Tópicos | Matalanamão

Na Zona Norte do Recife, um dos bairros de maior população da cidade, Casa Amarela, tem sido sinônimo de resistência desde sua formação. Segundo o historiador Pereira da Costa, ali se levantou, em 1630, o forte real do Bom Jesus - hoje Sítio Trindade - para proteger o interior de Pernambuco contra os holandeses.

Ao redor da fortaleza instalou-se um povoado e no início do século 20 iniciou-se a ocupação dos morros ao redor, entre eles, Morro da Conceição, Alto José Bonifácio e Alto José do Pinho. A população dessas localidades se organizou e, como não poderia deixar de ser, criou suas próprias expressões culturais, transformando-se em símbolo da cultura musical do Recife. Os morros do Recife são emissores de uma das 'Vozes da Periferia', que o LeiaJá apresenta nesta serie especial de reportagens.

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O manguebitt de Chico Science ‘desceu’ de Peixinhos, em Olinda, onde nasceu, e no Alto José do Pinho encontrou solo fértil para se multiplicar. Berço de várias manifestações populares - o Alto conta com o Maracatu Estrela Brilhante do Recife, o afoxé Ylê de Egbá e a escola de samba Unidos de Escailabe, só para citar alguns exemplos -, e com uma forte cena punk no início dos anos 1980, lá surgiram bandas como Matalanamão, Faces do Subúrbio e Devotos, que não só levaram sua comunidade para outros lugares da cidade como também serviram de exemplo para o surgimento de outras cenas Recife afora.

Devotos é referência no Alto e fora deleA Devotos, de Cannibal, Neilton e Celo, inclusive, é citada por 10 entre 10 jovens entusiastas da música na cidade, como grande responsável pela valorização da produção artística local. Em 2018, a banda completa 30 anos como uma das mais importantes da cena hardcore do país. Mas, a resistência da Zona Norte extrapola qualquer convenção ou limitação, sobretudo de ritmos. Grande celeiro cultural, o bairro agrega artistas do rock, do samba, hip hop e do reggae, entre outras vertentes.

Logo ali ao lado, na Bomba do Hemetério, a produção cultural fervilha com inúmeras agremiações de cultura popular como a Escola Gigante do Samba, a nação de Maracatu Raízes de África, a Tribo Canindé e a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (OPBH), comandada pelo Maestro Forró. 

*No vídeo, o Maestro Forró e a OPBH dividem o palco com os 'vizinhos', Cannibal, da banda Devotos, e o Mestre Walter de França, ex- mestre de apito da Nação de Maracatu Estrela Brilhante do Recife e, agora, líder da Nação Raízes de África, da Bomba do Hemetério. 

 

Tem samba no Alto

Nilson Freitas, J.J., Xande Melo, Mano Black e Jamelão do Cavaco, nascidos e criados no Alto, escolheram o samba como estilo de vida e ferramenta de trabalho. Com o grupo Sambstar, formado há 22 anos, eles levam suas vivências e a alegria característica da comunidade para todo o Brasil e o mundo, fazendo parcerias, inclusive, com grandes artistas nacionais, como Roberto Menescal. "Isso aí é um orgulho que a gente leva no peito, onde chegar, nos quatro cantos do mundo, dizer que é da Zona Norte, do Alto Zé do Pinho, da periferia  e que fazemos uma música universal", diz com sorriso largo, o vocalista do grupo, Jamelão do Cavaco.

O quinteto de sambistas se julga privilegiado por ser ‘cria’ de um chão tão fértil em cultura e arte; para os músicos, não haveria outro caminho a seguir que não o da música vindo de um lugar como o Alto. "Aqui é um celeiro de música popular, tem samba, frevo, maracatu, afoxé, caboclinho, tem o repente, embolada, tem MC, já vou contando quase 11", enumera J.J.

E, vindos da periferia, fazem questão de levá-la à frente em seu trabalho: "A nossa linguagem musical é a linguagem da periferia, a gente tanto canta aqui como canta nos maiores eventos que tem e a linguagem é a popular, não tem como ser diferente", diz Jamelão.

Vindos de um lugar com tamanha diversidade cultural, os músicos convivem bem com todas as cenas surgidas e desenvolvidas ali. Eles acreditam que o vulto que os MCs de brega vêm tomando, como o próprio MC Troinha, originário do Alto, é legítimo e que eles representam sua comunidade tanto quanto qualquer outro artista originado ali, como afirma o vocalista Jamelão: "Embora o ritmo seja criticado por muitos, não pela massa, mas pela ‘crítica’ da mídia comum, os meninos estão de parabéns. Existem pessoas inteligentes por trás, eles também são muito inteligentes, eu tenho mais é que bater palmas e desejar sucesso. Representam a comunidade né? Por isso que estão aí nas cabeças".

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*Imagens: Rafael Bandeira

Com mais de duas décadas de trajetória, a banda pernambucana Matalanamão lança seu novo álbum ‘Mundo Pornô’ no próximo sábado (2), a partir das 17h, no Casarão da Várzea, Zona Oeste do Recife. A entrada é colaborativa e custa R$ 2, mas não é obrigatória.

A apresentação contará com a participação de Roger de Renor e o projeto ‘Som na Rural’. “A expectativa é de fazer um bom show, de agradar os fãs. Tocar o disco novo todo e também ajudar a fazer algo pra chamar atenção para um point cultural, o Casarão da Várzea”, ressalta Adilson Ronrona, vocalista da banda.

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A Matalanamão completou, em 2017, 23 anos e é referência do estilo ‘anarcopunk’ em Pernambuco. A banda chama atenção em suas apresentações e canções para a luta contra a AIDS e preconceito.

Serviço

Lançamento do disco ‘Mundo Pornô’, de Matalanamão

Sábado (2) | 17 h

Casarão da Várzea (Rua Azeredo Coutinho, 130, Várzea)

R$ 2 (não obrigatório)

A cidade de Tracunhaém recebe, pelo 16º ano, o Tipoia Festival, que promove o encontro de artistas e admiradores da cultura local, seja ela de aspecto popular ou da cena independente. Até o próximo domingo (29), várias atividades de grupos e coletivos pernambucanos aportam na Zona da Mata Norte promovendo atrações de música, audiovisual, artesanato e literatura. 

Nesta edição, o festival homenageia o mestre Manoel do Boi, criador do primeiro maracatu da zona urbana de Tracunhaém. O Tipóia conta, também, com Mostra de Música Alternativa e Mostra de Música Regional, além do 5º Encontro de Bateristas daZona da Mata pernambucana, encontro de Ogans, exposição de fotografias, batalha de Hip Hop, exposição de pinturas, desfiles de bloco carnavalescos e os tradicionais shows musicais. 

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O Centro de Tracunhaém receberá atrações como Tiger, Afoxé Alafin Oyo, Matalanamão, Plugins, N'zambi, Gustavo Pontual, SId Sacrifício e Fé e a ex- The Voice, Bella Schneider, entre outros. Os shows começam nesta sexta (27) e seguem até o próximo domingo (29). A programação completa do Tipoia pode ser vista na página do festival.  

Confira este e muito mais eventos na Agenda LeiaJá.

Serviço

16º Tipóia Festival 

Até domingo (29)

Centro de Tracunhaém

Gratuito

A 14ª edição do Tipoia Festival começa nesta segunda-feira (11) na cidade de Tracunhaém, Zona da Mata de Pernambuco, com atividades até o próximo domingo (17). O evento é gratuito e a programação completa - com oficinas, mostras de vídeo, debates, exposições e muita música - está disponível no site do festival.

A partir desta segunda-feira (11) começam as oficinas de formação de fotografia, bateria, roadie, animação e trabalho com barro. “No mercado de trabalho e em Tracunhaém ainda não há cursos que possam abrir a cabeça dos jovens para novos mercados. É uma forma de despertar o olhar dos jovens para novos interesses profissionais”, disse Sidclei Marcelino, coordenador Geral do Tipoia Festival.

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Uma das novidades da edição deste ano é a parceria com o II Encontro de Coletivos e Agentes Culturais da Mata Norte, que vai promover um debate sobre a cadeia produtiva da região no sábado (16). Símbolo de Tracunhaém, o artesanato de barro estará presente nas exposições de artistas da cidade como parte do festival. Além disso, neste ano a mostra de filmes do evento traz como tema o futebol e será uma oportunidade para os moradores da região entrarem em contato com o cinema, uma linguagem artística ainda rara nas cidades do interior. 

No fim de semana, de 15 a 17 de novembro, novas e veteranas atrações musicais se apresentam no palco do festival. Entre as atrações, destaque para Zé Brown, Matalanamão, Bantus Reggae, Baleia Mutante (SP), Devotos, Siba e Jerivá.

Serviço

14º Tipoia Festival

De 11 a 17 de novembro

Tracunhaém (Zona Mata Norte de Pernambuco)

Gratuito

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