A estrela todo mundo conhecia, Juliana Paes, uma das mulheres mais lindas do Brasil e do mundo. A atriz consolidou-se no 42º Festival de Gramado. O que a bela Juliana mais ouviu na serra gaúcha é que A Despedida, de Marcelo Galvão, é um divisor na sua carreira. O diretor contou, na apresentação do filme, que se inspirou na figura de seu avô de 92 anos, que quis se despedir da vida concedendo-se uma última noite com a amante jovem. O velho tem problemas de locomoção, sofre de incontinência urinária. Não importa. Morena, a amante, vai fazer de tudo para levantar, literalmente, seu homem.
É a mais improvável das histórias de amor. Nelson Xavier, que faz Almirante, tem outro fulgurante momento da trajetória que já o levou a receber o Troféu Kikito em Gramado. Mas é o despudor com que Juliana vive sua personagem e a trilha com Esses Moços, de Lupicínio Rodrigues, que fazem a diferença.
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Gramado, nos primeiros dias, tem contado histórias viscerais como a de Almirante e Morena. Tem mostrado filmes de gênero - Isolados, de Tomás Portella, que passou como homenagem ao ator José Wilker, que morreu em abril (e fazia com Rubens Ewald Filho e Marcos Santuária a curadoria do evento).
O filme mostra o que ocorre com casal, Bruno Gagliasso e Regiane Alves, numa casa isolada. Na mata ao redor, estão soltos dois assassinos e estupradores armados de facão. Existem de verdade? A roteirista é filha de Wilker com Renée de Vielmond. O filme toma O Iluminado, de Stanley Kubrick, como referência para mergulhar no mundo das mentes enfermas. A cena inicial é um plano-sequência filmado com steadycam (e que resume a obra toda). O restante não é tão bom. Vale tudo para provocar medo. Isolados estreia em 18 de setembro. O projeto, visando o público jovem, é acoplado a dois games.
Outra homenagem foi o Troféu Cidade de Gramado, outorgado a Rodrigo Santoro. O mais internacional dos astros brasileiros foi assediado por fãs e se emocionou duplamente, na coletiva e no palco do palácio do festival. Ele lembrou encontros com outros artistas e filmes importantes - como Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky, e Abril Despedaçado, de Walter Salles, entre outros. E falou - pouquinho - do filme que vai fazer para a HBO norte-americana. Westworld baseia-se na fantasia homônima de Michael Crichton, que no Brasil se chamou Onde Ninguém Tem Alma. Yul Brynner estrelava o filme antigo. Anthony Hopkins estará no novo com Rodrigo.
Outro longa do fim de semana provocou acirrada polêmica, Os Senhores da Guerra. Tabajara Ruas é um dublê de escritor e cineasta que publicou livros de ambientação moderna (e urbana). Como diretor, cultiva o épico, até como forma de refletir sobre a formação das civilizações.
É um tema de John Ford, e Ruas ama os westerns. Seu novo filme baseia-se no romance do jornalista José Antônio Severo. Conta a história de dois irmãos, Júlio e Carlos Bozano, colocados em campos opostos das ideias nos movimentos de 1923 e 24, que racharam o Rio Grande (e repercutiram na história do Brasil até 1964). Maragatos versus chimangos. Federalistas contra republicanos.
Mesmo fiel a um tema fordiano - a grandeza dos derrotados -, a alma de cinéfilo do autor o faz beber na fonte do filho pródigo de Ford, Sam Peckinpah, em filmes como Juramento de Vingança e Pat Garret e Billy the Kid. Embora mutilados pelos produtores, são belíssimos, assim como Os Senhores da Guerra também é o mais bem encenado filme de Ruas, com grandes momentos de musicalidade e narração.
Os irmãos, e Júlio, na magnífica interpretação de Rafael Cardoso, são personagens trágicos. A captação, por motivos burocráticos, foi feita para dois filmes, fundidos num só. Houve réplica e tréplica no debate sobre excesso de personagens e falta de contextualização histórica. O filme seria confuso. Não para quem o vir com paixão de cinéfilo, mas o gosto do diretor pelo passado - e pela história do Rio Grande - pode dificultar a aceitação fora do Estado. Mesmo lá, Ruas está longe de ser unanimidade. Mas ele sabe filmar, e como.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.