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Agências da ONU expressaram nesta quarta-feira (20) sua preocupação com o caso de uma mulher brasileira que foi submetida à esterilização forçada por decisão de um juiz.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a ONU Mulheres e o Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) destacam em um comunicado conjunto sua preocupação com a "judicialização" do caso e afirmam que "as decisões sobre a quantidade de filhos ou filhas (...) pertencem às mulheres, não sendo admissível a interferência do Estado nessa esfera".

Janaina Aparecida Quirino, mãe de oito filhos em situação de rua, foi submetida a uma laqueadura tubária em Mococa, no interior de São Paulo, após a decisão de um juiz.

Segundo a imprensa e organizações de defesa dos direitos civis, no momento em que a decisão do juiz chegou para apelação em um tribunal superior, "a mutilação já havia ocorrido".

O magistrado assegura que a mulher deu seu consentimento ao procedimento e que não se trata de uma moradora de rua, mas de uma dependente de drogas.

Um dos principais candidatos às eleições presidenciais de outubro, Jair Bolsonaro, fez campanha no Congresso para flexibilizar as leis de esterilização, propondo por exemplo retirar as exigências de que a pessoa tenha mais de 25 anos e conte com o consentimento de seu cônjuge para realizar esta operação.

Relatos de que uma mulher brasileira viciada em drogas foi submetida a uma esterilização forçada estão provocando acusações de uma "distopia" aterradora no país.

Janaína Aparecida Quirino, dependente química com muitos filhos, foi submetida a uma laqueadura tubária após a decisão de um juiz em Mococa, a 260 km de São Paulo.

Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, a mulher era moradora de rua e o procedimento foi realizado sem o seu consentimento.

No momento em que a decisão do juiz chegou para apelação em um tribunal superior, "a mutilação já havia ocorrido", escreveu o autor do texto, o professor de direito constitucional Oscar Vilhena Vieira.

Um grupo de defesa, o Instituto de Garantias Penais, disse que "Janaína K. acordou detida por pessoas que não conhece, a fim de responder a processo judicial do qual não sabe o motivo".

"Isso evoca O Processo kafkiano", disse o instituto, referindo-se ao romance sobre um homem processado sem sequer ter sido informado do que ele é acusado de ter feito.

O juiz, Djalma Moreira Gomes, recuou depois que o artigo de Vieira saiu no fim de semana passado, insistindo que Quirino, que teve sete filhos, e esperava mais um, queria ser esterilizada.

"O ambiente familiar sempre foi permeado pela dependência química dos pais, não adesão ao tratamento indicado, agressões físicas entre o casal, violência física contra os filhos por parte do atual companheiro, dificuldades financeiras", disse o juiz em um comunicado, negando também que ela fosse moradora de rua.

Segundo Gomes, a mulher "expressamente manifestou ciência e concordância com a pretensão de laqueadura".

- Eugenia ou bom senso -

Detalhes cruciais do caso, inclusive as datas, permanecem pouco claros. A ordem do juiz foi datada em outubro de 2017, mas a operação de esterilização teve que esperar até que a mulher tivesse dado à luz pela última vez.

Os promotores dizem que ela concordou com a operação e alguns meios de comunicação brasileiros publicaram uma cópia redigida do que eles dizem ser um formulário de consentimento assinado em 2015.

No entanto, as autoridades disseram que o relatório de um psicólogo no qual Quirino novamente deu a luz verde está selado e não pode ser verificado agora. Além disso, a mulher supostamente não tinha um advogado, o que, se for verdade, levantaria dúvidas sobre a validade de qualquer coisa que ela assinasse.

Seja qual for a verdade, a história de Quirino está provocando um debate acalorado.

O site de notícias de esquerda revistaforum.com.br disse que o incidente ilustra a "distopia da vida" no Brasil. O Instituto de Garantias Penais observou que "a esterilização compulsória é eugenia".

"Ela foi tratada como um objeto, uma coisa", disse outro grupo de defesa dos direitos humanos, a Associação Brasileira de Advogados para a Democracia.

Mas nem todo mundo está reclamando.

Janaina Paschoal, a advogada famosa por seu papel no caso do impeachment que derrubou, em 2016, a então presidente Dilma Rousseff, disse que a esterilização era a maior esperança de Quirino.

"Consciente das dificuldades que circundam o tema, declaro meu apoio" ao juiz, tuitou. "Se eu fosse juíza, teria decidido como ele decidiu. Alguém tinha que olhar pelas crianças!".

É improvável que o debate desapareça, uma vez que um dos principais candidatos às eleições presidenciais de outubro, Jair Bolsonaro, já havia pedido uma limitação aos nascimentos entre os pobres.

"Só o controle de natalidade pode nos salvar do caos", disse o congressista em 2008, segundo a Folha de S. Paulo.

Bolsonaro há muito faz campanha no Congresso para flexibilizar as leis sobre a esterilização, por exemplo, removendo as exigências de que a pessoa tenha mais de 25 anos e conte com o consentimento de seu cônjuge.

Um dos filhos do candidato, o vereador Carlos Bolsonaro, do Rio de Janeiro, fez um vídeo nesta semana para defender seu pai das afirmações "ridículas" da mídia de que sua promoção da esterilização visava especificamente os pobres.

"Jair Bolsonaro tem um projeto para flexibilizar a laqueadura e vasectomia porque hoje existem diversos obstáculos burocráticos", disse. "Ele quer dar esta oportunidade para que pessoas possam fazer esse planejamento familiar".

Três pessoas que foram esterilizadas à força com base em uma lei de eugenia decidiram processar o governo do Japão por considerar que suas vidas foram arruinadas pela operação.

As ações integram um movimento que exige uma indenização do Estado às vítimas, além de um pedido de perdão. As novas ações na justiça foram anunciadas depois que um primeiro caso foi apresentado este ano.

"Espero que outras vítimas, que sofreram durante décadas como eu, levantem suas vozes e se unam ao nosso movimento de busca de justiça", afirmou um homem de 75 anos, que entrou com o processo em Tóquio.

"Quero que o governo admita a verdade e quero recuperar minha vida", completou o demandante, que usou o pseudônimo Saburo Kita. Ele foi esterilizado quando era adolescente.

Anos depois se casou, mas não contou nada à esposa. Ele só revelou a terrível verdade quando a companheira estava no leito de morte em 2013. Kita pede uma indenização de 30 milhões de ienes (273.000 dólares), informou o advogado Naoto Sekiya.

De forma simultânea, outras duas pessoas apresentaram demandas em outras regiões do país. "O Parlamento falhou ao não adotar as medidas necessárias para abolir as leis que possibilitaram as esterilizações forçadas", declarou Sekiya aos jornalistas.

"E o governo também falhou ao aplicar dispositivos que violavam claramente a Constituição, inclusive naquela época", completou.

O ministério japonês da Saúde admitiu que quase 16.500 pessoas foram esterilizadas à força, com base em leis de eugenia que permaneceram em vigor entre 1948 e 1996. A lei permitia que os médicos esterilizassem pessoas com deficiências intelectuais transmitidas geneticamente.

Outras 8.500 pessoas foram esterilizadas com seu consentimento, de acordo com as autoridades, mas os advogados afirmam que inclusive estes casos foram "de fato" provocados por pressões sobre as vítimas ou suas famílias.

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