“Essa menina já sabe de tudo. Bota ela para cantar também. Eu pago o cachê”. Quem disse isso foi o cantor Claudionor Germano para Nena Queiroga - na época com 12 anos -, na antiga Fábrica de Discos Rozenblit. Carioca de sangue e pernambucana de coração e alma, Nena saiu do Rio de Janeiro com a família quando tinha seis anos. Sua formação musical deu-se em Pernambuco ao acompanhar sua mãe Mêves Gama, respeitada cantora de frevo, em tudo quanto era lugar.
No currículo inicial, a cantora só trabalhou com figurinhas já conhecidas do público: o irmão Lula Queiroga e Lenine. Mostrando o seu talento aos 20 anos na capital pernambucana em um barzinho no bairro das Graças, Nena surgiu ao lado de André Rio, Spok, entre outros profissionais. O conselho do amigo André Rio fez com que a artista voasse alto e saísse do papel de coadjuvante atrás do microfone de backing vocal.
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Hoje com 50 anos e diversas etapas na carreira, a “rainha da folia pernambucana” é a grande homenageada do Carnaval do Recife deste ano, juntamente com o compositor Jota Michiles. O frio na barriga e ansiedade em mostrar uma apresentação especial deram para a artista a incumbência de rasgar o amor e o carinho pela tradicional festa do Estado, alegrando os moradores da terrinha e dos visitantes que curtem o período carnavalesco.
Ela trouxe para as ruas do Recife em 2010, no Galo da Madrugada, a novidade de cantar só com amigos. Elba Ramalho, sua musa master, que também divide o posto com Fafá de Belém e Ivete Sangalo, abriu mais um caminho para que Nena pudesse mostrar o seu talento eclético, múltiplo e acessível. Em entrevista com exclusividade ao blog No Grau, do LeiaJá, Nena Queiroga conta um pouco da trajetória sonora, do respeito pelo trabalho, do afeto familiar, das surpresas do Carnaval 2018 e da vontade de continuar levando a alegria contagiante da sua música.
Nena, é uma grande responsabilidade ser a homenageada do Carnaval 2018 do Recife?
É. Antes de tudo é uma grande emoção, uma grande honra. E a responsabilidade que sempre foi enorme, agora, triplica. É uma responsabilidade gostosa, cheia de amor. Isso ajuda muito. Tudo que eu sempre preparo durante o ano todo, para todo o carnaval, agora estou com trabalho em dobro. Tô amando, né?
Mas a ficha já caiu?
Nada. Eu acho que a ficha só vai cair na quarta-feira de cinzas, quando eu estiver sem se preocupar com nada.
O que o público pode esperar de você no Carnaval?
Vai ver sempre a alegria, a vontade. Estou me preocupando em levar um repertório ainda mais feminino, para se falar mais ainda sobre a violência contra a mulher, dizer não ao feminicídio. Além do trabalho que eu procuro fazer para que as pessoas saiam felizes, eu tenho a preocupação de transmitir a mensagem para a cabeça delas de uma forma alegre e leve, mas sempre mostrando que a mulher pode ser o que ela quiser. Eu sou o que eu quero. Sou muito feliz.
Quais serão os seus convidados este ano?
Como é um ano de homenagem eu quis trazer de volta a minha irmãzinha, eu a chamo de irmã mais velha, ela disse que tem mais juízo que eu, que é Luíza Possi. A gente vai trazer também Roberta Sá, ou seja, será um trio emponderado de mulheres poderosas. Se Deus quiser vai ser muito legal. Vou trazer também Arthur Espíndola, Monique Kessous, Mayra Andrade e a cantora Ive. São sempre os meus amigos.
O ano de 2018 vai ficar marcado na tua carreira?
Com certeza. Independente de qualquer coisa já está marcado, porque uma honraria dessa de ser homenageada nunca mais vai acontecer. Nunca mais vou ser "mulherageada" de novo (risos). Apesar de ser cantora de tudo, eu gosto do título de cantora popular. Não só canto frevo. Eu queria deixar bem claro isso. Eu canto durante o ano todo e tenho outros projetos, como o Dois de Paus e uma Dama. Tenho disco de forró. Eu fui indicada ao Prêmio Tim, que hoje é o Prêmio da Música Brasileira, ao lado de Daniela Mercury e Ivete Sangalo. Eu espero que até o fim do ano a gente só tenha alegria.
A família Queiroga é toda musical. Um dá pitaco na carreira do outro?
Dá demais. E se não der eu peço. E se não der a gente pede. É muito linda a nossa relação. Sempre foi assim desde o tempo da minha mãe. Ela faleceu em 1999, mas a gente sempre cantou junto, trabalhamos no carnaval. Sempre dávamos pitaco uma na outra. Muito do que aprendi, do que eu já sei, eu aprendi com ela. Minha filha Ylana me ensina, meu filho Yuri também. Inclusive ele vai dirigir o meu show de abertura do carnaval.
Você já cantou com muita gente boa. Você deseja dividir os vocais com quem?
Caetano Veloso. Eu já dividi o microfone com ele no Quanta Ladeira. Fiquei gelada. Mas meu sonho mesmo é cantar com ele. Não precisa nem ser em palco. Pode ser numa farra em voz e violão.
Como você descreve o Carnaval de Pernambuco?
Sou suspeita de dizer que é o melhor do mundo. Acho que qualquer pessoa reconhece, né? Eu cresci nesse Carnaval por ter uma mãe cantora, por ter pai e irmão compositores de frevos também. Eu só me lembro de brincar Carnaval uma vez na vida, no Homem da Meia-Noite, em Olinda. O meu ângulo de ver a festa sempre é do palco.