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Em Belém, o mês de outubro é o mais aguardado pelos católicos. É tempo do Círio de Nossa Senhora de Nazaré e de histórias de amor e devoção pela Mãe de Jesus. Uma dessas histórias vem sendo escrita há 41 anos pela família Silva Bezerra, que acompanha todos os anos, na Trasladação, a passagem da Santa na frente do impostômetro, localizado na avenida Presidente Vargas.
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Albertina Silva Bezerra tem 75 anos, acompanha o Círio desde os seis anos e é devota de Nossa Senhora de Nazaré. Ela conta que a tradição de se reunir na noite da Trasladação começou quando seus filhos ainda eram pequenos. Na época, ela, a mãe, os filhos e o marido esperavam a passagem da Santa em um bar localizado na rua Gaspar Viana com a avenida Presidente Vargas. “São 41 anos naquele lugar. Lá foi a minha mãe, foram meus irmãos solteiros e agora, que estão casados, vão os filhos, fora os agregados que encostam lá com a gente”, diz Albertina. “Essa é a nossa tradição. Quando chega no sábado nos encontramos lá, esperamos meus netos, meus irmãos e meus sobrinhos que vão na corda até a Sé; e todo mundo só se dispersa depois que todo mundo se encontra”, conta a devota.
A professora Wellenice Silva Bezerra é a filha do meio de dona Albertina. Ela considera a tradição um encontro de fé ao recordar dos parentes falecidos. “A minha família tem essa fé mariana desde sempre. Eu recordo, quando a gente está lá, as pessoas que não estão mais lá, mas já estiveram. É como se ali tivesse capturado a energia da minha avó, que esteve lá por muitos anos, e do meu pai. Ao me reencontrar com a Santa, me reencontro também com eles. Isso é muito forte em mim, sempre foi desde que eles partiram”, lembra. “É o encontro palpável da fé. Quando a gente pega na mão do outro, quando a gente deseja 'Feliz Círio', quando a gente dá o abraço. Acho que ali a gente sai inteiro, é como se juntasse os pedaços do ano todo; a gente se reintegra, é como se o mosaico fosse todo reestruturado para que a gente siga e enfrente um ano novo”, afirma Wellenice.
O estudante de 19 anos Allec Bezerra é um dos netos de dona Albertina e promesseiro da corda de Nossa Senhora de Nazaré na noite da Trasladação. Ele conta que acompanha a procissão na corda desde 2015, quando pediu a interseção da Nazinha para passar no vestibular. Hoje, Allec cursa Tecnologia de alimentos em uma universidade pública e pede a Ela que consiga se formar. Para Allec, é indescritível o sentimento no dia da Trasladação. “Eu realmente não sei explicar. É uma sensação de conforto, passa uma paz pra gente. Quando eu a vejo chegando eu me sinto leve, parece que eu estou em outro lugar, os problemas todos se resolvem, a gente se sente fora de si.”
Outro promesseiro na corda da Trasladação é Aerlon Bezerra, neto mais velho de dona Albertina. Ele e o namorado, Yuri Magalhães, moram em São Paulo e vieram acompanhar a procissão na corda agradecendo a Santa pelas preces alcançadas. Aerlon conta que acompanha a procissão na corda desde 2007, quando ainda era uma criança, com pequenas promessas. Depois de ter alcançado todas as graças, a corda tem um outro significado. “Hoje eu não tenho nenhuma promessa específica, só tenho a agradecer. É um agradecimento infinito”, diz Aerlon.
Já Yuri ficou doente durante um mochilão pelo Brasil realizado em 2016. Ele conta que precisava terminar o mochilão em 20 dias, tendo que passar pelas regiões Norte e Centro-Oeste. Ao chegar em Belém, foi levado por Aerlon para se encontrar com a santinha na Basílica. “Eu conheci vários outros lugares, mas foi aqui que me conquistou, foi aqui que brilhou meus olhos, me senti mais confortável e acolhido. Foi aqui que eu disse ‘eu não consigo mais seguir acreditando só em mim, eu preciso acreditar em alguma coisa além disso, uma divindade espiritual. É aqui que eu vou pedir porque eu acho que vou ser bem atendido’”, diz Yuri. “Ali eu fiz a promessa. Se eu melhorasse com o problema de pele que eu tive e conseguisse terminar a viagem. Nas circunstâncias de não ter dinheiro, não ter estrutura, de estar cansado e doente, eu provavelmente não conseguiria. E eu consegui”, conta Yuri.
A família ainda se reúne na passagem da Santa pela Cidade Nova na romaria dos ciclistas, onde presta homenagem entregando 120 rosas e água aos romeiros. No sábado de manhã, todos participam da romaria fluvial. No domingo do Círio, há 30 anos vão no Carro dos Anjos. “Eu desejo de coração que Nossa Senhora cubra com seu manto todas as pessoas e que me dê força e resignação. E que possamos nos reunir todos em um só pensamento e em um só coração”, deseja Albertina a todos os devotos. Veja vídeo abaixo.
Por Irlaine Nóbrega e Jamyla Magno.
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