Trabalhar com a possibilidade de conhecer outros países, conviver com pessoas de culturas diferentes e ter contato com diversos idiomas são características que chamam a atenção de quem está em busca de uma oportunidade no mercado de trabalho. E quando essa oportunidade surge em um navio de cruzeiros, pode atrair candidatos que sonham ainda com a possibilidade de ganhar bem e viver por meses em alto mar. Mas ilude-se quem pensa que é um trabalho fácil e que só há espaço para diversão. É preciso embarcar sabendo o que vai encontrar e ter capacidade emocional para aguentar vários desafios.
“Eu fui pensando na oportunidade de crescimento pessoal, e você realmente cresce como pessoa e profissionalmente; você está falando outra língua. Há a chance de ganhar em dólar e conhecer o mundo. O problema é quando a gente vai para uma área em que a demanda por profissionais é muito alta e a divisão de trabalho é sacrificante”, afirma o consultor de turismo Rodrigo Sabóia, que trabalhou duas temporadas na setor de restaurante em um navio.
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Diferente do que ocorre em terra firme, trabalhar em um cruzeiro exige dedicação exclusiva, sem horários bem definidos e sem folgas. Dependendo da área de atuação, as pessoas chegam a trabalhar 11, 12 horas por dia, em regime de escala. O que existe lá dentro são horas de descanso, que podem ser entre um horário e outro da abertura do restaurante ou loja, por exemplo. Outro detalhe é que os profissionais moram no local de trabalho e passam meses somente naquela rotina.
“Tem pouco tempo para dormir, pouco tempo para descansar, tem trabalhos fora da função. É uma baita experiência, é uma experiência que eu acho que é válida, que todo mundo deveria passar um dia, mas não desejo voltar. São poucas as pessoas que são centradas para aguentar”, avalia Rodrigo.
Há quem se identifica com o trabalho e sonha com isso por muito tempo. Davi Arthur Oliveira, um jovem da comunidade do Bode, no Pina, Zona Sul do Recife, é um exemplo disso. Desde os 15 anos queria embarcar para trabalhar. Lutou para conseguir aprender a falar inglês, conseguir pagar pelos custos da viagem até o navio, e agora está prestes a ir para sua terceira experiência. “Fiz o curso e a entrevista para embarcar na minha primeira aventura. Eu embarquei em outubro de 2013 na Itália, em Roma. Foi um sonho. Fiquei lá por oito meses e aprendi um pouco mais de italiano, inglês e espanhol. Meu currículo cresceu muito e onde eu vou consigo emprego fácil”, cometa o jovem, que acabou de passar em mais uma entrevista e vai para um cruzeiro nos Estados Unidos.
Processo seletivo
A maioria dos navios de cruzeiro atua fora do Brasil e as grandes empresas também não são nacionais. As seleções ficam a cargo de agências especializadas, que cuidam de separar os candidatos, de acordo com perfil, dão orientações sobre a vida a bordo e o passo a passo para conseguirem embarcar. Entre as principais exigências feitas pelas companhias estão o passaporte e um curso preparatório exigido pela Marinha. A formação é bem rápida, mas demora 30 dias até a emissão do certificado. “Não é obrigatório ter o certificado do curso para poder se cadastrar nas empresas. Existe muita agência que aceita sem essa documentação para fazer a entrevista, caso seja aprovado a pessoa tem que fazer do dia para noite”, orienta a gerente nacional da Seaman Náutica, Danielle Vasconcelos.
O período de seleção, de acordo com Danielle, tem início entre de abril e maio. As seletivas são realizadas até no máximo dezembro, e quem não passa por falta de vaga, fica em um banco de dados e pode ser chamado assim que surgir uma chance. Segundo a gerente, sempre há vagas para brasileiros em cruzeiros. “É obrigatório a gente ter 25% da tripulação brasileira trabalhando a bordo nos navios de cruzeiro, ou seja, para o navio estar trabalhando em águas brasileiras ele precisa estar com essa porcentagem. Para gente é ótimo porque sempre tem vaga”, diz.
Para participar de uma seleção é obrigatório falar inglês. Outras línguas podem ser um diferencial, mas dentro do navio todos se comunicam em inglês porque atuam juntos no mesmo espaço cidadãos de aproximadamente 30 nacionalidades. Também é imprescindível ser maior de 18 anos, porém, para algumas empresas, a idade exigida é 21 anos.
Há muitos atrativos para quem quer encarar este desafio; a remuneração é um deles. Os salários vão de 800 a 2 mil dólares, mais comissões e gorjetas, a depender da função.
Os candidatos precisam primeiro fazer o cadastro inicial nos sites das agências ou empresas de navios. Depois de selecionados, eles fazem entrevistas pela internet. É nessa etapa que o nível de língua inglesa é testado. As agências ainda oferecem palestras com orientações sobre o curso obrigatório, a vida a bordo, as regras no navio e como desenvolver bem o trabalho. Quando são aprovados, os selecionados precisam correr para fazer os exames médicos, reunir a documentação exigida e deixar tudo pronto para o dia do embarque.
É importante se informar em relação às passagens de ida e volta, se são ou não oferecidas. Muita gente não se planeja direito e acaba perdendo os prazos. Os contratos são de sete a oito meses, dependendo da empresa.
Não há assinatura de carteira e o contrato é regido pelas leis da nacionalidade das companhias. No contrato está incluído a moradia, em uma cabine compartilhada do navio, além de alimentação e fardamento.
“Antes de você ir, tem que pesquisar muito, participar de palestras, para realmente conhecer como é o trabalho a bordo, que não é fácil. Tem as coisas boas, mas também tem muita coisa pesada. Pode fazer uma carreira a bordo. Para mim é um intercâmbio que você recebe para fazer. É apaixonante, viciante. É fascinante”, conclui Danielle. Para conhecer a empresa responsável por recrutamento de tripulantes no Recife, acesse o site da Seaman Náutica.