O festival Janela Internacional de Cinema do Recife encerrou sua sexta edição neste domingo, com a exibição de Metropolis, de Fritz Lang. Outra atração da noite foi o anúnico dos filmes vencedores.
No décimo dia, o evento também anunciou recorde de público de 15 mil espectadores, que lotaram a programação de mais de cem filmes, nos cinemas da Fundação e São Luiz, durante as exibições. Os grandes vencedores do Troféu Janela de Melhor Filme foram o longa da Inglaterra Ato de Matar (Joshua Oppenheimer), os curtas internacionais premiados foram o português O Corpo de Afonso (João Pedro Rodrigues) e o espanhol Uma História para os Modlin ( de Sergio Oksman) e o curta nacional escolhido foi Em Trânsito (do diretor pernambucano Marcelo Pedroso).
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O Janela contou com projeções digitais em 2 e 4K, DCP (Digital Cinema Package), 35mm e som acurado, além de ter inaugurado na edição a sessão 3D. Pelo terceiro ano consecutivo, o São Luiz foi especialmente equipado com um projetor Christie de 30.000 Ansilumens (o projetor padrão usado no Festival de Cannes) e sistema de som digital Dolby.
Confira abaixo a premiação
1. PRÊMIO DA FEPEC – Federação Pernambucana de Cineclubes
Formado por: Aroma Bandeira (Cine Difusora), Amanda Ramos (Cineclube Curta Doze e Meia) e João Nascimento (Cine Direto)
Melhor filme: Em trânsito (PE, D: Marcelo Pedroso)
2. PRÊMIO DA ABD/PE – Associação Brasileira de Documentaristas
Formado por: Caio Sales, Johnny Hooker e Brenda Ligia
Menção honrosa: Lição de Esqui (CE, D: Leonardo Mouramateus e Samuel Brasileiro)
Melhor filme: Em trânsito (PE, D: Marcelo Pedroso)
3. PRÊMIO DA OFICINA JANELA CRÍTICA
Formado por: Cesar Castanha, Felipe André Silva, Lorena Martins Arouche, Luís Filipe Feitosa, Apolinário Alves, Maria Cecília Barbosa, Mariana de Macêdo, Victor Felipe Fernandes
Melhor Curta-metragem Internacional: Coelho e Veado (Nyuszi és Öz – Hungria, D: Péter Vácz)
Um filme sobre coexistências inesperadas de formas e de perspectivas, que discute sua própria natureza de maneira contundente, aceitando as limitações de comunicação e a diferença sem privilegiar determinada condição de ser ou realização cinematográfica. Por atingir qualidades metafísicas sem abandonar sua essência de animação metalinguística e por sua notória universalidade, o júri do Janela Crítica no VI Janela Internacional de Cinema do Recife concede o prêmio de Melhor Curta-metragem Internacional para COELHO E VEADO, de Péter Vácz.
Menção Honrosa do júri: Até o céu leva mais ou menos 15 minutos (CE, D: Camila Battistetti)
Ao problematizar a questão de que se mudaram as janelas, e por que, então, não se mudariam as imagens delineadas nelas, a obra consegue trabalhar fantasticamente bem a discussão atual sobre o que é filme e o que é registro. Em três belos atos, vê-se documentada uma manipulação que consegue a mesma intensidade de resposta em quaisquer plataformas onde é exibida. Por estes méritos, o Janela Crítica gostaria de presentear o filme “Até o céu leva mais ou menos 15 minutos”, de Camila Battistetti, com a Menção Honrosa do júri.
Melhor Curta-metragem Brasileiro: Nossos Traços (RJ, D: Rafael Spínola)
O afeto consegue significar, catalisar, alicerçar e emoldurar locais, momentos, pessoas e posses em memórias, histórias, balões de festa e fumaça de cigarros. Ele cristaliza a saudade, orquestra os sentidos, atenua obras, acentua personagens e finca bandeira em registros desconhecidos. Por rebobinar o desbunde, por não somente se ater à melancolia como causa, mas distribuir a nostalgia de quem fica, o júri do Janela Crítica da VI Janela Internacional de Cinema do Recife concede o prêmio de Melhor Curta-metragem Brasileiro para NOSSOS TRAÇOS, de Rafael Spínola.
Melhor Longa-metragem: Quando a Noite Cai Em Bucareste ou Metabolismo (Când se lasă seara peste Bucureşti sau metabolism – Romênia, D: Corneliu Porumboiul)
É um filme sobre a simplicidade poética, quase banal, que cerca o próprio processo de fazer um filme. Metalinguagem rara, livre do olhar deslumbrado de uma narrativa encantada por si mesma, quase um manifesto do cotidiano. Não é uma constatação política do processo cinematográfico, mas sim uma inversão da idealização dele, a partir de momentos extremamente orgânicos. Naturalista, humano, coração com razão. O que torna o filme um processo é seu meio: ele se torna o próprio Cinema. Um olhar sobre o cinema, a partir do cinema. O júri do Janela Crítica no sexto Janela Internacional de Cinema do Recife concede o prêmio de Melhor longa-metragem para Quando a Noite Cai Em Bucareste ou Metabolismo, de Corneliu Porumboiu.
4. JÚRI OFICIAL
Competição de curtas-metragens internacionais
Formado por: Maeve Jinkings, Guto Parente e Luiz Joaquim
Melhor Som: Em Casa/ Dom Tsah (Rússia, D: Ruslan Magomadov)
Pela força do som como um elemento dramático na narrativa, e pela potência sensorial.
Melhor Montagem: Plot Point Trilogy – Os Gigantes de Tokio – Trilogia do Ponto de Virada – Parte 3 /Part Three – Tokyo Giants (Bélgica, D: Nicolas Provost)
Por montar o mundo real em um mundo de cinema.
Melhor Imagem: Gambozinos (Portugal, D: João Nicolau)
Pela maneira simples e forte como constrói uma fantasia.
Menção Especial do Júri: Ao ator Evgeniy Martinov, do filme Em Casa/ Dom Tsah (Rússia, D: Ruslan Magomadov)
Por sua capacidade de, cercado pelo vazio, atuar com precisão e verdade.
Melhor Filme: O Corpo de Afonso (Portugal, D: João Pedro Rodrigues)
Por subverter de maneira radical a história de Portugal, pela maneira com que os corpos são filmados, fragmentados e reconfigurados em um só corpo, o corpo mítico de Afonso. Pelas arriscadas apostas estéticas e a frontalidade com o qual é encarada a crise européia, tanto econômica quanto de valores.
Uma História para os Modlin/ A Story for the Modlins (Espanha, D: Sergio Oksman)
Pela maneira inventiva com que o filme parte de um fragmento de imagem para construir uma nova narrativa: uma história misteriosa, de personagens complexos e vidas que se relacionam de forma mística com o universo de ponto de partida: o filme O Bebê de Rosemary. Não é mais possível assistir ao filme de Polanski sem lembrar da família Modlin.
Competição de curtas-metragens brasileiros
Formado por: Miguel Valverde, Mathilde Hemrot e Ivan Cordeiro
Melhor Som: Não estamos sonhando (CE, D:Luiz Pretti)
Por construir um percurso sonoro original, inventivo e preciso.
Melhor Montagem: Lição de Esqui (CE, D: Leonardo Mouramateus e Samuel Brasileiro)
Por comprovar que argumento e montagem fazem parte de uma mesma construção.
Menção Especial do Júri: Até o céu leva mais ou menos 15 minutos (CE, D: Camila Battistetti)
Para um filme que com um plano fixo e um humor contagiante nos mostra a emoção de sermos humanos.
Melhor Imagem: Pouco Mais de Um Mês (MG, D: André Novais Oliveira)
Por nos ter devolvido a magia do cinema através de uma maravilhosa câmara obscura.
Melhor Curta Brasileiro: Em trânsito (PE, D: Marcelo Pedroso)
Para o filme que representa mais o espirito deste festival: inventivo, visualmente estimulante e capaz de refletir com humor acutilante sobre o mundo contemporâneo. Ganha prêmio em serviço para fazer um DCP, oferecido pela Link Digital.
Competição de longas-metragens
Formado por: Mark Peploe, João Luiz Vieira e Gabriel Martins
Melhor Som: – Avanti Popolo (Brasil, D: Michael Wahrmann)
O prêmio vai para o trio Fernando Russo, Daniel Turini e Fernando Henna pelo desenho conceitual e sofisticado do som–aqui não só vozes e música, como também o fundamental papel do silêncio — que contribui para ressaltar os processos de memória e trauma que constroem a narrativa deste filme singular que é Avanti Popolo.
Melhor Montagem: Amor, plástico e barulho (Brasil, D: Renata Pinheiro)
O prêmio vai para Eva Randolph, que, em Amor, plástico e barulho, de Renata Pinheiro, constrói com muita sensibilidade o envolvente ritmo do fluxo audiovisual que nos coloca no centro de uma rica expressão cultural local. As ruas, os camelódromos, os bares, cabarés, as pessoas, os rostos e a vida saltam da tela com toda a potência do trabalho delicado e firme desta jovem montadora.
Melhor Imagem: Tatuagem (Brasil, D: Hilton Lacerda)
A sequência provocadora da performance do cu em Tatuagem, de Hilton Lacerda, para além de sua competente realização, reafirma o corpo como local simultâneo de resistência e liberdade, uma fronteira a ser preservada a qualquer custo. Vibra com a energia contagiante do vigoroso cinema pernambucano!
Menção Honrosa: Gatinha estranha (Das Merkwürdige Katzchen – Alemanha, D: Ramon Zürcher )
Com aparente simplicidade, o diretor alemão Ramon Zürcker, acerta em cheio na sua contínua desconstrução e reconstrução da gramática da percepção e da linguagem cinematográfica neste belo e surpreendente Gatinha estranha.
Menção Honrosa/ Interpretação: Maeve Jinkings (Amor, Plástico e Barulho)
Pela sua hipnótica presença em cena, marcada por uma gama infinita de emoções, afetos, fotogenia, expressividade em close-up, olhares…, o júri decidiu, por unanimidade, outorgar uma Menção Honrosa ao trabalho da atriz Maeve Jinkings, afirmando, sem qualquer sombra de dúvida, que o cinema pernambucano, brasileiro, latino-americano e mundial testemunharam em Amor, plástico e barulho não só uma grande atriz como também o surgimento de uma estrela de primeira grandeza no cinema e no audiovisual: atriz e estrela Maeve Jinkings!
Melhor Filme: O ato de matar (The Act of Killing – Dinamarca/Noruega/Reino Unido, D: Joshua Opppenheimer)
Este filme traz uma radical experiência de cine-documentário, onde nenhum espectador sairá ileso de seu aparente conforto. Poucas vezes na história do cinema a crueldade humana foi dissecada em todo o seu horror e brutalidade sob uma forma inédita, que deixa o espectador à deriva e chocado com o que testemunha diante de si: atrocidades encenadas em clima “inocente”, frequentemente ambíguo, repleto de citações de filmes B, de gênero, confundindo personagens reais com atores, num processo sádico inacreditavelmente real.
Num momento global–e brasileiro em particular–de recrudescimento de forças repressivas e de extrema violência policial dirigida a manifestações legítimas da sociedade por melhor Educação, Transporte Público, Saúde, Cidadania, enfim, O ato de matar é um exemplo corajoso que chama atenção para uma infeliz memória recente, que não pode, em hipótese alguma, voltar a se repetir aqui ou em qualquer outro lugar.