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O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou na noite desta terça-feira (5) que o decreto de imobilidade dos cidadãos (toque de recolher) ficou sem efeito depois que mais de mil peruanos se manifestaram em Lima desobedecendo a ordem de ficar em casa. A medida deveria supostamente parar a violência na capital após protestos anteriores contra o aumento dos preços dos combustíveis e alimentos.

Antes mesmo da decisão, panelaços foram ouvidos nos bairros mais ricos da capital. Centenas de pessoas com camisas da seleção peruana tomaram as ruas para protestar contra Castillo. No começo da noite, eles se dirigiam para a Plaza San Martín, tradicional ponto de protestos na capital.

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Segundo a conta oficial da Conmebol no Twitter, a partida entre o Sporting Cristal e o Flamengo que estava prevista para esta noite -- e chegou a ser suspensa -- ocorrerá, mas com previsão de início às 22h (hora de Brasília). O jogo pela Libertadores estava marcado antes para às 21h30 (hora de Brasília).

Durante toda esta terça-feira, a capital do Peru e seu principal porto estiveram sob um toque de recolher, com soldados armados e policiais mobilizados para aplicar a medida. As ações foram denunciadas pela oposição como ilegais e marcaram a primeira vez desde o governo de Alberto Fujimori que as autoridades peruanas ordenaram que as pessoas ficassem em casa para controlar os protestos.

Ruas desertas

Nesta terça-feira, as principais rodovias e mercados de rua de Lima estavam quase desertos, e as principais linhas de ônibus e transporte público estavam fora de serviço. O governo disse que as pessoas poderiam deixar suas casas apenas em casos de emergência médica ou necessidade de comprar remédios ou alimentos.

Caminhoneiros e outros trabalhadores do transporte protestaram e entraram em greve pelos preços dos combustíveis e alimentos, bloqueando algumas rodovias importantes. Os protestos na semana passada resultaram em quatro mortes e na queima de postos de pedágio e saques em pequena escala.

A medida gerou imediatamente uma rejeição majoritária, entre eles da presidente do Congresso, a opositora María del Carmen Alva, que afirmou no Twitter que Castillo "não pode impedir o funcionamento do Congresso" de acordo com a Constituição. Segundo Alva, a Assembleia Legislativa "continuaria com a agenda marcada para hoje".

Rumores

A decisão do executivo foi tomada em meio a uma onda de rumores nas redes sociais sobre possíveis manifestações e saques em Lima nesta terça-feira, após a paralisação que as transportadoras realizam há uma semana.

Embora o Executivo peruano tenha decidido isentar a gasolina e o diesel do imposto de consumo seletivo até junho, Castillo justificou o toque de recolher devido aos "atos de violência que alguns grupos quiseram criar".

O presidente fez "um apelo à calma, à serenidade" e esclareceu que o protesto social é um direito constitucional, mas que deve ser feito "no quadro da lei, respeitando a integridade das pessoas, bem como o patrimônio público e privado" .

Defensoria do Peru apresenta ação na Justiça

A Defensoria do Peru apresentou nesta terça-feira um recurso de "habeas corpus" para que a Justiça revogasse o toque de recolher. A ação foi movida no Superior Tribunal de Justiça de Lima pelo defensor Walter Gutiérrez contra Castillo e diversos ministros.

"Solicitamos que a ação seja declarada procedente e, portanto, que seja anulada a imobilização social obrigatória", diz o documento.

O recurso foi proferido pouco depois da Defensoria de Justiça emitir um comunicado em que exigia ao Executivo "cessação imediata" do despacho por considerá-lo "inconstitucional". Castillo anunciou o toque de recolher minutos antes da meia-noite de segunda-feira, 4. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira que quaisquer atritos na relação com o presidente peruano, o esquerdista Pedro Castillo, estariam superados. A declaração foi feita pouco antes do encontro com o líder do país vizinho, em Porto Velho, e após o próprio Bolsonaro criticar a eleição do Peru, no ano passado.

Em julho de 2021, quando a eleição de Castillo era iminente, Bolsonaro afirmou em um evento evangélico: "perdemos o Peru". O presidente peruano é de esquerda na economia, mas conservador nos costumes, e considerado autoritário pela oposição do país vizinho.

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"Queremos América do Sul livre, liberdade de expressão, de imprensa. Logicamente que esse encontro tem a ver com isso, só podemos ter boa relação se democracia imperar", disse Bolsonaro antes do encontro. Questionado se a relação já estaria normalizada, o presidente respondeu "Tudo superado. Todos os países são importantes para nós aqui na América do Sul".

O chefe do Executivo ainda afirmou que não discute eleições de outros países, mesmo após se posicionar sobre diferentes pleitos pelo mundo. Ele chegou a apoiar abertamente a reeleição do ex-presidente americano Donald Trump, derrotado pelo eleito Joe Biden em 2020.

"Política cada um cuida do seu pedaço. Temos interesse e povo é responsável por suas escolhas. Não vou discutir se povo votou certo ou errado em qualquer lugar do mundo. Temos experiência de alguns países aqui na América do sul, parece que não deu certo. Parece que é sinal de alerta", disse o Bolsonaro.

Agenda

Bolsonaro estava reunido por volta das 13h com Castillo no Palácio Rio Madeira, sede do governo de Rondônia. "Vamos tratar de questões de defesa, crimes transnacionais, comércios, cooperações das mais variadas possíveis. O espírito de um bom relacionamento. Os dois países têm muito a ganhar com isso", declarou. "A expectativa é que seja um encontro bastante produtivo. O Brasil está bem no mundo todo".

De acordo com o chefe do Executivo, uma rodovia para dar acesso do Brasil ao Oceano Pacífico também estará em pauta do encontro.

Críticas ao PT

Para dar continuidade à estratégia de polarizar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em ano eleitoral, Jair Bolsonaro voltou a criticar as gestões petistas pelo financiamento de obras em Cuba e na Venezuela.

"Parabéns ao PT pelo metrô de Caracas e pelo porto de Mariel", ironizou o presidente em declaração à imprensa antes de se encontrar com Pedro Castillo.

Bolsonaro ainda voltou a dizer que não vai rever a reforma trabalhista aprovada em 2017 no Brasil. Ele já havia afirmado isso na quarta-feira, na cerimônia de abertura dos trabalhos do ano legislativo, no Congresso. O PT defende a anulação da reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer (MDB) caso Lula seja eleito presidente.

Em outro aceno à sua base eleitoral, o chefe o Executivo também defendeu a diminuição de multas no campo. "Por que o agronegócio gosta da gente? Com Ricardo Salles (ex-ministro do Meio Ambiente), diminuímos a multagem (sic) no campo. Não é mais política de Estado", declarou. Em seguida, Bolsonaro a realização de novos contratos de concessão de rodovias no País.

Os peruanos vão às urnas, neste domingo (6), votar entre a direitista Keiko Fujimori e o esquerdista Pedro Castillo, dois candidatos à Presidência com projetos antagônicos, com o dilema de escolher "o mal menor".

Os mais de 11.000 centros de votação abriram as portas às 07h00 (9h00 no horário de Brasília) para receber durante 12 horas - quatro a mais do que o habitual devido à pandemia de coronavírus - os votos de 25 milhões de cidadãos, de acordo com o gabinete eleitoral nacional.

O professor de escola rural e a filha do ex-presidente detido Alberto Fujimori chegam tecnicamente empatados para esta votação, depois de uma campanha marcada pela incerteza e pelo agravamento dos medos.

Ambos os candidatos passaram as últimas horas com suas famílias. Na quinta-feira, encerraram suas campanhas em Lima em comícios com centenas de partidários aglomerados, apesar do agravamento da pandemia no Peru, que esta semana teve a maior taxa de mortalidade do mundo.

Keiko, de 46 anos, defende o livre mercado, enquanto Castillo, de 51, apoia um papel econômico ativo do Estado.

A candidata, que esteve 16 meses em prisão preventiva por causa do escândalo de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht, afirma que a vitória do adversário transformaria o país andino em uma espécie de Coreia do Norte ou de Venezuela, mas com ela avançaria para o "primeiro mundo".

As últimas pesquisas mostram que os dois estão virtualmente empatados, com 18% de indecisos.

O economista e ex-candidato presidencial Hernando de Soto assegurou que nenhum dos candidatos esclareceu se o Peru "vai ser uma cabeça de ponte para um capitalismo popular e renovado ou se vai ser uma cabeça de ponte para o comunismo".

Mas o debate no Peru não só tem a ver com uma luta entre a direita e a esquerda, mas também entre a capital e as províncias, entre o status quo e a mudança.

- "Exacerbação de medos" -

Keiko, com seu reduto eleitoral em Lima, carrega o polêmico legado de seu pai, cuja década no poder (1990-2000) foi marcada por autoritarismo, abusos dos direitos humanos e corrupção. Além disso, ela é criticada por ter alimentado a instabilidade que o Peru vive desde 2016, que levou o país a ter três presidentes em cinco dias em novembro de 2020.

Castillo, com reduto no "Peru profundo", nas províncias do interior, propõe convocar uma Assembleia Constituinte, enquanto Keiko defende a Carta Magna vigente, promulgada por seu pai em 1993 e que garante o liberalismo econômico.

Seus adversários tentam vincular Castillo ao braço político do Sendero Luminoso, mas ele lembra que como membro das "rondas camponesas" armadas resistiu às incursões da guerrilha maoísta em sua Cajamarca (norte) natal nos anos do conflito armado interno (1980-2000).

"A utilização da estratégia de exacerbação dos medos do contrário marcou muito fortemente este período" eleitoral, afirma Smith, acadêmica da Universidade Central do Chile.

Os dois candidatos coincidem em alguns temas: são antiaborto, defendem a família tradicional, não dão importância aos direitos da comunidade LGTBI e rejeitam a abordagem de gênero na educação.

- "Um modelo ou outro" -

A tensão da campanha aumentou há uma semana após o massacre de 16 pessoas em dois bares em um vale de cultivo de coca, atribuído a remanescentes do Sendero Luminoso, o que fez evocar os anos da violência armada.

"A sociedade peruana luta por estabelecer um modelo ou outro, o modelo que conhecemos em que tudo é regulado pelo mercado, e do outro lado vem um desejo porque se estabelece um novo Estado peruano", diz à AFP o analista Hugo Otero, que foi assessor do ex-presidente Alan García.

"Não acho que essa luta feroz acabe [no domingo]. O [dia] 6 de junho [data do segundo turno] é uma etapa desse processo, que vai continuar", acrescenta.

- Um terço de pobres -

Quem vencer as eleições enfrentará uma situação especialmente complicada pela covid-19, que deixou 1,9 milhão de casos e 69.000 mortes no Peru.

Dois milhões de peruanos perderam seus empregos durante a pandemia e três milhões se tornaram pobres, e por isso um teço dos 33 milhões de habitantes vive na pobreza, segundo dados oficiais.

O vencedor não terá, ainda, um Congresso aliado para gerenciar esta emergência.

Mais de 25 milhões de cidadãos são convocados a comparecer às urnas em eleições com voto obrigatório. Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos por volta da meia-noite local de domingo (02h de Brasília).

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