O arquiteto Oscar Niemeyer sempre escreveu suas obras por linhas curvas. E suas "rampas", "tetos" e "vãos livres" aguçaram a imaginação dos skatistas, que nunca tiveram a oportunidade de percorrer suas obras com o equipamento. Depois de uma negociação com a Fundação Oscar Niemeyer, os atletas Pedro Barros e Murilo Peres conseguiram uma autorização para andar de skate em alguns cartões postais do arquiteto. E essa aventura virou o mini documentário "Sonhos Concretos: O Skate Encontra Niemeyer".
As gravações foram feitas entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, antes da pandemia do novo coronavírus. A ideia inicial era lançar antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, quando o skate fará a sua estreia no programa, mas a competição foi adiada para 2021 e, com tudo pronto, os produtores decidiram apresentar esse "rolê" dos dois atletas que buscam vagas na Olimpíada em obras de Niemeyer no Rio de Janeiro, em Niterói (RJ), Brasília, São Paulo e Belo Horizonte. Depois das filmagens, todos os espaços passaram por um processo de reparo.
##RECOMENDA##"Falar desse projeto é falar também sobre sonhos. De um mundo em que a gente possa ocupar todos os espaços, sempre com bons propósitos e de uma forma espontânea. A gente precisou de uma união para que isso saísse do papel e se tornasse realidade. E essa união é uma das essências do skate. Eu espero que esse projeto alcance muitas pessoas e leve a nossa mensagem", comentou Pedro Barros, que é amigo de Murilo Peres desde bem pequeno e os dois idealizaram esse projeto inédito. Ambos fazem parte da seleção brasileira de skate e estão disputando vaga da modalidade park para os Jogos de Tóquio-2020.
"A ideia surgiu quando eu e o Pedro estávamos em Brasília. A gente estava passando de carro pelo Eixo Monumental e nós olhávamos aqueles prédios. Eles chamam atenção de qualquer um, ainda mais de skatista. Aí pensamos que seria incrível poder andar de skate neles e fomos atrás do que precisaria fazer para viabilizar isso", explicou Murilo.
O período de captação das imagens foi uma verdadeira aventura porque muitos dos lugares eram de difícil acesso, como tetos de obras arquitetônicas, por exemplo. Mas isso só aumentou a vontade da dupla de colocar o skate para rodar nesses locais. O sinal verde da Fundação Oscar Niemeyer também confirmou que existe uma identidade entre o skate e a arquitetura do brasileiro, que faleceu em 2012 mas deixou um enorme legado na arquitetura mundial.
A interação de Pedro Barros e Murilo Peres nas obras também teve doses de emoção no filme dirigido por Hugo Haddad, com lindas manobras e algumas quedas. As imagens aéreas ajudaram a dar um toque ainda mais épico nas gravações. Em São Paulo, eles andaram de skate na Marquise do Ibirapuera, local que já é de domínio dos praticantes de esporte, na Oca e no Pavilhão da Bienal totalmente vazio, o que dá uma impressão diferente daquele lugar.
Já em Niterói, os dois fizeram manobras no Museu de Arte Contemporânea, obra emblemática de Niemeyer. No Rio de Janeiro passaram também pela Casa das Canoas, local projetado pelo arquiteto em 1951 para ser sua residência. A união do espaço com o meio natural chamou a atenção dos skatistas, que utilizaram inclusive uma grande rocha na área externa da habitação para fazer manobras.
Em Belo Horizonte, os dois foram até a Cidade Administrativa, sede do governo mineiro que foi elaborada por Niemeyer e ficou pronta em fevereiro de 2010. Lá estão o Auditório JK, o Palácio Tiradentes e os Edifícios Minas e Gerais. Entre um passeio e outro em cima do skate pelas obras, a dupla se impressionou com a beleza arquitetônica dos prédios e a criatividade usada nas construções. "Foi memorável poder realizar esse sonho", explicou Pedro Barros.
A volta dos skatistas em Brasília foi marcante também pela possibilidade de desfrutar de espaços que nunca imaginariam estar, como descer de skate a rampa do Palácio do Congresso Nacional e fazer manobras no corrimão em frente à Catedral de Brasília, dois dos projetos que tornaram Oscar Niemeyer famoso. Para Pedro Barros e Murilo Peres, o sonho se tornou realidade. "Se eu fosse um arquiteto e pudesse desenhar obras, faria apenas tudo que fosse skatável, para conseguir andar em tudo. De certa forma, Niemeyer fez isso há muitos anos. São tantas linhas, tantas curvas Parece que ele andava de skate e não sabia", frisou Barros.
"A sensação foi maravilhosa pelo resultado que alcançamos. Esse projeto me deu força nesse momento, para que continue acreditando nos meus sonhos, que acredite em um mundo melhor. A gente se aprofundou na história do Niemeyer e vimos o quanto ele foi inovador", completou Murilo.