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Por Élida Maria e Giselly Santos
Prestes a lançar candidatura à presidência da República, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Henrique Accioly Campos (PSB), tomará rumos nacionais na política, após passar sete anos, três meses e três dias na gestão estadual. Neste período, as mudanças na conjuntura política em torno do atual presidente nacional do PSB e herdeiro do ex-governador Miguel Arraes foram grandes. Transformação dos discursos, rupturas e alianças marcaram a vida do socialista e presidenciável. Para detalhar esses anos no governo, o Portal LeiaJá exibirá a partir desta quinta-feira (10), um balanço de suas principais secretarias como Cultura, Educação, Mobilidade, Segurança e Tecnologia.
Com uma ligação antiga com o ex-presidente Lula (PT) o qual foi ministro de Ciência e Tecnologia e líder do governo na Câmara dos Deputados, Campos estreou na vaga majoritária do executivo estadual em 1° de janeiro de 2007, após ganhar as eleições estaduais em 2006, um ano depois da morte de seu avô Arraes. Na época, o socialista disputou a vaga ao governo com Mendonça Filho (PFL, em 2006) e Humberto Costa (PT) e passou a administrar o Estado do ex-governador por oito anos Jarbas Vasconcelos (PMDB), com a obtenção de 65,31% dos votos.
Diferente de seu avô Arraes que bateu de frente com o governo federal nas três gestões (quando foi exilado em 1964 e nos governos de Sarney e de Fernando Henrique Cardoso), o líder do PSB não se isolou em relação ao presidente da República e usou da boa relação com Lula para se beneficiar politicamente.
Já na segunda corrida eleitoral para conseguir a reeleição em 2010, Eduardo Campos conseguiu uma larga vantagem em relação ao seu rival político na época, Jarbas Vasconcelos. A vitória de Campos ganhou destaque nacional por ter obtido 82,83% dos votos e ter sido o governador mais bem votado daquela eleição. Além de Vasconcelos, disputaram a vaga ao governo Sérgio Xavier (PV), Edilson Silva (Psol), Fernando Rodovalho (PRTB) e Jair Pedro (PSTU).
Dois anos depois, em 2012, Jarbas se une ao PSB em prol da candidatura de Geraldo Julio (PSB) quando abriu mão da disputa tirando as possibilidades de Raul Henry (PMDB) candidatar-se como prefeito do Recife. Na época, por meio de nota, a justificativa foi de que a oposição iria se unir em torno de uma única candidatura e que o socialista “terá amplas condições de colocar em prática as propostas que o PMDB, ao longo dos últimos meses, debateu com a população do Recife”.
Marcas de governo - Eleito por dois anos seguidos, com mais de 80% de aprovação dos pernambucanos, a gestão do melhor governador do país – em 2013 ocupou o 2º lugar – foi marcada por algumas conquistas estaduais, novos projetos e reconhecimento nacional e internacional. Um dos projetos pioneiros com repercussão internacional e prêmios da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial é o ‘Pacto Pela Vida’, criado em 2007 com o objetivo de reduzir os índices de criminalidade em Pernambuco. Com as ações do programa, o Estado chegou há registrar um dia sem nenhum tipo de violência.
Dentre outras iniciativas, o ‘Projeto Ganhe o Mundo’ deu mais ânimo aos estudantes pernambucanos, que passaram, em sua maioria, a freqüentar escolas estaduais em tempo integral e tiveram oportunidade de fazer intercâmbios de seis meses para os Estados Unidos da América (EUA) e para o Canadá.
Na saúde, as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e as Unidades de Pronto Atendimento Especializados (UPA-E), deverão ser lembradas pela população como investimentos que possibilitaram a descentralização e os atendimentos emergenciais desafogando os hospitais da Restauração e Agamenon Magalhães.
No discurso do ex-governador de Pernambuco, uma das marcas era é planejamento ao longo prazo. Dias antes de passar o comando do Executivo a João Lyra (PSB), na última sexta-feira (4), Campos lançou o projeto ‘Pernambuco 2035’, que estabelece diretrizes para o desenvolvimento sustentável do Estado nas próximas duas décadas, levando em conta as peculiaridades, desafios e potenciais de cada região.
No quesito relacionamento com os municípios, em consequência a crise vivenciada por conta do repasse de recursos federais no Fundo de Participação Municipal (FPM), o Estado criou o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Estadual (FEM). A primeira versão, em 2013, designou quase R$ 230 milhões para socorrer as prefeituras. Este ano, o FEM ganhou a segunda edição destinando R$ 241 milhões aos órgãos municipais.
Polêmicas - Entre os casos mais polêmicos da gestão do socialista estão às declarações do ex-secretário de Defesa Social de Pernambuco, Wilson Damázio. Ano passado, em entrevista a um jornal local, ele afirmou que homossexualidade é “desvio de conduta” e que “mulher gosta de homem de farda”. Suas declarações foram repudiadas por vários grupos que agem em prol dos direitos humanos e dos LGBTs e resultou num pedido de demissão feito pelo próprio gestor e acatado por Campos.
Outro secretário do socialista que gerou especulações da população foi o de Saúde, Antônio Carlos Figueira. O representante do governo foi afastado do cargo em novembro de 2013. A ação popular foi deferida pelo juiz da Primeira Vara da Justiça Federal, Roberto Wanderley Nogueira que constatou irregularidades em um processo de licitação e ainda, viu como ato contra os direitos administrativos, a nomeação de Figueira como secretário na mesma época que presidia o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip). Apesar disso, a Procuradoria Geral do Estado recorreu da decisão e enquanto isso, Figueira permaneceu na gestão.
Rupturas políticas - A postura do socialista em relação ao governo federal começou mudar discretamente quando lançou, as vésperas das convenções eleitorais em 2012, a candidatura de Geraldo Julio (PSB) à Prefeitura do Recife. Na época, o PT local protagonizava uma briga interna e, com isso, provocou a quebra da hegemonia de 12 anos no comando da capital pernambucana.
Naquele ano, iniciava o embate político com o PT, onde as criticas começaram a ser levantadas na campanha e ampliaram-se após vitória do socialista. No entanto, como diz o jargão popular “a política é dinâmica” e apesar de ter perdido para o PSB, o comando da PCR, os petistas aceitaram trabalhar em conjunto com os socialistas, a partir de 2013. O que na realidade não durou muito. Com o anseio de Campos em alçar voos mais altos e postular à presidência da República, uma série de rupturas – com efeito dominó – iniciaram a partir de setembro de 2013, com o desembarque do PSB do governo da presidente Dilma Rousseff (PT).
De lá para cá, em Pernambuco e no âmbito nacional as articulações do ex-governador mudaram de norte e começaram a ser baseadas no discurso de “nova política”, mesmo com atores antigos. PT e PTB deixaram a base governista estadual e migraram para a oposição. Já o PPS, o PSDB e o PMDB, este liderado por Jarbas Vasconcelos, optaram por mudar de rumos e “teses” passando a integrar o grupo político em torno de Campos. Além da Rede Sustentabilidade, que oficialmente não é partido, mas está sendo acobertado pelo PSB para as eleições deste ano.
Costuras vão, costuras vêm e com elas mais uma eleição se avizinha. Daqui a seis meses novos cenários serão apresentados aos eleitores. Entre eles a nova aposta de Eduardo Campos, o ex-secretário da Fazenda, Paulo Câmara (PSB), que vai disputar o governo de Pernambuco. Indicação que agradou a uns e desagradou a muitos, mas midiaticamente “uniu a Frente Popular de Pernambuco”, coligação formada por 16 partidos. Além da aposta pessoal, com o lançamento da candidatura à Presidência da República na próxima segunda-feira (14), quando ao lado da ex-senadora Marina Silva, iniciará de fato, sua pré-campanha pelo país afora.