O Ouya, console de baixo custo que rodará o sistema Android, conseguiu ajuda para concretizar o projeto com mais de 60 mil pessoas e angariou US$ 8,5 milhões no site de crowfounding Kickstarter. A ideia do console surgiu no dia 10 de julho, com a proposta de rodar o sistema operacional do Google, com jogos gratuitos e preço bem acessível - cerca de US$ 99.
Agora o Ouya acaba firmando-se (com as devidas ressalvas) como o 4º console do mercado de videogames, em breve, concorrendo com grandes nomes como Microsoft, Sony e Nintendo. O projeto, desenvolvido por Yves Behar (do "One Laptop Per Child"), Muffi Ghadiali (da equipe que criou o Kindle, da Amazon) e Ed Fries (o criador do primeiro Xbox) interessou grandes produtoras como Square Enix e Namco Bandai, que prometeram anunciar jogos no lançamento da plataforma, marcado para março de 2013.
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O nome Ouya vem da letra “O” de Openess (abertura em inglês). O resto do nome veio da sonoridade que agradou a equipe.
Características
Rodando uma versão do sistema operacional móvel do Google, o console virá com componentes utilizados geralmente em celular e será feito para utilizar junto a uma TV. O controle do Ouya lembra o do Xbox 360, com quatro botões secundários, quatro gatilhos, um direcional digital e dois analógicos. Ele também virá com uma área sensível ao toque no centro.
No quesito hardware, o aparelho terá com um processador Tegra3 de quatro núcleos, da nVidia (geralmente utilizado em celulares e tablets), 1GB de RAM, 8 GB de armazenamento interno e porta para HDMI, rede e USB. Além disso, terá conectividade Wi-Fi e Bluetooth, tudo num aparelho do tamanho reduzido, nos moldes de um cubo-mágico. Uma plataforma aberta à modificações também será um diferencial do aparelho. Os fabricantes afirmam que o usuário está livre para modificar o dispositivo e criar novos periféricos. Além disso, "rootear" o console e ter maior controle sobre o sistema não irá invalidar a garantia.
Além disso, o Ouya também irá funcionar como uma central multimídia. Vindo com o XBMC, conhecido programa de reprodução de mídia e o TuneIn, o serviço gratuito de streaming vem com mais de 70 mil estações de notícias, esportes e música. Em breve, o console ganhará um site oficial, onde os interessados poderão fazer a compra antecipada do Ouya. Os responsáveis pelo projeto também estão pensando em levar o videogame para às lojas.
Mercado
Dentro do fechado mercado de consoles, o Ouya pode ter despertado desconfiança dos demais, que podem até comparar com investimentos anteriores dessa área, como o Zeebo (console brasileiro criado em 2009 e que finalizou as operações em 2011). Porém, os 8 mil investidores que apoiaram o projeto com a quantia de US$ 1,1 milhão de dólares em menos de um mês de projeto no Kickstarter devem valer um voto de confiança dos demais - inclusive de algumas produtoras de jogos.
Pessoas envolvidas em empreendimentos anteriores parecidos com o Ouya têm questionado o modelo de negócios do projeto. Entre esses, Craig Rothwell, um dos que ajudaram a criar o portátil projeto Pandora, anunciado em 2007 e que depois de vários atrasos é vendido hoje com uma distribuição bem limitada. "Não dá para fazer um console de qualidade e um controle por US$ 99 (...) Nem as linhas de produção da China, com seus funcionários semiescravos, vão conseguir chegar aos US$ 99 com essa especificação", afirmou Rothwell ao site GamesIndustry.
O preço é uma das principais dúvidas em relação ao Ouya. Em entrevista ao site Edge, Ricky Haggett, cofundador da Honeyslug afirmou: "Não tenho certeza se eles conseguirão fazer o protótipo e depois produzir o 'Stradivarius dos controles', mesmo com o montante que eles levantaram".
Outra dificuldade é conseguir produzir quantidade suficiente para difundir o console de maneira sustentável no mercado. Dino Patti, presidente e co-fundador do estúdio dinamarquês Playdead (do game Limbo), questiona: "Isso cria uma situação da galinha e do ovo. As produtoras criarão games para esse dispositivo antes de se tornarem popular? As pessoas comprarão antes de ele ter bons games? E, quando eu digo bons games, não estou me referindo a jogos que já existem para Android sendo colocados numa TV".
Porém, é indiscutível o benefício que o console trará para o mercado de jogos digitais, principalmente independentes. Segundo Breno Carvalho, coordenador do curso de jogos digitais da Unicap, a criação do Ouya é positiva no sentido de proporcionar um ambiente onde vários desenvolvedores possam distribuir conteúdos entre amigos e público em geral mais facilmente.
O aspecto educacional também é uma faceta importante do projeto. "O Ouya irá permitir o desenvolvimento ainda maior para multiplataforma, e proporcionar a criação de projetos transmidiáticos e educativos, e lógico, não esquecendo da diversão, do entretenimento. Será interessante fazer aulas testes de programação e interação, dentro de casa e até na escola, enriquecendo ainda mais a informação para as pessoas", explica Breno.
Um nome importante do mercado de projetos independentes e de baixo custo, David Braben, cofundador da Frontier Developments ("LostWinds") e The Raspberry Pi Foundation afirma que a comunidade é o diferencial de sobrevivênvia de qualquer plataforma. "Qualquer plataforma vai sobreviver ou morrer dependendo do apoio ou comunidade que se forma ao seu redor - isso será a chave. Um problema com modificação e 'hacking' é que resultará numa comunidade fragmentada que é difícil de atender, e poucos vão pagar de fato - mesmo que seja gratuito para jogar. Então, os desenvolvedores podem achar que isso é difícil de sustentar", opina.
Games
Por enquanto, são poucos os jogos confirmados para console, entre eles "Final Fantasy III" e "Human Element", esse último contará em episódios eventos relacionados a um game que ainda será lançado para PC, tablet e consoles da próxima geração. Imagens de divulgação também sugerem títulos como Canabalt, Dead Trigger, Minecraft, Samurai II: Vengeance e Shadowngun no console.
Mesmo sendo uma plataforma aberta e root (ou seja, mais propensa à rodar aplicativos pirateados), todos os conteúdos do Ouya precisarão ter os pagamentos autenticados pela própria companhia, num sistema semelhante ao que impediu que apps de lojas oficiais como App Store fossem distribuidos livremente em sites de compartilhamento de arquivos.
Além disso, o Ouya terá suporte ao OnLive, serviço de streaming que já possui um longo catálogo de games. Isso irá aumentar a quantidade de títulos para o console, além de oferecer aos jogadores oportunidades de usar o sistema de armazenamento remoto e poder testar demonstrações de jogos (Darksiders II foi utilizado como exemplo no anúncio). Nesse serviço o principal diferencial é a conexão de internet do usuário e não as configurações do console ou PC, já que o game é rodado na plataforma do OnLive.
Dois títulos de peso prometem chamar a atenção no projeto. A Square Enix, produtora da série de RPG Final Fantasy, está desenvolvendo uma versão de Final Fantasy III de 2006 para o Ouya. A edição será equivalente ao remake para Nitendo DS, com melhorias nos gráficos.
O jogo original foi lançado para Super Nitendo e conta a história de Luneth, um orfão destinado a salvar o mundo com todos os desafios de prache da série (sendo o primeiro a apresentar o sistema de troca de classes, o game também teve versão para Apple, PSP e celulares Android).
Outro título que chamará atenção é o Human Element, que terá uma espécie de adiantamento no Android. O game está em desenvolvimento para PC, tablets e consoles da próxima geração. No Ouya ganhará um prelúdio em episódios. Esse será o primeiro jogo exclusivo da plataforma Ouya.
No enredo do game, jogadores precisam sobreviver a um apocalipse zumbi, escolhendo entre três cenários possíveis e três tipos de personagem: um jogador sozinho, acompanhado de um parceiro adulto e, por último, acompanhado por uma criança.