Tópicos | cuidadores de idosos

A rotina dos profissionais da saúde é outra após o decreto de pandemia pelas autoridades do setor. Acostumados com a preocupação relacionada à higienização no seu cotidiano de trabalho, a categoria teve que redobrar os cuidados e se adaptar às recomendações que podem evitar a contaminação pelo novo coronavírus.

Entre as funções da área de saúde, está o trabalho dos cuidadores de pessoas idosas. Como os mais velhos foram classificados no chamado "grupo de risco" em relação ao contágio pela Covid-19, a responsabilidade dos profissionais que acompanham quem necessita de assistência diária para as práticas básicas aumentou, como relata a cuidadora Bianca Costa, 21 anos.

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A cuidadora Bianca Costa redobrou os cuidados durante a pandemia. Foto: arquivo pessoal

"Assim que chego ao trabalho, vou fazer a higienização e troco as peças de roupa que usei no caminho por outras limpas", conta. Ainda de acordo com Bianca, o carinho demonstrado via contato físico com a dona Maria Sirilo, 93 anos, de quem ela cuida desde o início de 2020, também ficou no passado.

"Antes podíamos abraçar, conversar de pertinho, dar beijo no rosto sem precisar ter medo e agora adquirimos o hábito de não ficarmos muito próximas uma da outra mesmo com o uso da máscara", lamenta.

Em atividade na profissão desde o ano de 2013 e de modo oficial há dois anos, Bianca aponta o isolamento social como principal medida para não levar risco para o ambiente de trabalho. "Primeiro evito o meio de transporte público, depois faço o máximo para não ter contato com pessoas que não estejam ao meu redor no dia a dia", explica.

Com experiência na função de cuidadora há quase duas décadas, a técnica de estereometria Jane Rosário, 48 anos, teve que mudar de maneira radical o tratamento com os idosos da casa de repouso Terça da Serra. "Já tinha o hábito de lavar as mãos quando ia de um hóspede para o outro, mas não tínhamos tantas trocas de roupa", fala.

Trabalhando em uma casa de repouso, Jane Rosário recebeu treinamento e equipamentos para reduzir os riscos de infecção. Foto: arquivo pessoal

Segundo Jane, novos itens fazem parte do uniforme na empresa. "Além do jaleco e da máscara, agora temos avental descartável e propé (invólucro para calçados), pois todo o cuidado é pouco", enfatiza.

Para Jane, ações como a não utilização do transporte público em horário de pico e a manutenção da distância no convívio com outras pessoas têm sido as saídas para se proteger do contágio fora do local de trabalho. "Sei que se me proteger estarei protegendo todos os idosos que tenho contato", acrescenta.

Orientações

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) elaborou um material para que os cuidadores de idosos utilizem como referência no seu dia-a-dia. Com ilustrações e informações sucintas, a cartilha faz recomendações em relação à assepsia, ventilação do ambiente e orienta os profissionais na higienização dos pertences após o deslocamento casa-trabalho-casa. Para acessar a apostila, clique aqui.  

Na medida em que o novo coronavírus avança, um verbo se faz cada vez mais presente na vida das pessoas: o verbo cuidar. A facilidade com que o vírus se espalha tem levado as pessoas a reforçar velhos cuidados e a agregar à rotina novos cuidados, não só para si, mas para os outros. Em meio a esse cenário, a profissão que carrega no próprio nome o cuidar – os cuidadores de idosos – tiveram de ver seus procedimentos aperfeiçoados e a atenção redobrada. Afinal, cuidam da vida daqueles que são as maiores vítimas da nova doença.

É o caso da cuidadora Odelsa Dutra Jatobá, de 63 anos; 14 deles sendo cuidadora de idosos. “Cuidar sempre foi algo que eu associava a amor, carinho e a doação. Agora agrego a ela um outro verbo: prevenir. Eu dizia ‘quem ama cuida’. Agora eu digo ‘quem ama cuida e previne’”, disse ela à Agência Brasil durante o intervalo entre as muitas tarefas que desenvolve diariamente.

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Antes mesmo da chegada ao Brasil da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus,  Odelsa já notava que algo mudaria em sua rotina de cuidadora. “As notícias da doença em outros países já assustava a todos. Passamos então a ter de trabalhar a cabeça do idoso, de forma a prepará-lo para as medidas preventivas, em especial para o fato de familiares deixarem de ir ao quarto com a mesma frequência”.

Otimista e cuidadoso

Segundo ela, para lidar com a situação o ideal é explicar o que está acontecendo no mundo, com relação à doença, mas apresentando um ponto de vista "otimista e cuidadoso”. “Eu costumo falar que já tivemos outras doenças, e que sempre as superamos”, disse.

“Tem horas que eles ficam tristes. Tanto por não poderem receber mais as visitas da família, como por se verem como alvo do vírus. Há também muita preocupação com os parentes fora de casa, em especial com os filhos que estão na idade de risco”, acrescenta.

A pandemia trouxe outras mudanças na rotina dos cuidadores. Por cautela, as famílias reduziram algumas das atividades que até então eram exercidas por outros profissionais, por meio de visitas – caso de fonoaudiólogos, treinadores físicos, psicólogos, recreadores, nutricionistas. “Agora passamos a ser tudo isso. Viramos multi disciplinadores”, disse.

“Com a opção da família por evitar contato dos idosos com outras pessoas, buscamos algumas alternativas para solucionar essa limitação. Uma delas é o uso de chamadas de vídeo. Do outro lado da linha, eles nos passam as instruções e conferem se tudo está sendo feito direitinho. Isso é muito importante porque o idoso já está acostumado com eles. Sem falar que, por exemplo, durante um exercício físico o idoso pode tentar nos enrolar. Com o instrutor olhando, isso fica mais difícil”.

Mudanças

O medo de contaminação gerou dois tipos de situação para os cuidadores profissionais. A primeira, de confinamento junto a seus pacientes, a pedido da família. “Tenho algumas colegas que passaram a viver com seus pacientes. Por outro lado, muitas cuidadoras estão agora desempregadas porque a família [do idoso] achava que elas poderiam trazer o vírus”.

Rotina

Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Empregadores de Cuidadores de Idosos (Abeci), Adriano Machado, um dos grandes problemas decorrentes da pandemia de covid-19 foi a mudança de rotina que causou para os idosos. “Higiene e isolamento são a base de tudo. No entanto, é muito importante para o idoso manter a vida na maior normalidade possível, com banho de sol, exercícios e alimentação, uma vez que eles são bem mais sensíveis a alterações de rotina. Isso tem de ser levado em consideração”, disse ele à Agência Brasil.

Essa rotina não abrange apenas atividades. “Envolve medicamentos, alimentação, hidratação e muitas outras coisas específicas de cada caso”, acrescentou. Nesse sentido, abrir mão de um profissional por medo de ele servir de canal de contaminação para o idoso é também algo que pode ser problemático.

Riscos

“Tivemos o caso de um cliente que, diante dos primeiros casos noticiados de covid-19, dispensou o cuidador. Depois de 22 semanas, por causa da alteração na alimentação, foi gerado um fecaloma, que é quando o bolo fecal [fezes] seca, endurece e não sai espontaneamente. Isso ocorreu basicamente por causa de uma deficiência alimentar”, explicou Machado.

Ele aponta também riscos com relação a aplicação de medicamentos, quedas e desidratação. “Há ainda casos mais complexos, como o de pacientes com Alzheimer. Muitos não sabem, mas há casos em que se tem de cobrir espelhos porque pacientes com tendências agressivas podem quebrá-los por não se reconhecerem, e acharem que se trata de outra pessoa”.

Deslocamento

De acordo com o presidente da Abeci, houve queda na atividade desde que a doença chegou no país. “O movimento por novos clientes está praticamente zero. Quem já tem prefere segurar, mas muitos contratos foram suspensos por medo da circulação do cuidador na rua, uma vez que eles costumam usar transportes públicos, meio pelo qual o vírus tem melhores condições de se espalhar”.

Diante desse medo, algumas famílias optaram por mudar o horário do cuidador, para que ele pegasse transportes mais vazios, ou mesmo passaram a pagar por outras alternativas de transporte, como táxis e motoristas de aplicativos. “Tem caso de famílias que dão até luvas para as cuidadoras usarem durante o deslocamento”, informa Machado.

Em todo e qualquer ambiente, o cuidador tem de seguir os cuidados que são divulgados por autoridades sanitárias, como manter corpo e o ambiente higienizados, lavar sempre as mãos com água e sabão ou álcool gel, e manter distância de cerca de 2 metros de outras pessoas.

“E ao chegarem na casa, o indicado é que tomem um banho e troquem de roupa. Em alguns casos, a pedido da família, os cuidadores têm de usar máscara constantemente”, acrescenta.

Terceirização x contratação direta

Há duas formas de se contratar um cuidador de idosos: por contratação direta ou via empresas especializadas. Dona Odelsa conhece bem as duas situações. “Desde 2017 trabalho terceirizada por uma empresa. A vantagem é que nelas somos registrados como qualquer outro trabalhador, enquanto nas contratações diretas, apesar de ganharmos um pouco mais, nem sempre somos registrados”, disse.

“Outra vantagem é o apoio. Empresas costumam oferecer cursos dos mais variados, indo desde aferir pressão até a manipulação de equipamentos, medicações e alimentos. Qualquer dúvida que eu tenha, posso ligar para a empresa, que dá uma retaguarda. Isso é importante porque cada paciente tem uma necessidade diferente”, explica a cuidadora.

De acordo com a Abeci, apesar de não ser regulamentada, a profissão de cuidador de idosos tem despertado cada vez mais o interesse das pessoas, a ponto de, entre 2004 e 2017, ter registrado um aumento de 690%, passando de 4,3 mil para 34 mil profissionais. Em média, a remuneração é de cerca de R$ 1,3 mil mensais.

Cursos

A Associação Brasileira dos Empregadores de Cuidadores de Idosos, inclusive, surgiu da necessidade das empresas oferecerem cursos para a formação de novos profissionais. Atualmente, a Abeci oferece cursos gratuitos, além de indicar cuidadores para famílias de baixa renda. “Somos uma entidade sem fins lucrativos. Nossa indicação é gratuita, mas o preço pelo serviço é combinado entre as partes. Em geral, a família nos explica a situação e a gente indica a melhor forma de obter esse tipo de serviço”, explica o presidente da Abeci.

Segundo ele, essa iniciativa é interessante para as empresas do setor porque, ao agregar experiência a esses profissionais, deixa-os melhor preparados para, em outro momento, serem contratados para integrar suas equipes.

Interessados nos cursos ou na ajuda gratuita da Abeci podem fazê-lo pelo site.

A Interne Soluções em Saúde está oferecendo capacitação gratuita para cuidadores de idosos. Ao todo estão sendo disponibilizadas 120 vagas na modalidade presencial e a distância. O curso terá carga horária de 40h e será dividido em quatro módulos. As aulas presenciais serão ministradas no Hospital das Clínicas e os cursos a distância terão polos em Boa Viagem, Piedade e Ilha do Leite. A Interne ainda está reservando 15 vagas, que serão distribuídas entre colaboradores e integrantes de comunidades carentes relacionados à empresa. 

Para concorrer às vagas é necessário ter o ensino fundamental e argumentar sobre a importância da sua participação no curso.  As inscrições devem ser realizadas na unidade da Interne Educação, até o dia 05 de fevereiro. A lista dos alunos selecionados será divulgada no dia 9 de fevereiro. 

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Informações:

Interne Educação- (81) 3797.9797

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