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Ouvidos pela CPI da Covid nesta quinta-feira (24), Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil e representante do Movimento Alerta, e o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (RS), apresentaram números sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil a partir de suas pesquisas que dão um retrato da resposta do país desde março de 2020, quando foi registrada a primeira morte pelo coronavírus. Ao comentar os resultados, os pesquisadores deixaram claro que a população indígena, a população negra (pretos e pardos), e a população pobre são as mais afetadas pela pandemia.

Durante o testemunho, dado na condição de convidado, Hallal também mostrou dados do seu grupo coordenado e que mostram que o Brasil poderia ter poupado quatro em cada cinco das mortes ocorridas por Covid nacionalmente. O número também pode ser lido da seguinte forma: 400 mil mortes evitadas, se o país tivesse conseguido, ao menos, entrar para a média mundial.

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Para os especialistas, o posicionamento anticiência e a falta de comunicação unificada por parte do Ministério da Saúde foram decisivos para que o Brasil chegasse à triste situação atual. Atualmente, o Brasil é o quarto país em número absoluto de doses aplicadas, o 78º que mais aplicou primeiras doses e o 85º que mais aplicou segundas doses ou primeiras doses da vacina Janssen. O Brasil também é, geograficamente, o segundo pior da América do Sul no índice de mortalidade, atrás apenas do Peru.

Entre os dez países mais populosos do mundo, a nação brasileira, novamente, ocupa a pior posição. O mesmo se repete entre os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Entenda os dados por pesquisa:

Grupo Alerta de Jurema Werneck

— A pandemia provocou, em um ano (março de 2020 a março de 2021), 305 mil mortes acima do esperado no Brasil. Essas mortes ocorreram direta ou indiretamente por Covid-19 (99% de confiança);

— Se medidas eficientes de distanciamento social e controle tivessem sido adotadas, haveria uma redução de 40% no potencial de transmissão do vírus;

— Com política efetiva de controle baseada em ações não farmacológicas (uso de máscara, álcool em gel, distanciamento e isolamento, entre outros) 120 mil vidas poderiam ter sido poupadas no primeiro ano da pandemia no Brasil;

— Menos de 14% da população brasileira fez testes de diagnóstico para a Covid-19 até novembro de 2020. Pessoas com renda maior do que quatro salários mínimos consumiram quatro vezes mais testes do que pessoas que receberam menos de meio salário mínimo;

— Desigualdades estruturais tiveram influência sobre as altas taxas de mortalidade, atingindo principalmente negros e indígenas, pessoas com baixa renda e baixa escolaridade;

— 20.642 pessoas morreram em unidades de atendimento pré-hospitalares, sendo 20.205 em unidades públicas;

— Pessoas mais pobres tiveram o dobro do nível de infecções;

— População negra (pretos e pardos) tiveram o dobro da infecção dos brancos, enquanto a população indígena teve cinco vezes mais casos de infecção do que a população branca;

—Durante a fase três do estudo, no final de junho de 2020, o índice apontava 7,8% para os indígenas, enquanto 1,7% para brancos.

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Estudo Epicovid de Pedro Hallal

— Brasil tem 2,7% da população mundial e concentra quase 13% das mortes no mundo; Nesta quinta-feira (24), 33% das mortes mundiais por covid-19 aconteceram no Brasil;

— 4 de cada 5 mortes teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média mundial de óbitos pela covid-19, ou seja, 400 mil mortes não teriam ocorrido. No país, 2.345 pessoas morreram pelo coronavírus para cada um milhão de habitantes; média mundial é de 494 pessoas;

— Em março de 2020 havia seis vezes mais casos de contaminados por covid-19 que números oficiais. Hoje, seriam de 3 a 4 vezes mais que as estatísticas oficiais;

— Em comparação com os dez países com maior população, o Brasil tem o pior resultado de mortes por milhão de habitantes, assim como na comparação dos países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul);

— Na América do Sul, Brasil é o segundo país com mais mortalidade de covid-19 por milhão de pessoas, atrás do Peru;

— Em todas as fases do Epicovid, estudo realizado em 133 cidades, os mais pobres tiveram o dobro de risco de infecção na comparação com pessoas mais ricas;

— Na terceira fase (21 a 24 de junho), 7,8% dos indígenas tiveram contato com o coronavírus, contra 1,7% dos brancos, 4,5% dos pardos, 3,6% dos negros e 3,6% dos amarelos;

— Com relação à vacinação, o Brasil é o 4º em número absoluto em doses aplicadas, o 78º país que mais vacinou com uma dose e o 85º com a população imunizada;

— A demora em compras de vacinas anticovid teria causado entre 95,5 mil e 145 mil mortes.

Censura

À CPI, Hallal afirmou ainda que um recorte étnico apresentado através dos resultados do Epicovid-19 foi censurado em evento no Palácio do Planalto, em junho de 2020. Na apresentação, seria exibido o alto grau de contágio dos indígenas do país, além do índice de mortalidade nessa população, junta à população negra (considerando pretos e pardos), e à população pobre. O slide foi retirado arbitrariamente do material. Segundo Hallal, a atitude pode ter sido do ex-secretário-executivo Elcio Franco. 

*Dados das pesquisas via Agência Senado

O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), afirmou nesta quinta-feira (24) à CPI da Covid que um recorte étnico apresentado através dos resultados do Epicovid-19 foi censurado em evento no Palácio do Planalto, em junho de 2020. Na apresentação, seria exibido o alto grau de contágio dos indígenas do país, além do índice de mortalidade nessa população, junta à população negra (considerando pretos e pardos), e à população pobre. O slide foi retirado arbitrariamente do material. Segundo Hallal, a atitude pode ter sido do ex-secretário-executivo Elcio Franco.

Hallal coordenou o Epicovid, programa financiado pelo Ministério da Saúde que tinha como meta monitorar o avanço do novo coronavírus no Brasil. O projeto foi a campo entre maio e junho do ano passado, e acompanhou moradores de 133 cidades. Segundo artigo publicado na revista científica The Lancet, considerando os 300 melhores projetos ativos de acompanhamento, o Epicovid ficou entre os oito que atingiram nota máxima, sendo o estudo de maior credibilidade em vigor no país, à época.

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Sem aviso prévio ou justificativa técnica, o Ministério da Saúde decidiu descontinuar o monitoramento. Desde junho do ano passado até março de 2021, o Brasil ficou sem esse tipo de mapeamento epidemiológico.

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O epidemiologista contou que o estudo descobriu que o número de indígenas infectados em junho de 2020 era cinco vezes maior do que a quantidade de infectados na população branca. "Pegando a fase 3 do estudo, [vimos que] 7,8% dos índios já tinham tido contato com o vírus, e entre os brancos esse percentual era 1,7%. Esse abismo de diferença foi o que o Epicovid mostrou", disse Hallal.

"Esse slide que apresentava a diferença entre os grupos étnicos foi censurado na coletiva de imprensa do Palácio do Planalto na qual apresentei os resultados dessa pesquisa. Faltando 15 minutos, fui avisado pela assessoria de comunicação do Planalto de que o slide tinha sido retirado da apresentação”, continuou o professor da Ufpel.

Questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) se sabia dizer de quem partiu a censura, Hallal respondeu que não poderia ter certeza que a ordem tenha saído de pessoas do evento ou de uma autoridade superior.

"Mas quem estava lidando com a questão da coletiva e participou dela foi o secretário executivo do ministério à época, Elcio Franco, que acho que até esteve aqui na CPI. Então, antes que se tenha outra informação, foi dele a decisão de que aquele slide mostrando a desigualdade étnico-racial não poderia ser apresentada no Palácio do Planalto".

A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira (24) o epidemiologista, pesquisador e professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pedro Hallal. O especialista é coordenador do estudo Epicovid-19, que estuda a incidência do coronavírus no Estado, e que foi descontinuado ainda em 2020, após intervenção do Ministério da Saúde. Durante o testemunho, dado na condição de convidado, Hallal mostrou dados obtidos através da pesquisa e que mostram que o Brasil poderia ter poupado quatro em cada cinco das mortes ocorridas por Covid nacionalmente. O número também pode ser lido da seguinte forma: 400 mil mortes evitadas, se o país tivesse conseguido, ao menos, entrar para a média mundial.

“O número de casos não é uma estimativa confiável. O Epicovid mostrou que haviam seis vezes mais casos do que o número oficial. A política de testagem é o que determina o número de casos. Isso é usado no mundo todo. Não há artigos científicos comparando a taxa de letalidade em localidades, mas a taxa de mortalidade. O Brasil tem 2,7% da população mundial e desde o começo da pandemia concentra cerca de 13% das mortes de Covid no mundo. Uma em cada três mortes por Covid foi no mundo foi no Brasil. Quatro em cada cinco mortes por Covid no Brasil estão em excesso, considerando o tamanho da população. Morreram 2.345 pessoas para cada um milhão de habitantes. Se estivéssemos na média mundial, teríamos poupado 400 mil vidas”, informou Hallal, enquanto exibia slides apresentando os dados.

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As mortes em excesso, segundo explicou a outra depoente, Jurema Werneck, executiva da Anistia Internacional, pertencem ao conceito de excesso que foge ao padrão considerado normal de mortalidade no país. Na presença de um evento mais grave na pandemia, há uma fuga dessa curva. O excesso mencionado foi calculado somente contemplando as primeiras 52 semanas epidemiológicas. Ele considera pessoas que morreram por Covid-19, diretamente, e por outras doenças naturais e estados mórbidos, não contabilizando mortes por outras razões, como violência, acidentes ou suicídios.

O cientista também mencionou “sete pecados capitais” na condução da pandemia por parte do Governo Federal. São eles a pouca testagem e rastreamento de contágio e isolamento; a demora para comprar vacinas e o desestímulo à vacinação; gestão de tratamento ineficaz; ausência de liderança do Ministério e de um comitê de crise; o desincentivo ao uso de máscara; abordagem clínica versus epidemiológica; falta de comunicação unificada.

Sobre os dois últimos, o pesquisador se estende. “A abordagem clínica foi usada para curar cada pessoa acometida pelo vírus, para comprar respiradores, garantir kit intubação e ampliar leitos, mas a pandemia precisa ser vencida, é preciso cessar o alcance do vírus. Faltou comunicação unificada, estimulando a população a usar máscaras e se proteger, o que não foi feito”, explicou o coordenador do Epicovid. Hallal acredita que a postura anti-ciência do Governo Federal foi decisiva para os resultados ruins da gestão.

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