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Indicada para tratar distúrbios do sono, a melatonina até muito recentemente só era vendida em farmácias de manipulação e com prescrição médica. A partir de dezembro, no entanto, é possível que você comece a se deparar com o hormônio na seção de suplementos alimentares na drogaria perto da sua casa. E a tentação de simplesmente comprar para se livrar de noites mal dormidas pode surgir. Algo que vem preocupando os médicos.

"A melatonina é um hormônio, não suplemento alimentar", diz Bruno Halpern, integrante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. "Por isso, deve ser vista com cuidado para não causar alterações metabólicas."

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As consequências do uso indevido podem variar desde fadiga e sono durante o dia até alterações nas funções hepáticas e nos níveis de glicose e insulina. Segundo o Conselho Federal de Farmácia, o déficit da substância também é prejudicial e provoca alterações que levam a doenças como diabetes, hipertensão e obesidade.

O ideal é que o nível de melatonina esteja equilibrado.

"A orientação é que (a prescrição) seja feita por profissional habilitado: médico, farmacêutico e nutricionista", diz Priscila Dejuste, integrante do conselho e farmacêutica especializada em suplementos alimentares.

Professor de Fisiologia e Biofísica da USP, José Cipolla também alerta que um dos usos indevidos comuns da substância é ela ser usada pela manhã, horário em que o hormônio não é naturalmente produzido pelo corpo. Isso pode levar a uma "confusão" interna. "A melatonina é produzida quando estamos em ambientes noturnos, sem luz, e por isso deve ser utilizada sempre à noite", afirma.

Nos suplementos vendidos nos Estados Unidos, a recomendação de uso noturno da melatonina está na embalagem. Segundo Cipolla, essas informações também precisam ficar claras nos produtos brasileiros.

Ele teme que, com o uso irrestrito, haja desinformação. Na internet, por exemplo, há quem recomende melatonina para emagrecer, sem nenhuma evidência científica.

A empresária Ana Paula Montanha, de 47 anos, mora nos Estados Unidos. Vice-presidente de uma multinacional, ela toma melatonina diariamente antes de dormir. "Por trabalhar em uma multinacional, lido com fusos diferentes durante reuniões e tinha muita dificuldade para dormir por conta disso", conta ela, que comprou o produto como suplemento alimentar.

Em nota, o Sindicato das Indústrias Farmacêuticas afirma que ainda não é possível medir o impacto no setor com a liberação da melatonina. "Poucas indústrias estão atuando no mercado com esse produto", afirma.

Apesar do interesse e do início da produção por parte de algumas empresas, a substância ainda não começou a ser comercializada. A perspectiva da indústria é que os primeiros produtos cheguem às farmácias no mês que vem.

Liberação

A decisão de liberar o hormônio da prescrição médica foi tomada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro. A dosagem recomendada é de 0,21 mg por dia para pessoas com 19 anos ou mais - o uso é contraindicado para gestantes e lactantes.

Segundo a Anvisa, trata-se de uma dosagem segura, por ser próxima da quantidade encontrada naturalmente em alimentos como morango, cereja e carnes de frango, além de no vinho. O Conselho Federal de Farmácia considera a dosagem aprovada pela Anvisa segura, mas defende ajuda especializada.

Em países como os Estados Unidos e a Alemanha, a melatonina é vendida como suplemento alimentar em doses maiores, que variam de 0,3 mg a 5 mg.

No Brasil, a aprovação de quantidades mais altas não ocorreu porque a considerou que foram apresentados poucos estudos que explorassem o uso mais prolongado da substância como suplemento alimentar em maior concentração.

Mas pesquisadores alertam que mesmo uma dosagem considerada baixa pode causar consequências e defendem a busca pela prescrição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O uso da melatonina, conhecida como hormônio do sono, para a formulação de suplementos alimentares foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Diretoria Colegiada (Dicol), na quinta-feira, 14. O consumo foi autorizado a pessoas com idade igual ou superior a 19 anos e em dosagem que não ultrapasse 0,21 mg diárias. Alegações de benefícios associadas ao consumo do suplemento à base da substância, porém, não foram aprovadas.

Com a decisão, a melatonina fica disponível, sem receita, como um suplemento alimentar, categoria de produtos destinada à complementação da dieta de pessoas saudáveis com substâncias presentes nos alimentos, incluindo nutrientes e substâncias bioativas, onde está enquadrada funções metabólicas bem caracterizadas. Ao redor do mundo, essa já era uma realidade para diversos países, como os Estados Unidos.

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Os suplementos de melatonina devem conter advertência de que não devem ser consumidos por gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requerem atenção constante. Quem tiver enfermidades ou usar medicamentos deve consultar seu médico antes de consumir a substância.

Também foram autorizados outros 40 novos constituintes de suplementos alimentares, como a membrana da casca de ovo, como fonte de ácido hialurônico, glicosaminoglicanos e colágeno, e extrato de laranja moro, como fonte de antocianinas.

O que é melatonina?

 

A melatonina é um hormônio produzido naturalmente no cérebro humano, mais especificamente pela glândula pineal. Ela auxilia no ciclo vigília-sono, ao indicar para os órgãos que a noite chegou.?Por isso, é comumente associada ao tratamento de insônia.

A substância pode ser encontrada em pequenas concentrações em alimentos como morango, cereja, vinhos e carne de frango, por exemplo. Ela ?também pode ser produzida sinteticamente.

Em entrevista ao Estadão, a endocrinologista Suemi Marui explicou que "alterações do sono como, por exemplo, insônia e sonolência, levam a diversas modificações hormonais, metabólicas, neurológicas e psicológicas". A médica, porém, disse não haver comprovações científicas dos benefícios de se tomar melatonina sintética para essas alterações. Efeitos colaterais do consumo indevido da substância são "dor de cabeça, confusão mental, tontura e náuseas", alerta.

Suemi destacou que a produção natural de melatonina depende do padrão de sono-vigília de cada um. "O sono deve ser reparador, significando não acordar cansado", resume. A indicação dela é a de que, quando o cansaço parecer constante, busque-se um médico. "Doenças que causam alterações no sono como, por exemplo, problemas da tireoide, apneia do sono e depressão devem ser investigadas e não tratadas com melatonina, que pode atrasar o diagnóstico."

Um estudo realizado pelo Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatatas (Ibilce) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) aponta que dormir pouco aumenta o risco de câncer de mama. A melatonina, hormônio produzido no cérebro humano durante a noite, reduz o crescimento de células de câncer de mama. A pesquisa foi publicada na última edição da revista norte-americana Genes & Cancer. 

Segundo a autora da pesquisa, Juliana Ramos Lopes, o objetivo do estudo foi verificar se a melatonina tem efeito inibitório sobre as células-tronco do câncer de mama. Ela explica que o cérebro produz melatonina durante a noite, entre às 3h e 4h da manhã, e este hormônio tem como principal função regular os ciclos do sono.

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“As dificuldades encontradas por algumas mulheres que precisam trabalhar no período noturno, por exemplo, e que ficam privadas de sono no período em que o cérebro produz o hormônio, pode aumentar a chance de desenvolver a doença”, resume Juliana.

Durante o estudo, a pesquisadora cultivou em laboratório células-tronco de câncer de mama de mulheres. Após o crescimento das células-tronco tumorais, elas foram tratadas com duas substâncias químicas conhecidas por induzir o crescimento do tumor: o Bisfenol A, que é um composto químico utilizado na produção de embalagens plásticas; e o hormônio natural estrógeno. 

Na etapa seguinte, as células foram tratadas com hormônio melatonina. “A partir dos resultados obtidos, observei que o aumento no crescimento celular tumorial induzido pelo Bisfenol A e estrógeno foi reduzido pelo tratamento com melatonina, demonstrando seu potencial terapêutico no câncer de mama”, explicou a pesquisadora.

Juliana conta que as células-tronco tumorais vêm sendo estudadas em tumores humanos nos últimos anos e consideradas responsáveis pela recorrência do tumor e resistência a terapias. “A utilização da melatonina em futuros tratamentos do câncer de mama com base  nestas descobertas ainda está distante, no entanto, os resultados fornecem aos cientistas base fundamental para futuras pesquisas”, ela conclui. 

Com informações da assessoria

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