Tópicos | Caso Cachoeira

A Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O tucano é acusado de corrupção passiva, por ter parte de uma dívida de campanha eleitoral, no valor de R$ 90 mil, paga em troca de um aditivo realizado em contrato do Estado com a Delta Engenharia.

Foram denunciados por corrupção ativa, na mesma investigação, o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira; o empresário Fernando Cavendish, dono da Construtora Delta Engenharia; e Cláudio Dias Abreu, um ex-diretor da empreiteira para a região Centro-Oeste. O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso à denúncia, que foi oferecida no último dia 24 e permanece em segredo de justiça.

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De acordo com a PGR, Carlinhos Cachoeira se valeu de "estreitas relações" com agentes políticos de Goiás para que a Delta estabelecesse "contratos vultosos, vários deles firmados com violação de dispositivos expressos de lei ou com prejuízo flagrante aos cofres públicos". Em troca, o contraventor - considerado na denúncia um "operador oculto dos interesses da Delta" - oferecia propina aos agentes públicos.

O desvio total estimado com os pagamentos de propina é de R$ 370 milhões, fato que é objeto de ação penal na Justiça Federal do Rio de Janeiro. Para a PGR, o "papel" de Marconi Perillo "era central" no esquema. "Com a assunção à chefia do executivo estadual em 01/01/2011, Perillo chancelou o violento aumento do número de contratos de diversas áreas da Administração entregues à Delta Construções, em virtude do que recebeu vantagens indevidas dos demais acusados, por meio de empresas fantasma criadas para tanto", descreve na denúncia o vice-procurador-geral eleitoral, José Bonifácio Borges de Andrada. Após a posse de Perillo, os valores de contratos da delta subiram da casa de R$ 5 milhões para R$ 70 milhões, de acordo com a PGR.

Os investigadores identificaram o repasse de verbas ilícitas a 18 empresas fantasma, que eram usadas para lavar o dinheiro. "Os pagamentos das propinas, diga-se, eram levados a efeito através de transferências feitas pelas empresas fantasma aos beneficiários sob a forma de quitação de despesas dos agentes públicos ou por meio de saques em dinheiro e entrega em espécie às autoridades", escreveu o vice-procurador-geral.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa Marconi Perillo, afirmou que a defesa foi surpreendida porque achava que o assunto estava esclarecido. Sobre as interceptações, o advogado disse que não vai se posicionar porque já anulou em outros casos essas gravações. "Essa denúncia é fruto do momento punitivo brasileiro, porque a denúncia é desconectada dos fatos. Não houve nenhum irregularidade", afirmou.

O advogado de Fernando Cavendish, Antonio Pitombo, disse que não vai comentar a denúncia. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Carlos Ramos e de Claudio Abreu.

Denúncia

No caso específico, a denúncia oferecida pela PGR aponta que, entre 2011 e 2012, Cachoeira, Cavendish e Abreu ofereceram propina a Perillo, para garantir contratos da Delta com os vários órgãos do Estado de Goiás. Uma das promessas foi de pagamento uma dívida do governador com o marqueteiro eleitoral Luiz Bordoni. Em troca, a empresa buscava um aditivo em contrato para ampliar o número de carros locados pela Delta para a Secretaria de Segurança Pública (SSP).

O valor original do contrato era de R$ 66,1 milhões, que já havia sido aditivado em 15,78%. Posteriormente, foi realizado outro incremento, que fez a aditivação superar o porcentual de 25% permitido pela Lei de Licitações. Após incremento determinado pelo governador, o valor do contrato pulou para R$ 75,3 milhões.

A promessa de pagamento a Perillo, segundo a PGR, foi feita em 2011, em Goiânia (GO). Foram feitas duas transferências de R$ 45 mil cada através de empresas fantasma para a conta corrente de Bruna Bordoni, filha do marqueteiro eleitoral.

Para a PGR, Perillo "tinha ciência de que o valor dispendido com o contrato de locação, nos moldes como posto, era desvantajoso para a Administração e ilegal". Bonifácio indica na denúncia que caso o Governo de Goiás tivesse optado por comprar as 1.981 viaturas locadas gastaria R$ 39,2 milhões no lugar dos R$ 75,3 milhões do aluguel.

"Mesmo assim, a vista do pagamento pelos demais acusados das duas parcelas de R$ 45 mil relativas a sua dívida de campanha eleitoral, o governador Marconi Perillo determinou fosse levada a execução a segunda aditivação do contrato no dia 31/11/2011", escreveu o vice-procurador-geral da República.

Processo

O caso está sob relatoria do ministro Humberto Martins, no STJ, tribunal competente para analisar investigações e denúncias contra governadores. Um acusado só se torna réu após recebimento da denúncia e abertura de ação penal. No caso dos governadores, no entanto, há uma outra etapa: a autorização da Assembleia Legislativa do Estado para processar criminalmente o governador.

O Supremo Tribunal Federal (STF) já se manifestou reiteradas vezes pela validade da exigência de autorização do legislativo estadual para que se abra ação penal contra governadores acusados por crimes comuns. Há uma nova discussão nesse sentido, no entanto, levada à Corte por conta da denúncia contra o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). O julgamento já teve início, mas ainda não foi finalizado no STF.

Delação

A reportagem revelou que Cavendish negocia um acordo de delação premiada, no qual pretende detalhar supostos pagamentos de propinas a políticos do PMDB e do PSDB relacionados a obras nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás, além de estatais federais como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Petrobrás. O acordo de colaboração se dá no âmbito da Operação Saqueador, da qual o empresário foi alvo em junho do ano passado.

O deputado federal Sérgio Brito (PSD-BA) será o novo relator do processo por quebra de decoro parlamentar que corre contra Carlos Lereia (PSDB-GO) no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. A informação é do presidente do Conselho, Ricardo Izar (PSD-SP).

O deputado baiano vai substituir Mauro Lopes (PMDB-MG) que, no final da semana passada, abriu mão da relatoria, alegando excesso de trabalho e "impossibilidade de dedicação adequada" ao processo. Dessa forma, a leitura do parecer do caso Lereia deve acontecer somente na quarta-feira da próxima semana, 11 de setembro.

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O prazo regimental de 90 dias para a análise do processo já expirou e, portanto, o Conselho de Ética está com a pauta trancada e não pode apreciar nenhum outro caso até concluir o do tucano.

O deputado federal Carlos Lereia é acusado de envolvimento com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O primeiro relator do caso no Conselho, Ronaldo Benedet (PMDB-SC), chegou a pedir a cassação do mandato de Lereia, em 21 de agosto. O voto do peemedebista, no entanto, foi rejeitado por 12 votos a três, além de uma abstenção.

Em seu voto, Benedet disse que fica "evidente a participação do parlamentar na intermediação dos interesses buscados por Carlinhos Cachoeira". De acordo com o ex-relator, Carlos Lereia beneficiou-se do esquema de Carlinhos Cachoeira e trabalhou para que o contraventor alcançasse seus objetivos.

Como o parecer de Benedet foi derrubado, Lereia não mais poderá perder o mandato. O Conselho de Ética poderá absolvê-lo ou propor punições alternativas, que podem ir de uma advertência à suspensão temporária do mandato.

Relatório da Polícia Federal aponta um auxiliar do ex-governador Íris Rezende (PMDB-GO) como beneficiário de depósitos da organização do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O documento diz que R$ 2 milhões teriam sido remetidos no início deste ano para Sodino Vieira de Carvalho, coordenador-geral da campanha do peemedebista ao Governo de Goiás em 2010.

De acordo com a PF, as remessas integram um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas operado por Gleyb Ferreira da Cruz, um dos assessores próximos a Cachoeira. Por esse esquema, interessados em transferir recursos para o Brasil fariam depósitos bancários para a organização no exterior. No País, aliados do contraventor repassavam os valores aos destinatários, usando contas em nome de empresas e pessoas da quadrilha.

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As operações foram descobertas a partir da análise de e-mails nos quais Gleyb discute os repasses. Em algumas das mensagens, de fevereiro deste ano, o ex-jogador de futebol Alex Antônio Trindade indica a Gleyb contas de Sodino e três de seus filhos para os depósitos. Numa conversa do ex-jogador, interceptada pela PF, o candidato à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB), é citado como dono de "sete milhões" a serem transferidos por meio do esquema. Parlamentares vão tentar convocar Russomanno e Trindade para prestar esclarecimentos à CPI.

Ex-prefeito de Quirinópolis (GO) e ex-conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás, Sodino é braço direito de Íris Rezende e seu fiel doador de campanhas. Em 2010, contribuiu com quase R$ 38.600 para o peemedebista. Em 2004, foram R$ 31 mil.

Como O Estado de S.Paulo mostrou ontem, uma das empresas usadas no esquema de transferências operado por Gleyb, a Miranda e Silva Construções, recebeu R$ 10,9 milhões da Delta Construções e fez depósitos a uma assessora da primeira-dama de Palmas, a deputada estadual Solange Duailibe, casada com o prefeito Raul Filho (PT).

Sodino diz que os depósitos indicados nos e-mails nunca foram feitos e não têm relação com sua atividade política. Segundo ele, Trindade negociou a compra de um sítio de sua propriedade, prometendo pagar os R$ 2 milhões acertados em 23 de fevereiro deste ano. Contudo, a transação, registrada em contrato, não se concretizou, pois o comprador não chegou a fazer os pagamentos. "Isso não tem nada a ver com o Íris ou com campanha."

O ex-governador afirmou que não houve nenhuma negociação com o grupo de Cachoeira. "O Sodino foi vítima", informou. Localizado pela reportagem, Trindade confirmou a negociação para a compra do sítio. Alegou que pagaria a propriedade com a venda de letras do Tesouro Nacional no exterior. Por isso, repassou as contas de Sodino a Gleyb, que diz ser seu amigo. Contudo, não conseguiu vender os títulos. "Não conheço Cachoeira e nem sabia que Sodino era político."

O ex-jogador alegou ainda que foi procurado por um negociante de títulos de São Paulo, chamado Fábio, interessado em fazer transferências para o Brasil, e o indicou a Gleyb. Numa conversa entre os três, por conferência, Fábio citou o candidato. "Nem conheço o Russomanno", disse, acrescentando que não sabe o sobrenome ou os contatos de Fábio. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

O juiz substituto da 11.ª Vara da Justiça Federal em Goiânia, Paulo Augusto Moreira Lima, afirmou em depoimento ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que o grupo do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, sabia das investigações da Polícia Federal um mês antes de a Operação Monte Carlo ser deflagrada, em 29 de fevereiro.

O magistrado pediu afastamento do caso alegando ser vítima de ameaças de morte, conforme revelou ontem o Estado. Ele disse no depoimento à Corregedoria do conselho que, após o vazamento dos dados sigilosos, a organização tentou neutralizar a ação dos órgãos investigadores e da Justiça.

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Moreira Lima contou que o grupo teve notícia de qual o magistrado que cuidava do caso, do nome da operação e da lista de investigados, bem como de que haveria mandados de busca e prisão sendo analisados pela Justiça. Ainda de acordo com Moreira Lima, o grupo de Cachoeira também foi informado de detalhes de sua rotina e de que ele estava trabalhando quase que exclusivamente na elaboração de decisões contra o esquema ilegal de jogos de azar em Goiás.

Num diálogo, citado pelo magistrado no depoimento, Olímpio Queiroga, apontado como número dois da máfia dos caça-níqueis, fala com Cachoeira sobre as investigações e sugere uma retaliação: "Muita gente do nosso negócio tá. Nós temos que tomar alguma providência", alerta. "Temos que fazer a nossa parte, entendeu? Ir pra cima (de) todo mundo", acrescentou.

O CNJ foi chamado a interceder na Justiça Federal em Goiás em razão das suspeitas de que o telefone do juiz titular da 11.ª Vara, Leão Aparecido Alves, foi grampeado por ordem de Moreira Lima, que comandava, como substituto, o processo da Operação Monte Carlo.

Leão entrou com uma representação contra Moreira Lima na Corregedoria-Geral do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1). O CNJ, então, foi acionado par tentar resolver a contenda entre os juízes.

Segundo apuração do CNJ, o telefone Leão estava, de fato, no rol das escutas porque sua mulher, Maria do Carmo Alves, teria conversado com pessoas que estavam sob investigação no caso dos jogos ilegais em Goiás. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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