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O elevado endividamento das empresas de energia elétrica é um importante indicador de como o setor perderá capacidade de investimentos com a renovação das concessões. De acordo com dados da Economática, a dívida das seis principais companhias com vencimentos entre 2015 e 2017, e que têm ações negociadas em Bolsa, soma R$ 77,2 bilhões ante uma geração de caixa de R$ 23,1 bilhões - valor que sofrerá forte redução com as novas tarifas propostas pelo governo federal.

Na avaliação de especialistas, os números ainda não representam um problema de liquidez no setor, mas refletem como a vida das companhias será apertada daqui pra frente, especialmente para o Grupo Eletrobrás - cujas ações caíram 52,94% neste mês. Quase dois terços das dívidas totais pertencem à estatal, que está presente em projetos bilionários, como as Hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Teles Pires.

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A geração de caixa do grupo hoje está na casa de R$ 16,6 bilhões, mas a estatal já anunciou que terá uma queda drástica de receitas de R$ 9,6 bilhões com a renovação das concessões. Segundo a agência de classificação de risco Fitch Ratings, que reduziu a nota da estatal para negativa, as medidas do governo devem pressionar a geração de caixa e ter severas implicações para a capacidade de investimentos dos participantes do setor, em especial para a Eletrobrás.

O analista do Itaú BBA, Marcos Severine, acredita que a empresa precisará de um aporte de recursos do Tesouro entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões para honrar compromissos futuros. Mas, na avaliação dele, não adianta mais ficar discutindo a MP 579 já que a empresa anunciou que vai aderir ao programa de renovação das concessões. "Agora é preciso saber que tipo de ações a estatal vai adotar para evitar uma destruição maior de valor da empresa", avalia Severine.

Segundo ele, o mercado quer saber se a Eletrobrás vai adotar regras mais rígidas de gestão, redução de despesa e qual o destino que vai dar para as distribuidoras do Grupo. "Com a venda dessas concessionárias, por exemplo, o caixa da estatal poderá ter um alívio de R$ 1,5 bilhão. Isso pode ser algo bastante positivo no atual momento." Pelos cálculos dele, as receitas da Eletrobrás vão despencar 70% com a renovação das concessões.

Na avaliação da Fitch Rating, a nota das empresas poderá ser rebaixada em vários graus se as companhias aceitarem a proposta do governo, "sem usar parte dos recursos do pagamento recebido para fortalecer suas estruturas de capital, a fim de compensar o precipitado declínio de sua capacidade de geração de fluxo de caixa".

A preocupação tem fundamento. Segundo os dados da Economática, o índice Ebit/dívida, que mede a capacidade das companhias de pagarem os juros da dívida, é de apenas 7 - ou seja, a empresa gera apenas R$ 7 de lucro para cada R$ 100 de dívida. "Esse índice é péssimo", destaca o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero, responsável pelo levantamento.

Considerando que a taxa básica de juros está em 7,25% ao ano, qualquer redução no caixa poderia deixar a empresa em situação delicada. O índice da estatal é o pior entre as demais companhias. O indicador da Taesa, empresa de transmissão da Cemig, também não é confortável. Está em 8,4, segundo a Economática. Cesp, Cteep, Copel e Cemig têm números bem mais satisfatórios: 30,1, 21,4, 17,9 e 14,9, respectivamente.

Na avaliação do diretor de Project Finance do HSBC, Sergio Monaro, o principal risco da MP 579 é a sinalização que o governo passa para os investidores. A medida, avalia ele, traz uma série de incertezas regulatórias em relação ao setor elétrico que pode resultar em aumento de custo da energia. Um investidor que antes aceitava entrar num empreendimento com uma taxa de retorno menor, agora vai querer um pouco mais para compensar o risco, analisa o executivo. Na prática, isso significa energia mais cara, diz.

Desde a publicação da MP 579, os investidores estão numa campanha pesada para tentar mudar as bases do plano do governo. Eles não concordam com a queda brusca de receitas das usinas e com a perda de valor das empresas. Alguns ameaçam entrar na Justiça para evitar prejuízos. Mas a presidente Dilma Rousseff não tem demonstrado disposição para fazer qualquer alteração na MP.

Na semana passada, em entrevista ao Estado, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, disse que mesmo que algumas empresas decidam não renovar as concessões, o governo vai garantir ao consumidor a queda média de 20% no valor das tarifas. "Nosso esforço é manter os 20% de redução. Há outros mecanismos, como encargos e impostos, que estamos estudando." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

O fluxo de recursos atual para o Brasil não é bom nem forte o suficiente para viabilizar ofertas de ações no mercado local, sejam elas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) ou subsequentes (follow on), na opinião de Guilherme da Nóbrega, economista do Itaú BBA. Diante do cenário atual, as oportunidades podem ficar para 2013, embora, segundo ele, exista uma empresa ou outra tentando captar via bolsa.

"O ano está sendo difícil para o mercado de capitais. Os investidores ainda estão resistentes ao Brasil", analisou Nóbrega, durante workshop para jornalistas, organizado pelo Centro de Estudos em Finanças (GVCef) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), em parceria com a BBDTVM - área de fundos do Banco do Brasil.

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O especialista, que acaba de voltar de uma rodada de conversas com investidores europeus, destacou que a resistência está maior do que ele mesmo imaginava, com o interesse maior por mercados como México, Chile e Colômbia. "Não é culpa do Brasil. O mercado de capitais está muito relacionado ao resto do mundo", justificou ele.

Quanto aos setores que devem atrair mais recursos no cenário atual, Nóbrega citou indústria e infraestrutura. "Esses segmentos estão com mais apelo que consumo e varejo, por exemplo, cujos ativos ficaram caros. Não está sendo fácil vender o Brasil. Não basta apenas ter demanda. Há o custo-Brasil (câmbio, mão de obra, carga tributária), que deve ser considerado na produção das empresas", avaliou o economista.

Ele também tem uma visão favorável em relação ao setor bancário, embora o nível de rentabilidade não deva ficar nos patamares do passado em meio à queda dos juros. O atual momento, conforme Nóbrega, é de transição e vai se normalizar.

Apesar de considerar o momento difícil para o mercado de capitais, principalmente na captação via ações, o economista lembrou que o potencial de novatas na bolsa é grande, com cerca de 3 mil possíveis candidatas. "Há alguns anos, esse número era de 500 empresas. Mas o mercado de capitais ainda é um veículo de financiamento para companhias de 'certo porte'", concluiu.

Os investidores estrangeiros ainda estão pessimistas em relação ao Brasil em meio às recentes medidas anunciadas pelo governo que, embora beneficiem a economia local, prejudicam as empresas, na avaliação de Guilherme da Nóbrega, economista do Itaú BBA. O economista acaba de retornar de uma rodada de conversas com investidores europeus. Nóbrega citou as mudanças nos preços do setor de energia, a preocupação em relação ao setor de infraestrutura com possíveis alterações nos pedágios, que impactam as concessionárias de rodovias, as punições para empresas de telefonia, além da pressão sobre os bancos para ofertarem mais crédito a um juro menor como os fatores que estariam pesando.

"Ninguém vai fazer uma grande aposta no Brasil agora. Há muitas incertezas em relação aos setores-chave da bolsa. Quando o País voltar a crescer e os efeitos das medidas permanecerem, o cenário deve se normalizar", analisou ele, durante workshop para jornalistas, organizado pelo Centro de Estudos em Finanças (GVCef) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), em parceria com a BBDTVM - área de fundos do Banco do Brasil.

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Segundo Nóbrega, o ponto positivo do cenário atual é o esforço do governo em contribuir para a competitividade e produtividade da economia brasileira, com uma agenda mais voltada para as empresas. No entanto, Nóbrega lembrou que protecionismo é ruim. "O Brasil deveria estar mais focado em inflação baixa. É bom mudar, mas protecionismo é ruim. As mudanças ainda estão confusas e acontecendo aos trancos e barrancos", observou o especialista.

Sobre o setor bancário, ele explicou que a agenda do governo com este segmento é "muito melhor do que parece",apesar da pressão para os bancos baixarem juros e os spreads e ofertarem mais crédito. Para 2013, Nóbrega vê uma atuação menor dos bancos públicos com a retomada da economia brasileira. Este ano, segundo ele, a oferta de crédito via bancos públicos, sem o BNDES, está crescendo no patamar de 30% neste ano enquanto via instituições privadas a expansão está em torno de 10%.

"Os bancos públicos estão sendo usados como engrenagem de política econômica. Com a economia crescendo em um ritmo mais forte, os bancos públicos poderão tirar o pé do acelerador", avaliou Nóbrega. De acordo com ele, isso vai ocorrer não por um possível aumento da inadimplência, mas pela atividade mais forte da economia brasileira.

O Itaú BBA foi líder no número de fusões e aquisições anunciadas no primeiro trimestre de 2012, conforme ranking da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O banco de investimento também foi responsável pelo maior montante divulgado no período, de R$ 7,7 bilhões.

Em seguida, veio o Goldman Sachs, com R$ 4,7 bilhões em operações anunciadas. Bradesco BBI e Banco Votorantim ocuparam o segundo e terceiro lugares, com R$ 3,6 bilhões e R$ 2,1 bilhões, respectivamente.

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No ranking de negócios anunciados, Bradesco BBI, BR Partners, Vinci, G5 Evercore dividiram a segunda classificação ao intermediarem três negócios cada. Quando considerado o volume de operações fechadas no primeiro trimestre deste ano, de acordo com a Anbima, o JP Morgan ocupou o primeiro lugar ao assessorar duas transações que totalizaram R$ 9,4 bilhões. G5 Evercore e Vinci intermediaram três negócios fechados de janeiro a março, respondendo pela segunda posição no ranking da Anbima.

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