plano de resposta para coordenar o enfrentamento à doença, considerada um 'superfungo'. 

A SES conta com o apoio de equipes do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para acompanhar o cenário. "Todas as medidas preconizadas estão sendo adotadas para enfrentamento do fungo", garantiu. 

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A Candida auris se apresenta com o quadro sintomático que consiste em febre alta, tontura, vômito e aceleração cardíaca. Ela costuma acometer com maior frequência pessoas com sistema imunológico prejudicado e que passam muito tempo internadas em hospitais. 

A infecção pode ocorrer no contato com objetos contaminados. A SES reforçou que ela é considerada um ‘superfungo’ pela resistência aos tratamentos. 

"Resistência aos antifúngicos e aos produtos de controle ambiental impuseram desafios aos mais bem preparados serviços de controle de infecção hospitalar em todos os continentes. Sua eliminação depende de uma sistemática rotina de detecção das colônias nas pessoas, ambientes e equipamentos seguida de ações contínuas e repetidas de eliminação da C. auris", reforçou em nota. 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou nesta semana o terceiro surto hospitalar de Candida auris no país. Dessa vez, o fungo foi identificado em amostras de urina de dois pacientes que estavam internados num hospital do Recife – um homem de 67 anos e uma mulher de 70 anos.

A levedura – tipo de fungo que possui apenas uma célula –  causa grande preocupação nas autoridades sanitárias por ser resistente à maioria dos fungicidas existentes. Em alguns casos, a todos. Isso levou a espécie a receber o apelido de superfungo.

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Os organismos do reino Candida são velhos conhecidos da população. Eles causam infecções orais e vaginais bastante comuns nos seres humanos, as candidíases, que são combatidas com fungicidas vendidos em qualquer farmácia.

No caso da Candida auris, porém, as infecções têm se mostrado extremamente difíceis de curar. A espécie produz o que os cientistas chamam de biofilme, camada protetora que a torna resistente ao fluconazol, à anfotericina B e ao equinocandinao, três dos principais compostos antifúngicos.

A espécie é capaz também de infectar o sangue, levando a casos agressivos e muitas vezes letais. Além disso, acomete em geral pacientes graves, que permanecem por longos períodos em unidades intensivas de tratamento. Dos 18 casos identificados até agora no Brasil, dois resultaram em morte.

A Candida auris se demonstrou ainda ser extremamente difícil de controlar, sendo resistente também à maioria dos desinfetantes. “Quando ela chega num hospital, raramente é eliminada”, disse à Agência Brasil o infectologista Flávio Teles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Não bastasse sua resistência, o patógeno é difícil de identificar, podendo ser confundindo, em laboratórios, com outras espécies de Candida. “Tem essa dificuldade para diagnosticar, porque há um desconhecimento sobre a nova espécie, então acaba podendo passar desapercebido”, frisou o médico infectologista Filipe Prohaska, um dos envolvidos na identificação do surto em Pernambuco.

No Brasil, dois laboratórios estão aptos a identificar a levedura por meio de procedimentos específicos: o Laboratório Especial de Micologia da Escola Paulista de Medicina (Lemi), vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifespe); e o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA).

Histórico

O superfungo foi primeiro identificado no Japão, em 2009, no ouvido de um paciente internado, o que levou ao nome auris – orelha, em latim. Desde então, casos foram reportados em ao menos 47 países, segundo dados compilados pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês).

Ao todo, foram cerca de 5 mil pessoas infectadas até agora em todo mundo. Foi o suficiente para a Candida auris ser considerada uma das principais ameaças à saúde pública global.

O nível de alerta cresceu bastante durante a pandemia de covid-19, que aumentou em muito o número de internações longas em todo o mundo. “Paciente com covid-19 grave fica muito tempo na UTI, fica tomando corticóide, fica em ventilação mecânica, fatores que são riscos para pacientes adquirirem infecções fúngicas. Tudo isso é um alerta”, disse Teles.

Ainda não é possível saber a origem da Candida auris que apareceu no Brasil. A espécie foi identificada pela primeira vez no cateter de um paciente num hospital de Salvador, em dezembro de 2020. Nesse primeiro surto, 15 pessoas foram infectadas. Uma única outra infecção foi identificada também em Salvador, em dezembro de 2021.

Outra característica que torna a espécie preocupante é sua capacidade de sobreviver por meses em superfícies como macas, móveis e instrumentos. É possível, por exemplo, que indivíduos saudáveis transportem o fungo entre unidades hospitalares sem saber.

A transmissão, contudo, se dá somente pelo contato direto com objetos ou pessoas infectadas, uma das poucas características que favorecem sua contenção. Até hoje, por exemplo, nunca foi identificada nenhuma infecção por Candida auris fora do ambiente hospitalar.

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Nesta terça-feira (12), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a  Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), confirmaram um caso do superfungo Candida auris em um paciente que estava internado no Hospital da Restauração (HR), localizado na área central do Recife, e que recebeu alta no final do mês de dezembro do ano passado. Outros dois casos estão em investigação.

Candida auris é um fungo que pode causar infecções invasivas, além de ser multirresistente a fármacos comumente utilizados para tratar infecções por Candida.

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Um exame de urina do homem de 38 anos levantou a suspeita do micro-organismo e, por isso, a amostra foi encaminhada ao Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA), que confirmou a presença do fungo na última segunda-feira (10).  

O fungo, de ocorrência hospitalar, pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas, podendo ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com comorbidades. De acordo com a Anvisa, ainda não se sabe o mecanismo de transmissão, acreditando-se que é por meio de contato com superfícies ou equipamentos contaminados.

O órgão emitiu, em 2017, um comunicado orientando sobre a vigilância laboratorial de Candida auris no Brasil, que teve seu primeiro caso confirmado em dezembro de 2020, na Bahia. O tratamento vai depender da avaliação médica e do grau de infecção. 

O paciente de 38 anos que estava internado no HR deu entrada na emergência de trauma da unidade de saúde no dia 21 de novembro do ano passado. A SES-PE garante que o paciente já estava colonizado pelo fungo e que a identificação da Cândida auris foi feita por meio de um exame de rotina do Hospital da Restauração, mas que não havia infecção provocada por ele.

Um dos casos suspeitos trata-se de uma mulher de 70 anos, que havia dado entrada no HR por outras causas, mas existe a hipótese de que ela estaria colonizada pelo fungo, mas ainda precisa de confirmação laboratorial. A idosa morreu na UTI do hospital no dia cinco deste mês.

Um homem de 46 anos é o segundo caso suspeito que também deu entrada no Hospital da Restauração no dia 13 de dezembro do ano passado, por outra causa. Ele está na UTI sem nenhum sintoma relacionado à infecção pelo fungo. O exame laboratorial sugestivo da unidade hospitalar saiu na última terça (11) e será encaminhada para o Lacen da Bahia. 

A Coordenação Estadual de Prevenção e Controle de Infecção de Pernambuco (CECIH-PE), ligada à Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), informa que está apoiando a unidade hospitalar, desde a identificação do primeiro caso suspeito, nas atividades para evitar novas contaminações pelo micro-organismo, tendo realizado visita técnica e, atualmente, permanecendo no monitoramento das atividades.

"Para isso, houve capacitação com a equipe multiprofissional do serviço e criado um plano de ação para reforçar as medidas de prevenção e controle, com higienização (limpeza e desinfecção) dos ambientes, higienização das mãos, monitoramento sistemático de contactantes, a partir de cultura de vigilância, e isolamento dos casos suspeitos", detalha a SES-PE.

Surto

a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esclareceu por meio de nota que, apesar de no momento haver só um caso confirmado e outros em análise no Brasil, pode-se considerar que há um surto de Candida auris porque a definição epidemiológica de surto abrange não apenas uma grande quantidade de casos de doenças contagiosas ou de ordem sanitária, mas também o surgimento de um microrganismo novo na epidemiologia de um país ou até de um serviço de saúde – mesmo se for apenas um caso.   

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu alerta de um possível primeiro caso de Candida auris nesta segunda-feira, 7, no Brasil. De acordo com o comunicado, o fungo é considerado "uma séria ameaça à saúde pública". O C. auris foi identificado no último dia 4 em amostra de paciente internado em uma UTI adulto em hospital do Estado da Bahia por complicações da covid-19.

O C. auris é considerado potencialmente fatal, pois é um fungo multirresistente, capaz de driblar vários medicamentos antifúngicos comumente utilizados para tratar infecções por Candida, além de poder causar infecção em corrente sanguínea e outras infecções invasivas e ser facilmente confundida com outras espécies de leveduras.

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Outra característica deste fungo é a capacidade de permanecer viável, por longos períodos no ambiente, de semanas a meses, e apresentar resistência a diversos desinfetantes comuns, mesmo os que são à base de quartenário de amônio.

Do ponto de vista laboratorial existe a preocupação de possíveis surtos, uma vez que há uma dificuldade de identificação pelos métodos laboratoriais rotineiros e de sua eliminação do ambiente contaminado.

Após a suspeita, a amostra foi encaminhada pelo laboratório do hospital para o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA) que comunicou a suspeita de caso positivo para C. auris. Assim, a amostra foi encaminhada para o laboratório da Rede Nacional para identificação de C. auris em serviços de saúde (Laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - HCFM-USP) para a realização das provas confirmatórias.

Diante deste caso, a Anvisa recomendou o reforço da vigilância laboratorial do fungo em todos os serviços de saúde do País, além de medidas de controle e prevenção que minimizem a disseminação do patógeno.

Já em 2017 a Anvisa havia emitido alerta em que afirmava que "o modo preciso de transmissão dentro do ambiente de saúde não é conhecido". Apesar de as evidências iniciais sugerirem que o organismo poderia se disseminar em ambientes médicos por contato com superfícies ou equipamentos contaminados, ou mesmo de pessoa para pessoa.

O primeiro caso de C. Auris foi identificado pela primeira vez em humanos em 2009, após seu isolamento em um paciente no Japão. Desde então, infecções por C. auris ocorreram em vários países, incluindo Coréia do Sul, Índia, Paquistão, África do Sul, Quênia, Kuwait, Israel, Venezuela, Colômbia, Reino Unido e mais recentemente nos Estados Unidos e Canadá.

O mesmo documento emitido pela Anvisa em 2017 cita que, no ano anterior, a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) publicaram um alerta epidemiológico em função dos relatos de surtos de Candida auris em serviços de saúde da América Latina, recomendando aos Estados-membros a adoção de medidas de prevenção e controle de surtos decorrentes deste patógeno.

O primeiro surto detectado de C. auris na região das Américas foi relatado na Venezuela entre março de 2012 e julho de 2013, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital em Maracaibo. O surto afetou 18 pacientes, dos quais 13 eram pediátricos. Neste caso, todos os isolados foram inicialmente identificados como Candida haemulonii, sendo que apenas após novos estudos se identificou que o microrganismo envolvido era C. auris.

Outro exemplo da dificuldade de identificação desse patógeno foi relatado em um surto, ocorrido em agosto de 2016, em uma UTI do distrito de Cartagena na Colômbia. Neste, cinco casos de infecção foram identificados inicialmente como C. albicans, C.guillermondii e Rhodotorula rubra, mas após a realização de um teste mais complexo, chamado de MALDITOF foram confirmados como C. auris.

Um possível surto também preocupa as autoridades de saúde, pois pelas evidências até o momento, algumas cepas de Candida auris são resistentes a todas as três principais classes de fármacos antifúngicos (polienos, azóis e equinocandinas).

O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC/Atlanta/EUA) demonstrou que dos surtos globais que têm investigado, quase todos os isolados são altamente resistentes ao fluconazol. Em sua análise, mais da metade dos isolados de C. auris eram resistentes ao voriconazol, um terço eram resistentes à anfotericina B e alguns resistentes às equinocandinas, indicando que as opções de tratamento são limitadas.

Este tipo de multirresistência não foi visto antes em outras espécies de Candida. Além disso, como os métodos de detecção de rotina não conseguem identificar C. auris, suas taxas de incidência e prevalência não são conhecidas ao certo, sendo, provavelmente, uma causa de candidíase mais comum do que é atualmente considerada.

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