Um ano e cinco meses após assumir o segundo mandato de presidente da República, Dilma Rousseff (PT) foi afastada do comando do país nesta quinta-feira (12). A saída da petista é resultado da abertura do inquérito do processo de impeachment aprovada no Senado por 55 votos favoráveis e 22 contra.
O pedido, em tese, é motivado pelas famosas pedaladas fiscais e a edição de decretos para créditos suplementares sem a autorização do Congresso Nacional. A culminância do processo, no entanto, é mais profunda e contem, em si, uma série de ações políticas da presidente ou até mesmo a falta delas.
Conhecida por ter um perfil mais rígido e impopular ao antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desde outubro de 2014, quando conquistou a reeleição, Dilma adotou uma blindagem diante da base no Congresso Nacional se fechando ao diálogo com as bancadas e desencadeando assim a ampliação das crises econômica e política já instauradas no país.
A postura da presidente, na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ernani Carvalho, passou a ter mais ênfase desde que o PT decidiu bancar uma candidatura à presidência da Câmara Federal, na tentativa de desbancar o PMDB.
“A incapacidade da presidente de dialogar com Congresso ficou latente desde a disputa pela Câmara dos Deputados [a presidência], onde ela decidiu não negociar e eleger o Arlindo Chinaglia contra Eduardo Cunha. Tumultuando mais ainda a relação dela com o Legislativo, ela construiu um inimigo político número um: o Eduardo Cunha”, observou o estudioso.
O pecado da presidente, segundo ele, foi ainda maior quando ela tentou no primeiro mandato tomar as mesmas decisões econômicas da gestão de Lula, com o cenário adverso, e no segundo mandato com o desejo latente de desvincular a gestão federal executada por ela da fluência política do seu padrinho.
“Mas, apesar disso, por várias vezes Lula foi convocado por partidos aliados para corrigir essas ausências de Dilma na trajetória de diálogo entre Congresso e Executivo. A presidente insistia em seguir suas próprias escolhas e tomava posições sem articular com as bancadas, enviava projetos sem saber da viabilidade deles”, pontuou. “A presidente vive hoje o que chamamos na ciência política de tempestade perfeita, fruto das políticas adotadas em 13 anos de gestão petista”, acrescentou.
Desde a redemocratização, Dilma Rousseff é a segunda presidente a ser afastada do cargo para um julgamento por crime de responsabilidade. O primeiro, Fernando Collor, participou, inclusive, da votação desta quarta. Agora senador pelo PTC, Collor foi a favor da admissibilidade do processo.
Inicialmente Dilma deixa as funções de presidente por 180 dias ou até acontecer o julgamento final, entre setembro e novembro, que definirá se ela é culpada ou inocente. Caso seja condenada, Dilma perde o mandato e fica inelegível por oito anos. Com isso, o vice-presidente Michel Temer é oficializado como presidente em exercício do país.