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Produtor de cinema que se tornou motorista de ambulância voluntário, Yevhen Titarenko compareceu ao Festival de Berlim ao lado de outros cineastas ucranianos para mostrar a guerra filmada "por dentro" e denunciar a ofensiva russa iniciada há um ano.

"Na linha de frente não há tapetes vermelhos, apenas um chão encharcado de sangue", disse recentemente o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Oleksii Makeyev, ao apresentar o cinema de seu país.

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O primeiro grande festival europeu do ano, que termina no próximo sábado (25), destacou a solidariedade aos produtores, idealizadores e artistas ucranianos com um programação de filmes e discussões sobre o país atingido pelos conflitos.

O próprio presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, fez uma aparição em vídeo na Berlinale na última quinta-feira (16), ocasião em que pediu compromisso com a arte e o cinema.

O ex-comediante é o protagonista do documentário dirigido pelo ator americano Sean Penn, que apresentou a produção no festival.

Na sexta-feira, 24 de fevereiro, quando se completa um ano da invasão russa, o tapete vermelho da Berlinale receberá manifestações de apoio à Ucrânia.

- "A guerra por dentro" -

Entre os filmes ucranianos exibidos, "Sem Retorno" (2020), de Titarenko, retrata a vida de um paramédico próximo à linha de frente.

Enquanto filmava um documentário no ano passado na região de Donetsk, o diretor de 34 anos tomou a decisão de se candidatar "como voluntário", contou à AFP.

Desde então, fez uma série de filmes "para mostrar às pessoas como é a guerra por dentro".

"Os ucranianos não querem fazer guerra. Preferem fazer coisas normais, se dedicar à cultura como em todos os outros países. Mas não temos escolha a não ser lutar", diz ele, cujo filme selecionado para o festival foi produzido junto ao documentarista russo que vive em exílio, Vitaly Manskiy.

Alisa Kovalenko também trocou de papel após o início da ofensiva russa.

A cineasta de 35 anos interrompeu a produção do documentário iniciado em 2018 sobre cinco adolescentes na região ucraniana do Donbass que faziam planos para o futuro antes da guerra.

Após quatro meses na linha de frente, onde participou de mutirões de voluntários em Kiev e Kharkiv, a diretora retomou o projeto e começou a editá-lo.

"Entendemos que precisávamos mudar tudo. É um filme completamente diferente" do previsto inicialmente, contou à AFP.

O documentário "We will not fade away" (2023), rodado entre 2019 e 2022, retrata as frágeis esperanças destas jovens da região de Luhansk, uma área sob controle ucraniano.

- Uma "luz" interior -

"A Rússia pode bombardear nossas cidades e nos deixar sem eletricidade (...) Se você preserva a esperança e continua sonhando, sempre terá uma luz dentro de si. E essa luz, os russos não podem tirar de nós", disse Kovalenko.

Durante as filmagens, dois adolescentes que protagonizavam o filme deixaram a região e outros dois desapareceram, conta a diretora.

Entre as outras produções ucranianas apresentadas estão "Do you love me?" (2023), uma ficção sobre uma adolescente no fim da União Soviética, e "In Ukraine" (2023), documentário sobre o cotidiano do país em guerra.

Além de "Iron butterflies" (2023), do cineasta Roman Liubyi, que conta a história do voo MH17 da Malaysia Airlines, derrubado em 2014 por separatistas do leste da Ucrânia, e como esse drama foi um prelúdio para o conflito atual.

Além do festival, os ministérios da Cultura da Alemanha, França e Luxemburgo lançaram um fundo europeu de US$ 1,06 milhão (cerca de R$ 5,49 milhões) para apoiar o cinema ucraniano em 2023.

O diretor americano Manoj Nelliyattu Shyamalan foi designado como presidente do júri do 72º Festival de Cinema de Berlim, anunciaram os organizadores do festival nesta terça-feira (19).

Previsto entre 10 e 20 de fevereiro, o festival de cinema europeu mais importante depois de Cannes e Veneza, acontecerá presencialmente, com público, enquanto sua edição 2021 foi quase exclusivamente online.

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O cineasta americano de origem indiana, de 51 anos, mais conhecido como "Night Shyamalan", ficou famoso para o grande público com seu thriller psicológico "The Sixth Sense" (O Sexto Sentido), de 1999, que foi protagonizado por Bruce Willis e rendeu seis indicações ao Oscar.

Desde então, dirigiu filmes de suspenso, com conotações sobrenaturais, como "Depois da Terra", "A Visita", "Vidro" e "Tempo", do ano passado, aos quais soma-se a série de televisão "Wayward Pines".

"Em seus filmes, criou um universo no qual medos e desejos estão muito próximos, em que os jovens não são somente personagens principais, são também motores para superar os medos", disse em um comunicado o diretor artístico do Festival de Berlim, Carlo Chatrian, que descreveu Shyamalan como "cineasta único".

Após a pandemia que afetou o festival na edição deste ano, os organizadores apostam no retorno do público nesta próxima ocasião.

O prêmio principal do festival, o "Urso de Ouro", foi concedido este ano a "Bad Luck Banging or Loony Porn", uma sátira social do cineasta romeno Radu Jude.

Neste último domingo (20) o filme documentário "A Última Floresta", dirigido pelo cineasta brasileiro Luiz Bolognesi, venceu o prêmio de público da mostra Panorama da 71ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, também conhecido como Berlinale. Em decorrência da pandemia de Covid-19, a premiação que costumava acontecer em fevereiro, foi dividida em duas partes, sendo que a primeira foi realizada virtualmente entre os dias 1° e 5 de março, enquanto a segunda etapa foi realizada dos dias 9 a 20 de junho.

O documentário conta a história dos indígenas da tribo Yanomami, que procuram preservar a cultura e as tradições que seus ancestrais tinham na relação com a floresta, como a caça e a pesca por meio do arco e flecha, enquanto um grupo de garimpeiros busca explorar o ambiente. A localização das gravações aconteceu na região onde vivem os indígenas, na fronteira dos estados de Roraima com o Amazonas.

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Em entrevista à imprensa de Berlim, o cineasta Bolognesi comentou que o filme é um retrato sobre a vivência de um povo que vive na floresta, ressaltando que a obra serve como forma de denúncia, uma vez que já ocorreram três ataques com tiros e bombas dos garimpeiros contra os indígenas, sem nenhuma providência tomada pelas autoridades para a proteção dos Yanomamis ou para aplicação de punição para os responsáveis pelo ataque.

Vale lembrar que esta não é a primeira vez que Bolognesi dirige uma produção sobre povos indígenas. Em 2018 o cineasta também estava à frente da obra “Ex-Pajé”, que mostra os questionamentos de um pajé em relação a sua fé, quando passa a conhecer o homem branco. Este documentário foi vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Berlim e serviu de inspiração para produzir o filme sobre os Yanomamis.

 

 

 

O filme do diretor romeno Radu Jude "Bad luck banging or loony porn", que denuncia a hipocrisia da sociedade contemporânea com uma história baseada no vazamento de uma 'sextape', recebeu nesta sexta-feira (5) o Urso de Ouro da Berlinale, celebrado em formato virtual devido à pandemia de coronavírus.

A atriz alemã Maren Eggert venceu o primeiro prêmio de interpretação de "gênero neutro" do festival por seu papel em "I'm your man".

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Com a categoria, o Festival de Berlim acabou com a tradicional distinção entre melhor ator e atriz.

"Bad luck banging or loony porn" começa com uma sequência de vários minutos de pornô "amador". O vazamento da "sextape" protagonizada por uma professora resulta em uma história vibrante que busca comparar a obscenidade de um vídeo pornô com a da sociedade atual.

O filme ri de passagem da Igreja, do exército, dos novos ricos e dos ex-comunistas na Romênia.

"É um filme muito bem elaborado e em alguns momentos selvagem, inteligente e infantil (...) vibrante e ataca o espectador: não deixa ninguém indiferente", explicou o júzir.

O cineasta Radu Jude já havia sido premiado com o Urso de Prata de melhor direção em 2015 por "Aferim!".

O longa-metragem "Una película de policías", do mexicano Alonso Ruizpalacios, recebeu o Urso de Prata de melhor contribuição artística.

Os prêmios foram anunciados em uma cerimônia on-line pelo júri, cujos membros foram os únicos que se reuniram em Berlim para assistir os filmes em uma sala de cinema.

Porém, um dos seis membros, o iraniano Mohammad Rasulof, vencedor da edição 2020 com "There is no evil", participou do evento de Teerã, onde o governo da República Islâmica o mantém em prisão domiciliar.

A 71ª edição da Berlinale aconteceu com um programa reduzido de cinco dias, à espera de uma segunda parte em junho, com exibições ao ar livre abertas ao público e a festa de premiação.

Lista de Premiados da 71ª edição da Berlinale:

- Urso de Ouro de melhor filme: "Bad luck banging or loony porn" de Radu Jude (Romênia)

- Grande Prêmio do Júri, Urso de Prata : "Wheel of Fortune and Fantasy" de Ryusuke Hamaguchi (Japão)

- Prêmio do júri, Urso de Prata: "Mr Bachmann and His Class" por Maria Speth (Alemanha)

- Urso de Prata de melhor direror : Dénes Nagy, por "Natural Light" (Hungria)

- Urso de Prata de melhor interpretação (prêmio de gênero neutro): Maren Eggert por seu papel em "I'm your man" (Alemanha)

- Urso de Prata de interpretação em papel coadjuvante (prêmio de gênero neutro): a húngara Lilla Kizlinger por seu papel em "Forest - I See You Everywhere"

- Urso de Prata de contribuição artística: Yibrán Asuad pela montagem de "Una película de policías" de Alonso Ruizpalacios (México)

- Urso de Parta de roteiro: "Introduction" de Hong Sangsoo (Coreia do Sul)

A 71ª edição do Festival de Berlim estreou no formato virtual nesta segunda-feira (1º), com uma programação concentrada em cinco dias, à espera de poder realizar uma segunda parte com tapete vermelho e aberta ao público em junho.

O filme libanês "Memory Box", da dupla de diretores e artistas Joana Hadjithomas e Jalil Joreige, abriu a série de exibições reservadas a profissionais e imprensa.

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No total, 15 longas-metragens concorrem ao Urso de Ouro, que será anunciado na sexta-feira. Entre eles, há apenas um em espanhol: "Una película de policías", do mexicano Alonso Ruizpalacios.

"Memory box", primeiro filme libanês selecionado em competição em 40 anos, mergulha na memória de uma família da diáspora de Montreal daquele país.

O filme de Hadjithomas e Joreige - que em 2017 receberam o prêmio de arte Marcel Duchamp - pode não ter visto a luz, já que as filmagens terminaram pouco antes da explosão em 4 de agosto de 2020 no porto de Beirute, que deixou mais de 200 mortos e 6.500 feridos e destruiu bairros inteiros da capital libanesa.

Seu apartamento, a sede da produtora e boa parte de suas obras também foram explodidos.

O casal explicou por videoconferência à AFP que fez o filme sobre memória e esquecimento em parte "com a ideia de transmitir o passado" de seu país à filha, instalada em Londres.

"No Líbano, temos a sensação de não compartilhar uma história comum", segundo Hadjithomas.

De sua casa em Paris, a diretora também admitiu que fazer filmes durante a pandemia gera "grande frustração". Mas "de alguma forma, a covid-19 ajudou o filme. Conseguimos trabalhar mais, ver as coisas em perspectiva e às vezes mudá-las".

O primeiro grande festival do ano na Europa foi reduzido de dez para cinco dias, mas pretende-se realizar uma segunda parte aberta em junho em Berlim, principalmente com exibições ao ar livre e a cerimônia de entrega de prêmios.

Com "Una película de policías", da Netflix, Ruizpalacios volta à principal categoria do Berlinale, três anos depois de "Museo", com o qual ganhou o prêmio de melhor roteiro.

Destacam-se também os longas-metragens "Petite Maman", da francesa Céline Sciamma ("Retrato de uma Jovem em Chamas"), assim como o novo trabalho da alemã Maria Schrader (série "Unorthodox"), e a estreia na direção do ator hispânico-alemão Daniel Brühl ("Adeus, Lenin!").

O romeno Radu Jude volta à competição com "Bad Luck Banging or Looney Porn" sobre uma professora filmada em uma "sextape", que viraliza na internet.

Pela primeira vez, o Festival de Berlim concederá um prêmio de interpretação "sem gênero", em vez dos prêmios de melhor ator e atriz, o primeiro a existir entre as principais competições internacionais.

Nem salas nem tapete vermelho. A Berlinale começa na segunda-feira de maneira virtual, com 15 filmes na disputa pelo Urso de Ouro, um festival que permitirá medir o pulso da indústria do cinema, duramente afetada pela pandemia.

Apenas o júri, reunido no mesmo hotel de Berlim, terá acesso a uma sala de exibição, onde todos respeitarão o distanciamento. Um dos seis membros, o iraniano Mohammad Rasoulof, vencedor do Urso de Ouro em 2020, terá que assistir os filmes em Teerã, onde o governo mantém o diretor dissidente em prisão domiciliar.

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Em sua 71ª edição, o primeiro grande festival de cinema do ano na Europa reduziu o tempo de duração de 10 para cinco dias, mas almeja celebrar uma segunda parte aberta ao público em junho, principalmente com exibições ao ar livre.

Entre os destaques do festival estão "Petite Maman", da francesa Céline Sciamma, premiada em Cannes por exitoso "Retrato de uma Jovem em Chamas", o novo trabalho da alemã Maria Schrader, que está por trás da série "Unorthodox", e a estreia como diretor do ator alemão Daniel Brühl (de "Adeus, Lênin!").

O romeno Radu Jude, premiado em 2015 por "Aferim", retorna à mostra oficial com "Bad Luck Banging or Looney Porn" sobre uma professora filmada em uma "sextape" divulgada na internet.

Todos os filmes na disputa pelo Urso de Ouro foram rodados ou finalizados durante a pandemia, o que resultou em produções "muito pessoais", segundo o diretor artístico do festival, Carlo Chatrian.

"Todos falam da incerteza em que vivemos e a sensação de temor é onipresente", completou.

Pela primeira vez, o festival de forte caráter social atribuirá um prêmio de interpretação "sem gênero", ao invés das categorias de melhor ator e atriz, uma novidade entre os grandes eventos cinematográficos internacionais.

Fora da disputa pelo Urso de Ouro, que será anunciado na sexta-feira, será exibido o documentário "Tina", da cadena HBO, sobre a cantora Tina Turner.

Na mostra Panorama, o documentário brasileiro "A Última Floresta", de Luiz Bolognesi, apresentará um retrato dos índios yanomamis na Amazônia.

A Berlinale segue o exemplo de festivais como Toronto, que aconteceu de modo principalmente on-line. A edição 2021 de Sundance (Estados Unidos) combinou o formato com projeções em drive-ins e pequenas salas independentes.

O Festival de Cannes, cancelado no ano passado, continua apostando em uma edição presencial, mas adiou a data, de maio para julho. Mas a organização não descarta um novo adiamento caso não existam as condições sanitárias adequadas.

"Os festivais estão experimentando com os formatos enquanto dura a pandemia", declarou à AFP Scott Roxborough, diretor para a Europa da revista The Hollywood Reporter, cético a respeito da aposta virtual.

"O perigo é que nem os críticos se entusiasmem assistindo os filmes de casa", completa.

Um filme que descreve o percurso cheio de obstáculos de uma menor de idade para abortar nos Estados Unidos é o favorito neste sábado (29) ao Urso de Ouro do Festival de Berlim.

Os premiados desta 70ª Berlinale, primeiro grande festival de cinema da Europa antes de Cannes e Veneza, serão revelados a partir das 19h00 GMT (16h00 de Brasília). Será um júri presidido pelo ator Jeremy Irons que escolherá o sucessor de "Synonymes" do israelense Nadav Lapid, Urso de Ouro 2019.

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Favorito dos críticos, de acordo com a revista Screen, "Never rarely sometimes always", de Eliza Hittman, segue o caminho de Autumn (Sidney Flanigan), uma estudante do ensino médio da Pensilvânia, que vai para Nova York com a prima para abortar.

Uma jornada sem pathos, enfatizando a solidariedade feminina, com personagens masculinos mantidos à distância. A cena mais marcante do filme é aquela em que uma assistente social questiona Autumn sobre possíveis abusos que ela poderia ter sofrido, em uma escala que varia de "nunca" a "sempre", que dá o título ao filme.

"Existem assuntos muito importantes hoje, mas temos que fazer nossas escolhas com base na história, na maneira como o filme funciona com o público", alertou o presidente do júri, Jeremy Irons, questionado em preâmbulo do movimento #MeToo.

Após o ressurgimento de uma entrevista em que ele fez comentários considerados sexistas, Irons aproveitou o primeiro dia do festival para expressar seu total apoio ao direito ao aborto, ao casamento gay e aos movimentos que defendem as mulheres contra o assédio.

Se Eliza Hittman ganhar o Urso de Ouro, será a sétima mulher na história da Berlinale a receber essa distinção, confirmando a ideia de um festival trabalhando para uma representação mais feminina.

Mas a competição é dura, com outros trabalhos que causaram forte impressão como "Rizi", do taiwanês Tsai Ming-liang, que entregou um filme sem diálogos sobre o encontro entre dois homens com seu ator favorito Lee Kang-Sheng.

Fábula aquática e história de amor, "Undine", do alemão Christian Petzold, com Paula Beer, e Franz Rogowski seduziu a Berlinale, bem como "First Cow" da americana Kelly Reichardt. Figura do cinema independente, ela revisita os códigos do Velho Oeste com uma história de amizade entre dois homens no Oregon (noroeste dos Estados Unidos) em 1820.

A surpresa também pode vir de "DAU. Natasha", muito controverso por causa de suas cenas de sexo e violência. O filme sulfuroso do russo Ilya Khrzhanovsky faz parte do seu monumental projeto experimental DAU, onde filmou 400 voluntários por dois anos em uma réplica de uma cidade científica soviética na Ucrânia. Uma experiência que deu origem a quinze filmes focados na experiência totalitária.

"A maioria das cenas de todo o projeto é 'hardcore', não apenas neste filme", alertou Carlo Chatrian, o novo diretor artístico da Berlinale, em conjunto com Mariette Rissenbeek.

A dupla substituiu o alemão Dieter Kosslick, depois de 18 anos no comando, e na tentativa de ampliar a diversidade.

Esta 70º edição também é marcada por revelações sobre o passado nazista de um ex-diretor da Berlinale, que forçou os organizadores a transformar o Prêmio Alfred-Bauer em Urso de Prata.

O longa "Todos os mortos", dos diretores Caetano Gotardo e Marco Dutra, concorre neste domingo (23) ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, mostrando o racismo e a violência contra a comunidade negra no Brasil vistos a partir do processo histórico.

Ambientado no século XIX, após a abolição da escravatura e o surgimento da República, o filme se passa em uma época na qual, segundo os diretores, "perdeu-se a oportunidade" de unir os povos indígenas, antigos colonos e escravos.

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Em São Paulo, uma família de mulheres ex-proprietárias de uma grande plantação de café a beira da ruína não sabe como se adaptar a esse novo momento sem os privilégios de antes, enquanto os seus antigos escravos tentam resgatar suas raízes e tradições a partir da liberdade.

"Nessa época foram colocados os pilares da sociedade brasileira", comentou Marco Dutra à AFP.

"Ainda que muitas teorias respeitadas afirmem que o Brasil foi criado a partir da mistura de identidades, a realidade é outra: é um país muito racista", acrescentou o diretor.

Ao longo dos 120 minutos do longa, surgem sons contemporâneos, como os de um avião e de ambulâncias, incoerências que o espectador começa a entender à medida que o filme avança.

A violência física contra a comunidade negra, que continua "sendo perpetuada pelo estado e pela elite branca", segundo Caetano Gotardo, é outro assunto tratado a partir da perspectiva histórica.

"A maioria dos assassinatos no Brasil são de jovens negros. A violência está presente. Porém, não queiramos ser fatalistas, porque há pessoas que seguem resistindo", disse.

Para os diretores de "Todos os mortos", o debate sobre a identidade brasileira se polarizou com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência.

"Esse governo reforça a ideia de que no Brasil há pessoas boas e ruins, de que há coisas que devem prevalecer e outras desaparecer. Devemos continuar discutindo a partir da moderação", afirma Gotardo.

"Todos os mortos" disputa pelo Urso de Ouro na Berlinale, cuja lista de vencedores será anunciada no próximo 29 de fevereiro, e lidera a lista de 19 produções brasileiras selecionadas para diferentes sessões do festival de Berlim.

O cinema sul-americano está sofrendo perdas de patrocínio sob o governo Bolsonaro, que extinguiu o Ministério da Cultura e diluiu as pastas do órgão em diversas secretarias.

"Claro que precisamos dos subsídios, lutaremos por ele, mas seguiremos filmando aconteça o que acontecer, nem que seja com os nossos celulares", ressaltou Dutra.

Mesmo remando contra a maré por enfrentar diversos obstáculos, o cinema brasileiro segue em destaque no exterior. É que 19 obras produzidas no Brasil foram indicadas ao prêmio Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim, na Alemanha. Entre as produções está o longa-metragem "Todos os Mortos" (2020), selecionado para a categoria de Melhor Filme. Com direção de Caetano Gotardo, a obra será apresentada neste domingo (23) na capital alemã e pode se juntar a produções como "Central do Brasil" (1998), de Walter Salles, e "Tropa de Elite" (2007), de José Padilha, que venceram a disputa nos anos de 1998 e 2008.

Ainda sem data para estrear no Brasil, "Todos os Mortos" se passa o ano de 1899, onze anos após a assinatura da Lei Áurea, que aboliu os escravos no país. A história relata a vida de Iná Nascimento, mulher que ainda teve que viver a escravidão por um período longo e que lutou para cuidar da familiares em um tempo de hostilidade. O longa é produzido por ex-alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

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Veja a lista com as outras 18 indicações em produções e coproduções em que o Brasil concorre em uma das principais premiações da indústria cinematográfica mundial:

Mostra Geração - "Alice Júnior" (2019), de Gil Baroni; "Irmã" (2019), de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes; "Meu Nome É Bagdá" (2019), de Caru Alves de Souza; "Rã" (2019), de Julia Zakia e Ana Flávia Cavalcanti.

Mostra Panorama - "Cidade Pássaro" (2020), de Matias Mariani; "O Reflexo do Lago" (2019), de Fernando Segtowick; "Vento Seco" (2019), de Daniel Nolasco; "Nardjes A." (2019), de Karim Aïnouz (Coprodução: Argélia, Alemanha, França e Brasil); "Un Crimen Común" (2019), de Francisco Márquez (Coprodução: Argentina, Suíça e Brasil).

Mostra Fórum - "Luz nos Trópicos" (2019), de Paula Gaitán; "Vil, Má" (2020), de Gustavo Vinagre; "Chico Ventana Tambien Quisiera Ter un Submarino" (2019), de Alex Piperno (Coprodução: Uruguai, Argentina, Holanda, Filipinas e Brasil).

Mostra Fórum Expandido - "(Outros) Fundamentos" (2019), de Aline Motta; "Apiyemiyeki?" (2020), de Ana Vaz; "Jogos Dirigidos" (2019), de Jonathas de Andrade; "Letter from a Guarani Woman in Search of Her Land Without Evil" (2019), de Patricia Ferreira; "Vaga Carne" (2019), de Grace Passô e Ricardo Alves Jr.

Mostra Encontros - "Los Conductos" (2019), de Camilo Restrepo (Coprodução: França, Colômbia e Brasil).

Ficção e temas atuais se encontrarão na 70ª edição do Festival de Berlim, que começa nesta quinta-feira com 18 filmes na disputa pelo Urso de Ouro, incluindo uma produção brasileira, e uma nova mostra dedicada a novas formas de fazer cinema.

As atrizes Sigourney Weaver e Margaret Qualley - filha de Andie MacDowell - serão responsáveis pela abertura de um dos festivais de cinema mais importantes da Europa, ao lado de Cannes e Venezm, com "My Salinger Year", uma história sobre a criação literária e a ambição profissional que será exibida fora de competição.

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O brasileiro "Todos os mortos", de Marco Dutra e Caetano Gotardo, ambientado no fim do século XIX, poucos anos após o fim da escravidão, concorre ao Urso de Ouro, ao lado de filmes como "Siberia", do veterano Abel Ferrara, e "First Cow", da americana Kelly Reichardt.

Outro destaque na mostra oficial é "The roads not taken", da britânica Sally Potter, na qual Javier Bardem interpreta um deficiente auxiliado pela filha (Elle Fanning).

"Hardcore"

Outros filmes que desejam suceder "Synonymes", vencedor do Urso de Ouro do ano passado, são "There is no evil", do dissidente iraniano Mohamad Rasoulof, e "DAU. Natasha", um dos filmes do polêmico projeto do russo Ilya Khrzhanovskiy, que recriou uma cidade soviética na qual filmou a vida de 400 pessoas, repleta de violência e pornografia.

"A maioria das cenas deste projeto são hardcore, não apenas este filme", disse o novo codiretor do festival, Carlo Chatrian, antecipando a polêmica.

No conjunto, a mostra deste ano observa o mundo atual "sem ilusão, para abrir os nossos olhos", destacou.

A premiação será anunciada em 29 de fevereiro pelo júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons e que tem a presença do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho ("Bacurau").

A britânica Helen Mirren receberá o Urso Honorário. Uma das homenagens mais emblemáticas da Berlinale, o Prêmio Alfred Bauer, foi cancelado há algumas semanas, após a revelação do passado nazista do primeiro diretor do festival.

O jornal Die Zeit publicou que Bauer - diretor da mostra entre 1951 e 1976 - foi um alto funcionário do departamento cinematográfico de propaganda criado por Joseph Goebbels, ministro de Adolf Hiltler, além de ter espionado grandes figuras da indústria do cinema durante o III Reich.

Os novos diretores da Berlinale, Chatrian e Mariette Rissenbeek, também anunciaram a criação da mostra "Encounters", que exibirá obras mais ousadas de cineastas "inovadores".

Fora de competição, a ex-candidata democrata à presidência americana Hillary Clinton é esperada na capital da Alemanha para apresentar a minissérie autobiográfica "Hillary". A Pìxar exibirá seu novo filme de animação "Onward" ("Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica" no Brasil) e a atriz australiana Cate Blanchett a série "Stateless".

 Cinema brasileiro "em seu melhor momento" 

O Brasil terá uma forte presença no festival. Dezenove filmes do país foram selecionados para a Berlinale, destaca Kleber Mendonça Filho.

"Estamos no melhor momento da história do cinema brasileiro, apesar de sua indústria estar sendo desmantelada quase diariamente", declarou o cineasta, crítico do presidente da extrema direita Jair Bolsonaro e de seus cortes na cultura.

Na mostra "Panorama" serão quatro filmes, incluindo o documentário "Nardjes", do diretor Karim Aïnouz, premiado ano passado em Cannes por "A Vida Invisível".

Outro documentário, "O reflexo do lago", de Fernando Segtowick, que mostra a vida de pessoas que moram nas proximidades da hidrelétrica de Tucuruí, também foi selecionado.

O filme "Synonymes", do israelense Nadav Lapid, sobre um expatriado em Paris que deixou Israel devido à situação política, ganhou neste sábado o Urso de Ouro na Berlinale. Baseado na história do próprio cineasta, o longa era um dos favoritos da crítica, convencida por seu tom original, sua reflexão sobre identidade e a interpretação do protagonista, Tom Mercier.

"Este filme poderia ser definido como um escândalo em Israel. Mas na França algumas pessoas também poderiam se escandalizar. Mas, para mim, esse filme é uma grande celebração", disse, emocionado, Lapid ao receber o troféu na cerimônia de premiação do Festival de Berlim.

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Outro grande favorito, "So long, my son", do chinês Wang Xiaoshuai, recebeu dois prêmios importantes: os atores Yong Mei e Wang Jinchun foram laureados, respectivamente, como melhor atriz e melhor ator.

O grande prêmio do júri foi parar com "Grâce à Dieu", do francês François Ozon, sobre um escândalo real de pedofilia no seio da Igreja Católica da França. "Este filme tenta romper o silêncio das instituições poderosas", disse Ozon, ironicamente agradecendo a Deus pelo prêmio.

Confira abaixo a relação dos ganhadores nas principais categorias da 68ª edição do Festival de Cinema de Berlim, neste sábado (24):

- Urso de Ouro de melhor filme: "Touch me not", de Adina Pintilie (Romênia/Alemanha/República Tcheca/Bulgária/França)

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- Grande Prêmio do Júri, Urso de Prata: "Twarz" ("Mug"), de Malgorzata Szumowska (Polônia)

- Urso de Prata de melhor diretor: Wes Anderson, com "Ilha de cachorros" (EUA)

- Urso de Prata de melhor atriz: Ana Brun, em "Las Herederas", de Marcelo Martinessi (Paraguai)

- Urso de Prata de melhor ator: Anthony Bajon, em "La prière", de Cédric Kahn (França)

- Urso de Prata de melhor contribuição artística: "Dovlatov", de Alexei German Jr. (Rússia/Polônia/Sérvia)

- Urso de Prata de melhor roteiro: "Museo", de Alonso Ruizpalacios (México)

- Prêmio Alfred Bauer, em memória do fundador do festival para um filme que abre novas perspectivas: "Las Herederas", de Marcelo Martinessi (Paraguai)

- Prêmio de melhor documentário: "The Waldheim Waltz", de Ruth Beckermann (Áustria)

- Prêmio do melhor primeiro filme: "Touch me not", de Adina Pintilie (Romênia/Alemanha/República Tcheca/Bulgária/França)

- Urso de Ouro de melhor curta: "The Men Behind the Wall", de Ines Moldavsky (Israel)

- Teddy Bear (Prêmio para o melhor filme sobre a temática LGBT): "Hard Paint", de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher

22 curta metragens de 18 países, entre eles 3 brasileiros, estão concorrendo ao Urso de Ouro e de Prata na 68º edição do Festival de Berlim, que tem início em 15 de fevereiro, de acordo com os organizadores do festival.

Os curtas também estão concorrendo ao melhor curta europeu Audi Short Film Award, na quantia de 20 mil euros.

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Os filmes brasileiros que estão concorrendo são “Alma Bandida", de Marco Antônio Pereira, e "Terremoto Santo", de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, além da coprodução "Russa", do português João Salaviza e do brasileiro Ricardo Alves Jr.

O setor “Berlinale Shorts” está querendo histórias de ficção que ultrapassam as “convencionais” e aceita novos jeitos criativos para novas formas dramatúrgicas que destaquem a tensão e o suspense.

O setor ainda disponibilizará um programa social dedicado ao 50º aniversário da Revolução de 1968 com 12 filmes da Alemanha, Áustria, Suécia e Estados Unidos que "mostram estratégias estéticas que ainda hoje seguem sendo atuais".

O conselho internacional de curtas será composto pelo cineasta português Diogo Costa Amarante, ganhador do Urso de Ouro de melhor curta-metragem na edição passada do Festival, o produtor americano Mark Toscano e a diretora e cientista sul-africana Jyoti Mistry.

Por Beatriz Gouvêa

O cineasta holandês Paul Verhoeven, diretor de "Robocop" e "Instinto Selvagem", presidirá entre os 9 e 19 de fevereiro de 2017 o júri do festival de cinema de Berlim, informaram nesta sexta-feira os organizadores.

Verhoeven, de 78 anos, "trabalhou em diferentes gêneros, tanto na Europa como nos Estados Unidos. A variedade de seu trabalho no cinema reflete a sua criatividade, diversidade, coragem e vontade de experimentar", disse o diretor artístico da Berlinale, Dieter Kosslick, em um comunicado.

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O júri deste ano foi presidido pela atriz americana Meryl Streep.

Verhoeven, apelidado de o "holandês violento", começou sua carreira em seu país com filmes como "The Fourth Man" (1983) e "Flesh and Blood" (1985). Mas foi nos Estados Unidos, onde rodou a maioria de seus filmes como "Robocop" (1987), "O Vingador do Futuro" (1990) ou "Tropas Estelares" (1997).

Nos últimos anos, ele voltou para a Europa. Em 2006 filmou na Holanda "O livro negro" e este ano na França o suspense "Elle", estrelado por Isabelle Huppert.

A 66ª edição do Festival de Cinema de Berlim começa nesta quinta-feira, com o glamour hollywoodiano de George Clooney, protagonista do novo filme dos irmãos Ethan e Joel Coen.

A disputa, que acontece até 21 de fevereiro, exibirá a comédia "Ave, César!", uma verdadeira declaração de amor à Hollywood clássica.

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Clooney, que interpreta um astro de cinema dos anos 1950, estará no tapete vermelho junto com sua esposa Amal e os atores Channing Tatum e Tilda Swinton.

O filme, no qual também estão Josh Brolin, Scarlett Johansson e Ralph Fiennes, será exibido fora de competição.

O júri presidido por Meryl Streep também conta, entre outros, com o ator britânico Clive Owen e a fotógrafa de moda francesa Brigitte Lacombe. os sete integrantes terão de eleger a melhor das 18 produções que disputa o Urso de Ouro.

Na seleção oficial, este ano não há filmes latinos, mas há várias produções francesas, como "Quand on a 17 ans", de André Téchiné, e "L'Avenir", de Mia Hansen-Love.

Também são muito aguardadas as exibições de "Sozinho em Berlim", do suíço Vincent Pérez, com Emma Thompson e Brendan Gleeson; "Genius", do britânico Michael Grandage, com Colin Firth, Jude Law e Nicole Kidman; o thriller de ficção científicia "Midnight Special", do americano Jeff Nichols, e "Kollektivet" ("A Comunidade") do dinamarquês Thomas Vinterberg.

Entre as surpresas da seleção oficial figura "Hele Sa Hiwagang Hapis" ("Uma canção de ninar para o mistério doloroso"), uma filme de mais de oito horas do filipino Lav Diaz .

Longe do glamour, a Berlinale também terá este ano vários títulos que abordam a crise dos refugiados na Europa.

O documentário em competição "Fuocoammare" ("Fogo no mar"), do italiano Gianfranco Rosi aborda os habitantes da ilha italiana de Lampedusa, um dos pontos de chegada dos migrantes.

"Desde 1951, a Berlinale contribui para promover a paz entre os povos e este ano não é exceção", afirmou o diretor do evento, Dieter Kosslick.

O cinema latino só estará presentes este ano nas seções paralelas.

O Brasil será representado com três filmes na mostra Panorama: "Curumim", documentário de Marcos Prado, "Mae Só Há Uma" de Anna Muylaert, e "Antes o Tempo Não Acabava", de Sérgio Andrade e Fábio Baldo.

Além de Clooney, também é esperada a presença do ator francês Gérard Depardieu, protagonista de "Saint-Amour", um road-movie de Gustave Kervern e Benoît Delépine.

Fora de competição, o americano Spike Lee apresentará sua comédia musical sobre a violência em Chicago "Chi-Raq" e o polêmico Michael Moore exibirá seu documentário "Where to Invade Next".

A organização do Festival de Cinema de Berlim de 2016 não escondeu que a edição deste ano tem uma questão vital em sua mostra competitiva: a crise dos refugiados. Dezoito filmes disputam o Urso de Ouro, o grande prêmio da Berlinale, que começa na quinta-feira (11) com a exibição, fora de competição, do filme mais recente dos irmãos Coen, "Ave, César!".

Tilda Swinton, Channing Tatum, George Clooney, Scarlett Johansson e Ralph Fiennes estão no elenco do filme, ambientado na era de ouro de Hollywood, e alguns deles são esperados no tapete vermelho. A comédia que mostra os bastidores de uma produção nos anos 1950 terá um destaque isolado em um festival que, tradicionalmente, não abre muito espaço para os gêneros leves.

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Dezenas de filmes nas diversas mostras da 66ª edição da Berlinale abordam os dramas das pessoas em fuga das guerras, opressão ou miséria. A Alemanha vivencia na pele a crise dos refugiados do Oriente Médio, com a chegada em 2015 de mais de um milhão deles, o que provoca um grande debate na sociedade germânica.

O diretor do festival, Dieter Kosslick, defende uma concepção militante do evento ao recordar que "desde 1951, a Berlinale tem contribuído para promover a paz entre os povos e este ano não será exceção". "Temos que confrontar a realidade que nos cerca e não apenas sorrir no tapete vermelho", completou Kosslick.

Na disputa pelo Ursos de Ouro e Prata, que serão anunciados em 20 de fevereiro, o documentário "Fuocoammare" (Fogo no mar) do italiano Gianfranco Rosi apresenta o drama dos refugiados visto a partir da ilha de Lampedusa.

O festival também organizará iniciativas especialmente destinadas a ajudar os refugiados, incluindo arrecadação de fundos, convites para exibições e estágios nos sets de filmagem. "Cartas de guerra", do português Ivo Ferreira, fala da guerra em Angola, enquanto "Smrt u Sarajevu" "(Morte em Sarajevo") é uma parábola política do bósnio Danis Tanovic.

Para aqueles dispostos a passar oito horas em uma sala de cinema, "Hele Sa Hiwagang Hapis" ("A Lullaby to the Sorrowful mystery", título internacional) do filipino Lav Diaz narra a emancipação de seu país do império colonial espanhol no século XIX. "Soy Nero", do iraniano Rafi Pitts, uma co-produção França, Alemanha e México, conta a história de um imigrante sem documentos mexicano que se alista no exército dos Estados Unidos para adquirir a cidadania americana. Kosslick disse que o "tema principal este ano é o direito à felicidade, o direito a um alojamento, ao amor e a escolher sua vida".

Também na mostra competitiva, o festival exibe o documentário "Zero Days", de Alex Gibney, sobre a guerra cibernética dos Estados Unidos e de Israel contra as ambições nucleares do Irã.

O Brasil será representado com três filmes na mostra Panorama: "Curumim", documentário de Marcos Prado, "Mae Só Há Uma" de Anna Muylaert, e "Antes o Tempo Não Acabava", de Sérgio Andrade e Fábio Baldo.

A atriz Meryl Streep presidirá a 66ª edição do Festival de Berlim, de 11 a 21 de fevereiro de 2016, anunciou nesta quarta-feira a organização do evento.

"Meryl Street é uma das artistas mais criativas e de múltiplos talentos do cinema", destacou o diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, em um comunicado.

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Meryl Streep recebeu em 2012 um Urso de Ouro pelo conjunto de sua carreira.

"A responsabilidade é um pouco intimidante, já que nunca fui presidente de nada, e eu espero que eu possa fazer jus ao nível estabelecido pelo júri nos últimos anos", declarou a atriz, citada no comunicado.

Uma albanesa foge do seu destino de esposa, uma indígena maia sonha com uma vida diferente da que vive à beira de um vulcão na Guatemala: os personagens femininos rebeldes ou em busca de mais liberdade foram protagonistas na 65ª edição da Berlinale.

"Vergine giurata" ("Virgem jurada", na tradução literal), primeiro longa-metragem da italiana Laura Bispuri, 37 anos, exibido nesta quinta-feira na mostra competitiva do festival, conta a história de Hana, jovem de um recanto longínquo da Albânia, interpretada por Alba Rohrwacher ("As maravilhas", Grande Prêmio em 2014 do Festival de Cannes).

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Depois de se negar a ser uma esposa com direitos limitados numa sociedade patriarcal, ela decide virar "virgem jurada" segundo o código tradicional albanês, o que significa viver como um homem. Após fazer voto de castidade, ela passa a se vestir como homem, adota um nome masculino e sacrifica sua feminilidade para ser mais livre.

Dez anos mais tarde, essa mulher que desafiou seu destino decide mudar de vida outra vez e vai a Milão, onde mora sua irmã. Ali, descobrirá seu corpo e sua sexualidade - juntamente com uma nova liberdade.

O filme, que multiplica idas e vindas entre o presente de Hana e seu passado, "é uma viagem exterior, mas também interior, que aborda a questão da liberdade e a feminilidade", explicou Laura Bispuri à imprensa, após arrancar aplausos na estreia.

Segundo a cineasta, o corpo é um elemento central no filme, que convida "a uma grande reflexão sobre a feminilidade" e é "uma metáfora da relação entre as mulheres livres e o mundo".

"São tema universais", comentou. "Acho que todo mundo deveria se perguntar: 'será que as mulheres são realmente livres hoje em dia?'", disse.

Criar seu próprio destino

"Vergine giurata" se junta a outros filmes da mostra que têm como tema mulheres que lutam para sair do lugar que lhes é preestabelecido pela sociedade.

Em "Ixcanul", obra-prima do guatemalteco Jayro Bustamante, que também foi muito bem recebida pela crítica, Maria é uma jovem maia de 17 anos, que trabalha com seus pais em uma plantação de café na encosta de um vulcão. Sonha abandonar sua rotina e ir para os Estados Unidos.

Se vê grávida acidentalmente e, diante de uma situação dramática, tentará se rebelar. "Quis mostrar o que acontece com essa mulher, o que ela sente, o que pensa e como com total dignidade assume o que a faz viver, porque não tem outro jeito", explicou o cineasta de 37 anos à AFP.

No filme "Diário de uma camareira", do francês Benoît Jacquot, nova adaptação do livro homônimo de Octave Mirbeau, Léa Seydoux é a protagonista Célestine, uma camareira que se rebela contra sua condição no início do século XX.

Forte, determinada e ambiciosa, ela tenta escapar de sua condição, da crueldade das relações sociais e da brutalidade masculina. Ela quer se ver livre dos patrões, mas não consegue.

"Como ocorreu com os escravos, ela interiorizou sua servidão", comentou Benoît Jacquot.

Outras heroínas de vanguarda ou em busca da emancipação povoam diversos filmes na competição pelo Urso de Ouro, que será anunciado no sábado.

Em "Rainha do Deserto", do alemão Werner Herzog, Nicole Kidman encarna uma aventureira, espiã e analista política em Oriente Médio, além de brilhante arqueóloga Gertrude Bell.

Juliette Binoche interpretou o papel de Josephine, esposa do explorador polar Robert Peary, que vai à procura do marido em "Ninguém quer a noite" da espanhola Isabel Coixet, também na competição.

Como antecipou antes do evento o próprio diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, "as mulheres fortes confrontadas com situações extremas" foram protagonistas do Festival. Fica por ver se elas terão lugar nas premiações.

O cineasta alemão Wim Wenders voltou à ficção com "Everything will be fine", um comovente drama sobre o luto e a culpa que estreou nesta terça-feira no Festival de Cinema de Berlim, onde receberá um Urso de Ouro pelo conjunto da obra.

Filmado em 3D e protagonizado por James Franco e Charlotte Gainsbourg, o filme de Wenders era uma das atrações mais aguardadas da 65ª Berlinale.

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Aos 69 anos, o diretor receberá no próximo sábado o Urso de Ouro pelo conjunto de uma obra iniciada há 45 anos, que inclui filmes transformados em clássicos do cinema como "Paris, Texas".

Em "Every Thing Will Be Fine" ("Tudo vai ficar bem", na tradução livre) Tomas é um escritor que mata um menino por acidente com seu carro, enquanto dirigia por uma estrada coberta de neve do Canadá.

Devastado, esse homem introvertido vai afundar numa depressão, abandonará sua companheira (Rachel McAdams) e tentará reconstruir sua vida junto a outra mulher (Marie-Josée Croze). Não conseguirá esquecer a mãe do menino morto (Charlotte Gainsbourg), que também o ajudará a se reerguer.

Com este drama intimista, Wim Wenders volta à ficção após sete anos de ausência durante os quais realizou documentários como "Pina", sobre a bailarina alemã Pina Bausch, e "O Sal da Terra" (2014), sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.

Envolto na música de Alexandre Desplat, "Every Thing Will Be Fine" explora o sentimento de culpa, o processo de luto e a busca pela redenção.

Segundo James Franco, que também atua em outro título da competição na Berlinale - "Rainha do deserto", de Werner Herzog -, o novo filme de Wenders "fala sobre o estado interior de uma pessoa".

"Para mim o tema principal do filme é a cura", a maneira "que alguém perdoa os outros e a si mesmo" e "a responsabilidade que se pode ter com relação a uma família desconhecida", explicou Wenders à imprensa.

Começou nesta quinta (5) o festival de cinema Berlinale, em Berlim, Alemanha. Cinco longas brasileiros foram selecionados para compor a programação do festival, Sangue Azul, Ausência, Que horas ela volta?, Beira Mar e Brasil S/A.  

Os filmes Sangue Azul, de Lírio Ferreira, Ausência, de Chico Teixeira e Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, serão exibidos na mostra Panoramadedicada aos chamados "filmes de autor". Já Brasil S/A, de Marcelo Pedroso e Beira Mar, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, estarão na seção Fórum, dedicada a obras de experimentação.

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O presidente do Programa Cinema do Brasil - que realiza ações para ampliar a visibilidade do cinema nacional - André Sturm, comemorou a participação brasileira no festival. Para ele, a seleção dos longas é um reflexo da maturidade e qualidade da produção cinematográfica brasileira. 

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