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A falta de remuneração adequada é um dos principais desafios da educação brasileira ao longo de sua história. Uma série de elementos levam a entender um desprestígio da categoria que vem de longa data. Atualmente, os mais de dois milhões de professores que lecionam na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio nas escolas públicas estaduais e municipais no Brasil são descendentes de uma trajetória que tem início por volta do ano de 1551, quando os jesuítas chegam ao país, durante a colonização, mais especificamente à Bahia. O Brasil só teve a primeira escola cinquenta anos após a ocupação portuguesa.

Na época, os padres, coadjutores e “escolásticos” eram como professores e também responsáveis pela catequese. Registros históricos apontam que os alunos eram as crianças filhas de portugueses ou brasileiros mamelucos e os curumins, indígenas aculturados. Apesar dos serviços prestado à Coroa Portuguesa, os professores não recebiam bons salários e também não dependiam desse pagamento para sobreviver. A renda era adquirida da venda de gado nas fazendas, em sua maioria aos cuidados dos escravos.

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Em 1759, após a expulsão dos jesuítas do Brasil, o legado que restou foram dezessete colégios secundários e cerca de 200 escolas de primeiras letras na maioria das capitanias. “A expulsão dos jesuítas foi o choque necessário para se constituírem dois tipos de professores assalariados: o das aulas régias, pago por tributos públicos, chamados de “subsídio literário”, cobrado pelas Câmaras Municipais do abate de animais nos açougues, da produção de vinho e da destilação de cachaça. E o das escolas particulares que então proliferaram, pago pela prodigalidade de fazendeiros ou comerciantes e pela novidade da época, a mensalidade dos alunos. Neste momento entra um elemento novo na discussão da educação: a valorização do professor medida não mais pelo seu saber, autoridade ou pertinência a uma ordem religiosa, mas pelo valor de seu salário, não por acaso denominado então de “honorário”, explica o pesquisador João Antonio Cabral de Monlevade, em sua pesquisa "Valorização Salarial dos Professores".

No século 20, ainda de acordo com o pesquisador Monlevade, o processo de precarização do trabalho do professor se acentuou após o ano de 1960. Na época, o governo promoveu um aumento das matrículas no ensino público e não balanceou a demanda com o orçamento dos trabalhadores na educação do país. As condições de trabalho e o salários dos professores foram impactados negativamente, tendo a jornada de trabalho aumentada, em muitos casos.

No atual panorama nacional, os problemas continuam. Número excessivo de alunos, aumento das turmas, expansão da carga horária de trabalho, rotatividade dos professores nas instituições de ensino, precárias condições de trabalho e falta de perspectiva por um futuro menos castigante. Após mais de dois séculos e meio de história, em 2018, a remuneração dos professores também está no bojo das discussões a respeito da melhoria da qualidade da educação do Brasil.

Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens

Neste ano, o piso salarial dos professores é de R$ 2.298,80. Trata-se do mínimo a ser pago para profissionais em início de carreira, com formação de nível médio e carga horária de 40 horas semanais. A quantia é atualizada anualmente e a regra vale para todo o país. Esses profissionais devem atuar em estabelecimentos públicos de ensino na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio, em todo o país. O piso salarial nacional do magistério foi instituído pela Lei n° 11.738, de 16 de julho de 2008, regulamentando uma disposição já prevista na Constituição Federal.

Apesar da legislação, menos da metade dos municípios e 17 estados, além do Distrito Federal, declararam conseguir pagar em 2016 ao menos o mínimo estabelecido em lei aos professores de escolas públicas da educação básica de suas respectivas redes de ensino, de acordo com o Ministério da Educação (MEC). Mas, a Lei 11.738 não prevê nenhuma punição expressa para o estado ou município que descumprir a norma. Com isso, várias gestões alegam passar por dificuldades diversas e ainda não cumprem o pagamento do piso salarial nacional do magistério.

É papel do Ministério Público, por iniciativa própria ou denúncia dos cidadãos, fiscalizar a aplicação da lei. Os profissionais da educação que se sentirem lesados também podem recorrer à Justiça e entrar com uma ação contra o estado ou município que estiver infringindo a legislação.

Professores ganham 25% menos que profissionais de outras áreas / Foto: Paulo Uchôa/LeiaJá Imagens

 De acordo com o relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação (PNE), professores de escolas públicas ganham, em média, 74,8% do que ganham profissionais assalariados de outras áreas, ou seja, cerca de 25% a menos. O documento foi publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

 Equiparar o rendimento médio bruto mensal dos professores de nível superior com o dos demais profissionais de formação equivalente até 2020 é uma das metas do PNE, sancionado por lei em 2014. O plano estabelece metas e estratégias para melhorar a educação desde o ensino infantil até a pós-graduação e deve ser integralmente cumprido até 2024.

O investimento público em educação caiu do equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas pelo país, em 2014 para 5,5% do PIB em 2015 - últimos dados disponíveis. Considerando apenas os gastos públicos com educação pública, esse investimento foi equivalente a 5% do PIB.

 A meta estipulada pelo PNE é o investimento anual equivalente a pelo menos 10% do PIB em educação pública a partir de 2024. O plano estabelece ainda a meta intermediária de investimento de 7% do PIB em 2019. De acordo com o relatório, para a meta de 2019 ser atingida, será necessário o incremento de aproximadamente R$ 120 bilhões nos recursos para educação pública.

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Diferentemente da maioria das demais profissões, o exercício da docência não se esgota quando soa o sinal da escola anunciando a última aula do dia. Os alunos são liberados, mas o trabalho do professor não termina quando as aulas se encerram. Além de lecionar nas escolas, o profissional precisa ter planejamento fora da sala de aula, preparação o conteúdo, corrigir provas, trabalhos. É difícil especificar um tempo justo que o professor precisa trabalhar. A presença em sala de aula é só mais uma das tarefas dos docentes.

No Brasil, são 5561 municípios, 26 estados e um Distrito Federal, cada um com seus sistemas de ensino e regulamentações próprias. São dados heterogêneos e complexos referentes à carreira e salário de professores. Traçar um panorama dessas realidades se torna uma tarefa difícil já que cada localidade tem demandas e problemáticas diferentes das outras.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, a lei do piso trouxe muita alegria porque foi uma conquista histórica. "O piso valorizou a carreira, mas ainda está aquém quando se compara com outras profissionais com mesma formação. Em 2003 a média salarial dos professores era de R$ 994, em 2008, o ano em que foi aprovada a lei do piso a média era de R$ 1547 e em 2017, a média é de R$ 3400. O piso foi importante para valorizar os profissionais da educação, mas o profissional precisa de muito mais para equilibrar a sua formação. Nós ainda somos os menores salários, se compararmos com outras profissões", apontou.

De acordo com o estudioso José Marcelino Rezende, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), alguns fatores explicam o baixo salário do professor. “No Brasil, como em boa parte do mundo, o poder público é seu maior empregador e, portanto, a remuneração está intimamente ligada à receita pública per capita e à capacidade de mobilização desta categoria profissional. A remuneração depende, também, do prestígio da profissão, o que está intimamente ligado ao perfil do usuário. No caso do Brasil, a elite não coloca os filhos na escola pública; mesmo os professores, coordenadores pedagógicos e diretores de escola, sempre que possível, evitam matricular os filhos em escolas públicas. Com isso, a escola pública passa a ser a escola 'do filho do outro', o que reduz sua valorização social, ao contrário do que ocorre nos países desenvolvidos, onde a classe média matricula os filhos na escola pública e, assim, briga pela sua qualidade”, descreve em sua pesquisa “Remuneração adequada do professor. Desafio à educação brasileira”.

O professor faz ainda uma comparação entre as instituições privadas e públicas. “E como fica a rede privada nesse processo? Considerando que responde apenas por cerca de 10% das matrículas da educação básica, para essa rede, quanto pior o poder público remunerar o professor, melhor, pois com um pequeno diferencial de salário ela pode atrair os (poucos) profissionais que lhe interessam, usando como estímulo, inclusive, não necessariamente maiores salários, mas as cobiçadas bolsas para os filhos de professores, cujo custo é próximo de zero para os proprietários de escola, já que eles se valem de vagas ociosas, muito comuns numa rede cuja matrícula caiu nos últimos 20 anos, embora o número de instituições tenha aumentado”, pontuou.

Segundo Marcelino Rezende, para reverter esse quadro, não há outra saída que não seja traçar uma estratégia de valorização dos professores. “E não existe valorização de uma profissão sem salários atraentes, que estimulem os melhores alunos do ensino médio a optar pela carreira”, complementou.

Foto: Marcos Santos/FotosPúblicas

No cenário mundial, professores brasileiros ganham menos

Um professor em início de carreira que leciona para o ensino fundamental em instituições públicas recebe, em média, 10.375 dólares por ano no Brasil. Dados da  Organização para a Cooperação Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que salários dos professores brasileiros são extremamente baixos quando comparados a países desenvolvidos. O levantamento faz parte do estudo 'Education at a Glance 2014', que mapeia dados sobre a educação nos 34 países membros da organização e dez parceiros, incluindo o Brasil.

Em Luxemburgo, o país com o maior salário para docentes, ele recebe 66.085 dólares por ano. Entre os países membros da OCDE, a média salarial do professor é de 29.411 dólares. Quase três vezes mais que o salário brasileiro.

Até mesmo em países da América Latina como Chile e México, os professores recebem um salário consideravelmente maior que o brasileiro, 17.770 e 15.556 dólares, respectivamente. Entre os países mapeados pela pesquisa, o Brasil só fica à frente da Indonésia, onde os professores recebem cerca de 1.560 dólares por ano.

Na época, em entrevista ao jornal O Globo, o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, diz que não se surpreendeu com o resultado da pesquisa. E afirmou ainda que o docente no país não sofre apenas com baixos salários, mas, sobretudo, com más condições de trabalho.

"Quando estive na direção da Campanha Global pela Educação, visitei países da Europa, como Alemanha e Inglaterra. As condições mais precárias nesses países são o que há de melhor no Brasil - compara. - É importante dizer que o piso salarial do professor de educação básica, que hoje está em torno de R$ 1.700 mensais, sequer foi implementado em todo o país. Essa também é uma questão que precisa ser solucionada”, pontuou.

 Em 2017, um novo relatório Education At Glance da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostrou, mais uma vez, que apesar dos avanços obtidos na última década, os resultados brasileiros para a educação continuam insatisfatórios. Identificados no documento como “espinha dorsal do sistema educacional”, o texto afirma que os salários são baixos em comparação com o de outros trabalhadores em tempo integral e isso precariza e torna menos atraente a profissão.

“Esse é um grande obstáculo para atrair jovens para o ensino. Embora os salários aumentem de acordo com o nível de educação prestado, eles ainda estão entre 78% e 94% dos salários dos trabalhadores com formação universitária em tempo integral”, diz o relatório Education At Glance.

“Nos últimos dias, foi anunciado um novo programa de formação de professores pelo Ministério da Educação em que apresentam-se alternativas, mas dizendo que o problema da carreira docente é a formação, e não o salário. Assim, o professor vai continuar ganhando mal e tendo uma formação, que, sinceramente, talvez seja pior do que aquela que ele já recebeu”, criticou Daniel Cara. 

Em meio à descrença, uma luz

Os professores da rede estadual do Maranhão receberam uma boa notícia neste início de ano letivo. O governador Flávio Dino (PCdoB) assinou uma medida passando para R$ 5.750 o salário inicial, cerca de duas vezes maior que o piso nacional, dos educadores com jornada de 40 horas semanais. O reajuste é de 6,81%.

Em comparação, o Estado de São Paulo paga uma quantia mensal bem menor aos professores da rede pública: em janeiro, o governador Geraldo Alckmin reajustou em 7% o piso salarial de mais de 200 mil profissionais do magistério nas escolas estaduais. Com o aumento, o salário base de um professor do ensino médio passou de R$ R$ 2.415,89 para R$ 2.585,00, 5,2% acima do piso nacional.

O reajuste faz com que o Estado pratique o piso salarial mais alto do país. Em entrevista ao LeiaJa.com, o secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão, afirma que o reajuste é fruto de uma decisão política feita a partir da priorização da pasta de educação.
“Valorizamos financeiramente os nosso educadores e professores bem qualificados para que a perspectiva futura e atual seja boa, com auto estima elevada, com formações adequadas, Com isso estimulamos isso, uma rede de ânimo,  para que eles estimulem o nosso estudante também. Faremos um investimento de 115 milhões de reais este ano, chegando ao maior salário da categoria e dando continuidade à política que já praticamos o ano passado”, comentou.

De acordo com o secretário de Educação, o Maranhão é um dos estados com menos pessoas matriculadas no ensino superior do país. “Queremos maranhenses alfabetizados. É uma aposta muito forte na educação, melhorando isso, com certeza se melhora saúde, segurança, empregabilidade e a renda da nossa população”, disse.

“Eu sou professor da Universidade Federal do Maranhão e por curiosidade o meu salário é mais baixo do que o professor inicial no estado, então eu também sinto essa necessidade de valorização da minha carreira docente, é um sentimento de todo o país. Muitos governos dão desculpa para não aumentar os salários por causa do alto número de professores que temos, nas redes municipais, estaduais, federais. Somos muitos professores, deveríamos até ser mais, é verdade”, apontou.

Felipe Camarão explica como é possível conseguir pagar o maior piso salarial do país. “O Estado tem que fazer a complementação de 20% de sua receita, já que o valor do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) é insuficiente. Gastamos 100 por cento do fundo, mais esse acréscimo. O ano passado a complementação para a folha de pagamento foi de mais de R$ 127 milhões. Este ano, tivemos um reajuste do Fundeb, ainda incipiente, então se mantém a lógica de complementação pelo Estado. O gasto não prejudica o governo porque tudo foi feito com um planejamento para investir nos educadores. Tudo foi previsto com cuidado”, complementou.

Para a gestão, o que está faltando é governantes com essas iniciativas de apostar na educação e saber que é uma política de longo prazo. “O professor precisa ser valorizado e as respostas não vem agora, o nosso governo não vai colher isso agora, vamos ter que esperar uma geração se formar. Precisamos correr atrás do prejuízo e estamos neste momento com o governador Flávio Dino, com a aplicação do maior investimento na história do Estado”, informou Camarão.

Eles já ajudaram milhares de jovens a ingressar na universidade dos sonhos. São inspirações, fontes de conhecimento e dignos de respeito. Aprenderam a se dividir entre as salas de aula e os caminhos do empreendedorismo. Apostaram na educação por satisfação pessoal, por acreditar em um país melhor no futuro, e dentro do próprio espaço assinaram uma metodologia não só de estudo, mas de vida. Disciplina, liberdade, sonhos, inclusão social e aprendizado. Os professores que montaram cursinhos por acreditar em uma forma diferente de passar o conhecimento também tiveram de reiventar a profissão e empreender. Conheça a história de três professores pernambucanos que acreditaram na educação e montaram verdadeiros "impérios" de preparatórios para o ensino superior.

Fernando Beltrão, 54, conhecido popularmente pelos vestibulandos pernambucanos como "Fernandinho", coleciona aprovações nos principais vestibulares do país. Em sua conta, já são mais de dez mil alunos graduados em medicina, sua especialidade, durante a trajetória de quase 40 anos trabalhando no ramo da educação. Professor desde os 17 anos, Fernandinho precisou enfrentar obstáculos, barreiras e muitos desafios para realizar os três principais sonhos, os quais sempre elencou como meta de vida. Em primeiro lugar, ajudar a família financeiramente e em outros patamares, se tornar médico para cuidar das pessoas e conhecer o máximo de países e culturas diferentes. “Eu nunca conheci um garoto que olhava para o mapa como eu. Passava os meus dedos para marcar os países que um dia iria. Era fascinante”, relembrou.

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Fernando nasceu na cidade de Catende, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, a 142 quilômetros do Recife e durante a adolescência, os estudos sempre estiveram em primeiro lugar, apesar das dificuldades pela falta de dinheiro. A família era grande, seis filhos, e financeiramente viviam no limite. A mãe, professora de escolas públicas nos anos 1950 e o pai ocupava o cargo de carteiro na cidade e posteriormente se formou em contabilidade. “Em casa, eu sempre estive envolto no ambiente da leitura e do aprendizado. Meu pai logo após se tornar contador, virou professor do curso de contabilidade. Meus familiares valorizaram muito o estudo, tanto que dos seis filhos todos quiseram estudar em diferentes graduações”, contou Fernandinho.

 “Em menos de dois meses, eu já estava certo de que queria fazer isso pelo resto da minha vida e eu só tinha 17 anos”. - Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImanges 

O sonho de ser médico foi algo que Fernando Beltrão sempre manteve como uma possibilidade real, mas a graduação se afastava aos poucos porque a família não conseguiria manter o garoto na cidade grande para estudar, nem pagar uma faculdade particular, que na época era "coisa de gente bacana". Estudou somente em escolas públicas de Catende e após terminar o ensino médio teve de enfrentar mais uma barreira. “Na época, fui obrigado a fazer o curso médio de contabilidade porque o governo da época, parecido com o atual, entendia que impor determinadas profissões fazia de conta que as pessoas estariam prontas para o mercado de trabalho. Mas, eu não tinha nenhum interesse nisso porque queria ser médico e não tinha ninguém que me ajudasse naquele momento. Então, fui e fiz”.

Os seus sonhos eram distantes, mas ele se agarrava na sensação de que um dia os realizaria. Aos 17, 18 anos, não se lembra bem, ele veio à capital pernambucana prestar o primeiro vestibular para medicina. “Levei pau, ponto de corte e não passei”, resumiu. Para fortalecer os estudos e focar no futuro, Fernandinho decidiu se arriscar na cidade grande e veio morar no Recife para estudar em cursinhos e se preparar melhor. Procurou um bolsa de estudos e foi recusado em 28 instituições ao todo. Ele se lembra bem. A 29ª o aceitou e como quase um presente de mãe para filho lhe deu uma bolsa integral. “Estudei de graça nos anos de 1980. Morei de favor, me virava para comer e dava aulas particulares para conseguir algum trocado”.

Passou vários meses se preparando para a prova e no fim do ano, Fernando prestou vestibular novamente. Desta vez, passou em medicina na Universidade de Pernambuco (UPE), onde atualmente é professor de Anatomia, há quase 30 anos. “Não passei com nenhum destaque, fui penúltimo lugar. Mas entrei de modo honrado”, relatou.

 “Na época, a faculdade era particular e para mim era caro e impossível pagar. Eu consegui de presente de uma pessoa com muito dinheiro e ela me deu uma quantia para pagar a matrícula. Lá dentro, fui em busca de bolsas de estudo e e assim me mantendo. Dentro da universidade já estabelecido, eu decidi trabalhar porque eu precisava viver na cidade e não era barato. Entre as opções possíveis, dar aulas particulares foi o que me despertou mais interesse. Apareceu uma chance para ser professor de biologia em um cursinho no centro do Recife. Era um estabelecimento voltado para estudantes de baixa renda. Passei no teste e consegui a vaga”, disse.

 “Em menos de dois meses, eu já estava certo de que queria fazer isso pelo resto da minha vida e eu só tinha 17 anos”.

Fernando Beltrão ajuda a potencializar a colocação de alunos nos principais processos seletivos do Brasil. - Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImanges

 Beltrão terminou a universidade, abriu consultório médico, mas se encontrou profissionalmente na arte de lecionar. Passou no concurso público para ser professor da mesma universidade em que se graduou. “Era impossível manter tudo ao mesmo tempo, tive que dar prioridade ao que me fazia mais feliz”, disse. Em 1987, um ano após se formar, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) anunciou a criação da segunda fase do vestibular, uma espécie de prova específica para as disciplinas. “Quando eu descobri isso, pensei que poderia aproveitar da melhor forma possível, sendo professor de biologia. Eu sabia que essa prova seria pesada e daria muito trabalho para os alunos”, explicou.

De olho no preparo mais denso e na nova metodologia da prova de vestibular, Fernandinho, em 1988, abriu matrículas no curso de biologia, especificamente para a segunda fase, em que alunos da área de saúde seriam o público-alvo. “Eu era médico e muitos professores de biologia não eram. Eu tinha estudado, meu espaço estava montado e em dois anos, o meu curso já era grande e conhecido”,  afirmou.

 Para ele, empreender é oferecer no presente mas visando o futuro. “É entender que existem coisas para ser ditas que o jovem precisa escutar. Antigamente, era a segunda fase da federal e Recife virou o paraíso dos professores bons e empreendedores. Atualmente, aposto muito na tela de celular porque acredito que isso é futuro e todas as minhas aulas já podem ser vistas pelo telefone, de casa ou de qualquer outro local com acesso à internet”, frisou.

 Fernandinho ensinou em colégios, cursinhos menores e outros até famosos. Mas, há 30 anos, decidiu investir na sua marca. Sua especialidade são alunos que sonham em um dia serem médicos, também. Ao longo dos anos o curso foi se modificando e se moldando ao mercado, com o fim da segunda fase dos vestibulares e a implementação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como prova que levaria o aluno à universidade.

“Eu não concordei com o Enem, no início. Achava alvo predador e pensava que não era democratizar a educação. Era dar vagas para alunos de classe média em todo país, que poderiam facilmente se mudar para onde fossem aprovados. Mas, eu precisava entrar com os três pés no Enem porque esse era o método e o fiz. Entendi a metodologia para ensinar aos meus alunos e hoje eles aprendem e se preparam para isso. Tenho alunos hoje desde o nono ano que já se preparam para o vestibular”.

Alunos estudam no pátio da Academia de Estudos Fernandinho Beltrão. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImanges

A Academia de Estudos Fernandinho Beltrão, localizada no bairro da Madalena, no Recife, possui atualmente 1500 alunos, 25 professores, 15 monitores, quatro salas de aula e seis salas de estudo, além do pátio de estudos. Todas as sextas-feiras os alunos devem fazer o simulado semanal. São 180 questões inéditas, como é cobrado no Enem.

“Tenho que exaurí-los porque esse é o modelo do Enem. Aqui, ninguém escolhe onde senta na sala de aula, não pode atender celular e nem ir ao banheiro. O aluno não pode atrapalhar o fluxo de aulas. E se quiser ir ao banheiro pode sair, mas não volta. A aula é um momento de comunicação e tem que ter o seu valor. Temos um pátio grande só de dúvidas, o mesmo professor que dá aula presta o atendimento. Também temos vários monitores para ajudar os alunos. Se o aluno não fizer as tarefas de casa não adianta de nada. É mais importante praticar o do que assistir a minha aula. É necessário fazer isso porque funciona e eu sei disso porque estou no ramo há mais de 30 anos”, pontuou.

No site de Fernandinho, a equipe garante que o método inovador provocou o crescimento. "O curso foi crescendo. Primeiro, se tornou uma Central de Matérias Isoladas, que lançou grandes nomes da nossa educação. Rapidamente, ao oferecer todas as matérias, a central tomou a forma de Centro de Estudos. Hoje, temos o orgulho de sermos uma Academia de Estudos, nome que traduz de forma mais fiel a transformação que acontece aqui, todos os dias. Somos uma estrutura 100% voltada para o conhecimento e para o aprendizado".

 “Hoje, o curso tem matérias isoladas de todas as disciplinas e plataforma digital porque a web é o futuro e o presente. Isso pode até custar caro agora, mas quando isso virar lei no futuro, eu já vou ter essa metodologia faz tempo. Enxergar primeiro é o mais importante para ser empreendedor. As aulas aqui são de segunda-feira a quinta. Entre uma aula e outra todas têm recreio para um respiro de 15 minutos”, complementou.

 Sem esquecer da origem e da falta de oportunidades que teve de vencer, Fernandinho garante bolsas de estudos para alunos mais pobres. “Aqui no curso não são os melhores que estudam de graça. Pelo contrário, os fracos têm oportunidade. Quanto pior o aluno, mais eu quero ele aqui. Se eu conseguir fazer por ele alguma coisa eu ganho. A vitória tem muito a ver com isso. Eu sei da minha caminhada e como eu só precisava de uma oportunidade. Analiso o conjunto de fatores do aluno que precisa mais. É fácil convencê-lo de que ele tem que ser o protagonista. O fraco vale ouro pra mim”, frisou.

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   Matuta, mãe solteira e graduada em uma faculdade particular

 Fernanda Pessoa, 38, nasceu na cidade de Arcoverde, no Sertão pernambucano, distante 256 quilômetros da capital pernambucana. Nome conhecido entre os estudantes que pretendem prestar vestibular na capital pernambucana, a professora de português é dona de um dos cursos mais grandiosos e famosos do Recife. Em 2018, ela soma mais de 4 mil alunos, cem funcionários e muitos aprovados nos vestibulares do Brasil.

 A competência é acompanhada pelo sucesso e a alta procura por vagas no curso todos os anos. Mas, a trajetória de Fernanda como professora, líder e empreendedora não foi das mais fáceis. Portas fechadas, desconfiança, preconceito e muitas decisões arriscadas. “Eu digo sempre que não nasci professora, me tornei”, disse.

Durante a adolescência se dividiu entre o Recife e a terra natal. Na época, seu maior sonho era ser médica, desejo comum nas cidades do interior nordestino, em que a carência da assistência hospitalar é um dos principais problemas estruturais da região. “Meu sonho era ir para África ajudar as pessoas, mas a minha família era muito humilde. Minha mãe era dona de casa e meu pai professor de escola pública”, contou Fernanda.

Em 2018, ela soma mais de 4 mil alunos, cem funcionários e muitos aprovados nos vestibulares do Brasil. - Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

 Os planos de exercer a medicina foram adiados ao longo da adolescência. Aos 15 anos, Fernanda engravidou do namorado e teve de assumir a filha sozinha. “Meus pais me apoiaram moralmente, mas financeiramente eu tinha que me virar”, relembrou. Para conseguir bancar os custos da filha, ela começou a fazer doces e salgados para vender. Após terminar o ensino médio, a oportunidade que pensou ser mais viável foi estudar licenciatura em letras. “Entrei em uma faculdade privada porque pensei no que me daria mais possibilidades, já que poderia ensinar literatura, gramática e redação. E assim, conseguiria dinheiro com mais facilidade”, explicou.

 Já cursando letras, o empreendimento dos doces teve de aumentar. Ela vendia os quitutes nos corredores da instituição de ensino e conta que muitas vezes era preciso conversar com os professores para ser liberada das aulas e vender os lanches. “Em troca, eu dava aulas para eles em outras turmas. Era a forma que eu achei de ganhar um dinheiro para criar a minha filha”.

 Aos 18 anos, decidiu vir morar na capital pernambucana para lecionar. “Eu dei aulas em muitos colégios pequenos, no início. Mas, enfrentei muitas barreiras e tive muitas portas batidas na cara. Meu currículo era muito ruim, no sentido de não ser professora formada por uma universidade federal, era de uma faculdade particular do Sertão”, lamentou.

 Com a dificuldade de se manter como professora de colégios, Fernanda decidiu que podia dar aula particular nas casas dos alunos a noite para complementar a renda. Também continuava cozinhando para vender os lanches e mandar o dinheiro para casa, já que a filha ainda morava em Arcoverde com os avós. “Matuta, mãe solteira e graduada em uma faculdade particular. Foi assim que tudo começou”.

O primeiro cursinho que ela criou era composto por 13 alunos e funcionava em uma sala alugada. Mas, oito estudantes eram bolsistas. “Eu dava aula particular, em colégio e ainda cozinhava. Decidi fazer desse curso a minha África e ajudava os que não podiam pagar a mensalidade”. A forma como Fernanda passava o conhecimentos para os estudantes dizia muito sobre o amor que tinha pela profissão. “Eu tinha o sonho de ter um curso com a minha cara porque eu não me adaptava ao formato de uma educação tradicional e reguladora que algumas escolas tinham”.

 Sem perder de vista o sonho de ajudar mais pessoas, ela vendeu o único carro que tinha para montar o curso no local atual, dentro da área do Clube Internacional do Recife, no bairro da Madalena. “Cheguei aqui e nada era assim. O prédio era tombado e o local estava caindo aos pedaços. Entrei aqui com R$ 5 mil. Mas eu precisava de algo com a minha cara e eu notava que as pessoas não entendiam o meu sonho. Diziam que eu estava no caminho errado, que era loucura eu vender o carro, apartamento e se endividar em banco. Uma menina achando que vai chegar a algum lugar. Filho de pobre é pobre, pensavam”.

 Ao longo dos anos, o curso foi crescendo, parcerias foram feitas e desfeitas e o aprendizado mais que triplicou. Em 2018, o curso de Fernanda Pessoa completa duas décadas. “Eu sempre empreendi na minha vida. Isso nasceu comigo e meu instinto de sobrevivência era muito grande sempre. Desde as vendas de doces e salgados”. Bem sucedida em seu empreendimento, a professora de português diz que o financeiro não está em primeiro lugar. “A sociedade não entendia que não era o dinheiro. Queria participar da vida das pessoas, ajudar a transformá-las, ser lembrada por elas pelo meu trabalho e foi assim que eu comecei a brincar do que eu faço hoje”.

 Para ela, a educação no Brasil enfrenta graves problemas. “Hoje nós temos um formato de educação do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21. Esse é o grande desafio”. Fernanda esclarece que o trabalho dos professores não é respeitado. “Muitas vezes as pessoas perguntam: ‘‘você só dá aula ou trabalha também”.

“Hoje nós temos um formato de educação do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21". Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

 O expediente de Fernanda tem início às 8h e as aulas seguem até as 22h. “Nos intervalos eu atendo os alunos. É exaustivo sair daqui todos os dias de madrugada. A gente, professor de verdade, não se preocupa muito com a auto promoção, não fazemos para aparecer. Eu não faço propaganda minha, só divulgo meu resultado quando saem os resultados dos vestibulares nas redes sociais. Nós temos hoje no Nordeste o maior curso de português em quantidade de aluno e resultado em aprovação do país”.

 A professora percebe também que ao longo dos anos, o acesso à universidade tem se tornado mais democrático no país. “Sei que antigamente filho de pobre não tinha espaço em faculdade. Eu noto que essa democratização aumentou absurdamente e vejo uma parte positiva nisso. Mas, me preocupo muito em saber se os alunos estão sorteando as notas deles em cursos que nunca quiseram para entrar em qualquer instituição”.

 Sobre o futuro do curso, o alto número de estudantes e de aprovações, Fernanda é taxativa. “Eu não me preocupo com o tamanho e o quantitativo. Me preocupo com a intensidade. Hoje o curso tem uma quantidade grande de alunos para que eu consiga beneficiar pessoas que não podem pagar. Atualmente, temos 600 alunos que estudam de graça. Então, tenho que trabalhar mais para que a conta se pague. Nós temos um setor de assistência social e selecionamos por renda e não por nota. Acho que ajudar aluno bom é muito fácil, mas ajudar o que não tem oportunidade é mais complicado”.

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Dos palcos do teatro às salas de aula, Bené é um dos criadores do curso “Os caras de pau”

Trabalhar com o público sempre fez parte dos anseios profissionais do pernambucano Benedito Serafim, 28. Aos 13 anos, ele atuava em peças teatrais e espetáculos como ator profissional. Dois anos depois, começou a dar aulas de teatro em Organizações não Governamentais nas periferias recifenses e em áreas de risco. Ele acreditava que a arte e o acesso à educação poderia mudar a vida de muitas pessoas.

 Morador de comunidade carente e com dificuldade financeira na família, Benedito, conhecido popularmente como Bené, teve a oportunidade de se inscrever em um curso técnico de Química Industrial. “Eu não gostava, tudo era monocromático e branco dentro do laboratório. Eu odiava aquilo demais”, relembrou. Anos depois, ele teve a oportunidade de prestar vestibular e escolheu licenciatura em geografia. Foi aprovado na Universidade de Pernambuco (UPE).

Aos 18 anos, Bené se tornou professor e no início da carreira dava aulas em colégios públicos e em alguns cursinhos menores. “Se tornar professor, para mim, foi mais fácil do que para outras pessoas. Eu já tinha uma metodologia com o público que funcionava. O conteúdo aprendi com a faculdade e com a vida”.

A estratégia do empreendimento 'Os Caras de Pau do Vestibular' era fundar algo a preço popular para que o foco fosse para alunos de colégios públicos e estudantes de baixa renda. - Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

 Em 2010, após assistir ao filme chamado ‘The Blues Brothers’, na tradução: “Os Irmãos Caras de Pau do Blues”, Bené e outros professores decidiram criar aulas interativas e com apresentações. “No filme, era a história de dois homens que tentam salvar um orfanato através do blues. Usamos a mesma lógica para os aulões e tínhamos a intenção de salvar a geografia. A gente alugava teatros e os alunos adoravam”, explicou.

 O espaço ‘Os Caras de Pau’, localizado atualmente no bairro da Boa Vista, área central do Recife, surge como ‘Os Caras de Pau da Geografia’, inicialmente. “A gente começou a fazer uns aulões em um cursinho de pré-vestibular público que trabalhávamos na época. Fazíamos paródias nos aulões para os alunos da instituição e dava super certo. Todo mundo gostava muito dos roteiros e pediam que o grupo criasse um cursinho nesses mesmos moldes. Por isso, arriscamos em montar nosso próprio estabelecimento”, afirmou Bené.

 Por três anos, Bené e os sócios permaneceram realizando os aulões de geografia. “Como deu certo no início, decidimos abrir para outras disciplinas. Eu era ator, eu escrevia roteiros, montava cenografia e os professores se tornavam personagens dentro da história. Os aulões eram ótimos na união da música, interpretação e conteúdo. Esse era o nosso diferencial. Tudo era pensado. As atuações estavam no boca a boca da cidade e os alunos continuam a cobrar a criação de um cursinho. Mas, é preciso ter coragem para empreender porque um cursinho seria uma responsabilidade muito maior”, pontuou.

 Em 2013, o professor Bené e os sócios decidiram abrir o cursinho com um conceito diferente do que era feito na época. Recife vivia o império das matérias isoladas e os valores eram praticamente impossíveis de serem pagos por pessoas mais pobres. “Eu cresci em comunidade carente, estudamos muito e somos filhos desse crescimento econômico dos anos 2000 e por isso queríamos dar acesso às pessoas que não tinham essa oportunidade. Percebemos que no mercado havia essa brecha porque as isoladas e os cursos eram muito caros”.

“Eu tenho muito orgulho de ver negros, periféricos entrarem nos cursos de direito e medicina e presenciar a população mais pobre ter esse acesso também". - Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

A estratégia do empreendimento era fundar algo a preço popular para que o foco fosse para alunos de colégios públicos e estudantes de baixa renda. “Para manter o curso, a gente precisaria de muitos alunos. Enquanto um pré-vestibular cobrava R$ 200 em uma disciplina, a gente cobrava R$ 100 em todas as matérias. Fomos de 300 alunos a 5 mil alunos. Após um tempo, a sociedade se separou e perdemos um pouco de estudantes. Hoje temos um pouco mais de 2 mil”, calculou. No vestibular de 2018, de 1.500 alunos matriculados, foram aprovados quase 600.

Há dois anos, quando a crise começou a dar indícios mais fortes no país, o grupo de professores precisou contratar profissionais para além da educação. “A gente sentiu um pouco na pele de não ter o manejo administrativo. Já éramos professores, empreendedores e nos unimos a um administrador para que ele pudesse nos ajudar a embalar o negócio”. Atualmente, além dos 2 mil alunos, a empresa tem mais de 40 professores e 15 funcionários administrativos. “Hoje eu costumo falar que eu não tenho um trabalho, mas tenho um emprego porque não faço por obrigação, faço porque gosto”.

Para ele, o grande crescimento do curso e a fama que ganhou se deve ao fato de dar mais oportunidades aos que mais precisam. “Eu tenho muito orgulho de ver negros, periféricos entrarem nos cursos de direito e medicina e presenciar a população mais pobre ter esse acesso também. Todos pagam impostos e a universidade é um local de aprendizagem para todos”.

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