Um estudo internacional realizado pelo Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) e publicado na revista de divulgação científica Science aponta que o isolamento social, ainda que adotado tardiamente, foi capaz de reduzir pela metade a transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no país.
Pesquisadores brasileiros fizeram análises genéticas epidemiológicas e de dados de mobilidade humana, concluindo que houve mais de 100 entradas do vírus, originárias principalmente da Europa, mas somente três delas iniciaram a cadeia de transmissão. Após a adoção do isolamento já com o vírus espalhado, a taxa de transmissão diminuiu de 3 para 1,6 contaminados por pessoa infectada.
##RECOMENDA##O estudo foi publicado na última quinta-feira (23). Os pesquisadores sequenciaram 427 genomas do novo coronavírus a partir de amostras coletadas em 85 municípios de 21 Estados brasileiros. Feito isso, os dados genômicos foram combinados com informações epidemiológicas e de mobilidade humana para estudar a transmissão.
De acordo com a professora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT) da Universidade de São Paulo (USP), que participou da elaboração da pesquisa, o estudo em questão é uma continuidade do sequenciamento genético do vírus realizado no Brasil em parceria com o Instituto Adolfo Lutz e a Universidade de Oxford, no Reino Unido. “É um trabalho de vigilância contínua, para verificar como o vírus está evoluindo e a sua dispersão, a partir de amostras coletadas desde março até o final de abril”, disse ela em entrevista ao Jornal da USP.
Darlan Cândido, da Universidade de Oxford, é o pesquisador que assina como primeiro autor do artigo e explica que a partir do genoma do vírus é possível reconstituir a história da epidemia no Brasil. “A análise permite fazer isso tanto no tempo quanto no espaço, ou seja, quando o vírus chegou e onde se espalhou.”
Espalhamento do vírus
Segundo a professora Ester, o novo coronavírus começou a se espalhar antes da adoção de medidas para reduzir a mobilidade de pessoas no Brasil, como o fechamento do comércio e das escolas, a partir do mês de março. “A ausência de restrições de movimentação e de aglomerações pode ter facilitado o início da transmissão. Duas das linhagens entraram no Brasil pelo Sudeste e num primeiro momento se espalharam dentro dessa região, mas depois de 21 de março elas começaram a atingir Estados de outras regiões, com um aumento na migração do vírus”, aponta a professora.
A análise de dados de mobilidade, feita através de dados de celular anonimizados e do número de casos registrados no Rio de Janeiro e em São Paulo, mostrou a queda na taxa de transmissão, de 3 para 1,6. “Isso quer dizer que no começo da cadeia de transmissão, cada pessoa infectada transmitiu o vírus para outras três pessoas, e com as intervenções, um infectado passou a contaminar menos de duas pessoas, em média”, explica a pesquisadora.
Segundo a professora Ester, um cenário ideal teria uma taxa de transmissão abaixo de um, ou seja, parte dos infectados contraindo a doença sem passar o vírus para mais ninguém. Com o índice atual, a epidemia permanece crônica, podendo se manter por muito tempo”.
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