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Um caminhão da Prefeitura de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife (RMR), tombou em barreira e atingiu uma casa no bairro de Cruz de Rebouças na manhã desta terça-feira (18). Três pessoas foram socorridas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro.

De acordo com a prefeitura, o veículo estava carregado de areia. O material, da Secretaria de Cidades do município, estava sendo levado para moradores de área de risco de Cruz de Rebouças.

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Parte da barreira teria cedido quando o caminhão passava no local. As três vítimas são servidores da Secretaria de Cidades. Elas foram socorridas com ferimentos leves. Não houve feridos na casa atingida, que teve parte da parede derrubada. Representantes da prefeitura estão no local para prestar assistência.

 

Março de 2015, por volta das 18h30. A estudante Maria Eduarda Barbosa, de 22 anos, vinha caminhando da Rua dos Remédios até a estação da Abolição do BRT, na Avenida Caxangá. Tão distraída, ouvindo música no celular, ela mal percebeu a aproximação de um rapaz que tentou puxar seu aparelho telefônico, ali na praça inacabada do Túnel da Abolição. Eduarda segurou o celular e saiu correndo. Ela percebeu que outro rapaz em uma bicicleta começou a segui-la. A estudante avistou um guarda da CTTU e se aproximou, o que espantou os suspeitos. 

Junho de 2016, por volta das 18h30. A fotógrafa Ana Lira, de 38 anos, vinha da Rua Real da Torre com destino a uma rua no bairro do Prado, localizada próxima à casa de eventos Baile Perfumado, precisando cortar a praça inacabada acima do Túnel da Abolição. No cruzamento com a Avenida Caxangá, ela notou quatro mulheres apreensivas. Ao abordá-las, soube que um rapaz em uma bicicleta havia assaltado aquele grupo de mulheres dias atrás. Ana só continuou o trajeto quando o homem deixou o local. Poucos metros depois, ela foi abordada por uma outra pessoa, também em uma bicicleta. Conseguiu convencê-lo de que a mochila não tinha nada de valor. O rapaz desistiu do assalto e foi embora tranquilamente, inclusive esperando o semáforo ao lado abrir.

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Mais de um ano separam as duas ocorrências. Há pelo menos um ano e três meses, o entorno do Túnel da Abolição virou um lugar inseguro de se transitar. Mas sabe-se que, na verdade, é muito mais tempo: desde que as intervenções da obra do túnel começaram a mudar aquele local.

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A Secretaria de Cidades de Pernambuco comemora o aumento da capacidade viária do cruzamento da Rua Benfica com a Rua Real da Torre. Com a inauguração do túnel, a capacidade deve estar em torno de 8.250 veículos por hora, longe dos 4.260 de anteriormente. Segundo a pasta, o túnel vem cumprindo sua missão principal que é “proporcionar a melhoria considerável da velocidade média do tráfego misto e do corredor de transporte da Avenida Caxangá”. 

Para que o projeto seja completamente entregue - o que estava previsto para ocorrer em janeiro de 2014 - ainda faltam entregar o elevador que liga o túnel à praça, acabamento da escada, a própria praça e o acesso ao Museu da Abolição; todas consideradas obras de urbanização. O problema é que o planejamento urbano que privilegia a entrega incompleta de uma obra para aumentar a fluidez dos carros e deixa a urbanização para segundo plano tem, aparentemente, criado mais uma região do medo no Recife, deixando as pessoas que frequentam aqueles espaços traumatizadas.

Tanto a estudante Maria Eduarda quanto a fotógrafa Ana Lira tiveram suas vidas afetadas pelas abordagens sofridas. Desde outubro de 2015, Eduarda precisa ir semanalmente a uma consulta em um prédio da Rua dos Remédios. Ela não utiliza mais o BRT, para não ter que ir andando do final da Caxangá até o endereço da consulta. Eduarda prefere pegar um ônibus convencional, de viagem mais demorada, e descer na Rua Benfica, que fica mais próximo. “Eu tenho muito medo do que aconteceu antes. A parada que eu desço é perigosa também mas eu evito passar pela praça”, conta a estudante. 

Dias depois do ocorrido na área do Túnel da Abolição, a fotógrafa Ana Lira pretendia imprimir um portfólio com uma amiga em Setúbal, na Zona Sul do Recife. “Na hora de sair, desisti porque ia ter que sair com meu equipamento e fiquei com medo de ser assaltada. Pedi para ela esperar eu colocas as fotos no Dropbox. É como se a cidade passasse a ser uma preocupação para você e isso é uma questão de planejamento urbano”. 

Efeitos diretos e indiretos da insegurança

Quem é obrigado a conviver com aquela área está sempre com a sensação de vulnerabilidade. É o caso do professor Paulo Alexandre, que trabalha na Escola Estadual Joaquim Távora, na Rua Real da Torre, bem próximo da obra. “Eu passo correndo”, ele confessa e continua: “E se vem uma pessoa no sentido contrário eu já acho que vou ser assaltado. Semana passada, uma funcionária da escola foi assaltada aqui bem perto”. O professor diz que não vê policiamento em momento algum e que as pessoas marcam de ir embora da escola juntas para não encarar o caminho sozinhas. 

À noite, quando os comércios próximos fecham, a escuridão predomina no local. A praça não é iluminada e o entorno é escuro e deserto. Para as obras, o governo decretou a desapropriação de 13 imóveis. Casas foram retiradas, assim como uma unidade da Igreja Assembleia de Deus. O transitar de pessoas foi drasticamente reduzido.

Em janeiro deste ano, a estudante Flávia Banastor, na época estagiária do Museu da Abolição – localizado ao lado do túnel -, chegou a assinar um abaixo-assinado que denunciava a onda de assaltos no entorno da obra. “Foi uma iniciativa dos próprios comerciantes da área”, ela lembra.

A questão da escuridão no local é agravada também porque o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) exigiu, como contrapartida da obra, que a fiação do museu fosse embutida, já que se trata de um prédio tombado desde a década de 60. A fiação até foi embutida, mas os postes específicos para este tipo de instalação não foram colocados. 

O Museu da Abolição, importante na difusão dos valores da cultura afro-descendente, é um dos que mais sofre com a obra. O embutimento da fiação, por exemplo, ainda mexeu com a rede de esgoto do local. De acordo com a diretora do museu, Elisabete Assis, os funcionários sentem um mau cheiro desde então e eles não sabem onde está a caixa de esgoto atualmente. 

Ainda de acordo com Assis, houve uma diminuição de 60% do público escolar porque o acesso ao prédio foi perdido – ou seja, os motoristas não conseguem entrar no prédio sem ter que entrar na contramão. “Além disso, tem a questão do patrimônio. Um caminhão não pode entrar aqui, o transporte de uma obra tem que ser feito na rua”, relata a diretora. Assis também tem ouvido dos funcionários que o número de assaltos cresceu vertiginosamente. 

O Túnel da Abolição faz parte do pacote de obras do Corredor Leste-Oeste, que está com as obras paralisadas. Em 2015, o contrato com o consórcio Mendes Jr/Servix foi desfeito por abandono das obras e quebras de contrato. A empresa projetista Policonsult foi contratada para fazer o levantamento do que falta ser concluído.

Segundo a Secretaria de Cidades, com base no levantamento, será elaborado o Termo de Referência que norteará o novo edital de licitação. A previsão é que o processo licitatório da conclusão das obras seja aberto em outubro de 2016 e a entrega das obras ocorra um ano após a contratação da empresa. A Polícia Militar informou que a área tem patrulha do bairro, motopatrulhamento e câmera de videomonitoramento. 

Enquanto os corredores Norte-Sul e Leste-Oeste do sistema de Bus Rapid Transit (BRT) não são concluídos, as estruturas inacabadas começam a se desgastar. E a tendência é que a situação se agrave, visto que depois de atrasos e mais atrasos, a Secretaria das Cidades não consegue mais apontar uma data de conclusão.

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Na Avenida Conde da Boa Vista, na área central do Recife, as estações, que inicialmente eram provisórias pois possuem menos recursos que as demais e que serão permanentes, são as que apresentam os maiores traços de esquecimento: com grandes pichações, sujeira e estrutura com sinais de ferrugem. A estação que fica em frente à Faculdade Fafire, por exemplo, virou casa para morador de rua. Uma cama está instalada no local, além de restos de “quentinhas” e muitas mangas podres espalhadas.

Trabalhadores do entorno das estações da Boa Vista relatam que desde dezembro as obras estão paralisadas. “Usaram nosso dinheiro para levantar isso aí [parte da estrutura] e deixaram para lá”, reclama o vendedor Vanildo Barbosa Dias, de 64 anos.

Enquanto as estações de BRT da avenida não ficam prontas, os usuários do transporte público têm que se acostumar com as paradas provisórias. É que para construir os pontos de BRT foi preciso retirar algumas paradas ali instaladas e ampliar as restantes com uma parada de estrutura mais humilde. A professora Maria das Graças, de 61 anos, pega ônibus em uma dessas e lamenta não poder utilizar o BRT. “A situação está péssima. A gente tem que enfrentar chuva, sol forte...”, lamenta.

O projeto inicial continua sofrendo alterações desde sua primeira apresentação, tanto que a resposta da Secretaria das Cidades sobre a quantidade total de estações ainda é tratada como previsão. O número previsto para o corredor Leste-Oeste, no qual a Avenida Conde da Boa Vista está inserida, é de 22 estações; já para o corredor Norte-Sul, a previsão é de 28. Atualmente os trechos estão com 13 e 11 estações em operação, respectivamente.

Na Avenida Caxangá, na zona Oeste da cidade, quase todas as estações já estão em funcionamento, com exceção da que ficará instalada em cima do elevado para BRT, que se encontra em estágio inicial de obra. As estações Forte do Arraial, no bairro do Cordeiro, e Abolição, na Madalena, estão com vidros depredados. Os terminais integrados da III Perimetral, próximo ao Hospital Getúlio Vargas, e da IV Perimetral, ao lado do viaduto da BR-101, também estão incompletos e com obras paradas.

Outra estação com obras paralisadas está localizada na Rua Benfica, que liga a Madalena ao bairro do Derby. Por conta disso, a linha 437 – TI Caxangá (Centro), de veículo comum, que funciona parcialmente expresso, está embarcando pessoas nas paradas de ônibus da Benfica e não só da Avenida Conde da Boa Vista, como foi programada.

Na PE-05, em Camaragibe, moradores da comunidade das Barreiras possuem uma estação em frente a suas casas, mas não têm muito o que comemorar. A Estação Barreiras é mais uma sem operar e fica localizada entre duas que funcionam, mas a uma distância longe o suficiente para os moradores não se arriscarem a ir a pé até uma delas. “Pois é, a gente tem uma estação na porta de casa e não pode usar”, diz um usuário de ônibus na parada. “Vão nem ligar mais para isso porque já passou a Copa do Mundo”, alfineta outra moradora. 

Dos que utilizam o BRT do corredor Leste-Oeste, os camaragibenses parecem os mais insatisfeitos. Apesar do corredor ligar Camaragibe ao centro do Recife, após a PE-05 não há mais estações até o TI de Camaragibe, o que representa uma distância de aproximadamente 3,5 km sem paradas.

Para a Avenida Belmino Correia, em Camaragibe, eram previstas inicialmente cinco pontos de BRT. A Secretaria das Cidades esclareceu que, após dialogar com a Prefeitura de Camaragibe, concordou em revisar o projeto e instalar apenas quatro estações, visando minimizar o impacto das desapropriações que seriam necessárias. Não há sinais destas estações.

No corredor Norte-Sul as obras continuam, mas devagar e atrasadas. A reportagem do LeiaJá passou pela área e só viu trabalhadores em apenas uma das estações em obras. Uma outra estação em Paulista aparenta ter um futuro mais complicado maior, porque é conectada com uma passarela, que também está incompleta. “Essa obra trazia uma perspectiva de melhora, mas parou. Não vejo mais ninguém desde o período de eleição”, lamenta o ator Adriano Cabral, 43, que pega ônibus nas proximidades.

Já não bastasse as obras incompletas, as que já foram concluídas apresentam algumas falhas que acabam revelando um processo mal feito, sem zelo. É o caso, por exemplo, das informações presentes dentro das estações, que possuem tradução para o inglês. Uma delas, que fica ao lado das portas automáticas avisa: “Antes de entrar no ônibus, verifique se as portas do mesmo encontram-se posicionadas corretamente”. Logo abaixo, segue a frase em inglês: “Before boarding bus, make sure doors are fully opened”, que significa “antes de embarcar no ônibus, certifique-se de que as portas estão completamente abertas”. Enquanto o primeiro aviso pede que o usuário analise se as portas da estação estão alinhadas com a dos ônibus, visto que elas abrem automaticamente e não há a presença do cobrador para auxiliar o motorista do BRT, a mensagem em inglês faz um alerta óbvio o suficiente para não precisar ser feito. 

A Construtora Mendes Júnior é responsável pela execução dessas obras, mas está em situação delicada desde que apareceu nas denúncias da Operação Lava Jato. A Secretaria das Cidades disse que advertiu formalmente a empresa para que retome as obras paradas.

Ainda segundo a secretaria, só será possível prever a data de conclusão do Corredor Leste-Oeste quando as obras voltarem em ritmo normal. Já o Corredor Norte-Sul – 26 estações, TI Abreu e Lima e três passarelas de pedestres -  tem previsão de conclusão para o final do primeiro semestre de 2015. As demais obras dependem “da remoção das interferências”, segundo a resposta da secretaria.

O Grande Recife Consórcio de Transportes explicou que os vidros para substituir os que foram apedrejados na Avenida Caxangá já foram encomendados e estão vindo de São Paulo. O consórcio lembrou que o material é temperado e não se estilhaça, não oferecendo risco aos usuários.   

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