O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), André Chagas, manteve nesta terça-feira, 20, em 1,56% a expectativa para a taxa de inflação de janeiro na capital paulista. Em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, ele disse que o resultado anunciado hoje para o indicador ficou muito próximo do esperado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e, por isso, não houve modificação na estimativa para a taxa geral do primeiro mês de 2015.
Segundo a Fipe, o IPC registrou taxa de 0,87% na segunda quadrissemana de janeiro ante alta de 0,49% na primeira leitura do mês. O dado efetivo ficou colado à previsão de Chagas, que era de uma inflação de 0,88%. Também ficou dentro do intervalo de expectativas dos analistas do mercado financeiro, que, no levantamento do AE Projeções, aguardavam taxa de 0,62% a 0,90%, com mediana de 0,71%.
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Chagas ressaltou, porém, que o IPC dentro do esperado pela Fipe foi possível graças a duas distorções importantes nos grupos de maiores pesos no indicador - Habitação e Alimentação. Ambos os conjuntos de preços tiveram variações diferentes das estimadas pelo instituto, mas acabaram se compensando e ditando o rumo da inflação paulistana no período. "Habitação veio mais baixo do que prevíamos e Alimentação veio com alta mais intensa que a imaginada", disse.
No caso da Habitação, o grupo apresentou baixa de 0,07% na segunda quadrissemana ante recuo de 0,08% na primeira leitura do mês, enquanto a Fipe previa variação positiva de 0,01%. Segundo Chagas, o principal motivo para a diferença veio do item Condomínio, que caiu 0,45% ante alta de 0,07%.
Para o coordenador, essa variação negativa no componente pode estar inicialmente ligada ao efeito estatístico da retirada do impacto que o 13º salário costuma trazer aos condomínios que embutem o benefício nas contas do fim de ano. Outro fator cogitado é a interferência dos descontos nas tarifas que a Sabesp tem dado a quem faz a economia de água em tempos de crise hídrica no Estado de São Paulo.
No caso da Alimentação, o grupo teve avanço de 1,32% contra elevação anterior de 0,80% e previsão da Fipe de 1,19%. De acordo com Chagas, a aceleração está ligada às surpresas nos subgrupos Semielaborados e Produtos In Natura.
No primeiro conjunto, houve aumento de 1,25% ante 0,87% e o principal vilão foi o feijão, com alta expressiva de 26,21% ante 20,50%. Em Produtos In Natura, a variação positiva foi de 4,75% ante 1,69%, com avanços generalizados e destaque para a batata, com forte aumento de 51,22% ante 29,45%.
Para o fim de janeiro, a Fipe projeta elevação de 0,35% para o grupo Habitação. Para a Alimentação, aguarda uma variação expressiva de 1,42%.
Quanto aos demais preços do IPC, a Fipe avaliou que as pressões esperadas no início do mês permanecem seguindo a rota prevista. Algumas das maiores influências de alta do índice paulistano continuam sendo os reajustes das mensalidades escolares e dos cigarros e das passagens de ônibus, metrô e trens.
O grupo Educação, por exemplo, subiu 2,92% na segunda quadrissemana do mês ante 1,05% da primeira medição e expectativa da Fipe de avanço de 2,88%. Para o fim de janeiro, o instituto projeta alta de 7,21% para este conjunto de preços.
Quanto ao grupo Despesas Pessoais, que abriga o cigarro, houve elevação de 1,27% ante 1,20% da primeira quadrissemana e contra estimativa da Fipe de variação positiva de 1,46%. Neste caso, Chagas disse que itens importantes, como viagem (3,52% ante 4,79%) e passagem aérea (4,09% ante 6,79%) já começam a vir com altas menos intensas. Com isso, a previsão para o grupo no fim de janeiro é de variação positiva de 1,16%.
Em relação ao grupo Transportes, os reajustes nas tarifas geram cada vez mais impacto e, na segunda quadrissemana, a alta do conjunto de preços foi de 1,75% ante 0,60% da primeira leitura do mês e contra estimativa do instituto de 1,77%. Para o encerramento de janeiro, a Fipe espera para o grupo uma elevação de 4,09%.
De acordo com Chagas, se a taxa esperada de 1,56% for confirmada, o IPC-Fipe terá o maior resultado para os meses de janeiro desde 2003, quando registrou inflação de 2,19%. "O ano está começando com uma história diferente da com que vai fechar", comentou, destacando que a inflação esperada é muito alta, mas tende a desacelerar, em sintonia com a atividade econômica estagnada do País, considerada por ele como um motivo ruim.
Especificamente em relação à inflação de 2015, o coordenador manteve a estimativa de taxa acumulada de 4,99% e disse que a Fipe só deve alterá-la no anúncio do resultado de janeiro, previsto para o começo de fevereiro. Chagas, por sinal, já adiantou que os anúncios recentes de tributação sobre os combustíveis, a partir da Cide e do PIS/Cofins, podem gerar um impacto adicional de 0,15 ponto porcentual no IPC deste ano. Ressaltou, porém, que a Fipe ainda tende a avaliar os reflexos desta decisão do governo federal para um eventual ajuste na projeção do IPC.