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O Instituto Brincante, teatro escola fundado por Antonio Nóbrega e Rosane Almeida deve deixar sua sede, onde funciona há 22 anos na Vila Madalena, em São Paulo, até o fim de 2015. O lugar foi vendido para uma grande incorporadora e depois de uma briga judicial ficou decidido, em dezembro de 2014 pela justiça, que o Brincante deveria deixar o local. 

Espaço cultural fundado por Antonio Nóbrega pode fechar

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Instituto Brincante faz uso da arte contra ação de despejo

Agora, uma campanha de financiamento coletivo, #FicaBrincante, pretende arrecadar fundos para a construção de uma nova sede ao lado da atual. Desde meados de 2014, têm ocorrido diversas mobilizações em prol do Instituto, nas ruas e redes sociais. O ponto alto foi uma ciranda que reuniu 10 mil pessoas na área externa do Auditório Ibirapuera. Com o desfecho sobre a questão do imóvel, a campanha para arrecadação de fundos para a construção da nova sede foi iniciada na última segunda (27). 

O objetivo inicial é chegar a R$ 100 mil reais para custear a fundação da estrutura e o acabamento das novas instalações. Para isso, os apoiadores poderão contribuir com valores a partir de R$ 20 no canal oficial da campanha hospedado na plataforma Catarse. Quem contribuir poderá participar de oficinas no Instituo Brincante e ter acesso a ingressos para espetáculos da companhia e à discografia de Antonio Nóbrega. Além disso, uma coletânea digital exclusica está sendo criada para os apoiadores e também ficará à venda no Itunes e na OneRPM.  

Há mais de duas décadas o multiartista Antonio Nóbrega e sua esposa Rosane Almeida inauguravam, no bairro Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo, o Instituto Brincante. Instalado num prédio de 800 metros quadrados, o espaço se denomina uma área de conhecimento e assimilação da cultura brasileira e atendeu diretamente a mais de 20 mil pessoas. Mas o instituto se tornou uma das mais recentes vítimas da especulação imobiliária em São Paulo. É que Antonio Nóbrega recebeu no começo de julho uma ação de despejo e terá até o dia 10 de agosto para tirar sua trupe do local. Para chamar a atenção da sociedade, o artista criou o movimento #FicaBrincante e realizará no próximo domingo (3), no Parque Ibirapuera, um evento chamado Brincada que contará com várias manifestações artísticas de alunos, ex-alunos e professores do instituto, além da sociedade civil, com direito a show do próprio Antonio Nóbrega e exibição de cenas do filme Brincante, de Walter Carvalho, sobre a trajetória artística de Nóbrega. O LeiaJá conversou com o artista pernambucano sobre o #FicaBrincante e a negociação para permanecer na casa na Vila Madalena, além de detalhes do filme Brincante. Nóbrega também comenta a perda de Ariano Suassuna, com quem sempre teve uma relação artística bastante íntima. Confira a conversa:

Qual a proposta deste encontro que vocês vão promover no próximo domingo (3)?

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O evento vai ser no Parque Ibirapuera e está dentro da proposta do #FicaBrincante (movimento em prol do instituto). Nós estamos organizando o que chamamos de Brincada, que é um evento de cultura no qual os participantes vão puxar rodas de dança aqui, se juntar pra tocar alfaias acolá, com a proposta de inundar o parque com várias atividades culturais. O evento no Parque Ibirapuera está marcado para começar às 16h, e às 18h eu subirei ao palco do Auditório Ibirapuera, que é um palco muito grande, ao lado de nove músicos para fazer uma apresentação.

É verdade que vocês receberam uma ação de despejo? Já houve alguma nova negociação com o dono do imóvel onde fica o Instituto Brincante? Qual o desejo de vocês neste sentido?

Sim, é verdade, mas até agora não houve nenhuma negociação. E pelo visto o proprietário do imóvel continua a manter a ação de despejo. Mas, da nossa parte, o desejo é de permanecer no local, uma área onde estamos há 21 anos. Nós devíamos ter sido os primeiros a ser consultados sobre o imóvel e não fomos. A Vila Madalena é um lugar que não tem espaços culturais e o Instituto Brincante vai fazer mais falta do que um edifício no local. Eu digo isso simplesmente pelo fato de que vivemos num mundo repleto de pressão, e os espaços culturais de hoje meio que têm essa função de ‘despressionar‘ a sociedade. Pode soar meio pretensioso, mas são equipamentos da arte que humanizam as pessoas, e isso vai fará muita falta naquela região da cidade.

Aqui no Recife há talvez uma situação que permite uma analogia a esta situação - apesar de não se tratar de um equipamento cultural - no Cais José Estelita. Em sua opinião, os espaços culturais e o patrimônio das cidades sucumbirão diante do dito desenvolvimento urbano?

Acho que cada caso é um caso. Eu sou contra a ocupação predatória e discriminada de espaços da cidade pela especulação imobiliária. Eu não posso dizer que estou inteiramente a par do que tem acontecido no caso do Cais José Estelita, no Recife, e teria até um certo cuidado em dizer que são casos parecidos. O Instituto Brincante existe há 21 anos e é um espaço atuante em São Paulo. Já o Cais José Estelita trata-se de uma região importante da cidade, mas que estava em desuso e acabou caindo nas mãos da especulação imobiliária. O que acho interessante nestes dois processos é que a sociedade está sendo convidada a discutir os problemas, sem ficar à revelia das construtoras e do absolutismo financeiro. Vivemos um novo tempo que não dá espaço para este tipo de prática.

Como surgiu a ideia de fazer o filme Brincante, com direção de Walter Carvalho?

Eu já tenho trabalhado com o Walter Carvalho há um tempo. Ele dirigiu meus três DVDs, Nove de Frevereiro, Lunário Perpétuo e Naturalmente. Fruto desse entendimento que construímos juntos, pensamos em fazer o filme Brincante, que é uma ideia de anos atrás. Vários diretores do país me procuraram pra dirigir este trabalho, mas por questões de agenda e desencontros isso acabou não sendo possível. Mas num certo dia eu acabei me encontrando com o Walter, e numa conversa sobre o projeto Brincante ele me disse ‘quem vai fazer esse filme sou eu’.

Na semana passada o Brasil perdeu um dos maiores agitadores culturais do país, Ariano Suassuna. Você teve uma relação próxima com ele, principalmente no que diz respeito ao Movimento Armorial. Para você, qual a maior contribuição que Ariano deixou aos brasileiros?

Ariano foi uma figura muito singular e que deixa ao Brasil a sua multidisciplinaridade. Ele era dramaturgo, romancista, cronista, ensaísta, poeta, dentre tantas outras coisas. A obra dele se ramifica em várias vertentes. Era um homem da ação, tanto pelo ativismo cultural, que lhe rendeu a ocupação de cargos públicos, como pela sua atuação nos palcos e com seus espetáculos. Certamente o país ficou órfão, mas ele deixou rastros que, se forem aprofundados, e certamente o serão, nós teremos muitas oportunidades de conhecer ainda mais esse cometa que foi Ariano Suassuna.

O multiartista pernambucano Antonio Carlos Nóbrega vive na capital São Paulo uma situação desconfortável em relação ao Instituto Brincante, espaço cultural fundado por ele há mais de duas décadas na Vila Madalena, em São Paulo. É que uma construtora teria adquirido o imóvel o qual o instituto é inquilino para construir um prédio no local. No entanto, o caso ainda encontra-se na Justiça para uma resolução oficial. 

A notícia começou a ganhar destaque nas redes sociais nesta semana. A esposa de Nóbrega, Rosane Almeida, aproveitou o momento para criar a hashtag #FicaBrincante. “Recebemos uma notificação pedindo a desocupação do imóvel no prazo de 30 dias, sob pena de ajuizamento de ação de despejo”, publicou Rosane Almeida na fanpage de Antonio Nóbrega.

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Em entrevista concedida ao Estado de São Paulo nesta terça (8), o ex-proprietário do imóvel onde está o Instituto, César de Oliveira Alvez, disse que só levou a transação adiante, mesmo contra a sua vontade, porque precisou do dinheiro por problemas de saúde na família. "Faz alguns anos que o espaço está em negociação, várias incorporadoras nos procuraram", afirma Alves. 

O destaque que a notícia teve nas redes sociais chamou a atenção do pernambucano, que fez uma comparação com uma situação parecida que acontece na sua terra natal. "Isso prova que essa discussão está em pauta, que é uma questão muito maior no Brasil", ressalta, citando o Cais Estelita, no Recife

Situação do Instituto Brincante

O terreno onde se encontra o Instituto, na Rua Purpurina, tem 800 metros quadrados e abriu as portas como espaço de ensaios e apresentações dos espetáculos de Nóbrega e Rosane em 22 de novembro de 1992. O espaço se denomina uma área de conhecimento e assimilação da cultura brasileira. Por lá passam encenações, shows de música, cursos e oficinas sobre as mais variadas expressões artísticas do País. Hoje, o local também recebe espetáculos de teatro, música e dança e conta com um centro de documentação com textos, fotos, vídeos e músicas.

Filme sobre Antonio Nóbrega

Um longa-metragem sobre a vida do artista está em fase final de pós-produção e acertos de distribuição. Intitulado Brincante, o documentário de ficção conta com direção de Walter Carvalho e deve estrear em novembro, em São Paulo.

O trabalho traça a trajetória artística de Nóbrega, que tem como referência o imaginário cultural popular brasileiro e expande sua arte pela música, dança, cultura popular, produção cultural e pelas artes cênicas. 

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