A filiação da deputada estadual Raquel Lyra ao PSDB com a condição de ser ela a candidata da legenda na disputa pelo comando da Prefeitura de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, não foi bem recebida pelo presidente municipal da legenda e até então pré-candidato a prefeito, Raffiê Dellon. Insatisfeito, o dirigente anunciou, nesta segunda-feira (21), sua desfiliação da sigla e detalhou, em nota, sua postura sobre o assunto.
Acusando o partido de se transformar em "asilo político da velha política", Raffiê disse que a cúpula estadual do PSDB agiu como Judas - discípulo que entregará Jesus Cristo para a morte, segundo a Bíblia - golpeando o diretório municipal "sem o mínimo de diálogo" sobre a filiação da deputada e atropelando a pré-candidatura já firmada. "Nos piores e mais amargos momentos do PSDB, eu estava lá, segurando a bandeira e defendendo com unhas e dentes aquilo que eu acreditava. Se existisse uma relação de dívida entre filiado e partido, não teria saldo que coubesse para mim. (...) Estaria indo contra os meus valores se concordasse ou fosse conivente com um projeto exclusivamente pessoal, com ausência enorme de discursão da Cidade, de Ideias e de Coletividade", observa a nota.
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Para ele, a candidatura de Raquel é "natimorta". "Ora, se não existiu diálogo com o próprio partido, na esfera local, como pleitear dialogar ou governar uma cidade com quase 400 mil habitantes? Eu aprendi, não precisando de nenhum apadrinhamento político, que espaço político não se doa, se conquista. Desperdiçaram todo um trabalho coletivo para a imposição, errônea, de uma pré-candidatura majoritária, além de impositiva, natimorta", salienta no texto.
Veja o texto na íntegra:
O que me faz ter entusiasmo de todos os dias fazer Política é ser contrário a essa busca do poder pelo poder, do personalismo puro, algo que deveria ter no mínimo dois limites: o do respeito e o da coerência. É nesse aspecto que lamento, profundamente, a transformação do PSDB de Caruaru em Asilo Político da Velha Política.
Não distante, nas vésperas da Semana Santa, onde temos as figuras de Judas, de Barrabás, não haveria momento mais propício para golpearem, sem o mínimo de diálogo dos postulantes a filiação partidária ao PSDB para com o Diretório Municipal, atropelando uma história de 10 anos de pura militância e doação, uma pré-candidatura lançada pelo próprio PSDB Estadual e um trabalho todo construído por várias mãos.
Ora, se não existiu diálogo com o próprio partido, na esfera local, como pleitear dialogar ou governar uma cidade com quase 400 mil habitantes? Eu aprendi, não precisando de nenhum apadrinhamento político, que espaço político não se doa, se conquista. Desperdiçaram todo um trabalho coletivo para a imposição, errônea, de uma pré-candidatura majoritária, além de impositiva, natimorta.
O PSDB que comecei a militar há 10 anos atrás, com 14 anos de idade, não era esse. Nesse partido fui Presidente Municipal da Juventude do PSDB, Presidente Estadual da Juventude do PSDB, Vice-Presidente Nacional da JPSDB e candidato, em 2013, a Presidente Nacional da JPSDB. Sozinho, sem apoio algum da legenda em Pernambuco, ou do político X ou Y. Perdi de modo eleitoral por apenas um voto, mas, politicamente ganhei.
Foi no PSDB também que recebemos Aécio Neves em Caruaru pela primeira vez, no início de 2014, onde poucos o conheciam ou queriam o prestigiar, eu estava lá, organizando e planejando toda a recepção. Foi aqui também que fizemos o único comitê presidencial do PSDB em 2014, onde ninguém queria se quer falar do 45, de Aécio Neves, eu estava lá, coordenando, me doando, sem recíproca alguma, mas fazendo por que eu acreditava.
Nos piores e mais amargos momentos do PSDB, eu estava lá, segurando a bandeira e defendendo com unhas e dentes aquilo que eu acreditava. Se existisse uma relação de dívida entre filiado e partido, não teria saldo que coubesse para mim. Escutando há pouco Beth Carvalho, ela me dizia: “Lhe pagaram com traição a quem sempre lhe deu a mão”. Que remete a própria leitura do livro bíblico de Timóteo: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”. Estaria indo contra os meus valores se concordasse ou fosse conivente com um projeto exclusivamente pessoal, com ausência enorme de discursão da Cidade, de Ideias e de Coletividade.
Farei Política até o fim da minha vida por que eu acredito que essa é a arte de transformar a vida das pessoas, da sociedade, é nesse raciocínio que o dia que eu trocar a minha coerência e os meus princípios por caprichos partidários eleitorais, eu deixo de viver. Não se pode destruir com os pés o que foi feito pelas mãos. Saio do PSDB para dar sequência em continuar quebrando paradigmas, lutando a favor dessa Cidade que tanto amo e que escolhi pra viver, que é, parafraseando Nelson Barbalho, o País de Caruaru.
Raffiê Dellon
Presidente Eleito do Diretório Municipal do PSDB de Caruaru