Faltando apenas cinco dias para a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, com aplicação no próximo domingo (17), os tradicionais aulões às vésperas do Enem não foram como nos anos anteriores, ou seja, realizados de forma presencial para grandes públicos.
Devido a pandemia da Covid-19, esse momento de troca entre vestibulandos e professores passou para o ambiente virtual, com estratégias diferentes para atingir o mesmo objetivo: revisar conteúdos antes da aplicação do Enem 2020. O Exame terá a segunda prova no dia 24 deste mês na versão impressa e nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro na modalidade digital.
##RECOMENDA##Na visão do professor de geopolítica e atualidades Benedito Serafim, que também é co-fundador do curso preparatório Os Caras de Pau do Vestibular, o ano de 2020 foi de muitas adaptações com o novo sistema. "Antes da quarentena, os aulões eram realizados em auditórios, em grandes auditórios, onde passava por uma escolha de um tema, inicialmente, um tema lúdico, um tema que abrangesse todos os aulões", relembra o professor.
Benedito observou que mesmo com a vantagem do preparatório ter se adaptado rapidamente às necessidades impostas pela pandemia com relação às aulas on-line e produção de conteúdo para a internet, não haverá aulão no pré-vestibular às vésperas da prova. No início, o formato tinha participação relevante dos vestibulandos durante as aulas, chegando a três mil acessos por aula. No entanto, desde agosto a interação diminuiu.
Para o docente, o cansaço é um dos motivos. “Acho que não só os alunos, como os professores já estão cansados nessa reta final. Estamos com aula desde fevereiro e não paramos”, enfatizou o professor de geopolítica e atualidades. Com pouco interesse nas aulas on-line, surge uma ideia para contornar o obstáculo e recuperar a preparação para o Enem, de forma que o momento respeitasse os protocolos de realização de eventos em meio a pandemia da Covid-19.
A solução foi mudar as estratégias. “Agora, no final de 2020, tivemos a ideia de fazer a aula de campo. Em cada ponto do Recife, os alunos iriam encontrar os personagens pernambucanos, como na Ponte Duarte Coelho encontrar Duarte Coelho ou na Rua da Moeda encontrar o Chico Science. Assim os alunos têm acesso a um aulão, grande marca do preparatório, e interagem com a cidade”, explica Bené, sobre a forma alternativa de realizar o aulão do preparatório. Outros aulões não estão previstos. “Quem chegou até aqui são guerreiros totais”, completa.
Aulão ao ar livre foi a alternativa encontrada pelo preparatório Os Caras de Pau para sair da monotonia dos aulões on-line (Foto: Reprodução/TV LeiaJá)
Nesse sentido, para o professor de história Filipe Carvalho, do preparatório Melhores do Mundo (MDM), os aulões vão além de revisar assuntos e tirar dúvidas, pois também assumem um papel motivacional para os estudantes.
“Os aulões são extremamente importantes, porque nem todos os alunos conseguem compreender bem alguns conteúdos. Portanto, os aulões trazem uma temática que pode ser daquele assunto que o aluno tem uma dificuldade e naquele momento, naquele formato, ele compreenda melhor o conteúdo”, explicou o docente sobre a importância dos encontros.
Como alternativa e para a adequação aos protocolos de segurança sanitária, os Melhores do Mundo estão elaborando uma série de aulas on-line, que começam na semana que antecede a aplicação das provas. Além dessas aulas, o pré-vestibular decidiu realizar aulões presenciais em sua nova sede, no Recife, com transmissão ao vivo.
“Então, a transmissão do aulão será em tempo real, destinada para os seus alunos, que estão devidamente inscritos na atividade. Com isso, nós não vamos ter aqueles aulões gigantes que fazíamos às vésperas do Enem. Teremos um número reduzido de estudantes em sala de aula conosco”, explicou o docente de história. No formato presencial, há um limite de 150 pessoas, de acordo com as normas do Governo de Pernambuco.
Mesmo via web, estudantes como a Samarah Marlene, de 19 anos, dizem que se sentem motivados e usam o tempo da aula para relembrar o que estudou até o momento. “Muitos professores entendem que é cansativo e difícil a rotina com a pandemia, sabendo que não podemos ter contato com outras pessoas, inclusive colegas de aula, e eles nos motivam. Ter professores que nos ensine de forma divertida, mesmo em momento em pandemia que muitos alunos não estão tendo o privilégio de ter aula por diversos motivos, quanto mais oportunidade melhor”, relatou a estudante.
Apesar de cansativo, para a aula Anna Cecília, de 17 anos, o aulão on-line traz uma vantagem. “Como grande parte desses aulões são gravados é um ótimo ponto, porque sempre posso voltar e revisar aquilo que não entendi muito bem”, pontuou.
Ultrapassando fronteiras
Para alguns professores, esse momento de distanciamento social foi um dos motivos de maior afastamento dos estudantes, e até mesmo de decaída no rendimento escolar. No entanto, na análise da professora de linguagens e produção textual Fernanda Bérgamo, as aulas neste formato foram bem mais proveitosas, pelo menos com relação a sua disciplina, que é interpretativa.
Fernanda garante que os alunos, mesmo assistindo a aulões via on-line, não perdem nada em termos de qualidade de conteúdo. “Assistido pela televisão da escola ou pela internet em sua casa, os alunos conseguiram ter acesso de forma mais tranquila aos conteúdos e podem passar o mesmo tempo de aula que passariam no presencial”, destaca.
Para ela, o formato on-line trouxe alguns ganhos para sua turma. “Houve um ganho até mesmo para os alunos dispersos, pois com o conteúdo gravado ele consegue consultar o material”, enfatiza a docente, que confessa sentir falta do abraço apertado dos vestibulandos em aulões.
Fernanda também explicou que no formato on-line a possibilidade de alcance de público foi maior que qualquer aulão. Com um apoio que tem ultrapassado barreiras, a docente também acrescenta que desta forma também há uma diminuição do desgaste físico e até mesmo emocional dos estudantes que por muitas vezes vinham de outros municípios para aulões na Região Metropolitana do Recife.
“Têm acontecido aulões por meio de lives de conteúdos desde março de 2020, como contratada ou por conta própria. Inclusive, fiz inúmeras lives de formação para professores de escolas do interior para que eles se qualifiquem para ensinar os alunos com maior segurança”, diz a professora Fernanda Bérgamo.
Mesmo com um olhar mais positivo sobre a situação dos vestibulandos com relação a preparação para as provas, Fernanda lista algumas dificuldades significativas. “A principal dificuldade é termos uma parte da população excluída digitalmente, a segunda é a equiparação dos alunos com níveis de conhecimento diferentes”, disse.
Em contrapartida, ela ressalta que a tecnologia e uso de aplicativos como WhatsApp, ajudam a contornar essas dificuldades. “Com dúvidas registradas não é impossível que a resposta não chegue, pois as pessoas tímidas usam muito o privado para sanar as dúvidas ou alunos que realmente estão com dificuldade”, explicou Fernanda, que afirma ser um dos pontos de atenção a manter para quando as aulas voltarem ao formato presencial. Em geral, os aulões tendem a ter uma realização mais comedida e mais assertiva.
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