O magnata Jimmy Lai foi detido nesta segunda-feira (10) e seu grupo de imprensa em Hong Kong foi alvo de uma operação de busca e apreensão com base na polêmica lei de segurança, mais um passo na crescente influência de Pequim na ex-colônia britânica.
O homem de 71 anos foi detido em sua casa durante a manhã, informou à AFP Mark Simon, um de seus colaboradores mais próximos. Outros dois funcionários da empresa também foram detidos.
Em um comunicado, a polícia anunciou sete detenções por suspeitas de conluio com forças estrangeiras - uma das novas proibições citadas na lei de segurança nacional - e por fraude.
Dois filhos de Lai estão entre as pessoas detidas, segundo uma fonte policial.
Considerada por muitos uma resposta de Pequim aos meses de manifestações pró-democracia que sacudiram o território semiautônomo em 2019, a lei de segurança nacional concede às autoridades novos poderes para reprimir quatro tipos de delitos contra a segurança do Estado: subversão, separatismo, terrorismo e conluio com forças estrangeira.
Vários ativistas pró-democracia denunciaram que, na prática, a lei acaba com o princípio "um país, dois sistemas" que vigorava desde a retrocessão, em 1997, e que em teses garantia até 2047 uma série de liberdades para os cidadãos de Hong Kong que não existem no restante da China.
- "Inimaginável há um mês" -
Jimmy Lai é dono de duas publicações abertamente pró-democracia e críticas ao governo de Pequim, o jornal Apple Daily e a revista Next Magazine.
No fim da manhã desta segunda-feira, quase 200 policiais compareceram à sede do grupo de comunicação em uma área industrial do bairro Lohas Park.
Jornalistas do Apple Daily transmitiram ao vivo no Facebook as imagens da operação, que mostram o chefe de redação da publicação, Law Wai-kwong, solicitando aos policiais o mandato de busca.
"Diga a seus colegas que não toquem em nada antes que nossos advogados verifiquem o mandato", advertiu Law.
Os policiais ordenaram aos jornalistas que entrassem em uma fila para um controle de identidade, enquanto outros agentes percorriam a redação. Lai foi levado ao local algemado.
Chris Yeung, presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, chamou a operação de "impactante e aterrorizante".
"Isto não tem precedentes e era inimaginável há um ou dois meses", disse à AFP.
Law enviou uma mensagem aos jornalistas do grupo, na qual pede aos profissionais que permaneçam em seus postos de trabalho para permitir a publicação da próxima edição do jornal, apesar da operação policial e das detenções.
Para muitos cidadãos de Hong Kong envolvidos com o movimento pró-democracia Lai é um herói, um empresário combativo e o único magnata do território semiautônomos que se atreve a criticar a Pequim.
A ação da Next Digital fechou em queda de mais de 180% na Bolsa de Hong Kong, no menor nível desde junho de 2019, enquanto os simpatizantes de Lai iniciaram uma campanha on-line de apoio à empresa.
Poucas pessoas do território provocam tanto mal-estar em Pequim quanto Lai, que é chamado de "traidor" pela imprensa estatal chinesa, que o acusa de ter instigado os protestos de 2019.
As acusações de conluio com uma potência estrangeira aumentaram no ano passado, quando Lai se reuniu com o secretário de Estado americano Mike Pompeo e com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence.
Em meados de junho, duas semanas antes da promulgação da nova lei de segurança, Jimmy Lai declarou à AFP que esperava ser detido.
"Estou preparado para ir à prisão", disse "Se isto acontecer, terei a oportunidade de ler os livros que ainda não consegui. A única coisa que posso fazer é permanecer otimista".
Ele rebateu as acusações de conluio e afirmou que os cidadãos de Hong Kong tinham o direito de reunir-se com políticos estrangeiros.
Lai é o arquétipo do empreendedor. Ele chegou a Hong Kong de forma clandestina com sua família quando tinha 12 anos, a bordo de um navio procedente de Cantão.
Começou a trabalhar em uma fábrica têxtil e quando se aproximava dos 30 anos aprendeu a falar inglês e abriu sua própria empresa têxtil.
Mas foi a repressão dos protestos de Tiananmen (Praça da Paz Celestial) em 1989 que transformou sua visão política. Um ano depois fundou a Next Media.
Na entrevista de junho à AFP, ele afirmou que a nova lei deixara Hong Kong "de joelhos" e citou o temor de processos contra jornalistas.
As autoridades da China e de Hong Kong afirmaram que a lei não afetaria em nenhuma medida as liberdades no território semiautônomo e que teria como alvo uma minoria de pessoas.